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Desta maneira, no constitucionalismo contemporˆaneo 134 , os valores que constituem o conte´udo

naquela Constituic¸˜ao, exercendo-se de conformidade com as crenc¸as, os valores e princ´ıpios da ideologia dominante, no caso a ideologia democr´atica. [...] O aspecto pol´ıtico da legitimidade se revela como a afirmac¸˜ao dos valores sociais de uma determinada ´epoca no bojo de uma Constituic¸˜ao e sobretudo, na intencionalidade manifesta ou vontade de Constituic¸˜ao dos atores da sociedade, comprometidos com a reproduc¸˜ao desses valores na cotidianidade do exerc´ıcio do poder; o aspecto jur´ıdico da legitimidade tem a ver com a pragm´atica transmiss˜ao dos mesmos valores na textura da lei, dos atos infra-legais e nas decis˜oes jurisdicionais.” (LORA ALARC ´ON, 2011, p. 172, 173) (grifos nossos).

131Neste contexto, esclarecendo o novo perfil constitucional com programas para atuac¸˜ao estatal: “O atual paradigma constitucionalista une a esta dimens˜ao garantista, derivada da tradic¸˜ao americana, uma inequ´ıvoca func¸˜ao diretiva que consagra a Constituic¸˜ao como projeto coletivo de transformac¸˜ao social, incorporando um denso conte ´udo substantivo que confere `as Constituic¸˜oes contemporˆaneas uma forte dimens˜ao material. Convergem, assim, os elementos distintivos das tradic¸˜oes francesa e norte-americana. Por outro lado, a dimens˜ao dire- tiva ou normativa do texto constitucional como norma que pretende modelar uma nova realidade social mais justa, mediante a introduc¸˜ao na Constituic¸˜ao de cl´ausulas materiais ou de conte ´udo atrav´es de normas de princ´ıpios ou normas program´aticas. A Constituic¸˜ao aparece, assim, inspirada por uma valente vocac¸˜ao transformadora que aspira conformar a ordem social ao extenso repert´orio axiol´ogico que a constitui como verdadeiro projeto coletivo.” (JULIOS-CAMPUZANO, 2009, p. 29) (grifos nossos).

132O jurista F´abio Konder Comparato expressa entendimento neste sentido: “Em mat´eria ´etica, n˜ao pode servir de crit´erio para o ju´ızo do bem e do mal a opini˜ao deste ou daquele indiv´ıduo. Mas tal n˜ao significa, bem entendido, que o padr˜ao de comportamento ´etico seja necessariamente universal, v´alido para todas as culturas e civilizac¸˜oes, nem que ele seja insuscet´ıvel de variac¸˜ao, conforme a evoluc¸˜ao hist´orica. Mas tampouco pode-se negar que a hist´oria moderna mostra uma extraordin´aria convergˆencia de todas as culturas e civilizac¸˜oes para um n´ucleo comum de princ´ıpios e regras de vida, n´ucleo esse formado pelo sistema internacional de direitos humanos.” (COMPARATO, 2006a, p. 67). Desta maneira, “partindo-se dos princ´ıpios ´eticos vigentes na consciˆencia coletiva, para se chegar `a formulac¸˜ao convencional de normas escritas, foi seguido no direito internacional, a fim de se estender o sistema de direitos humanos a todos os povos da Terra. A Declarac¸˜ao Universal dos Direitos Humanos de 1948, por exemplo, foi votada pela Assembleia Geral das Nac¸˜oes Unidas como uma recomendac¸˜ao do ´org˜ao aos seus membros, vale dizer, como um documento sem forc¸a vinculante. Com o passar dos anos, por´em, a Declarac¸˜ao veio a ser considerada a express˜ao m´axima da consciˆencia jur´ıdica universal em mat´eria de direitos humanos, e como tal foi reconhecida pela Corte Internacional de Justic¸a.” (COMPARATO, 2006, p. 520, 521) (grifado no original). A Declarac¸˜ao Universal dos Direitos Humanos foi adotada e proclamada pela Resoluc¸˜ao 217-A, na 3aSess˜ao Ordin´aria

da Assembleia Geral das Nac¸˜oes Unidas, em Paris, em 10.12.1948, e assinada pelo Brasil em 10.12.1948.

