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AS MUDANÇAS OCORRIDAS NO SEIO FAMILIAR DO PACIENTE VÍTIMA DE ACIDENTE DE TRABALHO GRAVE

Aroldo Gavioli1 Camila Fernanda Leite Roseghini2 Sonia Silvia Marcon3

INTRODUÇÃO: Os acidentes e as violências no Brasil são agravos que, pelo seu expressivo impacto na morbimortalidade da população, constituem-se em importante problema de saúde pública e até onde se sabe, a vivência junto a um individuo acometido por um acidente de trabalho grave (ATG)não tem constituído foco de estudos(1). Acidente de trabalho é o evento súbito ocorrido no exercício de atividade laboral, independentemente da situação empregatícia e previdenciária do trabalhador acidentado, e que acarreta dano à saúde, potencial ou imediato, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que causa direta ou indiretamente (concausa) a morte, ou a perda ou ainda, a redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho(1). A temática acerca dos cuidadores já foi foco de atenção de outros estudos, porém todos abordando o contexto vivenciado junto a um doente ou uma condição crônica de saúde(2). Assim indagamos: como é cuidar de uma pessoa vítima de acidente de trabalho grave? Que mudanças ocorrem no seio familiar destes pacientes? Quais são suas reais necessidades? OBJETIVOS: Conhecer as mudanças ocorridas no seio familiar de um indivíduo vítima de ATG, e identificar as atividades que envolvem este cuidar. METODOLOGIA: Estudo descritivo exploratório, com abordagem qualitativa realizado no município de Maringá-PR, junto a nove familiares de indivíduos vitima de ATG no período de junho de 2010 a fevereiro de 2011, localizados a partir do ambulatório de ortopedia do Hospital Universitário Regional de Maringá. Utilizou-se a entrevista semi-estruturada para a coleta dos dados. Os dados foram analisados utilizando-se a Análise de Conteúdo do tipo temática(3). À partir deste levantamento e da bibliografia atual sobre o assunto são feitas as discussões sobre os resultados apresentados. As questões éticas foram observadas e o projeto de pesquisa foi aprovado pelos pareceres do COPEP/UEM n.0 196/2010 e 296/2010.

RESULTADOS E DISCUSSÕES: Os indivíduos acidentados apresentavam idade variável

entre 17 a 56 anos (média de 37,8 anos), sendo a maioria deles do sexo masculino (sete) e casados (seis). Quanto aos cuidadores, a maioria era do sexo feminino, ocupa a posição de cônjuge ou mãe do acidentado, possui baixa escolaridade, tem média de idade de 49.3 anos, e ocupações diversificadas. Estes resultados encontram-se uma pouco abaixo da média etária observada em outros estudos cujas médias de idades dos cuidadores foram 52(2) e 58(4). A maioria dos cuidadores era do sexo feminino corroborando os resultados de outros estudos que destacam o papel da mulher como cuidadora na nossa cultura(2) e ainda estiveram presentes os quatro fatores citados como decisivos na escolha do cuidador: familiaridade, o sexo feminino, a proximidade física e a proximidade afetiva, destacando-se a relação conjugal

1 Aluno do Programa de Pós-graduação, Mestrado em Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá – PSE/UEM, Enfermeiro do Pronto Socorro do Hospital Universitário Regional de Maringá. Endereço eletrônico: gavioli.aroldo@gmail.com.

2 Aluna do Programa de Pós-graduação, Mestrado em Ciências da Saúde da Universidade Estadual de Maringá. E-mail: cfroseghini@hotmail.com

3 Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora do Departamento de Enfermagem (DEN) e do Programa de Pós-graduação Mestrado em Enfermagem (PSE) da Universidade Estadual de Maringá (UEM). E-mail: soniasilva.marcon@hotmail.com

