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ocorre que os efeitos simb´olicos de f´ormulas normativas de justic¸a como a dignidade da pessoa humana podem, uma vez hipertrofiados, ocultar o grave problema da discrepˆancia

entre o mundo do dever ser (esfera normativa) e o mundo do ser (esfera da realidade), o

que compromete a efetividade dos direitos fundamentais dos cidad˜aos. [...] Nesse con-

texto, sedimenta-se um direito constitucional processual de inequ´ıvoca orientac¸˜ao prin-

cipiol´ogica, estreitando os v´ınculos entre o constitucionalismo, o processo e o regime

democr´atico. No ˆambito de uma democracia, o processo torna-se um espac¸o ´etico-

pol´ıtico voltado para a realizac¸˜ao da justic¸a e dos valores fundamentais da existˆencia

humana, que se consubstanciam na dignidade da pessoa humana e nos direitos fun-

damentais dos cidad˜aos (SOARES, 2010, p. 161, 173) (grifos nossos),

e, assim, a possibilidade jur´ıdica do acesso dos cidad˜aos `as instˆancias da Justic¸a Constitucio-

nal permite que haja a realizac¸˜ao f´atica de mais um espac¸o democr´atico125

para a manifestac¸˜ao

124Neste sentido: “S´o se pode afirmar que um Estado ´e efetivamente democr´atico se ele oferece iguais oportunidades a todos os seus ci- dad˜aos; e a tentativa dessa igualdade comec¸a pela disponibilidade de acesso `a escola p ´ublica gratuita e de qualidade a todos que n˜ao podem pagar, porque evidentemente que mais para frente ser´a disparatada a diferenc¸a de oportunidades na vida entre aqueles que frequenta- ram e aqueles que n˜ao frequentaram escolas de qualidade. ASSIM, TAMB ´EM N ˜AO PODEMOS AFIRMAR COMO EFETIVAMENTE DEMOCR ´ATICO DETERMINADO ESTADO QUE IMPRIMA POL´ITICA ECON ˆOMICA FUNDADA NUMA ELEVADA DESIGUAL- DADE DA RENDA. N˜ao se pode, ´e ´obvio, exigir uma divis˜ao econˆomica absoluta entre as pessoas. Os seres humanos s˜ao semelhantes, mas ao mesmo tempo s˜ao diferentes sob diversos aspectos. No entanto, n˜ao se pode tolerar o aprofundamento dessas diferenc¸as por forc¸a de pol´ıtica econˆomica que ao inv´es de avanc¸ar para reduzir as desigualdades entre as pessoas aprofunda essas desigualdades. Determinados governantes n˜ao pensam e n˜ao agem globalmente, ou seja, n˜ao se d˜ao conta, como visto acima, de que aquilo que se deixa de investir em educac¸˜ao exige investimento maior a posteriori em sa ´ude, em seguranc¸a p ´ublica, em justic¸a, etc.” (SOUZA, 2011, p.29-30) (grifado no original somente em it´alico).

125Neste sentido: “O acesso aos direitos depende do funcionamento do Estado e da Sociedade Civil organizada. Assim, garantir o acesso aos direitos ´e assegurar que os cidad~aos, especialmente os socialmente mais vulner´aveis, conhe¸cam seus direitos, n~ao se conformem frente a sua les~ao e tenham condi¸c~oes de vencer os custos da oportunidade e as barreiras econ^omicas, sociais e culturais para aceder `a entidade que consideram mais adequada para a solu¸c~ao do lit´ıgio, seja uma terceira parte da comunidade, uma inst^ancia formal n~ao jur´ıdica ou os Tribunais

dos anseios da sociedade, em especial, para receber os protestos da sociedade, sob a forma de

ac¸˜oes jur´ıdicas de controle de constitucionalidade de atos estatais, para que haja uma conjuntura

social-pol´ıtica-econˆomica-jur´ıdica em que as normas constitucionais definidoras de direitos hu-

manos fundamentais, em especial, os direitos sociais, efetivamente e eficazmente, evidenciem os

atributos de

“plena vinculatividade normativa-constitucional e de aplicabilidade direta e imediata,

capazes de impor aos ´org˜aos do Poder a realizac¸˜ao daqueles direitos atrav´es de me-

didas legislativas e administrativas concretas e determinadas. A inescus´avel natu-

reza jur´ıdica dessas normas program´aticas aponta para um autˆentico dever do poder

p ´ublico de dar operacionalidade pr´atica a essas imposic¸˜oes, sob pena de reconhecer-

se a inconstitucionalidade por omiss˜ao, a ensejar um provis´orio, por´em necess´ario,

deslocamento do centro de decis˜oes dos ´org˜aos de direc¸˜ao pol´ıtica (Executivo e Legis-

lativo) para o plano da jurisdic¸˜ao constitucional” (CUNHA J ´UNIOR, 2008, p. XXII)

(grifado no original somente em it´alico), pois, “´e claro que de nada adianta uma concepc¸˜ao

substancial sem um mecanismo de defesa para eventuais ataques a esse n´ucleo forma-

dor da Constituic¸˜ao. O Poder Judici´ario ´e esse guardi˜ao que tem essa ´ardua miss˜ao”

(FREIRE J ´UNIOR, 2005, p. 91). “Assim, o juiz n˜ao aparece mais como o respons´avel

pela tutela dos direitos e das situac¸˜oes subjetivas, mas tamb´em como um dos titula-

res da distribuic¸˜ao de recursos e da construc¸˜ao de equil´ıbrios entre interesses supra-

individuais” (CAMPILONGO, 2010, p. 49) (grifos nossos). “Esta ´e a encruzilhada do

