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fundamentais dos indiv´ıduos, uma vez que a democracia num Estado Democr´atico de Direito

h´a de ser um processo de liberac¸˜ao da pessoa humana das formas de opress˜ao que n˜ao

depende apenas do reconhecimento formal de certos direitos individuais, pol´ıticos e so-

ciais,mas especialmente da vigˆencia de condic¸˜oes econˆomicas suscet´ıveis de favorecer

o seu pleno exerc´ıcio (SILVA, 2001, p. 123-124),

portanto, o Estado Brasileiro dever´a ser, ininterruptamente, o instrumento para promover a

consecuc¸˜ao de benef´ıcios em prol de toda a coletividade (RIBEIRO, 1983, p. 16, 48-49), num

sistema pol´ıtico-jur´ıdico que realize a Justic¸a Social e, consequentemente, a manutenc¸˜ao da har-

monia social, atrav´es da realizac¸˜ao plena dos direitos humanos fundamentais e, em especial, os

direitos humanos sociais garantidos pela atual Constituic¸˜ao Federal do Estado Democr´atico de

Direito Brasileiro.

4.3.2

O exerc´ıcio da cidadania por meio da Jurisdic¸˜ao Constitucional

Na Constituic¸˜ao Federal de 1988 se constata quais s˜ao os objetivos (art. 3o) para a atuac¸˜ao dos

poderes p´ublicos (art. 2o) no ˆambito do Estado Democr´atico de Direito Brasileiro, portanto, se a

atuac¸˜ao administrativa do Estado falhar na execuc¸˜ao das medidas imprescind´ıveis ao estabeleci-

mento das condic¸˜oes essenciais para proporcionar a existˆencia humana digna, a atuac¸˜ao legislativa

n˜ao poder´a criar embarac¸os normativos para que os cidad˜aos tenham acesso aos instrumentos de

reivindicac¸˜ao aos ´org˜aos competentes para, atrav´es do acesso `a justic¸a (BEZERRA, 2008a, p. 93-

126), por meio da func¸˜ao jurisdicional152

do Estado, assegurar a existˆencia f´atica dos efeitos da

constitucionalizac¸˜ao do princ´ıpio da dignidade da pessoa humana, como parˆametro hermenˆeutico,

axiol´ogico e teleol´ogico, para a aplicac¸˜ao das normas (constitucionais e infraconstitucionais) do

sistema jur´ıdico brasileiro, impondo a implementac¸˜ao ou impedindo a revogac¸˜ao de medidas con-

cretizadoras de direitos inerentes `a condic¸˜ao da pessoa humana (SOARES, 2008, p. 85-87).

Desta maneira, se considerando que o sistema jur´ıdico do Estado Democr´atico de Direito Bra-

sileiro se rege pelo princ´ıpio constitucional da garantia do acesso `a justic¸a (art. 5o, XXXV

153)

152“Ningu´em advoga por uma substituic¸˜ao do legislador feita pelo juiz, mas este ´ultimo, como ultima ratio, ´e quem deve aplicar o direito, e n˜ao pode mais permanecer deposit´ario de posturas meramente confirmat´orias da mens legislatoris, passando, h´a muito tempo, ao papel de int´erprete da mens legis. E, NESSE SEU FAZER DI ´ARIO, ASSOBERBA-SE DE ENORMES RESPONSABILIDADES DE SEU NOVO TEMPO, NOTADAMENTE NA SEARA DA CHAMADA JURISDIC¸ ˜AO CONSTITUCIONAL”. (BEZERRA, 2006, p. 65) (grifado no original somente em it´alico). E, “nesse sentido, o Judici´ario passou a ser mais provocado pelo cidad˜ao na perseguic¸˜ao de seus direitos e interesses, com um aumento da necessidade de ampliac¸˜ao do controle jurisdicional dos atos administrativos, especialmente aqueles dotados de poder discricion´ario. Isso remete a uma nova vis˜ao da atuac¸˜ao discricion´aria do Poder P´ublico e `a ampliac¸˜ao do controle jurisdicional dos atos administrativos, que se iniciou em 1946 e vige, hoje, com a Constituic¸˜ao Federal de 1988. De fato, a CF/88 e algumas de suas Emendas criaram novos fundamentos para a ampliac¸˜ao do controle jurisdicional dos atos administrativos. Isso se deu por meio da inclus˜ao dos princ´ıpios da Administrac¸˜ao P´ublica, como o da moralidade, da impessoalidade, da publicidade e, afinal, da eficiˆencia, que, em associac¸˜ao com o princ´ıpio da ubiquidade, inscrito no inciso XXXV, do art. 5oda Carta Magna, ENSEJAM A CONCLUS~AO DE QUE O ATO ADMINISTRATIVO CAUSADOR DE LES~AO OU AMEAC¸A A DIREITO PODE SER LEVADO `A APRECIAC¸~AO PELO PODER JUDICI´ARIO, NAS HIP´OTESES EM QUE OFENDER OS PRINC´IPIOS QUE DEVEM NORTEAR A ATUAC¸~AO DO PODER P´UBLICO.” (CARVALHO, 2009, p. 142-143) (grifos nossos).