e entre pais e filhos(2,4). A questão da temporalidade(5) do cuidado foi um achado importante deste estudo e o diferenciou de outros que abordaram o cuidador de doentes crônicos, sendo que neste caso a demanda de cuidados é muito maior nos primeiros dias após o acidente. Uma vez existindo a perspectiva de melhora rápida, o cuidador se preocupa em se adaptar a realidade da fase de crise da doença que procede ao acidente não chegando a experimentar a fase de cronificação, tampouco a terminalidade, onde seria de se esperar uma maior sobrecarga do cuidador(5). A família passa a elaborar formas de lidar com o ambiente hospitalar e os procedimentos terapêuticos relativos à doença e ao ocorrer a melhora do quadro clínico com o passar do tempo, e, é importante que se destaque, que nestes casos, o tempo em questão é de apenas dias, estas demandas vão se tornando cada vez mais específicas, o que de certa forma, libera o cuidador para outras atividades. Esta reelaboração na dinâmica familiar faz parte do enfrentamento da crise gerada pelo ATG e suas conseqüências nos membros da família, houve uma redistribuição temporária de papeis e um fortalecimento na união da família, porém ficou evidente que um doente no domicílio é uma fonte de tensão e sofrimento. Os cuidadores mostraram preocupação com o estado de espírito do acidentado e tentaram de todas as formas cercá-lo de cuidados, de forma a evitar que fizessem esforços desnecessários e a família passou a buscar uma posição de aceitação da mudança, mantendo um sentimento de continuidade entre o seu passado e o seu futuro, isto gera união para alcançar objetivos de passar pela crise e desenvolve flexibilidade tendo em vista objetivos futuros(4,5). O cuidado familial envolve mais que a saúde física. O cuidado familial é caracterizado pelas ações e interações no núcleo familiar e direcionado a cada um de seus membros, com o intuito de alimentar e fortalecer o crescimento, o desenvolvimento, a saúde e o bem-estar, tanto dos membros quanto do grupo(6). Por fim observou-se que as atividades que fazem parte do atendimento ao doente na fase de crise e relatadas pelos cuidadores foram a ajuda na higiene (banho, vestir-se), na alimentação, proteger o membro com gesso, acompanhar nos serviços de saúde, administrar medicamentos e fazer curativos, sendo este ultimo que demandou maiores cuidados e maiores temores por parte dos cuidadores. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os principais achados deste estudo sobre o cuidado familiar de acidentados de trabalho graves apontam para cuidadores familiares mais jovens, com média de idade abaixo do encontrado em estudos sobre o cuidado familiar do doente crônico, sendo a maioria do sexo feminino, geralmente mãe ou cônjuge. Os acidentes de trabalho são agravos que acometem o trabalhador, não bastando circunscrevê-lo apenas ao indivíduo acidentado, mas sim, a toda a sua família, sobretudo aquele familiar que assume a função de cuidador. Observou-se uma elaboração acerca do cuidado familiar bastante positiva e de certa forma diferente daquela observada em cuidadores de doentes crônicos e que atribuímos a temporalidade do cuidado, pois passados os primeiros dias o paciente vai liberando o cuidador de suas demandas, o que torna o cuidado mais “simples” e aceitável. Sobre os cuidados prestados ao acidentado, os cuidadores referiram a higiene e a alimentação, o cuidado para que o paciente não fizesse esforços desnecessários e prejudiciais e a troca do curativo, sendo este ultimo o mais lembrado e mais temido pelos cuidadores. A apreensão deste conhecimento nos leva a acreditar que a equipe de enfermagem pode fazer a diferença para uma atenção mais humanizada e eficiente, através de políticas de atenção aos acidentados em domicilio. As necessidades e as implicações relatadas pelos participantes da pesquisa revelam o quanto esse grupo necessita de atenção por parte dos serviços de saúde e da sociedade, sobretudo logo após o acidente ou a alta hospitalar, pois nestes períodos ocorre a maioria das demandas de cuidado, acreditamos que a enfermagem pode fazer a diferença

para estas famílias, pois atualmente agravos como os acidentes de trabalho tem se tornado um importante problema de saúde publica.

PALAVRAS-CHAVE: Família. Acidente de Trabalho. Enfermagem.

REFERÊNCIAS

1.Ministério da Saúde (Brasil), Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas, Notificação de acidentes do trabalho fatais, graves e com crianças e adolescentes. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 15-18 p.

2.Perlini NMOG, Faro ACM. Cuidar de pessoa incapacitada por acidente vascular cerebral no domicílio: o fazer do cuidador familiar. Rev. esc. enferm. USP. 2005 jun; 39(2): 154-163 p. 3.Minayo MCS. O Desafio do Conhecimento: Pesquisa Qualitativa em Saúde. 12. ed. São Paulo: Hucitec; 2010. 111-127 p.

4.Arruda MC, Alvarez AM, Gonçalves LHT. O familiar cuidador de portador de doenças de Alzheimer participante de um grupo de ajuda mutua. Ciênc. cuid. saúde. 2008 Jul/Set; 7(3): 339-345 p.

5.Carter B, Mcgoldrick M. As Mudanças no Ciclo de Vida: uma estrutura para a terapia familiar. 2. Ed. Porto Alegre: Artmed; 1995. 377-378 p.

6.Marcon SS, Radovanovic CAT, Waidman MAP, Oliveira MLF, Sales CA. Vivência e reflexões de um grupo de estudos junto às famílias que enfrentam a situação crônica de saúde. Texto contexto - enferm. 2005; 14(esp): 116-124 p.

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