133Neste sentido, descrevendo o contexto hist´orico do surgimento da ascens˜ao dos princ´ıpios como caracter´ıstica do per´ıodo denominado P´os- positivismo: “Os grandes princ´ıpios morais da ideologia liberal-capitalista, como se sabe, sempre foram a ordem e a seguranc¸a das relac¸˜oes privadas sobretudo as de conte´udo econˆomico. Para tanto, os sacerdotes do credo capitalista n˜ao cessam de enfatizar a necessidade de vigˆencia de um sistema jur´ıdico est´avel, no qual haja previsibilidade de aplicac¸˜ao efetiva de suas normas, tanto pela administrac¸˜ao p´ublica, quanto pelos tribunais. Ou seja, no condensado de uma f´ormula c´elebre, law and order. A legitimidade de qualquer sistema jur´ıdico, portanto, h´a de ser aferida, segundo essa concepc¸˜ao, n˜ao por meio de um ju´ızo ´etico referido a valores externos ao pr´oprio ordenamento, mas sim por um crit´erio que lhe ´e intr´ınseco. Tal crit´erio, as obras de Austin e Kelsen apontaram com muita clareza: ´e a regularidade formal de produc¸˜ao das normas jur´ıdicas. A vida jur´ıdica dispensa, portanto, completamente, o ju´ızo ´etico. Todo sistema jur´ıdico, pelo simples fato de existir e funcionar segundo uma regularidade l´ogica interna, ´e necessariamente justo. Grac¸as `a ac¸˜ao ideol´ogica do positivismo jur´ıdico, passou-se, tranquilamente, da concepc¸˜ao substancial `a meramente formal de constituic¸˜ao. Nas origens, a func¸˜ao maior, sen˜ao ´unica, de uma constituic¸˜ao era a garantia dos cidad˜aos contra o abuso de poder. Depois do trabalho de sapa dos pensadores positivistas, passou-se a admitir a existˆencia e validade jur´ıdica de constituic¸˜oes com qualquer conte´udo.” (COMPARATO, 2006a, p. 58, 59) (grifado no original). E, neste contexto, “sem embargo da resistˆencia filos´ofica de outros movimentos influentes nas primeiras d´ecadas do s´eculo XX, a decadˆencia do positivismo ´e emblematicamente associada `a derrota do fascismo na It´alia e do nazismo na Alemanha. Esses movimentos pol´ıticos e militares ascenderam ao poder dentro do quadro de legalidade vigente e promoveram a barb´arie em nome da lei. Os principais acusados de Nuremberg invocaram o cumprimento da lei e a obediˆencia a ordens emanadas da autoridade competente. Ao fim da Segunda Guerra Mundial, a ideia de um ordenamento jur´ıdico indiferente a valores ´eticos e da lei como uma estrutura meramente formal, uma embalagem para qualquer produto, j´a n˜ao tinha mais aceitac¸˜ao no pensamento esclarecido.” (BARROSO, 2009b, p. 351) (grifos nossos). “Ora, ´e justamente a´ı que se p˜oe, de forma aguda, a quest˜ao do fundamento dos direitos humanos, pois a sua validade deve assentar-se em algo mais profundo e permanente que a ordenac¸˜ao estatal, ainda que esta se baseie numa Constituic¸˜ao formalmente promulgada. A importˆancia dos direitos humanos ´e tanto maior, quanto mais louco ou celerado o Estado.” (COMPARATO, 2006a, p. 18).

