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o pluralismo, ancorado numa teoria de inputs dos grupos ´e, ao mesmo tempo, uma teo ria emp´ırica e uma teoria normativa Como teoria emp´ırica pretende captar a realidade

social e pol´ıtica das democracias ocidentais, nas quais todas as decis˜oes pol´ıticas se re-

conduziriam a interesses veiculados pelos v´arios grupos sociais. Como teoria normativa

- o pluralismo como ideia dirigente - a teoria pluralista pressuporia um sistema pol´ıtico

aberto, com ordens de interesses e valores diferenciados e que, tendencialmente, per-

mitiria a todos os grupos a chance de influˆencia efetiva nas decis˜oes pol´ıticas. Dessa

forma, realizar-se-ia a aspirac¸˜ao da distribuic¸˜ao de poderes por v´arios subsistemas con-

correntes, substituindo-se a concorrˆencia liberal de ideias pelo interesse concorrente dos

grupos. Ao mesmo tempo, conseguir-se-ia obter uma dimens˜ao igualit´aria, na medida em

que, estando no sistema plural´ıstico todos os interessados tendencialmente organizados da

mesma maneira, todos eles teriam uma quota de influˆencia e mobilizac¸˜ao (CANOTILHO,

2003, p. 1409) (grifado no original),

´e, portanto, imprescind´ıvel reconhecer a legitimidade do cidad˜ao para, permanentemente, exer-

cer as prerrogativas da cidadania e interagir com o prop´osito de garantir que, durante o cont´ınuo

di´alogo democr´atico dos poderes p´ublicos estatais com os fatores reais de poder, o objetivo funda-

mental da Rep´ublica Federativa do Brasil de construir uma sociedade livre, justa e solid´aria (CF/88,

art. 3o, I) seja, n˜ao apenas lembrado, mas respeitado e efetivado com a garantia da realizac¸˜ao de

pol´ıticas p´ublicas que viabilizem a concretizac¸˜ao do acesso `as condic¸˜oes materiais de existˆencia

condizentes com a dignidade da pessoa humana (CF/88, art. 1o, III), de forma que cada indiv´ıduo

possa exercer, de forma plena, o direito de cidadania (CF/88, art. 1o, II) no atual Estado De-

mocr´atico de Direito Brasileiro em que a cidadania e a dignidade da pessoa humana se constituem

nos fundamentos da ac¸˜ao dos poderes p´ublicos estatais.

2.3.1

Os valores paradigm´aticos supremos

A Assembleia Constituinte de 1988 definiu as novas facetas do regime jur´ıdico democr´atico

para a atuac¸˜ao pol´ıtica118do Estado Brasileiro ao estabelecer os valores ´eticos-pol´ıticos-jur´ıdicos,

na medida em que a instˆancia constituinte ´e considerada como a mais elevada autoridade e por isso n˜ao pode ser havida como recebendo o poder constituinte atrav´es de uma outra norma, posta por uma autoridade superior. Se se pergunta pelo fundamento de validade de uma norma pertencente a uma determinada ordem jur´ıdica, a resposta apenas pode consistir na reconduc¸˜ao `a norma fundamental desta ordem jur´ıdica, quer dizer: na afirmac¸˜ao de que esta norma foi produzida de acordo com a norma fundamental.” (KELSEN, 1998, p. 221-222).

116Com entendimento neste sentido: PIOVESAN, 2008, p. 21-42; SILVA, 2001, p. 45-46; SILVA, 2012, p. 21-43.

117“O pluripartidarismo, todavia, n˜ao ´e o ´unico instrumento destinado a concretizar o pluralismo pol´ıtico, mas t˜ao-s´o um dos expedientes postos `a disposic¸˜ao do Estado, que ´e - frise-se - “democr´atico” e “de direito”, direcionado ao alargamento da participac¸˜ao do indiv´ıduo nas decis˜oes do ente pol´ıtico.” (SILVA NETO, 1999, p. 71).

