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Assim, considerando que o Estado de Direito se consubstancia numa forma de organizac¸˜ao social em que o Ordenamento Jur´ıdico tem a func¸˜ao primordial de garantir a igualdade de todos os

indiv´ıduos, bem como, protegˆe-los dos abusos cometidos por aqueles que exercem o Poder Estatal

atrav´es das func¸˜oes estatais (Legislativo, Executivo, Judici´ario), ´e ineg´avel que estas func¸˜oes sem-

pre dever˜ao ser executadas em prol daqueles que s˜ao representados pela estrutura estatal, ou seja,

visando o bem-estar de todos os componentes da sociedade, os indiv´ıduos-cidad˜aos, que detˆem a

titularidade n˜ao s´o dos interesses geridos, mas tamb´em do Poder Estatal, e que atrav´es do exerc´ıcio,

cada vez mais ativo, da cidadania, podem servir-se dessa titularidade e exercer o controle social

dos Poderes P´ublicos99.

Neste contexto, ´e imprescind´ıvel que haja o exerc´ıcio cont´ınuo da cidadania solid´aria, atrav´es

da utilizac¸˜ao dos diversos instrumentos que viabilizam a Democracia Participativa, n˜ao s´o durante

as deliberac¸˜oes para a definic¸˜ao do teor das pol´ıticas p´ublicas, mas tamb´em, durante a execuc¸˜ao,

na efetivac¸˜ao das pol´ıticas p´ublicas nacionais, pois, por exemplo,

97CF/88, Art. 170. “A ordem econˆomica, fundada na valorizac¸˜ao do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existˆencia digna, conforme os ditames da justic¸a social [...].” (grifos nossos).

98O exerc´ıcio da cidadania, especialmente, atrav´es da proposic¸˜ao da justiciabilidade dos direitos humanos sociais, se justifica porque a atuac¸˜ao do Estado Democr´atico de Direitoest´a sendo delimitada pela ortodoxia neoliberal no contexto da globalizac¸˜ao que apregoa: “tal como no econˆomico, a interven¸c~ao do Estado no social tamb´em ´e vista como pouco ‘‘recomend´avel’’, devendo ser substitu´ıda por um tipo de “mer- cado” especial em que cabem desde a grande seguradora financeira (que passa a garantir previdˆencia social e sa´ude para os que podem pagar pelo seguro) at´e o chamado “terceiro setor”, que tamb´em inclui uma vasta gama de “atores” (desde as antigas associac¸˜oes comunit´arias ou igrejas at´e as modernas Organizac¸˜oes N˜ao-governamentais de todo tipo). A MERCANTILIZAC¸ ˜AO DOS SERVIC¸ OS SOCIAIS - MESMO OS ESSENCIAIS, COMO SA ´UDE E EDUCAC¸ ˜AO - TAMB ´EM ´E VISTA COMO “NATURAL”: AS PESSOAS DEVEM PAGAR PE- LOS SERVIC¸ OS PARA QUE ESTES SEJAM “VALORIZADOS”. E QUANTO `AS PESSOAS QUE N ˜AO PODEM PAGAR? CABE A ELAS “COMPROVAR” SUA POBREZA, E S ´O ENT ˜AO O ESTADO DEVE INTERVIR, PRESTANDO SERVIC¸ OS “FOCALIZADOS” AOS COMPROVADAMENTE POBRES. A FILANTROPIA SUBSTITUI O DIREITO SOCIAL. OS POBRES SUBSTITUEM OS CIDAD~AOS. A AJUDA INDIVIDUAL SUBSTITUI A SOLIDARIEDADE COLETIVA. O EMERGENCIAL E O PROVIS ´ORIO SUBSTITUEM O PERMA- NENTE. AS MICROSSOLUC¸~OES AD HOC SUBSTITUEM AS POL´ITICAS P´UBLICAS. O LOCAL SUBSTITUI O REGIONAL E O NACIONAL. ´E O REINADO DO MINIMALISMO NO SOCIAL PARA ENFRENTAR A GLOBALIZAC¸ ˜AO NO ECON ˆOMICO. “GLOBALIZAC¸ ˜AO S ´O PARA O GRANDE CAPITAL. DO TRABALHO E DA POBREZA, CADA UM CUIDE DO SEU COMO PUDER. DE PREFER^ENCIA COM UM ESTADO FORTE PARA SUSTENTAR O SISTEMA FINANCEIRO E FALIDO PARA CUIDAR DO SOCIAL.” [...] Segundo estudo recente da Ce- pal sobre o panorama social da Am´erica Latina e do Caribe, “percentuais crescentes da populac¸˜ao declaram sentir-se submetidas a condic¸˜oes de risco, inseguranc¸a e sem defesa. Como causas, a Cepal aponta a evoluc¸˜ao do mercado de trabalho; o recuo da ac¸˜ao do Estado; novas formas institucionais para o acesso aos servic¸os sociais e a deteriorac¸˜ao das express˜oes tradicionais de organizac¸˜ao social.”” (SOARES, 2003, p. 12, 25) (grifado no original somente em it´alico).

