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Neste contexto, a (in)evit´avel quest˜ao da justiciabilidade dos direitos humanos sociais no ˆambito do Estado Democr´atico de Direito Brasileiro se revela nas peculiaridades do problema

social-pol´ıtico-jur´ıdico enfrentado por cada cidad˜ao e, concomitantemente, pelo conjunto de todos

os segmentos sociais na busca do acesso `a Justic¸a168, n˜ao apenas no sentido do acesso aos ´org˜aos

166Em relac¸˜ao ao cont´eudo do bloco de constitucionalidade no ˆambito do Estado Democr´atico de Direito Brasileiro e a possibilidade de invocac¸˜ao direta dos direitos e liberdades internacionalmente assegurados, “registre-se ainda que, al´em de o novo § 3odo art. 5oda Constituic¸˜ao n˜ao pre-

judicar o status constitucional que os tratados de direitos humanos em vigor no Brasil j´a tˆem de acordo com o § 2odesse mesmo artigo, ele tamb´em n˜ao prejudica a aplicac¸˜ao imediata dos tratados de direitos humanos j´a ratificados ou que vierem a ser ratificados pelo nosso pa´ıs no futuro. Isso porque a regra constitucional que garante aplicac¸˜ao imediata `as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais, insculpida no § 1odo art. 5oda Carta (verbis: “As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tˆem aplicac¸˜ao imediata.”),

sequer remotamente induz a pensar que os tratados de direitos humanos s´o ter˜ao tal aplicabilidade imediata (pois eles tamb´em s˜ao normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais) depois de aprovados pelo Congresso Nacional pelo quorum estabelecido no § 3odo art. 5o. Pelo contr´ario: a Constituic¸˜ao ´e expressa em dizer que as “as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais” tˆem aplicac¸˜ao

imediata, mas n˜ao diz quais s˜ao ou quais dever˜ao ser essas normas. A Constituic¸˜ao n˜ao especifica se elas devem provir do direito interno ou do direito internacional (v.g., dos tratados internacionais de direitos humanos), mas apenas diz que todas elas tˆem aplicac¸˜ao imediata, inde- pendentemente de serem ou n˜ao aprovadas por maioria qualificada. TAL SIGNIFICA QUE OS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS RATIFICADOS PELO BRASIL PODEM SER IMEDIATAMENTE APLICADOS PELO PODER JUDICI´ARIO, COM STATUS DE NORMA CONSTITUCIONAL, INDEPENDENTEMENTE DE PROMULGAC¸~AO E PUBLICAC¸~AO NO DI´ARIO OFICIAL DA UNI~AO E INDEPENDENTEMENTE DE SEREM APROVADOS DE ACORDO COM A REGRA DO § 3o DO ART. 5o DA CONSTITUIC¸~AO. TAIS TRATADOS, DE FORMA ID^ENTICA `A QUE SE DEFENDIA ANTES DA ENTRADA EM VIGOR DA EC 45/2004, CONTINUAM DISPENSANDO A EDIC¸~AO DE DECRETO DE EXECUC¸~AO PRESIDENCIAL PARA QUE IRRADIEM SEUS EFEITOS TANTO NO PLANO INTERNO COMO NO PLANO INTERNACIONAL, UMA VEZ QUE T^EM APLICAC¸~AO IMEDIATA NO ORDENAMENTO JUR´IDICO BRASILEIRO. QUAISQUER OUTROS PROBLEMAS RELATIVOS `A APLICAC¸~AO DOS TRATADOS DE DIREITOS HUMANOS O BRASIL N~AO S~AO PROBLEMAS DE DIREITO, MAS SIM - COMO DIZ CANC¸ADO TRINDADE - DE FALTA DE VONTADE (ANIMUS ) POR PARTE DOS PODERES P´UBLICOS, NOTADAMENTE DO PODER JUDICI´ARIO.” (MAZZUOLI, 2011, p. 69-70) (grifado no original somente em it´alico).