118Em relac¸˜ao ao sistema institucional de autoridades governamentais no contexto de uma democracia como regime pol´ıtico do Estado de Direito: “o governo ´e um sistema estruturado de ´org˜aos dispostos para uma func¸˜ao determinada, as chamadas func¸˜oes de governo, que compreendem as possibilidades de criar normas, decidir a forma de executar as atividades p´ublicas e resolver os conflitos. H´a que considerar que a func¸˜ao de governar, em qualquer uma dessas variantes, se diferencia de outras responsabilidades a cumprir por outros sistemas dentro da sociedade, especialmente por duas caracter´ısticas b´asicas: a primeira, que as func¸˜oes quando exercidas afetam todo o desenvolvimento da sociedade; a segunda, a de que os ´org˜aos que a exercem o fazem pelo princ´ıpio da autoridade, ´e dizer, s˜ao autoridades p´ublicas ou atores pol´ıticos e jur´ıdicos p´ublicos, porque se

como os prop´ositos supremos para a pr´atica das ac¸˜oes estatais119, no preˆambulo120da Constituic¸˜ao

121, in verbis:

N´os, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte

para instituir um Estado Democr´atico, destinado a assegurar o exerc´ıcio dos direi-

tos sociais e individuais, a liberdade, a seguranc¸a, o bem-estar, o desenvolvimento, a

igualdade e a justic¸a como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e

sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e

internacional, com a soluc¸˜ao pac´ıfica das controv´ersias, promulgamos, sob a protec¸˜ao

de Deus, a seguinte CONSTITUIC¸ ˜AO DA REP ´UBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

(grifos nossos)

assim,

a´ı s˜ao enumerados direitos identificados como valores fundamentais da sociedade brasi-

leira, acrescentando-se o prop´osito de, usando a Constituic¸˜ao, assegurar o exerc´ıcio de

tais direitos, ficando evidente que n˜ao se trata apenas de um enunciado abstrato, de uma

proclamac¸˜ao de natureza ´etica, fora do universo jur´ıdico. Em seguida, j´a no art. 1

o

122

, faz-se a enumerac¸˜ao dos fundamentos da Rep´ublica brasileira, que s˜ao valores ´etico-

jur´ıdicos, e no art. 4

o 123

s˜ao, expressa e claramente, enunciados os princ´ıpios que regem

as relac¸˜oes internacionais do Brasil (DALLARI, 2010a, p. 324-325),

desta maneira, com a formac¸˜ao deste novo perfil de ordenamento jur´ıdico - a declarac¸˜ao dos

fundamentos (art. 1o) e da raz˜ao de ser (art. 3o) de toda a organizac¸˜ao estatal124, o Estado Brasi-

encontram investidos de autoridade para defender ou tomar decis˜oes de governo nos moldes e limites estabelecidos na Constituic¸˜ao e documentos legislativos pertinentes a sua atuac¸˜ao.” (LORA ALARC ´ON, 2011, p. 182) (grifado no original).

119No sentido de que as ac¸˜oes estatais, como ac¸˜oes pol´ıticas no contexto de uma democracia, devem se subordinar as diretrizes constitucionais: “o exerc´ıcio da pol´ıtica requer a utilizac¸˜ao dos meios p´ublicos para tomar e executar as decis˜oes que regeram a vida social, ´e dizer, a normatividade. A pol´ıtica implica, ainda, o exerc´ıcio do controle das atividades governamentais tanto na ordem nacional quanto regional e local. Com vistas a essa finalidade, a subordinac¸˜ao dos governos a princ´ıpios e regras jur´ıdicas, especialmente as constitucionais, ´e de extrema importˆancia para afastar a arbitrariedade, evitando-se decis˜oes fora da raz˜ao, na contram˜ao do interesse p ´ublico e do sistema materialmente legitimado pela democracia.” (LORA ALARC ´ON, 2011, p. 182-183) (grifos nossos).

120Para se obter o pleno entendimento da importˆancia do preˆambulo na CF/88 ´e preciso se considerar que o surgimento da CF/88 est´a vinculado ao contexto do per´ıodo hist´orico denominado de Neoconstitucionalismo: “Uma das mais importantes inovac¸˜oes introduzidas pelo neocons- titucionalismo foi o reconhecimento da natureza jur´ıdica dos princ´ıpios referidos expressamente ou impl´ıcitos no texto constitucional, igualando-os, em termos de efic´acia e imediata exigibilidade, `as normas constitucionais. Por forc¸a dessa inovac¸˜ao, os princ´ıpios constituci- onais deixam de ser vistos e tratados como recomendac¸˜oes ou sugest˜oes, que poder˜ao ser acolhidas e respeitadas ou n˜ao, sem que a recusa de acolhimento ou o desrespeito acarretem qualquer consequˆencia jur´ıdica. Essa ´e, realmente, uma das inovac¸˜oes de maior reflexo pr´atico, pois at´e recentemente os princ´ıpios, geralmente inseridos no preˆambulo da Constituic¸˜ao ou no in´ıcio de um cap´ıtulo ou artigo referente `a Declarac¸˜ao de Direitos, n˜ao eram reconhecidos como normas jur´ıdicas, e por isso n˜ao eram tidos como obrigat´orios e exig´ıveis por meios jur´ıdicos. [...] Um exemplo muito expressivo desse novo constitucionalismo ´e a atual Constituic¸˜ao brasileira, de 1988, elaborada por uma As- sembleia Nacional Constituinte ap´os um per´ıodo de ditadura militar que durou de 1964 at´e 1986. Embora, em linhas gerais, tenha sido mantido o modelo estadunidense, adotado no Brasil em 1891, logo ap´os a proclamac¸˜ao da Rep´ublica, foram introduzidas inovac¸˜oes substanciais, sendo uma delas um preˆambulo que, por sua redac¸˜ao, deixa claro que est´a afirmando valores ´eticos como direitos e que um dos objetivos da Constituic¸˜ao ´e dar-lhes efetividade.” (DALLARI, 2010a, p. 320-321, 324) (grifos nossos). E, ainda, “Os princ´ıpios introduzidos em preˆambulo possuem idˆentica efic´acia `a dos princ´ıpios adscritos no texto principal de uma constituic¸˜ao.” (SILVA NETO, 2011, p. 163).