o caput do artigo [170] especifica que a ordem econˆomica se funda na “valorizac¸˜ao do

trabalho” (e na “livre iniciativa”). Esta regra n˜ao ´e apenas - embora tamb´em o seja - um

comando para o legislador e uma diretriz inafast´avel quer para o Executivo, na produc¸˜ao

de sua pol´ıtica econˆomica e social, quer para os empregadores. Ela ´e - mais que simples

programa - uma fonte de direito subjetivo para o trabalhador. Quer-se dizer: qual-

quer ato, normativo ou concreto, que traduza desrespeito `a valorizac¸˜ao do trabalho

ser´a inconstitucional e estar´a, desde logo, transgredindo um direito de todos e de

cada um dos indiv´ıduos atingidos. Donde qualquer trabalhador pode comparecer a

ju´ızo para anular o ato assim gravoso, sem necessidade de se fundar em qualquer

dispositivo espec´ıfico outro que n˜ao este mesmo, o art. 170. Deveras, a Carta Consti-

tucional n˜ao pode valer menos que uma lei, que um regulamento ou uma portaria do

Minist´erio do Trabalho. Se o texto constitucional proclama que “a valorizac¸˜ao do traba-

lho ´e fundamento da ordem econˆomica”, isto significa que erigiu esta noc¸˜ao em princ´ıpio,

vale dizer, em cˆanone mais forte que uma simples regra - pelo que ele ´e invoc´avel como

supedˆaneo imediato de uma pretens˜ao jur´ıdica (BANDEIRA DE MELLO, 2011a, p. 37)

(grifado no original somente em it´alico),

portanto, ´e somente atrav´es de uma incessante participac¸˜ao cidad˜a que se propiciar´a o con-

trole social necess´ario dos atos p´ublicos para que haja a “concretizac¸˜ao de direitos por meio de

prestac¸˜oes positivas do Estado, ou seja, por meio dos servic¸os p´ublicos100” (BERCOVICI, 2006,

p. 151), com o fim de garantir que todos os cidad˜aos desfrutem dos benef´ıcios do desenvolvi-

mento nacional, e para que, tamb´em, a integrac¸˜ao do Estado Democr´atico de Direito Brasileiro

nas pol´ıticas p´ublicas globais, no atual mundo globalizado101, seja efetivada em consonˆancia com

os fundamentos

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e os objetivos fundamentais da Rep´ublica Federativa do Brasil, de garantir

a consecuc¸˜ao do desenvolvimento nacional com o fim de promover o bem de todos em prol da

construc¸˜ao de uma sociedade livre, justa e solid´aria (CF/88, art. 3o 103). E, neste contexto do

exerc´ıcio cont´ınuo da cidadania para o indispens´avel controle social dos atos p´ublicos,

´e importante deixar claro que h´a int´erpretes que detˆem competˆencias expres-

sas para a interpretac¸˜ao, de acordo com o pr´oprio sistema constitucional (os ju´ızes, por

exemplo), e outros cuja atuac¸˜ao neste sentido se encontra consentida, de modo impl´ıcito,

na escolha efetuada pelo poder constituinte origin´ario no tocante ao modelo de sociedade

pol´ıtica (pluralista ou centralizadora/totalit´aria). Quanto mais contiver uma constituic¸˜ao

princ´ıpios e normas aptos a viabilizarem a participac¸˜ao do indiv´ıduo no processo de

auto-conferˆencia de legitimidade ao Estado (como nas hip´oteses dos instrumentos de

democracia semidireta, que mencionaremos em trecho do trabalho), mais e mais se

tornar´a vinculativa para os ´org˜aos desse mesmo Estado a necessidade de se admi-

tir a interferˆencia do cidad˜ao n˜ao apenas nos dom´ınios da participac¸˜ao pol´ıtica tout

court, mas tamb´em, e sobretudo, no plano da fiscalizac¸˜ao dos atos administrativos,

tornando poss´ıvel a sindicabilidade das decis˜oes de governo, al´em de, relativamente