167Neste sentido: “De modo ainda mais ostensivo, quando determinado Estado, no livre e pleno exerc´ıcio de sua soberania, ratifica tratados internacionais de protec¸˜ao dos direitos humanos, “contrai obrigac¸˜oes jur´ıdicas concernentes `a defesa, `a protec¸˜ao e `a promoc¸˜ao destes direitos”, nascendo, a partir da´ı, “o dever de atuar em conformidade com o princ´ıpio da boa-f´e, de forma a n˜ao obstar o cumprimento das obrigac¸˜oes internacionalmente assumidas”. Significa dizer que “o Estado passa a ter a obrigac¸˜ao jur´ıdica de respeitar o direito internacional, bem como passa a ter o dever de adotar todas as medidas de direito interno, harmonizando sua legislac¸˜ao `a luz dos parˆametros internacionais”. Ressalte-se que “a legislac¸˜ao dom´estica pode ir al´em, mas jamais aqu´em dos parˆametros protetivos m´ınimos”.” (TAIAR, 2010, p. 293-294) (grifos nossos).

do Poder Judici´ario, mas na busca do ideal de Justic¸a Social e Distributiva, preconizado pela As-

sembleia Nacional Constituinte de 1988169, para a consecuc¸˜ao da realizac¸˜ao f´atica dos direitos

fundamentais, em especial, os direitos humanos sociais170que foram consagrados pela CF/88171.

Assim, considerando que “o ideal de justic¸a consiste na simetria entre a norma jur´ıdica e o

meio social, na coincidˆencia entre incidˆencia e observˆancia. Se a coincidˆencia ´e dif´ıcil ou im-

prov´avel, se n˜ao h´a simultaneidade entre elas, ´e porque n˜ao houve atendimento espontˆaneo, ´unica

vari´avel dessa relac¸˜ao” (SARMENTO, 2011, p. 205) (grifos nossos), ent˜ao, para que haja a plena

efetividade172

dos direitos humanos sociais no ˆambito do Estado Democr´atico de Direito Brasi-

Direito Brasileiro, ´e relevante trazer `a colac¸˜ao a opini˜ao do soci´ologo Boaventura de Sousa Santos sobre “as pol´ıticas do judici´ario e a politizac¸˜ao do direito”: “Penso que vivemos um momento em que se est´a a ensaiar uma nova fase. O neoliberalismo revelou as suas debilidades. N˜ao garantiu o crescimento, aumentou tremendamente as desigualdades sociais, a vulnerabilidade, a inseguranc¸a e a incerteza na vida das clas- ses populares, para al´em de fomentar uma cultura de indiferenc¸a `a degradac¸˜ao ecol´ogica. NESTA NOVA FASE, PODEMOS IDENTIFICAR, EM RELAC¸~AO AO JUDICI´ARIO, DOIS GRANDES CAMPOS. O PRIMEIRO ´E UM CAMPO HEGEM^ONICO. ´E O CAMPO DOS NEG´OCIOS, DOS INTERESSES ECON^OMICOS, QUE RECLAMA POR UM SISTEMA JUDICI´ARIO EFICIENTE, R´APIDO, QUE PERMITA A PREVISIBILIDADE DOS NEG´OCIOS, D^E SEGURANC¸A JUR´IDICA E GARANTA A SALVAGUARDA DOS DIREITOS DE PROPRIEDADE. Os protagonistas do campo hegemˆonico s˜ao o Banco Mundial, o Fundo Monet´ario Internacional e as grandes agˆencias multilaterais e nacionais de ajuda ao desenvolvi- mento, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento, a USAID etc. ´E NESTE CAMPO QUE SE CONCENTRA A GRANDE PARTE DAS REFORMAS DO SISTEMA JUDICI ´ARIO POR TODO O MUNDO. H´a v´arios anos que analiso as REFORMAS que tiveram lugar em v´arios pa´ıses, sobretudo, na Europa, na Am´erica Latina e em ´Africa. Com diferentes n´ıveis de intensidade, o sistema judicial desses pa´ıses est´a a ser orientado para atender `as expectativas deste campo hegemˆonico, o que significa que as REFORMAS se centram, muito seletivamente, nos setores que melhor servem aos interesses econˆomicos, deixando de fora todos os outros. As reformas s˜ao orientadas, quase exclusivamente, pela ideia de eficiˆencia, isto ´e, pela necessidade de se construir um sistema de justic¸a c´elere. H´a ´areas do judici´ario e formas de atuac¸˜ao que s˜ao consideradas importantes e outras n˜ao. A formac¸˜ao dos magistrados, por exemplo, ´e orientada, fundamentalmente, para as necessidades da economia. H´A, CONTUDO, UM OUTRO CAMPO. DESIGNO-O POR CAMPO CONTRA-HEGEM^ONICO. ´E O CAMPO DOS CIDAD~AOS QUE TOMARAM CONSCI^ENCIA DE QUE OS PROCESSOS DE MUDANC¸A CONSTITUCIONAL LHES DERAM DIREITOS SIGNIFICATIVOS E QUE, POR ISSO, VEEM NO DIREITO E NOS TRIBUNAIS UM INSTRUMENTO IMPORTANTE PARA FAZER REIVINDICAR OS SEUS DIREITOS E AS SUAS JUSTAS ASPIRAC¸~OES A SEREM INCLU´IDOS NO CONTRATO SOCIAL. PORQUE O QUE ELES VEEM TODOS OS DIAS ´E A EXCLUS ˜AO SOCIAL; ´E A PRECARIZAC¸ ˜AO DO TRABALHO; ´E A VIOL ˆENCIA QUE LHES ENTRA PELA PORTA NOS SEUS BAIRROS. O QUE ELES VEEM TODO O DIA ´E AQUILO QUE EU CHAMO FASCISMO SOCIAL. ´E um fascismo que n˜ao ´e criado diretamente pelo Estado. ´E CRIADO POR UM SISTEMA SOCIAL MUITO INJUSTO E MUITO IN´IQUO QUE DEIXA OS CIDAD ˜AOS MAIS VULNER ´AVEIS, PRETENSAMENTE AUT ˆONOMOS, `A MERC ˆE DE VIOL ˆENCIAS, EXTREMISMOS E ARBITRARIEDADES POR PARTE DE AGENTES ECON ˆOMICOS E SOCIAIS MUITO PODEROSOS. Mas, ESSES CIDAD~AOS T^EM PROGRESSIVAMENTE MAIS CONSCI^ENCIA DE QUE T^EM DIREITOS E DE QUE ESSES DIREITOS DEVEM SER RESPEITADOS. Nos ´ultimos trinta anos, muitos desses cidad˜aos organizaram-se em movimentos sociais, em associac¸˜oes, criando um novo contexto para a reivindicac¸˜ao dos seus direitos.” (SANTOS, 2010, p. 34- 35) (grifos nossos).