134O jurista Lu´ıs Roberto Barroso, esclarecendo a importˆancia deste contexto para o Estado Brasileiro, afirma que: “a superac¸˜ao hist´orica do jusnaturalismo e o fracasso pol´ıtico do positivismo abriram caminho para um conjunto amplo e ainda inacabado de reflex˜oes acerca do Direito, sua func¸˜ao social e sua interpretac¸˜ao. O p´os-positivismo ´e a designac¸˜ao provis´oria e gen´erica de um ide´ario difuso, no qual se incluem a definic¸˜ao das relac¸˜oes entre valores, princ´ıpios e regras, aspectos da chamada nova hermenˆeutica constitucional, e a teoria dos direitos fundamentais, edificada sobre o fundamento da dignidade humana. A valorizac¸˜ao dos princ´ıpios, sua incorporac¸˜ao, expl´ıcita ou impl´ıcita, pelos textos constitucionais e o reconhecimento pela ordem jur´ıdica de sua normatividade fazem parte desse ambiente de reaproximac¸˜ao entre Direito e ´Etica. [...] O discurso acerca dos princ´ıpios, da supremacia dos direitos fundamentais e do reencontro com a ´Etica - ao qual, no Brasil, se deve agregar o da transformac¸˜ao social e o da emancipac¸˜ao - deve ter repercuss˜ao sobre o of´ıcio dos ju´ızes, advogados e promotores, sobre a atuac¸˜ao do Poder P´ublico em geral e sobre a vida das pessoas. Trata-se de transpor a fronteira da reflex˜ao filos´ofica, ingressar na dogm´atica jur´ıdica e na pr´atica jurisprudencial e, indo mais al´em, produzir efeitos positivos sobre a realidade.” (BARROSO, 2009b, p. 351-352) (grifado no original somente em it´alico).

material da Constituic¸˜ao

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- norma suprema do ordenamento, atrav´es do princ´ıpio da rigidez

constitucional136, passam a determinar quais ser˜ao os crit´erios axiol´ogicos substantivos que de-

ver˜ao ser utilizados para verificac¸˜ao da legitimidade constitucional da atuac¸˜ao dos poderes p´ublicos.

E, com isto, considerando a adoc¸˜ao, pela Assembleia Constituinte de 1988, de um novo perfil para

o Constitucionalismo brasileiro que ao incorporar, definitivamente, o paradigma da natureza prin-

cipiol´ogica da constituic¸˜ao com a positivac¸˜ao jur´ıdica das pautas axiol´ogicas e teleol´ogicas, “se

converte no ponto de convergˆencia da validade (dimens˜ao normativa), da efetividade (dimens˜ao

f´atica) e da legitimidade (dimens˜ao valorativa) do sistema jur´ıdico (SOARES, 2008, p. 77)”, se

constata que, deste modo,

a Constituic¸˜ao se converte, assim, na referˆencia central de um projeto coletivo de ac¸˜ao

pol´ıtica que aspira reger efetivamente a atuac¸˜ao dos poderes do Estado, com objetivo

de ordenar a materializac¸˜ao social dos fins contidos na Carta Maior. Desse modo, a

Constituic¸˜ao assume uma func¸˜ao eminentemente diretiva que se condensa em um cat´alogo

de direitos e em uma articulac¸˜ao de corte marcadamente teleol´ogico que pretende ordenar

o curso da vida social e pol´ıtica conforme os preceitos que nela est˜ao contidos (JULIOS-

CAMPUZANO, 2009, p. 22).

E, neste contexto, os valores da justic¸a, da liberdade, da igualdade e da dignidade humana

que foram incorporados ao bloco axiol´ogico da Constituic¸˜ao de 1988, como valores supremos de

uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, expressando os prop´ositos supremos para

a pr´atica das ac¸˜oes estatais, se originam do teor das Declarac¸˜oes de Direitos Humanos137que, no

