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para assegurar a existˆencia de um regime democr´atico, no qual a integrac¸˜ao de mecanismos da democracia direta com o sistema da democracia representativa ´e necess´aria para se permitir

que haja a expans˜ao do desenvolvimento de um sistema pol´ıtico efetivamente democr´atico, e o

aumento dos espac¸os nos quais os cidad˜aos possam exercer o direito de voto (BOBBIO, 2004, p.

65-69), uma vez que para a consolidac¸˜ao da democracia, ´e preciso se considerar e se permitir que

aqueles que ser˜ao atingidos pelos efeitos das decis˜oes governamentais possam ter condic¸˜oes de

expressar sua vontade que est´a consubstanciada pela realidade que vivencia (MOREIRA NETO,

1992, p. 34-36), deliberou ser imprescind´ıvel que se reconhec¸a e se respeite a reserva de poder dos

cidad˜aos em relac¸˜ao ao Poder Estatal85

e, portanto, estabeleceu e assegurou, al´em da existˆencia

83“No final do s´eculo vinte foi proposta, e teve grande repercuss˜ao pr´atica, a intensificac¸˜ao da participac¸˜ao direta do povo nas decis˜oes pol´ıticas, por meio de manifestac¸˜oes coletivas, aprovando proposic¸˜oes para a adoc¸˜ao de pol´ıticas p´ublicas. Essa pr´atica passou a ser identificada como “democracia participativa” e j´a vem sendo objeto de estudos te´oricos, como nova possibilidade de efetivac¸˜ao das ideias e princ´ıpios contidos no conceito de democracia. ´E preciso reconhecer que a participac¸˜ao do povo tem limitac¸˜oes, n˜ao podendo abranger todas as decis˜oes do governo, mas, ao mesmo tempo, ´e evidente que a participac¸˜ao popular ´e ben´efica para a sociedade, sendo mais uma forma de democracia direta, que pode orientar os governos e os pr´oprios representantes eleitos quanto ao pensamento do povo sobre quest˜oes de interesse comum.” (DALLARI, 2010, p. 156). Desta maneira, “com a Democracia participativa a soberania passa do Estado para a Constituic¸˜ao, porque a Constituic¸˜ao ´e o poder vivo do povo, o poder que ele n˜ao alienou em nenhuma assembleia ou ´org˜ao de representac¸˜ao, o poder que faz as leis, toma as decis˜oes fundamentais e exercita uma vontade que ´e a sua, e n˜ao de outrem, porque vontade soberana n˜ao se delega sen˜ao na forma decadente da intermediac¸˜ao representativa dos corpos que legislam, segundo ponderava Rousseau, com absoluta carˆencia de legitimidade em presenc¸a do vulto e significado e importˆancia da mat´eria sujeita”, e, “do nosso ponto de vista, a democracia participativa nos pa´ıses perif´ericos ´e, em tese, a guardi˜a pol´ıtica do constitucionalismo social; o meio, por excelˆencia, de prevenir a ru´ına dos direitos fundamentais da segunda gerac¸˜ao em face da ameac¸a supressiva que lhe faz o neoliberalismo.” (BONAVIDES, 2010, p. 58, 371).

84A CF/88 garante que “s˜ao a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petic¸˜ao aos Poderes P´ublicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder”; e, ainda, que “a lei n˜ao excluir´a da apreciac¸˜ao do Poder Judici´ario les˜ao ou ameac¸a a direito” (CF/88, art. 5o, XXXIV e XXXV). Assim, “a par disso, vem crescendo continuamente a influˆencia da Constituic¸˜ao na sociedade brasileira. Mudando o tradicional ceticismo brasileiro, as pessoas est˜ao acreditando que tˆem direitos e que vale a pena lutar por eles. Um sinal muito expressivo dessa mudanc¸a muito positiva ´e o aumento consider´avel do n´umero de ac¸˜oes judiciais, buscando a garantia e efetivac¸˜ao dos direitos sociais. Esse, ali´as, ´e um dos motivos do congestionamento de setores do Poder Judici´ario e da consequente demora nos julgamentos, o que, longe de ser um dado irrelevante, ´e, no entanto, consequˆencia de um fator muito positivo, que ´e justamente o aumento da crenc¸a nos direitos e na Constituic¸˜ao.” (DALLARI, 2010b, p. 120-121).

dos mecanismos da representac¸˜ao pol´ıtica (art. 14), a publicidade (art. 5o, LX, 37, caput, 60, § 3o,

65, 66, §§ 5o, 7o, 93, IX), a informac¸˜ao (art. 5o, XXXIII), o direito de petic¸˜ao (art. 5o, XXXIV,

a) e de certid˜ao (art. 5o, XXXIV, b), porque os tais s˜ao fundamentais para viabilizar o exerc´ıcio

da cidadania participativa atrav´es dos diversos instrumentos previstos constitucionalmente para o

ˆambito de cada Poder Estatal86.