Judici´ario de um Estado de Direito e Social: garantir as regras do jogo, mas de um

jogo que sirva para ampliar liberdade e igualdade. Isto n˜ao significa desfazer-se do

valor da democracia, mas recuperar sua dignidade: como o melhor regime poss´ıvel

para realizar o bem comum, que n˜ao se distingue de uma vida humana digna, livre e

acess´ıvel a qualquer um do povo” (LIMA LOPES, 2010, p. 142) (grifos nossos). Assim,

“o fenˆomeno da politizac¸˜ao do Judici´ario guarda, destarte, estreito relacionamento com

a tutela dos interesses transindividuais, notadamente os de natureza difusa, em virtude

de conduc¸˜ao de interesses sociais relevant´ıssimos para o plano processual, tornando o

julgador um instrumento de sua concretizac¸˜ao” (SILVA NETO, 2001, p. 34),

e, tamb´em, em prol da existˆencia f´atica dos ditames constitucionais, com especial relevˆancia

para a observˆancia pelos ´org˜aos estatais do princ´ıpio constitucional da dignidade da pessoa humana

126, e para que se suceda, ininterruptamente, a ocorrˆencia de atos para a promoc¸˜ao e a manutenc¸˜ao

da congregac¸˜ao de esforc¸os dos poderes p´ublicos para a concretizac¸˜ao do ideal ´etico-pol´ıtico-

jur´ıdico de construc¸˜ao de uma sociedade livre, justa e solid´aria127

que visa realizar os ditames da

Justic¸a Social e Distributiva no Estado Brasileiro no contexto do atual mundo globalizado.

Judiciais.” (BEZERRA, 2008a, p. 203) (grifado no original somente em it´alico). E ainda: “Para que, no Brasil, o direito processual constitucional torne-se parte do direito de participac¸˜ao democr´atica, ´e necess´ario permitir uma sinergia eficaz entre os diversos int´erpretes da Carta Magna. O primeiro obst´aculo ´e epistemol´ogico: quebrar a falsa cis˜ao positivista entre ciˆencia (episteme) e senso comum (doxa). O CONHECIMENTO DA CONSTITUIC¸ ˜AO DEVE CONSUBSTANCIAR UM NOVO SENSO COMUM, PARTILHADO POR TODA A CIDADANIA. Ultrapassado este obst´aculo, alternativas s´ocio-jur´ıdicas n˜ao faltam: previs˜ao curricular do Direito Constitucional no ensino m´edio; difus˜ao da cultura jur´ıdica das ac¸˜oes e rem´edios constitucionais, alargamento dos legitimados para a propositura de Ac¸˜ao Direta de Inconstitucionalidade; utilizac¸˜ao de consulta popular para escolha de Ministros do STF, a fim de permitir um maior controle da opini˜ao p´ublica no exerc´ıcio da hermenˆeutica constitucional; e o progressivo reconhecimento do amicus curiae nos processos constitucionais. Deste modo, devemos entender a Constituic¸˜ao e, pois, a totalidade do sistema jur´ıdico como uma obra aberta e coletiva, para que a ampliac¸˜ao do c´ırculo de int´erpretes passa a decorrer da necessidade de assimilar o mundo circundante a um modelo interpretativo plural e progressista. Isto porque, longe de ser propriedade dos juristas, a Constituic¸˜ao pertence a toda sociedade. Da mesma forma que a B´ıblia deve ser interpretada pelo fiel, sem as amarras simb´olicas da autoridade sacerdotal, tamb´em a Lei Maior deve ser conhecida e manejada pelo cidad˜ao, livre da influˆencia oracular de pretensos donos ou aprendizes do poder.” (SOARES, 2009, p. 113) (grifado no original somente em it´alico).

126Neste sentido: “Sendo assim, revela-se, portanto, insustent´avel a interpretac¸˜ao constitucional de que os direitos sociais a prestac¸˜oes positivas do Estado est˜ao exclu´ıdos da categoria dos direitos fundamentais, n˜ao apresentando efic´acia plena e imediata aplic´aveis, porquanto a dignidade da pessoa humana e dos demais direitos fundamentais, inclusive individuais, s´o se realizam plenamente com o reconhecimento da aplicabilidade e efetividade dos direitos sociais.” (SOARES, 2010b, p. 147) (grifos nossos).

4.3.1

O direito de acesso do cidad˜ao `a Justic¸a Constitucional

A Assembleia Constituinte de 1988 reconheceu que, para a manutenc¸˜ao da existˆencia de um

regime politicamente democr´atico, ´e imprescind´ıvel que se respeite a reserva de poder dos cidad˜aos

em relac¸˜ao ao Poder Estatal e estabeleceu e assegurou, na Constituic¸˜ao Federal de 1988 (art. 1o,

par´agrafo ´unico128

e art. 14129), al´em da existˆencia dos mecanismos da representac¸˜ao pol´ıtica,

os instrumentos para viabilizar o exerc´ıcio da cidadania participativa

130, os quais garantem a

participac¸˜ao pol´ıtica do cidad˜ao na func¸˜ao legislativa (Poder Legislativo), na esfera da func¸˜ao

executiva(Poder Executivo), e tamb´em na atuac¸˜ao do Poder Judici´ario, com especial relevˆancia, o

direito de petic¸˜ao(art. 5o, XXXIV, a131), demonstrando, portanto, que ao cidad˜ao foi reconhecido

o direito humano fundamental de ter acesso `a Justic¸a132em busca da efetividade plena dos direitos

humanos como direitos p´ublicos subjetivos133, pois,

os direitos fundamentais devem ter efic´acia tanto frente ao Estado, quanto frente

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