135Neste sentido, sobre a importˆancia da inserc¸˜ao de valores ´eticos no texto constitucional em prol de uma atuac¸˜ao estatal visando a garantia do acesso de todos indiv´ıduos aos direitos humanos: “A Constituic¸˜ao leg´ıtima e justa ´e um instrumento de promoc¸˜ao humana, contribuindo de modo decisivo para que os indiv´ıduos consigam uma vida digna e a paz de consciˆencia. E uma sociedade assim constitu´ıda ter´a condic¸˜oes para viver democraticamente, pois cada um de seus membros respeitar´a os demais e ser´a solid´ario com eles. [...] A sociedade que tiver essa organizac¸˜ao ter´a as condic¸˜oes b´asicas para que seus membros vivam sem temor, porque n˜ao haver´a dominados, humilhados e marginalizados ameac¸ando a pessoa e o patrimˆonio dos que pertencem a grupos privilegiados. Havendo justic¸a n˜ao desaparecer˜ao totalmente as diferenc¸as entre os indiv´ıduos, mas a diferenciac¸˜ao n˜ao ser´a fruto da violˆencia ou da imoralidade nem ser´a t˜ao grande e de tal forma que condene uma fam´ılia e sua descendˆencia a viver na mis´eria enquanto outros ter˜ao a garantia de sucessivas gerac¸˜oes de dominadores. Em consequˆencia, os que tiverem menos n˜ao se sentir˜ao injustic¸ados e os que tiverem mais n˜ao viver˜ao intranquilos, inseguros ou com remorsos, sabendo-se benefici´arios de uma injustic¸a.” (DALLARI, 2010b, p.105, 106) (grifos nossos).

136O princ´ıpio da rigidez constitucional surge em contraposic¸˜ao ao contexto do constitucionalismo fr´agil: “O constitucionalismo do positivismo oitocentista ´e um constitucionalismo fr´agil que se limita a estabelecer o esquema b´asico da ordem pol´ıtica e de suas instituic¸˜oes, atribuindo competˆencias e determinando procedimentos, um constitucionalismo das regras do jogo, dos limites que n˜ao podem ser ultrapassados, dos direitos que n˜ao podem ser transgredidos, um constitucionalismo de m´ınimos que estabelece um marco de convivˆencia baseado na autonomia dos indiv´ıduos nas esferas social e pol´ıtica. [...] Nas Constituic¸˜oes oitocentistas estabelece-se, assim, uma dial´etica da complementariedade entre poder constituinte e democracia, que se traduz na sacralizac¸˜ao da lei, cuja supremacia n˜ao se vˆe em nenhum momento ameac¸ada pela Constituic¸˜ao, porque esta, ao fim e ao cabo, ´e somente uma lei de alcance restrito, acess´ıvel ao legislador, uma norma de m´ınimos, de car´ater eminentemente formal, uma norma flex´ıvel cuja estabilidade est´a condicionada `a vontade democr´atica da maioria que ´e, resumidamente, quem legisla. Por isso, porque o poder da maioria n˜ao pode ser reduzido por um ato fundacional anterior, o poder constituinte n˜ao deve ficar enclausurado em uma norma suprema que corte a onipotˆencia do legislador e a vigˆencia efetiva do princ´ıpio democr´atico. [...] As Constituic¸˜oes contemporˆaneas deixaram de ser normas sucintas, para incorporar um amplo conte ´udo substancial que aponta para um ambicioso programa de reforma social. E s˜ao, ao mesmo tempo, Constituic¸˜oes r´ıgidas, vedadas ao insaci´avel expansionismo do legislador que teve de adequar suas func¸˜oes aos princ´ıpios e diretrizes constitucionais, sob o olhar fiscalizador dos ju´ızes. Em oposic¸˜ao `as Constituic¸˜oes do s´eculo XIX, que tomam a sociedade como um dado a priori, as Constituic¸˜oes passam a estabelecer um s´olido car´ater normativo, na medida em que se erigem como um modelo de transformac¸˜ao social. [...] Importa sublinhar que o car´ater r´ıgido da Constituic¸˜ao n˜ao faz sen˜ao reforc¸ar sua normatividade e proteger a dimens˜ao substantiva que o novo constitucionalismo integra em seu texto, mediante princ´ıpios e disposic¸˜oes program´aticas que indicam a direc¸˜ao pol´ıtica a seguir, incorporando crit´erios axiol´ogicos substantivos de legitimidade constitucional. N˜ao se pode interpretar como um fenˆomeno puramente circunstancial, precisamente, porque o advento das Constituic¸˜oes R´ıgidas produziu-se depois dos execr´aveis epis´odios e das desastrosas hecatombes que viveu a Europa no s´eculo passado.” (JULIOS-CAMPUZANO, 2009, p. 16, 17, 22, 37) (grifado no original somente em it´alico).