A Constituic¸˜ao Federal de 1988 estabeleceu a participac¸˜ao pol´ıtica do cidad˜ao na func¸˜ao legis-

lativa87, pois ´e atrav´es das decis˜oes legislativas constitucionais e infraconstitucionais que se define

a forma de atuac¸˜ao, as atribuic¸˜oes, a destinac¸˜ao, bem como, o controle da concentrac¸˜ao do poder

pelo Estado. Desta forma, a utilizac¸˜ao destes mecanismos de participac¸˜ao pol´ıtica do cidad˜ao se

destina a garantir a observˆancia dos objetivos da Rep´ublica previstos no art. 3o

e, deste modo

se busca a legitimidade final´ıstica da norma legal a ser produzida88, ou seja, “a consentaneidade

pol´ıtica das escolhas normativas fundamentais” (MOREIRA NETO, 1992, p. 76, 87, 109-110).

A Constituic¸˜ao Federal de 1988, para realizar o princ´ıpio democr´atico participativo na atuac¸˜ao

do Poder Judici´ario, atrav´es da provocac¸˜ao da jurisdic¸˜ao e do acesso, eventual ou n˜ao, aos seus

´org˜aos para colaborar com o exerc´ıcio da func¸˜ao jurisdicional, instituiu diversos mecanismos para

permitir a efetiva participac¸˜ao cidad˜a

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e ampliou o rol de interesses protegidos pela Ordem

Jur´ıdica e dos legitimados para invocar a tutela jurisdicional, e requerer, conforme o art. 5o, XXXV

90, a protec¸˜ao, cautelar ou corretiva, para os interesses individuais, coletivos, p´ublicos, e tamb´em

para os interesses difusos na sociedade, com o fim de promover a cont´ınua legitimidade da ac¸˜ao

do Estado91

e, ainda, assegurar o controle da legalidade dos atos estatais e da repercuss˜ao de seus

derosos e vigilantes agentes da fiscalizac¸˜ao, atrav´es do mandado de seguranc¸a coletivo; do direito de receber informac¸˜oes dos ´org˜aos p´ublicos, da prerrogativa de petic¸˜ao aos poderes p´ublicos, em defesa de direitos contra ilegalidade ou abuso de poder, da obtenc¸˜ao de certid˜oes para defesa de direitos; da ac¸˜ao popular, que pode ser proposta por qualquer cidad˜ao, para anular ato lesivo ao patrimˆonio p´ublico, ao meio ambiente e ao patrimˆonio hist´orico, isento de custas judiciais; da fiscalizac¸˜ao das contas dos munic´ıpios por parte do contribuinte; podem peticionar, reclamar, representar ou apresentar queixas junto `as comiss˜oes das Casas do Congresso Nacional; qualquer cidad˜ao, partido pol´ıtico, associac¸˜ao ou sindicato s˜ao partes leg´ıtimas e poder˜ao denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da Uni˜ao, do estado ou do munic´ıpio. A gratuidade facilita a efetividade dessa fiscalizac¸˜ao.” (DISCURSO 2, 1988, p. 323).

86Neste sentido: DALLARI, 2010b, p. 118; MOREIRA NETO, 1992, p. 99.

87Assim, por meio do modo informal, pelos canais de publicidade, ou seja, pela informac¸˜ao dos passos dos processos legislativos (da iniciativa `a promulgac¸˜ao das leis), se permite que haja o exerc´ıcio da influˆencia popular, atrav´es das formas de manifestac¸˜ao do pensamento (art. 5o, IV, IX).

E, por meio do modo formal, atrav´es do voto para a representac¸˜ao pol´ıtica (art. 14, caput) e, pelos institutos da democracia semidireta, a Iniciativa Popular, o Plebiscito e o Referendo Popular (art. 14, I, II, III), que realizam o princ´ıpio participativo, se permite o exerc´ıcio da cidadania ativa na formac¸˜ao dos atos legislativos.