169Conforme o Preˆambulo da CF/88: “N´os, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para insti- tuir um ESTADO DEMOCR ´ATICO, destinado a assegurar o exerc´ıcio dos DIREITOS SOCIAIS E INDIVIDUAIS, a LIBERDADE, a SEGURANC¸ A, o BEM-ESTAR, o DESENVOLVIMENTO, a IGUALDADE e a JUSTIC¸ A como valores supremos de uma sociedade fra- terna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a soluc¸˜ao pac´ıfica das controv´ersias, promulgamos, sob a protec¸˜ao de Deus, a seguinte CONSTITUIC¸ ˜AO DA REP ´UBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.” (grifos nossos).

170O jurista Jos´e Joaquim Gomes Canotilho ao analisar as Func¸˜oes dos Direitos Fundamentais (I - Func¸˜ao de defesa ou de liberdade, II - Func¸˜ao de prestac¸˜ao social, III - Func¸˜ao de protec¸˜ao perante terceiros, IV- Func¸˜ao de n˜ao discriminac¸˜ao) exp˜oe que: “A FUNC¸ ˜AO DE PRESTAC¸ ˜AO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ANDA ASSOCIADA A TR ˆES N ´UCLEOS PROBLEM ´ATICOS DOS DIREITOS SOCIAIS, ECON ˆOMICOS E CULTURAIS: (1) ao problema dos direitos sociais origin´arios, ou seja, se os particulares podem derivar diretamente das normas constitucionais pretens~oes prestacionais (ex: derivar da norma consagradora do direito `a habitac¸˜ao uma pretens˜ao prestacional traduzida no “direito de exigir” uma casa); (2) ao problema dos direitos sociais derivados que se reconduz ao direito de exigir uma atua¸c~ao legislativa concretizadora das ‘‘normas constitucionais sociais’’ (sob pena de omiss˜ao inconstitucional) e no direito de exigir e obter a participa¸c~ao igual nas presta¸c~oes criadas pelo legislador (ex: prestac¸˜oes m´edicas e hospitalares existentes); (3) ao problema de saber se as normas consagradoras de direitos fundamentais sociais tem uma dimens~ao objetiva juridicamente vinculativa dos poderes p´ublicos no sentido de obrigarem estes (independentemente de direitos subjetivos ou pretens˜oes subjetivas dos indiv´ıduos) a pol´ıticas sociais ativas conducentes `a cria¸c~ao de institui¸c~oes (ex: hospitais, escolas), servi¸cos (ex: servic¸os de seguranc¸a social) e fornecimento de presta¸c~oes (ex: rendimento m´ınimo, subs´ıdio de desemprego, bolsas de estudo, habitac¸˜oes econ ˆomicas). A resposta aos dois primeiros problemas ´e discut´ıvel. Relativamente `a ´ultima quest~ao, ´e l´ıquido que as normas consagradoras de direitos sociais, econ^omicos e culturais da constitui¸c~ao portuguesa de 1976 individualizam e imp~oem pol´ıticas p´ublicas socialmente ativas.” (CANOTILHO, 2003, p. 408-409) (grifado no original somente em it´alico e negrito).