137Por exemplo: a Magna Charta Libertatum - a Magna Carta em 1215-1225, que se tornou s´ımbolo das liberdades p´ublicas, consistia numa carta feudal que visava proteger os privil´egios dos bar˜oes e os direitos dos homens livres em face do Rei da Inglaterra Jo˜ao Sem Terra que se tornou vinculado `as pr´oprias leis que editou; a Petition of Rights - a Petic¸˜ao de Direitos de 1628, que foi um documento em que o Parlamento requereu a observˆancia de direitos e liberdades j´a reconhecidos na Magna Carta ao monarca inglˆes Carlos I, e este assentiu por depender da autorizac¸˜ao parlamentar para obter recursos financeiros. Esta declarac¸˜ao garantiu o fortalecimento do Parlamento com a consequente limitac¸˜ao do poder do Executivo; o Habeas Corpus Amendment Act - o Habeas Corpus de 1679, que introduziu o reforc¸o nas garantias da liberdade individual em face das pris˜oes arbitr´arias, obrigando a submiss˜ao imediata do detento a um juiz ordin´ario, respeitando-se os prazos legais; o Bill of Rights - a Declarac¸˜ao de Direitosde 1689, que estabeleceu a supremacia do Parlamento e a transic¸˜ao para a monarquia constitucional com base na divis˜ao

decorrer dos s´eculos, surgiram como resultado da peleja cont´ınua de toda humanidade para garantir

a liberdade e a igualdade de todos perante a lei, combater toda forma de opress˜ao, preconceito,

explorac¸˜ao do homem pelo homem, com o fim de alcanc¸ar a Paz e a Justic¸a Social, e, desta maneira,

estes valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos est˜ao vinculados

diretamente ao ideal humanista de estabelecer os parˆametros para a definic¸˜ao de um padr˜ao de

justic¸a138em consonˆancia com a protec¸˜ao e a promoc¸˜ao dos direitos humanos, consolidando uma

concepc¸˜ao ´etica de direitos humanos e de justic¸a139

com base na junc¸˜ao das diferentes vertentes

hist´oricas do humanismo ocidental, por exemplo, o humanismo laico - vinculado ao valor liberdade

e o humanismo crist˜ao - vinculado ao valor justic¸a140. E, desta am´algama de valores, se sobressai

de poderes, a Declarac¸˜ao foi elaborada por iniciativa do Parlamento e `a margem do Executivo simbolizado pelo monarca; o Act of Settlement de 1707 - o Ato de Sucess˜ao no Trono que acrescentou limitac¸˜oes ao poder mon´arquico; a Declarac¸˜ao de Direitos do Bom Povo da Virg´ınia de 1776, que como colˆonia inglesa na Am´erica do Norte, com base na inspirac¸˜ao jusnaturalista, fundou um governo democr´atico com base no dogma da soberania popular e alicerc¸ado num sistema de limitac¸˜ao de poderes, e serviu de modelo para as declarac¸˜oes de direitos dos outros Estados daquele pa´ıs; a Constituic¸˜ao Americana de 1787, para entrar em vigor dependeu da ratificac¸˜ao de algumas das ex-colˆonias inglesas na Am´erica que exigiram que se acrescentasse uma Carta de Direitos em que se garantissem os direitos fundamentais do homem; a Declarac¸˜ao Francesa dos Direitos do Homem e do Cidad˜ao de 1789, de inspirac¸˜ao jusnaturalista, proclamava os princ´ıpios da liberdade, da igualdade, da fraternidade, da propriedade, da legalidade e as garantias individuais liberais como direitos do homem e o direito de participar da vontade geral no exerc´ıcio do Poder Pol´ıtico como direitos do cidad˜ao; o Bill of Rights norte-americano - Dez Emendas de 1789, que reconheceu, entre outros direitos, a liberdade de culto, o direito de reuni˜ao e o direito `a indenizac¸˜ao em caso de danos produzidos pelo governo; a Declarac¸˜ao dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado de 1918, com inspirac¸˜ao nas teses socialistas de Marx-Engels-Lˆenin, n˜ao se limitou a reconhecer direitos econˆomicos e sociais, dentro do regime capitalista, mas a apregoar uma nova concepc¸˜ao da sociedade e do Estado e uma nova ideia de Direito que propiciasse a libertac¸˜ao do homem de qualquer forma de opress˜ao; e a Declarac¸˜ao Universal dos Direitos do Homem de 1948, em que reafirma, no seu primeiro artigo, in verbis: “Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. S˜ao dotados de raz˜ao e consciˆencia e devem agir em relac¸˜ao uns aos outros com esp´ırito de fraternidade”, os princ´ıpios axiol´ogicos supremos da liberdade, igualdade e fraternidade (ou solidariedade) que correspondem `a tr´ıade valorativa da tradic¸˜ao francesa. Neste sentido, com relato e estudo doutrin´ario sobre a afirmac¸˜ao, hist´orica e paulatina, dos direitos humanos: CICCO, 2009, p. 154-177; COMPARATO, 2007, p. 1-69; CUNHA J ´UNIOR, 2011, p. 566-594; CUNHA J ´UNIOR, 2008, p. 171-202; DALLARI, 2010a, p. 45-148; SAMPAIO, 2010, p. 133-189; SILVA, 2001, p.153-175; SILVA NETO, 2010, p. 43-50; SILVEIRA; ROCASOLANO, 2010, p. 126-142.