121Neste sentido, ainda, com an´alise doutrin´aria sobre o aspecto da efic´acia do preˆambulo da CF/88: CUNHA J ´UNIOR, 2011, p. 126-127; CUNHA J ´UNIOR, 2008, p. 72-75; DALLARI, 2010b, p. 109-123; GONC¸ ALVES CARVALHO, 2006, p. 429-432; SILVA NETO, 2006, p. 145-146; SILVA NETO, 2010, p. 176-177.

122CF/88, Art. 1o“A Rep´ublica Federativa do Brasil, formada pela uni˜ao indissol´uvel dos Estados e Munic´ıpios e do Distrito Federal, constitui-

se em Estado Democr´atico de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo pol´ıtico. Par´agrafo ´unico. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituic¸˜ao”.

123CF/88, Art. 4o “A Rep´ublica Federativa do Brasil rege-se nas suas relac¸˜oes internacionais pelos seguintes princ´ıpios: I - independˆencia

nacional; II - prevalˆencia dos direitos humanos; III - autodeterminac¸˜ao dos povos; IV - n˜ao-intervenc¸˜ao; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - soluc¸˜ao pac´ıfica dos conflitos; VIII - rep´udio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperac¸˜ao entre os povos para o progresso da humanidade; X - concess˜ao de asilo pol´ıtico. Par´agrafo ´unico. A Rep´ublica Federativa do Brasil buscar´a a integrac¸˜ao econˆomica, pol´ıtica, social e cultural dos povos da Am´erica Latina, visando `a formac¸˜ao de uma comunidade latino-americana de nac¸˜oes”.

124Neste sentido: “Pois bem, se analisarmos, ainda que superficialmente, o direito positivo brasileiro, verificaremos que o termo fundamento ´e empregado sempre com o sentido nuclear de raz˜ao justificativa ou de fonte legitimadora. A Constituic¸˜ao Federal de 1988, por exemplo, abre-se com a declarac¸˜ao de que “a Rep´ublica Federativa do Brasil, (...), tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa

leiro se insere nos parˆametros do Constitucionalismo125

contemporˆaneo126, com forte conte´udo

substancial

127, que restabeleceu a dimens˜ao valorativa do Direito, com a rematerializac¸˜ao da

Constituic¸˜ao, atrav´es da inserc¸˜ao de princ´ıpios

128, estruturando o bloco axiol´ogico constitucio-

nal fundado nos valores da justic¸a, da liberdade, da igualdade e da dignidade humana

129, que

passa a execer uma func¸˜ao legitimadora130

das normas, atos e decis˜oes estatais para verificac¸˜ao

de sua adequac¸˜ao ao programa constitucional de concretizac¸˜ao dos direitos humanos, com espe-

humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo pol´ıtico.” (art. 1o). Indicam-se nessa norma, indubitavelmente,

as fontes legitimadoras de nossa organizac¸˜ao pol´ıtica, isto ´e, a raz˜ao de ser de toda a organizac¸˜ao estatal. Essas raz˜oes justificadoras da Rep´ublica brasileira s˜ao explicitadas, no art. 3o, sob a forma de “objetivos fundamentais”: “I - construir uma sociedade livre, justa e solid´aria; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalizac¸˜ao e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, rac¸a, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminac¸˜ao.”” (COMPARATO, 2010a, p.15) (grifado no original).

