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ABUSO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS E REFLEXOS NA FAMÍLIA Aroldo Gavioli

Letícia Bottura Calvoso2 Michele Cristina Santos Silvino3 Natalina Maria da Rosa4 Taíza Scarpin Guazi5 Magda Lúcia Félix de Oliveira6 INTRODUÇÃO: O abuso de álcool e outras drogas não pode ser circunscrito ao usuário, mas sim a toda a sua família e ao seu meio social. Viver em um "ambiente aditivo" afeta negativamente os descendentes, e, estima-se que para cada alcoolista, cinco ou seis pessoas da família são afetadas(1). Alguns autores estimam que para os filhos pessoas alcoolistas o risco para desenvolver dependência ao álcool, na idade adulta, é três vezes maior do que para aqueles cujos pais não são alcoolistas(2). Por outro lado a vulnerabilidade socioeconômica e a violência podem permear a existência da família onde se observa abuso de álcool e drogas. A violência representa toda ação ou omissão que prejudique o bem-estar, a integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de um membro da família. Geralmente acontece em casa, afetando, sobretudo mulheres, crianças e idosos, podendo ocasionar danos diretos ou indiretos a todas as pessoas da família, nas várias fases de suas vidas(3). Em relação à violência na família, o abuso de álcool e drogas, fenômeno comum na sociedade contemporânea, é um de seus determinantes(3). O abuso de álcool e drogas é definido como sendo “o padrão desajustado de uso indicado pela continuação desse uso apesar do reconhecimento da existência de um problema social, ocupacional, psicológico ou físico, persistente ou recorrente, que é causado ou exacerbado pelo uso recorrente em situações nas quais ele é fisicamente arriscado”(4). OBJETIVO: Este estudo teve como objetivo avaliar os reflexos do abuso de álcool e outras drogas na família, a partir da análise de casos de internação hospitalar, registrados em um centro de assistência toxicológica de um hospital universitário. MATERIAL E MÉTODOS: Estudo transversal, retrospectivo e quantitativo, com coleta de dados de fichas de ocorrências toxicológicas de pacientes internados no ano de 2010. Foram coletados dados de 233 fichas de usuários notificados ao Centro de Controle de Intoxicações do Hospital Universitário Regional de Maringá CCI/HUM, por meio de procedimento de busca ativa em prontuários, desenvolvida no Projeto de Extensão Universitária de Toxicovigilância e Busca Ativa do CCI/HUM. Os dados foram compilados com o Software Epi-Info versão 3.5.2 e apresentados em freqüências absoluta e percentuais. As questões éticas foram observadas e o projeto de pesquisa foi aprovado pelo COPEP/UEM com o parecer n.0 686/2010. RESULTADOS E DISCUSSÕES: A população

1 Mestrando em Enfermagem (PSE) da Universidade Estadual de Maringá, Enfermeiro do Pronto Socorro do HURM, Maringá – Paraná. E-mail: gavioli.aroldo@gmail.com.

2 Graduanda do curso de Psicologia da Universidade Estadual de Maringá- UEM. 3 Graduanda do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá

4 Enfermeira, Técnica de Enfermagem da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário Regional de Maringá – HUM.

5 Graduanda do curso de Psicologia da Universidade Estadual de Maringá- UEM.

6 Doutora em Saúde Pública. Docente da Graduação e Pós-graduação em Enfermagem na Universidade Estadual de Maringá – UEM. Coordenadora do Centro de Controle de Intoxicações – CCI. E-mail: mlfoliveira@uem.br