171Neste contexto, cabe enfatizar que “a previs˜ao normativa dos direitos sociais - assim como dos demais direitos fundamentais - ´e ampla- mente privilegiada pela Constituic¸˜ao de 1988 que, pela primeira vez na hist´oria constitucional brasileira, eleva-os `a condic¸˜ao de direitos fundamentais, submetendo-os `a sistem´atica e principiologia pr´oprias dessa categoria de direitos. Somam-se ao cat´alogo de direitos consagra- dos na Constituic¸˜ao de 1988 os direitos decorrentes dos tratados internacionais ratificados pelo Brasil em mat´eria de direitos sociais, especialmente o Pacto Internacional de Direitos Econˆomicos, Sociais e Culturais (ONU) (Aprovado no Brasil pelo Decreto Legislativo n. 226, de 12-12-1991, ratificado em 21-1-1992 e promulgado pelo Decreto n. 591, de 6-7-1992), a Convenc¸˜ao Americana de Direitos Humanos (Pacto de San Jos´e da Costa Rica- OEA) (Aprovada no Brasil pelo Decreto Legislativo n. 27, de 25-9-1992, ratificada em 25-9-1992 e promulgada pelo Decreto n. 678, de 6-11-1992) e o Protocolo Adicional `a Convenc¸˜ao Americana de Direitos Humanos em mat´eria de Direitos Econˆomicos, Sociais e Culturais (Protocolo de San Salvador - OEA) (Aprovado no Brasil pelo Decreto Legislativo n. 56, de 19-4-1995, ratificado em 21-8-1996 e promulgado pelo Decreto n. 3.321, de 30-12-1999).” (GOTTI, 2012, p. 24) (grifado no original somente em it´alico).

leiro, com a materializac¸˜ao de pol´ıticas p´ublicas em prol da concretizac¸˜ao das condic¸˜oes m´ınimas

173

que tornam poss´ıvel o acesso igualit´ario de todos os cidad˜aos brasileiros (art. 5o, caput

174)

aos direitos humanos sociais que permitem a existˆencia humana numa vida codigna175

em con-

sonˆancia com a dignidade da pessoa humana176que se constitui no conte´udo valorativo da mais

alta hierarquia no conjunto das normas constitucionais, ´e imprescind´ıvel que cada cidad˜ao, con-

tinuamente, esteja exercendo o seu direito humano fundamental de participac¸˜ao pol´ıtica, atrav´es

de todos os instrumentos dispon´ıveis no ˆambito nacional e internacional

177, e, ainda, ´e essen-

cial que o exerc´ıcio, cada vez mais ativo, da cidadania178, em conformidade com os ditames da