138Neste sentido: “Existe em cada povo uma ideia b´asica e geral a respeito do que ´e justo e injusto. A Constituic¸˜ao re´une uma s´erie de princ´ıpios e regras que no seu conjunto comp˜oem exatamente a ideia de justic¸a que existe na consciˆencia do povo. Por isso a Constituic¸˜ao, que revela expressamente essa ideia, pode ser considerada o padr˜ao objetivo do justo.” (DALLARI, 2010b, p.76) (grifos nossos). E, esta percepc¸˜ao adv´em do fato de que “foi justamente a partir do realce posto no mundo dos valores, que a ideia atual de racionalidade humana passou a se distinguir nitidamente do racionalismo triunfante do s´eculo das luzes. Os valores, com efeito, n˜ao s˜ao objeto de uma percepc¸˜ao l´ogica, mas emotiva. Por isso mesmo, j´a n˜ao ´e poss´ıvel fundar a ´etica em princ´ıpios puramente formais, mas em preferˆencias axiol´ogicas muito concretas, ditadas tamb´em pela emoc¸˜ao e pelo sentimento. O homem n˜ao ´e apenas um ser que pensa e raciocina, mas que chora e ri, que ´e capaz de amor e ´odio, de indignac¸˜ao e enternecimento.” (COMPARATO, 2010a, p. 24).

139Neste sentido, esclarecendo a relac¸˜ao da inserc¸˜ao de princ´ıpios na constituic¸˜ao e a concepc¸˜ao de justic¸a: “El hecho de que los elementos que forman la definici´on jur´ıdica de la justicia est´en hoy recogidos en las Constituciones, es decir, est´en constitucionalizados, sienta tambi´en en este caso, como ya sucedi´o con los derechos, las condiciones para la superaci´on de la segunda gran reducci´on del positivismo jur´ıdico del siglo XIX: la reducci´on de la justicia a la ley. El positivismo jur´ıdico, al negar la existencia de niveles de derecho diferentes de la voluntad recogida en la ley, se cerraba intencionalmente la posibilidad de una distinci´on jur´ıdicamente relevante entre ley y justicia. Tal distinci´on pod´ıa valer en otro plano, el plano de la experiencia ´etica, pero no en el jur´ıdico. Del mismo modo que los derechos eran lo que la ley reconoc´ıa como tales, la justicia era lo que la ley defin´ıa como tal. La relaci´on ley-justicia se adecuaba perfectamente a la relaci´on ley-derechos. [...] La Constituci´on pluralista presenta la estructura de un pacto en el que cada una de las partes implicadas introduce aquellos principios que se corresponden

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