88“ `A luz do princ´ıpio da m´axima efetividade, devem os ´org˜aos estatais encarregados de editar normatividade recorrer ao plebiscito e ao refe- rendo, tudo de sorte a alargar o consenso em torno da esp´ecie normativa. [...] Dos instrumentos de democracia semidireta, ´e, no entanto, a iniciativa legislativa popular aquele mais apto `a preservac¸˜ao da vontade do povo, mais ainda se constatado ser a ´unica modalidade dependente apenas do des´ıgnio do cidad˜ao. [...] A outra forma de concretizac¸˜ao do ideal pluralista ´e a conferˆencia de ampla legitimidade para a iniciativa popular, compreendendo n˜ao apenas o in´ıcio do processo de elaborac¸˜ao da lei ordin´aria, mas tamb´em da norma constitucional. Se ´e a pr´opria Constituic¸˜ao o reposit´orio da democracia participativa e do pluralismo pol´ıtico, nada mais l´ogico, conveniente mesmo, do que a possibilidade de se ampliar o m´aximo a iniciativa popular, aumentando consideravelmente a consensualidade em torno da alterac¸˜ao constitucional, legitimando cada vez mais a Constituic¸˜ao e, pela via reflexa, elevando o n´ıvel de realizibilidade do projeto estatal, porque ali onde houver marcante participac¸˜ao do povo, haver´a, com toda certeza, uma maior fiscalizac¸˜ao e exigˆencia quanto a obedecer-se a normatividade cuja gˆenese est´a atrelada aos des´ıgnios das camadas populares. A importˆancia do postulado da m´axima efetividade reside precisamente na ideia da ampliac¸˜ao da legitimidade do cidad˜ao, abrangendo tamb´em o in´ıcio do processo legislativo das emendas constitucionais, malgrado a literalidade do § 2odo art. 61.” (SILVA NETO, 1999, p. 68, 69, 71).

89CF/88: J´uri (art 5o, XXXVIII), Justic¸a de Paz (art. 90, II), Magistraturas Togadas (arts. 94, 98, I, 101, 104, II, 107, I, 111-A, I, 115, I,

119, II, 120, III, 123, I, II), representac¸˜ao do cidad˜ao no CNJ e no CNMP (arts. 103-B, XIII, 130-A), Mandado de Seguranc¸a Coletivo (art. 5o,

LXX), Mandado de Injunc¸˜ao (art. 5o, LXXI), do Habeas Data (art. 5o, LXXII, a), Ac¸˜ao Popular (art. 5o, LXXIII), Ac¸˜ao Civil P´ublica (art. 129,

§ 1o), Ac¸˜ao de Impugnac¸˜ao de Mandato Eletivo (art. 14, § 10), Queixa-Crime com suspens˜ao de func¸˜oes do Presidente da Rep´ublica (art. 5o,

LIX), Legitimac¸˜ao Extraordin´aria de Comunidades e Organizac¸˜oes Ind´ıgenas (art. 232), Controle de Constitucionalidade (art. 5o, XXXV, 103, IX)

(MOREIRA NETO, 1992, p. 143-158).

90CF/88, art. 5o, XXXV - “a lei n˜ao excluir´a da apreciac¸˜ao do Poder Judici´ario les˜ao ou ameac¸a a direito”.

efeitos ao atingir os interesses transindividuais (MOREIRA NETO, 1992, p. 76, 91, 143-145).

A Constituic¸˜ao Federal de 1988, como forma de efetivar a democracia participativa na es-

fera do Poder Executivo, instituiu, em diversos dispositivos constitucionais, os mecanismos de

participac¸˜ao popular na gest˜ao p´ublica. Com a utilizac¸˜ao destes mecanismos se pretende que a

decis˜ao administrativa tenha como parˆametros os interesses dos administrados e que se produza

a “legitimidade corrente da Administrac¸˜ao P´ublica” (MOREIRA NETO, 1992, p. 76). A pre-

vis˜ao constitucional para a participac¸˜ao do cidad˜ao atinge tanto as func¸˜oes de governo, caracteri-

zada por suas atribuic¸˜oes pol´ıticas, co-legislativas e de decis˜ao, como a func¸˜ao administrativa, na

intervenc¸˜ao, no fomento e no servic¸o p´ublico92.

Desta forma, a Assembleia Constituinte de 1988, como express˜ao do poder constituinte ori-

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