Brasil e alhures, vem associado `a falta de efetividade da Constituic¸˜ao, de sua incapacidade de moldar e submeter a realidade social. Naturalmente, a Constituic¸˜ao jur´ıdica de um Estado ´e condicionada historicamente pelas circunstˆancias concretas de cada ´epoca. Mas n˜ao se reduz ela `a mera express˜ao das situac¸˜oes de fato existentes. A Constituic¸˜ao tem uma existˆencia pr´opria, autˆonoma, embora relativa, que adv´em de sua forc¸a normativa, pela qual ordena e conforma o contexto social e pol´ıtico. Existe, assim, entre a norma e a realidade, uma tens˜ao permanente. ´E nesse espac¸o que se definem as possibilidades e os limites do direito constitucional. Embora resulte de um impulso pol´ıtico, que deflagra o poder constituinte origin´ario, a Constituic¸˜ao, uma vez posta em vigˆencia, ´e um documento jur´ıdico. E as normas jur´ıdicas, tenham car´ater imediato ou prospectivo, n˜ao s˜ao opini˜oes, meras aspirac¸˜oes ou plataforma pol´ıtica.” (BARROSO, 2009b, p. 255-256) (grifos nossos). “A doutrina da efetividade consolidou-se no Brasil como um mecanismo eficiente de enfrentamento da insinceridade normativa e de superac¸˜ao da supremacia pol´ıtica exercida fora e acima da Constituic¸˜ao. [...] A ideia de efetividade expressa o cumprimento da norma, o fato real de ela ser aplicada e observada, de uma conduta humana se verificar na conformidade de seu conte´udo. EFETIVIDADE, EM SUMA, SIGNIFICA A REALIZAC¸ ˜AO DO DIREITO, O DESEMPENHO CONCRETO DE SUA FUNC¸ ˜AO SOCIAL. Ela representa a materializac¸˜ao, no mundo dos fatos, dos preceitos legais e simboliza a aproximac¸˜ao, t˜ao ´ıntima quanto poss´ıvel, entre o dever-ser normativo e o ser da realidade social.” (BARROSO, 2006, p. 436, 442) (grifado no original somente em it´alico).

173A incumbˆencia estatal de realizar pol´ıticas p´ublicas em prol da concretizac¸˜ao das condic¸˜oes m´ınimas para permitir aos cidad˜aos o acesso aos meios que possibilitam uma existˆencia humana numa vida digna se funda no fato de que “apesar de o Estado deter o poder soberano e estabelecer uma relac¸˜ao de hierarquia e subordinac¸˜ao, o exerc´ıcio de tal poder s´o ´e poss´ıvel em decorrˆencia da anuˆencia do povo. Significa dizer que o Estado, no exerc´ıcio de seu poder soberano, age no sentido de promover a ordem e a paz, contudo, seus atos estar˜ao inexoravelmente limitados pelos direitos reconhecidos e protegidos pelo pr´oprio corpo estatal. Dito de outro modo, O ESTADO DET´EM O PODER SOBERANO CONFERIDO PELOS SEUS CIDAD~AOS E QUE N~AO S´O DEVE RESPEITAR COMO ASSEGURAR E CONCRETIZAR OS DIREITOS INERENTES `A PR´OPRIA EXIST^ENCIA DO INDIV´IDUO, QUE SE TRADUZ NA PROFESSADA DIGNIDADE HUMANA.” (TAIAR, 2010, p. 314) (grifos nossos).

174CF/88, Art. 5o“Todos s˜ao iguais perante a lei, sem distinc¸˜ao de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes

no Pa´ıs a inviolabilidade do direito `a vida, `a liberdade, `a igualdade, `a seguranc¸a e `a propriedade [...].” (grifos nossos).

175O jurista Jos´e Joaquim Gomes Canotilho ao analisar o princ´ıpio da igualdade esclarece que: “A democracia econˆomica e social abrange as duas dimens˜oes da tr´ıade cl´assica: libert´e e ´egalit´e. Em face da Constituic¸˜ao, n˜ao se pode interpretar o princ´ıpio da igualdade como um princ´ıpio est´aticoindiferente `a eliminac¸˜ao das desigualdades, e o princ´ıpio da democracia econˆomica como um princ´ıpio dinˆamico, impositivo de uma igual- dade material. Isto poderia significar, de novo, quer a relativizac¸˜ao do princ´ıpio da igualdade, quer a relativizac¸˜ao do princ´ıpio da democracia social. Aquele interpretar-se-ia no sentido de igualdade formal perante a lei, esquecendo a dimens˜ao da dignidade social; este constituiria t˜ao somente um instrumento de diminuic¸˜ao de desigualdades f´aticas. A igualdade material postulada pelo princ´ıpio da igualdade ´e tamb´em a igualdade real veiculada pelo princ´ıpio da democracia econˆomica e social. Nesta perspectiva, o princ´ıpio da democracia econˆomica e social n˜ao ´e um simples instrumento, n˜ao tem uma func¸˜ao instrumental a respeito do princ´ıpio da igualdade, embora se lhe possa assinalar uma func¸˜ao conformadora tradicionalmente recusada ao princ´ıpio da igualdade: garantia de igualdade de oportunidades e n˜ao apenas de uma certa justic¸a de oportunidades. Isto significa o dever de compensac¸˜ao positiva da desigualdade de oportunidades. O princ´ıpio da igualdade e o princ´ıpio da democracia econˆomica e social aglutinam-se reciprocamente numa unidade n˜ao redut´ıvel a momentos unidimensionais de est´atica ou dinˆamica da igualdade. EM F ´ORMULA SINT ´ETICA, DIR-SE- ´A QUE O PRINC´IPIO DA IGUALDADE ´E, SIMULTANE- AMENTE, UM PRINC´IPIO DE IGUALDADE DE ESTADO DE DIREITO E UM PRINC´IPIO DE IGUALDADE DE DEMOCRACIA ECON ˆOMICA E SOCIAL.” (CANOTILHO, 2003, p. 350-351) (grifado no original somente em it´alico).