100CF/88, Art. 175. “Incumbe ao Poder P´ublico, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concess˜ao ou permiss˜ao, sempre atrav´es de licitac¸˜ao, a prestac¸˜ao de servic¸os p´ublicos.”

101CF/88, Art. 4o “A Rep´ublica Federativa do Brasil rege-se nas suas relac¸˜oes internacionais pelos seguintes princ´ıpios: I - independˆencia

nacional; II - prevalˆencia dos direitos humanos; IX - cooperac¸˜ao entre os povos para o progresso da humanidade; Par´agrafo ´unico. A Rep´ublica Federativa do Brasil buscar´a a integrac¸˜ao econˆomica, pol´ıtica, social e cultural dos povos da Am´erica Latina, visando `a formac¸˜ao de uma comunidade latino-americana de nac¸˜oes.” (grifos nossos).

102CF/88, art. 1o: “A Rep´ublica Federativa do Brasil, formada pela uni˜ao indissol´uvel dos Estados e Munic´ıpios e do Distrito Federal, constitui-

se em Estado Democr´atico de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo pol´ıtico. Par´agrafo ´unico. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituic¸˜ao.”

103CF/88, Art. 3o“Constituem objetivos fundamentais da Rep´ublica Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solid´aria; II

- garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalizac¸˜ao e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, rac¸a, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminac¸˜ao.”

ao Poder Judici´ario, impor a crescente exigˆencia quanto `a ampla outorga de qua-

lidade para agir face `a defesa, pelo cidad˜ao, de interesses sociais relevantes (SILVA

NETO, 1999, p. 32) (grifado no original somente em it´alico),

portanto, para a consecuc¸˜ao do objetivo de um cont´ınuo controle social, o exerc´ıcio da cida-

dania na efetivac¸˜ao das Pol´ıticas P´ublicas do Estado Democr´atico de Direito Brasileiro n˜ao poder´a

se restringir apenas aos programas de ac¸˜oes governamentais pontuais e locais, mas dever´a abran-

ger, tamb´em, as deliberac¸˜oes para a definic¸˜ao do planejamento nacional e do orc¸amento a m´edio

e longo prazos, uma vez que estabelecem as diretrizes, os objetivos, as metas e as prioridades da

utilizac¸˜ao dos recursos da administrac¸˜ao p´ublica federal104, e vinculam o teor das leis - o plano

plurianual, as diretrizes orc¸ament´arias e os orc¸amentos anuais105, as quais se constituem nas bases

do planejamento para o desenvolvimento nacional equilibrado que incorporar´a e compatibilizar´a

os planos nacionais e regionais de desenvolvimento, de forma determinante para o setor p´ublico e

indicativa para o setor privado (CF/88, arts. 165, 174106).

