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portanto, se percebe que a Constituic¸˜ao Federal de 1988 acompanhou o modelo de Estado que n˜ao se vincula apenas a proteger a liberdade individual (Estado Liberal), pois, ao estabelecer como

seus fundamentos, especialmente, a cidadania, a dignidade da pessoa humana e os valores sociais

do trabalho e da livre iniciativa, prescreveu um modelo econˆomico39

que n˜ao exclua o indiv´ıduo,

pois tem o fim de assegurar a todos existˆencia digna, conforme os ditames da justic¸a social.

regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, rac¸a, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminac¸˜ao”. Art. 4o “A Rep´ublica Federativa do Brasil rege-se nas suas relac¸˜oes internacionais pelos seguintes princ´ıpios: I - independˆencia nacional; II - prevalˆencia dos direitos humanos; III - autodeterminac¸˜ao dos povos; IV - n˜ao-intervenc¸˜ao; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - soluc¸˜ao pac´ıfica dos conflitos; VIII - rep´udio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperac¸˜ao entre os povos para o progresso da humanidade; X - concess˜ao de asilo pol´ıtico. Par´agrafo ´unico. A Rep´ublica Federativa do Brasil buscar´a a integrac¸˜ao econˆomica, pol´ıtica, social e cultural dos povos da Am´erica Latina, visando `a formac¸˜ao de uma comunidade latino-americana de nac¸˜oes”.

39CF/88, Art. 170. “A ordem econˆomica, fundada na valorizac¸˜ao do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existˆencia digna, conforme os ditames da justic¸a social, observados os seguintes princ´ıpios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III - func¸˜ao social da propriedade; IV - livre concorrˆencia; V - defesa do consumidor; VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e servic¸os e de seus processos de elaborac¸˜ao e prestac¸˜ao; VII - reduc¸˜ao das desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constitu´ıdas sob as leis brasi- leiras e que tenham sua sede e administrac¸˜ao no Pa´ıs. Par´agrafo ´unico. ´E assegurado a todos o livre exerc´ıcio de qualquer atividade econˆomica, independentemente de autorizac¸˜ao de ´org˜aos p´ublicos, salvo nos casos previstos em lei”.

Deste modo, o int´erprete-aplicador do Direito, atrav´es da utilizac¸˜ao do princ´ıpio da m´axima

efetividade40, no ˆambito das relac¸˜oes jur´ıdicas que tenham existˆencia no Ordenamento Jur´ıdico

Brasileiro, poder´a extrair todos os efeitos poss´ıveis dos elementos inseridos na Constituic¸˜ao de

1988 (SILVA NETO, 2010, p. 137-138), especialmente, diante do fato de que grande parcela

do contingente populacional que comp˜oe a sociedade brasileira ainda aguarda pelos efeitos da

concretizac¸˜ao da democracia substancial41

preconizada pelo Ordenamento Jur´ıdico Brasileiro de

1988 atrav´es da constitucionalizac¸˜ao dos Direitos Humanos Sociais.

3.2.1

O escopo do Constitucionalismo Social na CF/88

Na Constituic¸˜ao Brasileira de 1988, embora os direitos sociais

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(cap´ıtulo II do T´ıtulo II)

estejam inscritos em local distanciado da Ordem Social (T´ıtulo VIII) “n˜ao ocorre uma separac¸˜ao

radical, como se os direitos sociais n˜ao fossem algo ´ınsito na ordem social” (SILVA, 2001, p. 288).

As normas constitucionais de direito social (artigos 6oa 11o) e as normas constitucionais vincula-

das `a ordem econˆomica e `a ordem social (artigos 170 a 232) revelam o compromisso firmado pelo

constituinte origin´ario de prescrever as diretrizes para que a ordem pol´ıtica-jur´ıdica atue com o fim

de promover pol´ıticas p´ublicas43

em prol da consecuc¸˜ao dos objetivos fundamentais (artigo 3o 44)

do Estado brasileiro, pois

“os direitos sociais, como dimens˜ao dos direitos fundamentais do homem, s˜ao prestac¸˜oes

positivas proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente, enunciadas em normas

constitucionais, que possibilitam melhores condic¸˜oes de vida aos mais fracos, direitos