153CF/88, art. 5o, XXXV: “a lei n˜ao excluir´a da apreciac¸˜ao do Poder Judici´ario les˜ao ou ameac¸a a direito”. Assim, “tornou-se lugar comum

observar que a atua¸c~ao positiva do Estado ´e necess´aria para assegurar o gozo de todos esses direitos sociais b´asicos. N~ao ´e surpreendente, portanto, que o direito ao acesso efetivo `a justi¸ca tenha ganho particular aten¸c~ao na medida em que as reformas do welfare state t^em procurado armar os indiv´ıduos de novos direitos substantivos em sua qualidade de consumidores, locat´arios, empregados e, mesmo, cidad~aos. De fato, o direito ao acesso efetivo tem sido progressivamente reconhecido como sendo de importˆancia capital entre os novos direitos individuais e sociais, uma vez que a titularidade de direitos ´e destitu´ıda de sentido, na ausˆencia de mecanismos para sua efetiva reivindicac¸˜ao. O ACESSO

- princ´ıpio da universalidade da jurisdic¸˜ao, com o fim de se promover, tamb´em, a avaliac¸˜ao da

coerˆencia e da regularidade da atividade administrativa e legislativa do Estado com os ditames

constitucionais, para que n˜ao se perpetue a invalidac¸˜ao f´atica da previs˜ao dos direitos materiais

fundamentais154, restar´a ao cidad˜ao (CF/88, arts. 1o, § ´unico

155, 5o, XXXV156), por ter a legi-

timidade e tamb´em soberana vontade, invocar a tutela jurisdicional157, provocar e estabelecer o

ju´ızo de constitucionalidade de pol´ıticas p´ublicas158, ou seja, o ju´ızo de constitucionalidade sobre

a omiss˜ao/implementac¸˜ao insuficiente (omiss˜ao parcial) de pol´ıticas p´ublicas sociais159pelos Po-

deres P´ublicos (Legislativo, Executivo), tendo “por objeto o confronto de tais pol´ıticas n˜ao s´o com

os objetivos constitucionalmente vinculantes da atividade do governo, mas tamb´em com as regras

que estruturam o desenvolvimento dessa atividade” (COMPARATO, 2010, p. 297), para com-

pelir os poderes p´ublicos do Estado Brasileiro a atuarem em prol da implementac¸˜ao de pol´ıticas

p´ublicas capazes de concretizar todos os direitos humanos fundamentais, em especial, os direitos

sociais160.

`

A JUSTIC¸A PODE, PORTANTO, SER ENCARADO COMO O REQUISITO FUNDAMENTAL - O MAIS B´ASICO DOS DIREITOS HUMANOS - DE UM SISTEMA JUR´IDICO MODERNO E IGUALIT´ARIO QUE PRETENDA GARANTIR, E N~AO APENAS PROCLAMAR OS DIREITOS DE TODOS.” (CAPPELLETTI, 2002, p. 11-12) (grifos nossos).

154Com entendimento neste sentido; BANDEIRA DE MELLO, 2005, p. 889-890; BEZERRA, 2008, p. 93-99, 103-126; H ¨ABERLE, 1997, p. 19-28; SOUZA, 2011 p. 79-108.

155CF/88, art. 1o, § ´unico: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta

Constituic¸˜ao.” (grifos nossos).

156CF/88, art. 5o, XXXV: “a lei n˜ao excluir´a da apreciac¸˜ao do Poder Judici´ario les˜ao ou ameac¸a a direito”.

157Assim, “nesse contexto, n˜ao resta d´uvida de que os novos atores sociais, amparados nos dispositivos program´aticos das Constituic¸˜oes Dirigentes e na ampliac¸˜ao do acesso `a justic¸a, encontram no judici´ario um espac¸o adequado e estrat´egico para conferir visibilidade `as suas reivindicac¸˜oes. Por sua vez, DADA A MAIOR INDETERMINAC¸~AO DO DIREITO E A EXIST^ENCIA DE NOVOS MECANISMOS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE, OS JU´IZES OBT^EM MAIOR AUTONOMIA PARA JULGAR DE FORMA CRIATIVA, OFERECENDO NOVAS INTERPRETAC¸~OES E IMPONDO AOS DEMAIS PODERES A OBSERV^ANCIA DOS PAR^AMETROS CONSTITUCIONAIS.” (CARVALHO, 2007, p. 23) (grifos nossos).