104A complexa relac¸˜ao das deliberac¸˜oes em torno da quest˜ao do uso do dinheiro p´ublico pode ser apreendida no seguinte trecho do Geogr´afo e Professor Milton Santos: “o territ´orio ´e o lugar em que desembocam todas as ac¸˜oes, todas as paix˜oes, todos os poderes, todas as forc¸as, todas as fraquezas, isto ´e, onde a hist´oria do homem plenamente se realiza a partir das manifestac¸˜oes da sua existˆencia. [...] O dinheiro aparece como uma arena de movimentos cada vez mais numerosos, fundados sob uma lei do valor que se deve tanto ao car´ater da produc¸˜ao escolhida como `as possibilidades da circulac¸˜ao. A circulac¸˜ao ganha sobre a produc¸˜ao o comando da explicac¸˜ao, porque ganha sobre a produc¸˜ao o comando da vida. E essa lei se estende aos lugares. Quanto maior a complexidade das relac¸˜oes externas e internas, mais necessidades de regulac¸˜ao; e se levanta a necessidade de Estado: o Estado e os limites, o Estado e a produc¸˜ao, o Estado e a distribuic¸˜ao, o Estado e a garantia do trabalho, o Estado e a garantia da solidariedade e o Estado e a busca da excelˆencia na existˆencia. Cria-se o Estado territorial, o territ´orio nacional, o Estado nacional, que passam a reger o dinheiro. O que h´a nessa fase s˜ao dinheiros nacionais internacionalizados. ´E evidente que o dinheiro nacional sofre modulac¸˜oes internacionais. Ele ´e parcialmente um respondente interno das modulac¸˜oes internacionais. Mais profundamente a partir da presenc¸a forte do Estado, esse dinheiro ´e representativo das relac¸˜oes, ent˜ao profundas, entre Estado territorial, territ´orio nacional, Estado nacional, nac¸˜ao. Era um dinheiro relativamente domesticado, o que era feito dentro dos territ´orios. Chega o dinheiro da globalizac¸˜ao. Este fim de s´eculo permitiu a instalac¸˜ao das t´ecnicas da informac¸˜ao, que s˜ao t´ecnicas que ligam todas as outras t´ecnicas, que permitem que as mais diversas t´ecnicas se comuniquem. [...] No entanto, se o dinheiro que comanda ´e dinheiro global, o territ´orio ainda resiste. Basta refazermos mentalmente o mapa do dinheiro no Brasil e e nele encontraremos um lugar onde h´a todas as modalidades poss´ıveis de dinheiro (S˜ao Paulo) e outro onde a ´unica modalidade de dinheiro poss´ıvel ´e o dinheiro-moeda (um ponto isolado no estado mais pobre). EM OUTRAS PALAVRAS, O TERRIT ´ORIO TAMB ´EM PODE SER DEFINIDO NAS SUAS DESIGUALDADES A PARTIR DA IDEIA DE QUE A EXIST ˆENCIA DO DINHEIRO NO TERRIT ´ORIO N ˜AO SE D ´A DA MESMA FORMA. H ´A ZONAS DE CONDENSAC¸ ˜AO E ZONAS DE RAREFAC¸ ˜AO DO DINHEIRO. Todavia, o comando da atividade financeira est´a ali onde os dinheiros todos podem estar presentes: S˜ao Paulo. Mas, sobretudo, o comando se d´a a partir do dinheiro global. Esse dinheiro fluido, que ´e tamb´em invis´ıvel, um dinheiro tornado praticamente abstrato, um dinheiro global e um dinheiro desp´otico. Nunca na hist´oria do homem houve um tirano t˜ao duro, t˜ao implac´avel quanto esse dinheiro global. ´E esse dinheiro global fluido, invis´ıvel, abstrato, mas tamb´em desp´otico, que tem um papel na produc¸˜ao atual da hist´oria, impondo caminho `as nac¸˜oes.” (SANTOS, 2011, p. 13, 16, 17) (grifos nossos).

105Neste contexto, ´e evidente a necessidade da ampliac¸˜ao dos espac¸os democr´aticos e da utilizac¸˜ao dos institutos da democracia participativa no ˆambito das deliberac¸˜oes sobre o Orc¸amento P´ublico, pois “ainda falta, no direito positivo brasileiro (e os Tribunais n˜ao o constru´ıram), instru- mento semelhante ao do mandado de injunc¸˜ao americano, que permita ao Judici´ario vincular o Legislativo na feitura do orc¸amento do ano seguinte, em homenagem a direitos fundamentais sociais (=m´ınimo existencial), que necessitam do controle jurisdicional contramajorit´ario t´ıpico dos direitos essencialmente constitucionais. Aguarda-se melhor soluc¸˜ao orc¸ament´aria para a adjudicac¸˜ao de prestac¸˜oes positivas pelo Judici´ario, na hip´otese em que, esgotadas as dotac¸˜oes, haja possibilidade f´atica de utilizar cr´editos adicionais (suplementares ou especiais). Os tribunais brasileiros vˆem evitando o exame das quest˜oes orc¸ament´arias. Nos Estados Unidos, foi relevante para a afirmac¸˜ao dos direitos fundamentais a alocac¸˜ao de recursos e a manipulac¸˜ao de verbas pelo pr´oprio Judici´ario, na via do mandado de injunc¸˜ao, principalmente nos casos relativos `a implementac¸˜ao dos direitos dos presos e dos negros. Espera-se ainda o enfrentamento de outros problemas de direito orc¸ament´ario, como o de definir se a inexistˆencia de dinheiro afeta a entrega de prestac¸˜ao prevista em dotac¸˜ao orc¸ament´aria. O Supremo Tribunal Federal j´a disse que o Executivo n˜ao est´a obrigado a pagar precat´orio judicial se n˜ao houver recursos dispon´ıveis. Mas tal conclus˜ao, a nosso ver, n˜ao poderia se estendida para a problem´atica do m´ınimo existencial (=direitos fundamentais sociais), que tˆem prevalˆencia sobre eventuais saldos de caixa. Decis˜ao como a do Min. Celso de Mello s´o complica a discuss˜ao, por n˜ao esclarecer se o binˆomio “razoabilidade da pretens˜ao e disponibilidade financeira do Estado” est´a referido `a disponibilidade de verba ou de dinheiro.” (TORRES, 2010b, p. 76) (grifado no original somente em it´alico).

