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A GRADUAÇÃO E O PREPARO DO ENFERMEIRO PARA ATUAÇÃO NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA*

Carina Bortolato1 Nildo Alves Batista2 INTRODUÇÃO: O ensino de Enfermagem no país configura-se por várias fases de desenvolvimento ao longo dos anos, tendo como reflexo de cada mudança o contexto histórico da Enfermagem e da sociedade brasileira. Conseqüentemente, o perfil de enfermeiros apresenta significativas mudanças em decorrência das transformações no quadro político-econômico-social, da educação e da saúde no Brasil e no mundo(1). Os pilares direcionadores para a formação do aluno na graduação em Enfermagem são marcados pelas necessidades de saúde vigentes no país, construídas histórica e socialmente. Imbricados à transformação das práticas em saúde e subsidiados pelos movimentos de empoderamento e indissociabilidade entre ensino/serviço/comunidade surgem as novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs)(2) para a graduação em Enfermagem, escopo indispensável de abordagem pelas políticas públicas de saúde. Extinguiu-se, assim, a educação superior baseada nos Currículos Mínimos, e, numa perspectiva inovadora, estas diretrizes remontam os conteúdos curriculares suscitando a integralidade das ações de Enfermagem, a área temática Saúde Coletiva, o trabalho do enfermeiro em nível individual e coletivo, além de instituir estágios em rede básica de serviços de saúde e comunidades, entre outros, e atividades complementares. Por outro lado, em 1994 surge o Programa Saúde da Família (PSF) como proposta de ruptura com uma política de saúde tradicional, fragmentada e hospitalocêntrica e voltada, predominantemente, para o biológico do processo saúde/doença. Como uma estratégia inovadora, propõe a articulação de diferentes áreas do conhecimento integrando saberes e práticas. Nesta perspectiva, ao adotar o PSF, atualmente assumido como Estratégia Saúde da Família (ESF), formulação que prima pelo atendimento integral, complexo, na multidimensionalidade humana, surge a necessidade de profissionais que lidem com determinantes sociais de saúde, articulando a atuação profissional de maneira intersetorial com o entorno socioeconômico e antropológico dos usuários do sistema Sistema Único de Saúde (SUS)(3). O percurso histórico do ensino de enfermagem no Brasil mostra que as relações sociais, políticas, de educação e de saúde influenciam diretamente no contexto da formação da Enfermagem moderna(1). Autores(4), sinalizam que a formação para a saúde deveria ter como objetivos a transformação das práticas profissionais e da própria organização do trabalho e estruturar-se a partir da problematização do mesmo e sua capacidade de dar acolhimento e cuidado às várias dimensões e necessidades de saúde das pessoas, dos coletivos e das populações. Baseado nestes pressupostos de transformações no perfil sócio-político, de educação e de saúde identifica-se uma inquietude diante das questões: Quem é o enfermeiro que atua na Estratégia Saúde da Família na mesorregião Norte Pioneiro Paranaense? Como este profissional vem se preparando para esta atuação? Qual a contribuição da graduação para este preparo? OBJETIVOS: Caracterizar o perfil do

* Artigo extraído dos resultados parciais da Dissertação de Mestrado intitulada “O processo de formação do enfermeiro para atuação na Estratégia Saúde da Família”. Apoiada com recursos da Fundação Araucária, apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná.

1Enfermeira. Mestranda do Programa Interdisciplinar em Ciências da Saúde do Campus Baixada Santista da Universidade Federal de São Paulo. Professora Auxiliar do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP). E-mail: cabortolato@uenp.edu.br