estudada evidenciou que o abuso de álcool e outras drogas acometem mais aos homens (n: 207 - 88,8%), na faixa dos 15 aos 59 anos e com escolaridade inferior a oito anos, sendo uma parcela significativa (n: 85 – 36,4%) de usuários internada por acidentes ou violências motivadas por abuso de drogas. Os dados desta amostra corroboram os dados de outros estudos abordando esta temática, sendo o homem o mais afetado pelo consumo de drogas de drogas de abuso(1). Os dados revelaram que os usuários atendidos no CCI/HUM tinham o álcool com principal substância de abuso, seguido pelo crack (n:15 = 11,8%), cocaína (n:10 = 8%) e maconha (n:4 = 3,2%). A quase totalidade dos indivíduos atendidos, de homens em idade economicamente ativa, geralmente casados, arrimos de famílias, em que o uso de drogas de abuso, coloca a família em situações de vulnerabilidade. Evidenciou-se o uso crônico de álcool e drogas, sendo este tipo de uso o responsável por alterações comportamentais, comprometimentos orgânicos e clínicos remetendo a busca de cuidados de saúde, em situações de emergência, contribuindo também para a alta prevalência de acidentes automobilísticos, violências (dentre estas, a violência a doméstica), o crime e o absenteísmo laboral(3). A maioria das pesquisas aponta a presença de associação entre transtornos do uso de substâncias e criminalidade. É alta a proporção de atos violentos quando álcool ou drogas estão presentes entre agressores e suas vítimas, ou em ambos(5,6). Estes fatos exercem considerável impacto sobre os indivíduos, suas famílias e a comunidade, determinando prejuízo à saúde física e mental, comprometimento das relações, perdas econômicas, chegando a problemas legais. Freqüentemente estes pacientes apresentam graves complicações clínicas, necessitando de cirurgias, suporte ventilatório e tratamento intensivo, os óbitos acontecem com freqüências elevada. Estes dados estão em consonância estudos que revelam a situação do abuso de álcool e outras drogas como gravíssimo, chegando a concluir que os problemas relacionados ao consumo de álcool são igualmente alarmantes e responsáveis por mais de 10% dos problemas totais de saúde no Brasil(5). Foi constatado neste levantamento que o transporte dos pacientes para o hospital foi realizado pelos serviços pré- hospitalares (Samu, Siate), que foram responsáveis por transportar 27% (n: 63), seguido por familiares que transportaram 20,6% (n: 48) dos pacientes. Tal fato demonstra que parte importante dos eventos podem ter ocorrido em ambiente familiar. Em associação a este fato verificamos que 36,5% sofreram algum tipo de violência ou lesões (34,1%), dentre estas, as quedas de própria altura, brigas e ferimentos provocados intencionalmente por arma de fogo e arma branca. Os dados da literatura evidenciam que os pacientes que abusam de álcool e outras drogas têm risco de morte violenta muito acima da população não usuária(5), corroborados no presente estudo. Na tentativa de Inferir a gravidade do quadro clínico destes usuários, foram acessados os dados sobre a complexidade do tratamento hospitalar. A maioria (n: 181 = 78%) dos usuários necessitaram apenas de observação clínica, mas 25,2% (n:59) necessitaram de tratamento cirúrgico, suporte ventilatório e atendimento em terapia intensiva, ou seja, próximo de 1 em cada 4 deles apresentavam grave quadro de saúde. Finalizando foi analisado o desfecho clínico destes pacientes, onde 84,1% receberam alta hospitalar melhorados, 8,1% foram transferidos para outros serviços ou evadiram-se e 7,7% evoluíram para óbito, permitindo inferir que aproximadamente 1 em cada 10 usuários evoluiu para óbito. Esses problemas têm impactos não somente para as pacientes, mas também para seus familiares e para o meio social onde vivem, influenciando o bem-estar físico e psicológico de todos. CONCLUSÃO: Apesar das limitações do estudo transversal retrospectivo e a impossibilidade de correção de possíveis erros no preenchimento das fichas, os dados reforçam, de forma alarmante, que o consumo de álcool tem considerável peso na gênese da violência no ambiente familiar, exposição da família a vulnerabilidades, adoecimento e morte

de familiares usuários de álcool e drogas de abuso, que geralmente são homens em idade economicamente ativa e que impõe a suas famílias a dura realidade do uso de drogas de abuso. A realização de pesquisas atua aumentado o entendimento dos profissionais de saúde sobre as conseqüências deste tipo de abuso e seus reflexos sobre a convivência familiar, dando-nos a oportunidade de utilizar tal entendimento para melhorar a atenção aos pacientes e familiares. Diante do revelado, os autores ponderam ser imprescindível que o enfermeiro e os profissionais de saúde busquem novos saberes acerca do abuso de substâncias tais como álcool e outras drogas e seus reflexos na família, pois ele é causa de vulnerabilidades dentro do contexto familiar e a apreensão deste conhecimento poderá propiciar um novo olhar em relação ao uso abusivo de bebidas alcoólicas e drogas, dando oportunidade de prestar uma assistência mais eficiente e eficaz a esta clientela específica e a suas famílias. O rastreamento destes pacientes seria essencial para o diagnóstico e quando os problemas forem identificados, intervenções devem ser direcionadas tanto para o usuário de álcool e drogas como para os familiares, a fim de reduzir vitimizações posteriores e seu impacto na saúde das gerações futuras.

PALAVRAS-CHAVE: Álcool. Drogas. Família. REFERÊNCIAS

1.Acauan L, Donato M e Domingos AM. Alcoolismo: um novo desafio para o enfermeiro. Rev. esc. Anna Nery. 2008; 12(3): 566-570 p.

2.Souza J, Jerônimo DVZ e Carvalho AMP. Maturidade emocional e avaliação comportamental de crianças filhas de alcoolistas. Psicol. estud. 2005; 10(2): 191-199 p. 3.Saliba O, Garbin CAS, Garbin AJI e Dossi AP. Responsabilidade do profissional de saúde sobre a notificação de casos de violência doméstica. Rev. Saúde Pública. 2007; 41(3): 472- 477 p.

4.Presidência da Republica (Brasil), Gabinete de Segurança Institucional, Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas. Glossário de álcool e drogas. 2. Ed. Brasília: Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas. 2010; 11-12 p.

5.Bandeira M, Dias H, Paiva WC, Lara LC, Stefani LM, Moreira MF et al. Perfil dos pacientes alcoolistas do Núcleo de Ensino e Pesquisa sobre alcoolismo (NEPA-FHEMIG). J. bras. psiquiatr. 1997; 46(3): 133-40 p.

6.Vargas D, Oliveira MAF , Araújo EC. Prevalência de dependência alcoólica em serviços de atenção primária à saúde de Bebedouro, São Paulo, Brasil. Cad. Saúde Pública. 2009; 25(8): 1711-1720 p.

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