106CF/88, Art. 165. “Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecer˜ao: I - o plano plurianual; II - as diretrizes orc¸ament´arias; III - os orc¸amentos anuais. § 1o - A lei que instituir o plano plurianual estabelecer´a, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da

administrac¸˜ao p ´ublica federal para as despesas de capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de durac¸˜ao continu- ada. § 2o- A lei de diretrizes orc¸ament´arias compreender´a as metas e prioridades da administrac¸˜ao p ´ublica federal, incluindo as despesas de

capital para o exerc´ıcio financeiro subseq ¨uente, orientar´a a elaborac¸˜ao da lei orc¸ament´aria anual, dispor´a sobre as alterac¸˜oes na legislac¸˜ao tribut´aria e estabelecer´a a pol´ıtica de aplicac¸˜ao das agˆencias financeiras oficiais de fomento. § 3o- O Poder Executivo publicar´a, at´e trinta dias ap´os o encerramento de cada bimestre, relat´orio resumido da execuc¸˜ao orc¸ament´aria. § 4o- OS PLANOS E PROGRAMAS NACIONAIS,

REGIONAIS E SETORIAIS PREVISTOS NESTA CONSTITUIC¸ ˜AO SER ˜AO ELABORADOS EM CONSON ˆANCIA COM O PLANO PLURIANUAL e apreciados pelo Congresso Nacional. § 5o - A lei orc¸ament´aria anual compreender´a: I - o orc¸amento fiscal referente aos

Poderes da Uni˜ao, seus fundos, ´org˜aos e entidades da administrac¸˜ao direta e indireta, inclusive fundac¸˜oes institu´ıdas e mantidas pelo Poder P´ublico; II - o orc¸amento de investimento das empresas em que a Uni˜ao, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto; III - o orc¸amento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e ´org˜aos a ela vinculados, da administrac¸˜ao direta ou indireta, bem como

Assim, este controle material das pol´ıticas p´ublicas poder´a ser exercido pelos cidad˜aos, por

meio de um controle social, com base na dimens˜ao subjetiva dos direitos fundamentais, especial-

mente, no direito de participac¸˜ao pol´ıtica, o qual permite a sociedade civil deliberar nos espac¸os

p´ublicos democr´aticos107

e participar da elaborac¸˜ao de projetos coletivos que, por serem social-

mente leg´ıtimos, imp˜oem o reconhecimento e acolhimento pelo Estado, mas, tamb´em, pela via do

acesso `a Justic¸a, com o direito subjetivo de cada cidad˜ao de exercer o direito humano fundamental

de participac¸˜ao pol´ıtica

para promover a justiciabilidade dos direitos humanos sociais

108, para

que o Poder Judici´ario, baseado no limite negativo de atuac¸˜ao estatal (ou seja, a esfera dos direitos

e garantias individuais que imp˜oem ao Estado o n˜ao-fazer) e no limite positivo da decis˜ao discri-

cion´aria estatal (ou seja, as diretrizes para as escolhas abertas que se vinculam `a dimens˜ao objetiva

dos direitos e garantias fundamentais que imp˜oem ao Estado um dever de agir), exerc¸a o controle

de constitucionalidade para verificar se os agentes p´ublicos estatais na execuc¸˜ao dos atos estatais

observaram e cumpriram as diretrizes do regime jur´ıdico comum109dos Direitos Fundamentais e,

em especial, o regime jur´ıdico espec´ıfico110dos Direitos Fundamentais Sociais111.