125“Constitucionalismo ´e a teoria (ou ideologia) que ergue o princ´ıpio do governo limitado indispens´avel `a garantia dos direitos em dimens˜ao estruturante da organizac¸˜ao pol´ıtico-social de uma comunidade. NESTE SENTIDO, O CONSTITUCIONALISMO MODERNO REPRESENTAR ´A UMA T ´ECNICA ESPEC´IFICA DE LIMITAC¸ ˜AO DO PODER COM FINS GARANT´ISTICOS. O conceito de constitucionalismo transporta, assim, um claro ju´ızo de valor. ´E, no fundo, uma teoria normativa da pol´ıtica, tal como a teoria da democracia ou a teoria do liberalismo.” (CANOTILHO, 2003, p. 51) (grifado no original em it´alico e negrito).

126“No constitucionalismo contemporˆaneo, gerado a partir do segundo p´os-Guerra [...] registra-se uma forte tendˆencia `a limitac¸˜ao do poder que se traduz em um reforc¸o da dimens˜ao garantista e do conseguinte controle jurisdicional da Constituic¸˜ao por parte dos ju´ızes: o legicentrismo das Constituic¸˜oes oitocentistas foi definitivamente superado. Vivemos em um contexto de pluralismo normativo que reclama a centralidade e a supremacia da Constituic¸˜ao.” (JULIOS-CAMPUZANO, 2009, p. 28-29) (grifos nossos).

127Neste sentido, esclarecendo os efeitos da inserc¸˜ao de valores no ˆambito da Constituic¸˜ao jur´ıdica: “El neoconstitucionalismo pretende explicar un conjunto de textos constitucionales que comienzan a surgir despu´es de la segunda guerra mundial y sobre todo a partir de los a˜nos setenta del siglo XX. Se trata de constituciones que no se limitan a establecer competencias o a separar a los poderes p´ublicos, sino que contienen altos niveles de normas materiales o substantivas que condicionan la actuaci´on del Estado por medio de la ordenaci´on de ciertos fines y objetivos. Adem´as, estas constituciones contienen amplios cat´alogos de derechos fundamentales, lo que viene a suponer un marco muy renovado de relaciones entre el Estado y los ciudadanos, sobre todo por la profundidad y el grado de detalle de los postulados constitucionales que recogen tales derechos. Ejemplos representativos de este tipo de constituciones, en lo que respecta puntualmente a su texto, lo son la portuguesa de 1976, la espa˜nola de 1978, la brasile˜na de 1988, la colombiana de 1991, la venezolana de 1999 y la ecuatoriana de 2008.” (CARBONELL, 2010, p. 154) (grifado no original). Assim, “o exposto demonstra que o “conceito” Constituic¸˜ao (essˆencia) carece de permanente estudo no ˆambito da Teoria da Constituic¸˜ao, seja porque ele n˜ao se encaixa, apenas, no de Constituic¸˜ao jur´ıdica, seja porque os valores fundamentais devem conformar as normas inseridas nessa Constituic¸˜ao jur´ıdica para que elas tenham legitimidade. ´E por causa da necessidade de conformac¸˜ao dessas normas com esses valores que se pode examinar se, o legislador delas exorbitou, ou n˜ao, da sua func¸˜ao que ´e de potˆencia e n˜ao de competˆencia. Ainda que seja, como o ´e, uma potˆencia, o legislador constituinte n˜ao poder´a ferir o direito suprapositivo, balizador desse legislador. ´E neste sentido que a doutrina alem˜a fala de normas constitucionais (da Constituic¸˜ao jur´ıdica) inconstitucionais (se ferem valores fundamentais constantes da Constituic¸˜ao essˆencia).” (BRITO, 1993, p. 35-36) (grifado no original somente em it´alico).