158Neste sentido: “A pol´ıtica, como conjunto de normas e atos, ´e unificada pela sua finalidade. Os atos, decis˜oes ou normas que a comp˜oem, tomados isoladamente, s˜ao de natureza heterogˆenea e submetem-se a um regime jur´ıdico que lhes ´e pr´oprio. De onde se segue que O JU´IZO DE VALIDADE DE UMA POL´ITICA - SEJA ELA EMPRESARIAL OU GOVERNAMENTAL - N ˜AO SE CONFUNDE NUNCA COM O JU´IZO DE VALIDADE DAS NORMAS E DOS ATOS QUE A COMP ˜OEM. Uma lei, editada no quadro de determinada pol´ıtica p ´ublica, por exemplo, pode ser inconstitucional, sem que esta ´ultima o seja. Inversamente, determinada pol´ıtica governamental, em raz˜ao da finalidade por ela perseguida, pode ser julgada incompat´ıvel com os objetivos constitucionais que vinculam a ac¸˜ao do Estado, sem que nenhum dos atos administrativos, ou nenhuma das normas que a regem, sejam em si mesmos inconstitucionais. As Constituic¸˜oes do moderno Estado Dirigente imp˜oem, todas elas, certos objetivos ao corpo pol´ıtico como um todo - ´org˜aos estatais e sociedade civil. Esses objetivos podem ser gerais ou especiais, estes obviamente coordenados `aqueles. Na Constituic¸˜ao brasileira de 1988, por exemplo, os objetivos indicados no art. 3o orientam todo o funcionamento do Estado e a organizac¸˜ao da sociedade. [...] ESCLARECIDA,

ASSIM, ESSA CL ´ASSICA FALSA OBJEC¸ ˜AO `A JUDICIABILIDADE DAS POL´ITICAS GOVERNAMENTAIS, ESTABELEC¸ AMOS, DESDE LOGO, QUE O JU´IZO DE CONSTITUCIONALIDADE, NESSA MAT ´ERIA, TEM POR OBJETO O CONFRONTO DE TAIS POL´ITICAS N ˜AO S ´O COM OS OBJETIVOS CONSTITUCIONALMENTE VINCULANTES DA ATIVIDADE DO GOVERNO, MAS TAMB ´EM COM AS REGRAS QUE ESTRUTURAM O DESENVOLVIMENTO DESSA ATIVIDADE. [...] Quanto `a legitimidade para propor a a¸c~ao de inconstitucionalidade de pol´ıticas p´ublicas, ela deveria, na perspectiva de uma necess´aria evolu¸c~ao rumo a uma democracia verdadeiramente participativa, ser atribu´ıda n~ao apenas a ´org~aos estatais, como o Minist´erio P´ublico e as Mesas diretoras das c^amaras legislativas, mas tamb´em a partidos pol´ıticos, ainda que n~ao representados no ´org~ao legislativo, a sindicatos ou entidades de classe, `a Ordem do Advogados do Brasil e a quaisquer outras organiza¸c~oes n~ao governamentais, reconhecidas de utilidade p´ublica.” (COMPARATO, 2010, p. 293, 294, 297, 299) (grifos nossos).

159Neste sentido: “Considerando o tema pol´ıticas p´ublicas promotoras de direitos fundamentais, propˆos-se neste estudo cinco objetos que podem sofrer controle jur´ıdico e jurisdicional (sem preju´ızo de outros). S˜ao eles (i) a fixac¸˜ao de metas e prioridades por parte do Poder P ´ublico em mat´eria de direitos fundamentais; (ii) o resultado final esperado das pol´ıticas p ´ublicas; (iii) a quantidade de recursos a ser investida em pol´ıticas p ´ublicas vinculadas `a realizac¸˜ao de direitos fundamentais, em termos absolutos ou relativos; (iv) o atingimento ou n˜ao das metas fixadas pelo pr´oprio Poder P ´ublico; e (v) a eficiˆencia m´ınima (entendida como economicidade) na aplicac¸˜ao dos recursos p ´ublicos destinados a determinada finalidade.” (BARCELLOS, 2010, p. 132) (grifado no original somente em it´alico).

160Neste sentido: “Veja-se: se o Estado est´a obrigado, pela Constituic¸˜ao, a oferecer servic¸os que custam dinheiro, concluir que o mesmo Estado estaria absolutamente livre para investir os recursos dispon´ıveis como lhe parec¸a melhor - inclusive livre para n˜ao investir nos servic¸os referidos - parece um contrassenso. [...] E se se trata de um dever jur´ıdico - isto ´e: o dever de alocar os recursos necess´arios para a prestac¸˜ao de servic¸os exigidos constitucionalmente -, sua inobservˆancia deve poder ser objeto de controle jurisdicional. [...] O que se quer destacar com esses exemplos ´e que a discuss~ao travada at´e aqui acerca dos aspectos materiais da dignidade humana e do m´ınimo existencial n~ao tem reflexos apenas individuais. Para al´em do controle individual, e sem preju´ızo dele, ´e poss´ıvel cogitar de controles coletivos e mesmo abstratos. [...] Quanto ao controle abstrato, sua possibilidade decorre da seguinte circunst^ancia: destinar recursos para determinadas finalidades espec´ıficas constitui uma regra constitucional cuja inobserv^ancia gera invalidade que deve poder

O direito humano fundamental do cidad˜ao ter acesso `a Jurisdic¸˜ao Constitucional161se funda,

portanto, nas diretrizes da Constituic¸˜ao Cidad˜a que imp˜oe a concretizac¸˜ao, por meio de pol´ıticas

p´ublicas, de todos os direitos humanos como direitos fundamentais acess´ıveis a todos os indiv´ıduos

162, uma vez que

os direitos humanos correspondem a toda e qualquer liberdade ou garantia do in-

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