176CF/88, Art. 1o “A Rep´ublica Federativa do Brasil, formada pela uni˜ao indissol´uvel dos Estados e Munic´ıpios e do Distrito Federal,

constitui-se em Estado Democr´atico de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo pol´ıtico. Par´agrafo ´unico. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituic¸˜ao.” (grifos nossos). No contexto do Estado Democr´atico de Direito, “toda a problem´atica do poder, toda a porfia de legitimac¸˜ao da autoridade e do Estado no caminho da redenc¸˜ao social h´a de passar, de necessidade, pelo exame do papel normativo do princ´ıpio da dignidade da pessoa humana. Sua densidade jur´ıdica no sistema constitucional h´a de ser, portanto, m´axima, e se houver reconhecidamente um princ´ıpio supremo no trono da hierarquia das normas, esse princ´ıpio n˜ao deve ser outro sen˜ao aquele em que todos os ˆangulos ´eticos da personalidade se acham consubstanciados. Demais disso, nenhum princ´ıpio ´e mais valioso para compendiar a unidade material da Constituic¸˜ao que o princ´ıpio da dignidade da pessoa humana. Quando hoje, a par dos progressos hermenˆeuticos do direito e de sua ciˆencia argumentativa, estamos a falar, em sede de positividade, acerca da unidade da Constituic¸˜ao, o princ´ıpio que urge referir na ordem espiritual e material dos valores ´e o princ´ıpio da dignidade da pessoa humana.” (BONAVIDES, 2001, p. 233) (grifos nossos). Desta forma, portanto, “sustenta-se que ´E NO PRINC´IPIO DA DIGNIDADE HUMANA QUE A ORDEM JUR´IDICA ENCONTRA O PR´OPRIO SENTIDO, SENDO SEU PONTO DE PARTIDA E SEU PONTO DE CHEGADA, para a hermen^eutica constitucional contempor^anea. Consagra-se, assim, a dignidade humana como verdadeiro superprinc´ıpio, a orientar tanto o Direito Internacional como o Direito interno.” (PIOVESAN, 2008, p. 30).

177A participac¸˜ao pol´ıtica do cidad˜ao deve se tornar, efetivamente, um mecanismo propulsor para a concretizac¸˜ao dos objetivos fundamentais do Estado Democr´atico de Direito Brasileiro (CF/88, art. 3o), e, neste contexto, “os sistemas global e regional n˜ao s˜ao dicotˆomicos, mas com-

plementares. Inspirados pelos valores e princ´ıpios da Declarac¸˜ao Universal, comp˜oem o universo instrumental de protec¸˜ao dos direitos humanos, no plano internacional. Nesta ´otica, os diversos sistemas de protec¸˜ao de direitos humanos interagem em benef´ıcio aos indiv´ıduos protegi- dos. Ao adotar o valor da primazia da pessoa humana, ESTES SISTEMAS SE COMPLEMENTAM, SOMANDO-SE AO SISTEMA NACIONAL DE PROTEC¸~AO, A FIM DE PROPORCIONAR A MAIOR EFETIVIDADE POSS´IVEL NA TUTELA E PROMOC¸~AO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS.” (PI- OVESAN, 2010, p. 192) (grifos nossos).

Constituic¸˜ao Cidad˜a, tamb´em venha propugnar pela efetividade do princ´ıpio da Justicialidade179

no ˆambito da Jurisdic¸˜ao Constitucional na Democracia Brasileira, pois

seguramente em nenhum momento anterior da hist´oria brasileira esteve o Poder Ju-

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