os fundos e fundac¸˜oes institu´ıdos e mantidos pelo Poder P´ublico. § 6o- O projeto de lei orc¸ament´aria ser´a acompanhado de demonstrativo re-

gionalizado do efeito, sobre as receitas e despesas, decorrente de isenc¸˜oes, anistias, remiss˜oes, subs´ıdios e benef´ıcios de natureza financeira, tribut´aria e credit´ıcia. § 7o- Os orc¸amentos previstos no § 5o, I e II, deste artigo, compatibilizados com o plano plurianual, ter˜ao entre suas func¸˜oes a de reduzir desigualdades inter-regionais, segundo crit´erio populacional. § 8o- A lei orc¸ament´aria anual n˜ao conter´a dispositivo

estranho `a previs˜ao da receita e `a fixac¸˜ao da despesa, n˜ao se incluindo na proibic¸˜ao a autorizac¸˜ao para abertura de cr´editos suplementares e contratac¸˜ao de operac¸˜oes de cr´edito, ainda que por antecipac¸˜ao de receita, nos termos da lei. § 9o- Cabe `a lei complementar: I - dispor

sobre o exerc´ıcio financeiro, a vigˆencia, os prazos, a elaborac¸˜ao e a organizac¸˜ao do plano plurianual, da lei de diretrizes orc¸ament´arias e da lei orc¸ament´aria anual; II - estabelecer normas de gest˜ao financeira e patrimonial da administrac¸˜ao direta e indireta bem como condic¸˜oes para a instituic¸˜ao e funcionamento de fundos”. [...] Art. 174. “Como agente normativo e regulador da atividade econˆomica, o Estado exercer´a, na forma da lei, as func¸˜oes de fiscalizac¸˜ao, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor p ´ublico e indicativo para o setor privado. § 1o - A lei estabelecer´a as DIRETRIZES E BASES DO PLANEJAMENTO DO DESENVOLVIMENTO NACIONAL EQUILIBRADO,

O QUAL INCORPORAR´A E COMPATIBILIZAR´A OS PLANOS NACIONAIS E REGIONAIS DE DESENVOLVIMENTO.” (grifos nossos).

107O reconhecimento de que o controle material das pol´ıticas p´ublicas deve ser exercido pelos cidad˜aos se funda no fato de que: “o poder ´e do povo - mas por qual raz˜ao o povo segue exclu´ıdo das decis˜oes maiores do poder democr´atico? A DEMOCRACIA S ´O SER ´A O GOVERNO DO POVO QUANDO HOUVER, DE MODO CONT´INUO, ESPAC¸ OS INSTITUCIONAIS EM QUE ESSE POVO, TRANSFORMADO EM CIDADANIA POL´ITICA, POSSA TOMAR A PALAVRA PARA PROPOR, DISCORDAR, DEBATER, REBATER, DESTITUIR O PODER DE REPRESENTANTES QUE PREVARICARAM EM SUA FUNC¸ ˜AO E PARA, ENFIM, EXIGIR RESPOSTAS E SOLUC¸ ˜OES A SUAS DEMANDAS, BROTADAS DO CH ˜AO AFLITO DE SUA LUTA COTIDIANA. N~ao pode ser leg´ıtimo o sistema pol´ıtico em que o poder escapa do controle popular ou no qual se decide as a¸c~oes de governo longe do poder que lhe d´a origem e sustenta¸c~ao. Esse distanciamento cria a urg^encia da mudan¸ca de democracia inacabada em democracia plena - espa¸cos de governo direto articulado com as institui¸c~oes de democracia representativa.” (ARA ´UJO, 2011, p. 18).

108O contexto do Estado Brasileiro em que os cidad˜aos est˜ao tendo que recorrer `as instˆancias do Poder Judici´ario para a proposic¸˜ao da justiciabilidade dos direitos humanos sociais n˜ao ´e uma realidade social e estatal isolada, mas est´a relacionado com o fenˆomeno da

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