que tendem a realizar a igualizac¸˜ao de situac¸˜oes sociais desiguais

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. S˜ao, portanto, di-

40“A ideia de efetividade, conquanto de desenvolvimento relativamente recente, traduz a mais not´avel preocupac¸˜ao do constitucionalismo nos ´ultimos tempos. Ligada ao fenˆomeno da juridicizac¸˜ao da Constituic¸˜ao, e ao reconhecimento e incremento de sua forc¸a normativa, a efetividade merece cap´ıtulo obrigat´orio na interpretac¸˜ao constitucional. A doutrina contemporˆanea refere-se `a necessidade de dar preferˆencia, nos problemas constitucionais, aos pontos de vista que levem as normas a obter a m´axima efic´acia ante as circunstˆancias de cada caso. [...] O malogro do constitucionalismo, no Brasil e alhures, vem associado `a falta de efetividade da Constituic¸˜ao, de sua incapacidade de moldar e submeter a realidade social. Naturalmente, a Constituic¸˜ao jur´ıdica de um Estado ´e condicionada historicamente pelas circunstˆancias concretas de cada ´epoca. Mas n˜ao se reduz ela `a mera express˜ao das situac¸˜oes de fato existentes. A Constituic¸˜ao tem uma existˆencia pr´opria, autˆonoma, embora relativa, que adv´em de sua forc¸a normativa, pela qual ordena e conforma o contexto social e pol´ıtico. Existe, assim, entre a norma e a realidade, uma tens˜ao permanente. ´

E nesse espac¸o que se definem as possibilidades e os limites do direito constitucional. Embora resulte de um impulso pol´ıtico, que deflagra o poder constituinte origin´ario, a Constituic¸˜ao, uma vez posta em vigˆencia, ´e um documento jur´ıdico. E as normas jur´ıdicas, tenham car´ater imediato ou prospectivo, n˜ao s˜ao opini˜oes, meras aspirac¸˜oes ou plataforma pol´ıtica.” (BARROSO, 2009b, p. 253, 255-256) (grifos nossos).

41Neste sentido: “no momento em que o maior clamor ouvido diz respeito `a concretizac¸˜ao da norma constitucional, o princ´ıpio da m´axima efetividade n˜ao ´e apenas mais um postulado dentro do plexo principiol´ogico da ciˆencia do direito constitucional. ´E, para n´os, o princ´ıpio mais importante na interpretac¸˜ao da constituic¸˜ao, se se quiser visualizar, no mundo f´ısico, os efeitos pr´oprios e esperados pelo constituinte origin´ario quando lanc¸ou as bases e o programa da comunidade pol´ıtica.” (SILVA NETO, 1999, p. 35).

42CF/1988, artigo 6.o: “S˜ao direitos sociais a educac¸˜ao, a sa´ude, a alimentac¸˜ao, o trabalho, a moradia, o lazer, a seguranc¸a, a previdˆencia social,

a protec¸˜ao `a maternidade e `a infˆancia, a assistˆencia aos desamparados, na forma desta Constituic¸˜ao”. Desta maneira, “s˜ao direitos fundamentais dirigidos contra o Estado a determinar a exigibilidade de prestac¸˜oes no que se refere a educac¸˜ao, sa´ude, trabalho, lazer, seguranc¸a e previdˆencia social.”(SILVA NETO, 2010, p. 757).

43Neste sentido exp˜oe o jurista Manoel Gonc¸alves Ferreira Filho: “O sujeito passivo desses direitos ´e o Estado. ´E este posto como o respons´avel pelo atendimento aos direitos sociais. Na Constituic¸˜ao brasileira de 1988 isso ´e cristalino. O texto afirma “dever do Estado” propiciar a protec¸˜ao `a sa´ude (art. 196), `a educac¸˜ao (art. 205), `a cultura (art. 215), ao lazer, pelo desporto (art. 217), pelo turismo (art. 180) etc. Igualmente o direito ao trabalho que se garante pelo socorro da previdˆencia social ao desempregado (art. 201, IV). Mas, sem d´uvida, o Estado ´e visto como o representante da sociedade, como a express˜ao personalizada desta. A seguridade social, por exemplo, ´e claramente apontada na mesma Constituic¸˜ao de 1988 como responsabilidade da sociedade inteira (art. 195). `As vezes, a responsabilidade ´e partilhada com outro grupo social, como a fam´ılia. ´E o caso do direito `a educac¸˜ao (Constituic¸˜ao brasileira, art. 205).” (FERREIRA FILHO, 2005, p. 50).

44CF/88, Art. 3o“Constituem objetivos fundamentais da Rep´ublica Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solid´aria; II

- garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalizac¸˜ao e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, rac¸a, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminac¸˜ao”.

45O jurista Paulo Bonavides se expressa com entendimento neste sentido: “O Estado social no Brasil a´ı est´a para produzir as condic¸˜oes e os pressupostos reais e f´aticos indispens´aveis ao exerc´ıcio dos direitos fundamentais. N~ao h´a para tanto outro caminho sen~ao reconhecer o estado atual de depend^encia do indiv´ıduo em rela¸c~ao `as presta¸c~oes do Estado e FAZER COM QUE

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