128As seguintes posic¸˜oes doutrin´arias exp˜oem uma an´alise dos efeitos da adoc¸˜ao de princ´ıpios constitucionais no ordenamento jur´ıdico: “Princ´ıpio [...] ´e, por definic¸˜ao, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposic¸˜ao fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o esp´ırito e servindo de crit´erio para sua exata compreens˜ao e inteligˆencia exatamente por definir a l´ogica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tˆonica e lhe d´a sentido harmˆonico. ´E o conhecimento dos princ´ıpios que preside a intelecc¸˜ao das diferentes partes componentes do todo unit´ario que h´a por nome sistema jur´ıdico positivo. Violar um princ´ıpio ´e muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A desatenc¸˜ao ao princ´ıpio implica ofensa n˜ao apenas a um espec´ıfico mandamento obrigat´orio, mas a todo o sistema de comandos. ´E a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escal˜ao do princ´ıpio atingido, porque representa insurgˆencia contra todo o sistema, subvers˜ao de seus valores fundamentais, contum´elia irrevers´ıvel a seu arcabouc¸o l´ogico e corros˜ao de sua estrutura mestra.” (BANDEIRA DE MELLO, 2005, p. 888-889). “Com a introduc¸˜ao dos princ´ıpios, o texto constitucional deixa de ser uma fonte, para se converter na norma suprema do ordenamento, cujos conte´udos substantivos - centrados eminentemente em torno do cat´alogo de direitos fundamentais e a suas correlativas obrigac¸˜oes de ac¸˜ao ou de omiss˜ao -, cumprem a miss˜ao de dirigir normativamente o legislador, cuja atuac¸˜ao fica, por isso, condi- cionada. [...] Diante do modelo liberal oitocentista, a Constituic¸˜ao aparece concebida simultaneamente como sistema de garantias e como sistema de valores: deixou de ser um manifesto pol´ıtico para converter-se em uma verdadeira e precisa norma jur´ıdica. E esta mutac¸˜ao, que sup˜oe a consagrac¸˜ao da Constituic¸˜ao como norma jur´ıdica efetiva dotada de forc¸a normativa para modelar o ordenamento jur´ıdico, provoca a destruic¸˜ao do dogma estatalista da forc¸a absoluta da lei. A supremacia da Constituic¸˜ao vem colocar em quarentena a primazia da lei e a validade das normas jur´ıdicas fica condicionada agora aos conte ´udos substantivos contidos na Constituic¸˜ao e a interpretac¸˜ao dos princ´ıpios.” (JULIOS-CAMPUZANO, 2009, p. 34, 48) (grifos nossos).

129O sentido e o contexto da express˜ao bloco axiol´ogico se depreende das seguintes reflex˜oes doutrin´arias: “a rematerializac¸˜ao constitucional garante que o bloco axiol´ogico incorporado `a Constituic¸˜ao exerc¸a efetivamente uma func¸˜ao legitimadora das normas e decis˜oes jur´ıdicas: em definitivo, a func¸˜ao constitucional proporciona um instrumento de incalcul´avel valor para a limitac¸˜ao do poder e a legitimac¸˜ao das normas jur´ıdicas, cuja validade n˜ao deriva exclusivamente de um procedimento estritamente formal de produc¸˜ao jur´ıdica, mas que, ao incorporar um sistema amplo de valores, este fica convertido ipso iure no crit´erio b´asico de legitimidade das normas jur´ıdicas. Da´ı que o car´ater central da Constituic¸˜ao sup˜oe uma transformac¸˜ao substancial na configurac¸˜ao do ordenamento e da pr´opria Ciˆencia do Direito, pois a incorporac¸˜ao deste n ´ucleo substantivo de valores ao plano constitucional tem a virtude de estabelecer crit´erios efetivos de validac¸˜ao e legitimidade das normas jur´ıdicas que v˜ao muito al´em das exigˆencias estritamente formais que havia formulado a dogm´atica positivista.” (JULIOS-CAMPUZANO, 2009, p. 50) (grifado no original somente em it´alico).

130“A legitimidade na contemporaneidade est´a indissoluvelmente ligada ao consentimento popular e `a democracia, ´e dizer, `a sujeic¸˜ao da obtenc¸˜ao do poder e atuac¸˜ao no seu exerc´ıcio com base nos valores aceitos pelo povo. [...] Nessa trilha, a legalidade de um regime democr´atico, por exemplo, ´e seu enquadramento nos moldes de uma Constituic¸˜ao observada e praticada; sua legitimidade ser´a sempre o poder contido

cial relevˆancia no contexto dos direitos humanos sociais

131, em conformidade com o teor das

Declarac¸˜oes de Direitos, em especial, a Declarac¸˜ao Universal dos Direitos Humanos132, que pre-

nunciavam a necessidade da superac¸˜ao do legado do positivismo legalista133, o qual fomentava a

exclus˜ao dos ju´ızos de valor sobre o direito e sobre os seus conte´udos substantivos de justic¸a do

ˆambito da juricidade, e impunha um modelo de constitucionalismo liberal focado na concepc¸˜ao

de um Estado m´ınimo que, com base na concepc¸˜ao abstrata do indiv´ıduo, negava as exigˆencias

elementares de justic¸a, em especial, os direitos humanos sociais.

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