Enfermeiro que atua na Estratégia Saúde da Família, investigar seu processo de formação para atuação nesta estratégia e conhecer as contribuições específicas que a graduação traz para o desenvolvimento da competência profissional exigida neste nível de atenção. METODOLOGIA: Optou-se por uma pesquisa exploratória, de caráter descritivo-analítico, utilizando uma abordagem quantitativa. Os dados foram coletados no estado do Paraná, especificamente na mesorregião Norte Pioneiro Paranaense. Nesta região, concentram-se 128 enfermeiros da Saúde da Família (dados obtidos em janeiro de 2011 a partir do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde). Dos 128 enfermeiros, a população de estudo constou de 72 equivalentes a 56,25% do universo investigado. Utilizou-se um questionário de escala tipo Likert com assertivas referentes à graduação e a prática do enfermeiro na ESF juntamente com a ficha de caracterização do profissional. Os dados coletados foram sistematizados e tabulados e, o grau de concordância ou discordâncias às assertivas foram apresentados em percentis e em formato de gráficos. O presente estudo sucedeu à aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal de São Paulo (Parecer no 0710/2011). Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. RESULTADOS: O enfermeiro que atua na ESF na mesorregião Norte Pioneiro Paranaense é predominantemente do sexo feminino (93%), 46% com idade entre 21 e 30 anos, 26% de 31 a 35 anos, 19% de 36 a 40 anos e 8% de 41 a 51 anos. Quanto à graduação, pouco mais da metade (56%) são egressos de universidades públicas. Em média, estão formados há 6,5 anos (mínimo de 6 meses e máximo de 27 anos), sendo 47% entre 0 e 5 anos, 44% de 6 a 10 anos, 6% de 11 a 15 anos e 3% de 21 a 27 anos. Pouco mais da metade dos enfermeiros trabalham no regime CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) - 53%, 39% são Estatutários Municipais e 8% terceirizados. Todos cumprem 40 horas semanais de jornada de trabalho e têm a ESF como principal vínculo. Um segundo emprego está presente em pequena parcela do grupo estudado (18%). Observou-se que a maioria (63%) dos enfermeiros atua na ESF há pouco tempo (mínimo de 2 meses e no máximo de 5 anos), 32% entre 6 e 10 anos e 18% de 11 a 13 anos. Na população investigada, 39% tem a ESF como o primeiro emprego, ou seja já assumem a coordenação de uma equipe como recém-graduados. O restante da população estudada (61%) assumiram a ESF após um ou mais anos de formação, tendo cursado ou não especialização nesta área. Entre os enfermeiros que buscaram aprofundamento profissional na ESF, 66% concluíram Pós-graduação latu sensu em Saúde Pública, Saúde Coletiva e/ou Saúde da Família; desses, um enfermeiro referiu Pós-graduação na modalidade Residência Multiprofissional em Saúde da Família e 28% fizeram uma segunda Pós graduação. Frente à assertiva “a complexidade da prática do enfermeiro na ESF exige capacitação profissional (aprimoramento, especialização e/ou mestrado)”, 83% concordam, 11% não têm opinião formada e 6% discordam. Por outro lado, quando confrontados com a assertiva “considero suficiente para a prática do enfermeiro na ESF minha participação em atividades de Educação Permanente e/ou Continuada procedentes da Secretaria Municipal/Estadual de Saúde”, 59% dos profissionais concordam apesar de 33% discordarem e 6% não terem opinião formada. Frente à assertiva “os princípios norteadores do SUS junto às diretrizes curriculares da minha graduação em Enfermagem, me capacitaram para a prática na ESF (não sendo necessário especialização em Saúde da Família, Saúde Coletiva e/ou Saúde Pública)”, 56% dos enfermeiros discordam, 36% concordam e 8% não tem opinião formada. Paradoxalmente, quando os enfermeiros foram colocados diante da assertiva: “a graduação em Enfermagem me capacitou para supervisionar, coordenar e realizar atividades de Educação Permanente e em serviço junto à equipe de Enfermagem”, 78% concordam, 13% discordam e 10% se colocam indiferentes. Para a assertiva “a graduação me capacitou para diagnosticar e solucionar problemas de saúde, realizar assistência integral aos indivíduos e famílias, no domicílio e demais espaços comunitários (escolar, associações)”, 75% concordam, 17% discordam e 8% não têm opinião formada. Apesar dos sujeitos,

em alguns momentos, reconhecerem que foram preparados na graduação para as competências específicas do enfermeiro na ESF, quando se viram frente à assertivas que os colocavam numa situação virtual de coordenadores de curso de graduação em Enfermagem, foram unânimes nas proposições de mudanças, apontando-as em todos os tópicos enunciados. Merece destaque que 92% fariam mudanças visando melhorar o ensino/estágio do graduando na ESF; 86% no ensino/estágio do graduando no SUS; 85% no ensino e a vivência com a integralidade do cuidado; e 78% incluindo disciplinas como Saúde Coletiva e Atenção Básica. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os enfermeiros revelam que, embora a graduação os tenham capacitados para a prática na ESF, essa formação apenas se inicia nesta fase, sendo necessário, além de desenvolvimento e capacitação profissional, especialização na área. Por outro lado, fariam mudanças na graduação vivenciada acreditando-se que existem reais necessidades de aprimoramento nos Projetos Políticos-pedagógico das Instituições de Ensino Superior, com vistas a formar recursos humanos dotados das competências estabelecidas nas DCNs e na política Nacional vigente, para atuação no SUS e na ESF. Entendemos que, estes resultados sobre o processo de formação do enfermeiro para atuação na ESF são ainda preliminares, exigindo aprofundamento e complementaridade.

PALAVRAS-CHAVE: Educação Superior. Enfermagem. Programa Saúde da Família.

REFERÊNCIAS

1. Ito EE, Peres AM, Takahashi RT, Leite MMJ. O ensino de enfermagem e as diretrizes curriculares nacionais: utopia x realidade. Revista Escola Enfermagem USP. 2006; 40(4): 570-5.

2. Ministério da Educação (Brasil). Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CES 1133, de 7 agosto de 20001. Dispõe sobre as Diretrizes Curriculares dos Cursos de Graduação. Brasília: Ministério da Educação; 2001.

3. Moretti-Pires RO. Complexidade em Saúde da Família e formação do futuro profissional de saúde. Interface - Comunic Saude Educ. 2009; 13(30): 153-66.

4. Ceccim RB, Feuerwercker LCM. O Quadrilátero da Formação para a Área da Saúde: Ensino, Gestão, Atenção e Controle Social. PHYSIS: Rev Saúde Coletiva. 2004; 14(1); 41-65.

A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA JUNTO AO TRABALHADOR INTOXICADO

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