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A FAMÍLIA E OS MECANISMOS DE ENFRENTAMENTO PARA LIDAR COM A ESQUIZOFRENIA

Ana Carolina Guidorizzi Zanetti1 Kelly Graziani Giacchero Vedana2

Bianca Cristina Ciccone Giacon3 Mariana Verderoce Vieira3 Lucilene Cardoso4 Sueli Aparecida Frari Galera5 INTRODUÇÃO: A esquizofrenia é um transtorno mental, caracterizado pela alteração de diversos processos mentais(1). Trata-se de uma condição crônica, que ocasiona grande sofrimento para o doente e sua família. Na atualidade, ela representa um dos principais problemas de saúde pública e afeta, além dos pacientes, os seus familiares, causando inúmeros prejuízos funcionais e sociais. Cada grupo social define a esquizofrenia de acordo com seus conhecimentos, crenças e ações específicas. A família tem um lugar e função central na vida dos portadores de esquizofrenia. Ela é um mundo de relações e o espaço social onde se realizam os fatos da vida dos indivíduos(2). Assim sendo, ela constitui o contexto dentro do qual evolui a saúde do indivíduo e influencia, de maneira significativa, as crenças e comportamentos de seus membros em relação à saúde e à doença(3). Simultaneamente, a família é afetada quando um de seus membros é acometido por alguma morbidade. A confirmação do diagnóstico e o início da doença constituem alguns dos fatores que geram mudanças no contexto familiar. É comprovada a necessidade da inclusão da família como parceira e alvo dos cuidados destinados às pessoas com esquizofrenia. Portanto, justifica-se a necessidade de estudos que compreendam o cotidiano e estratégias de enfrentamento utilizadas pelos familiares para lidar com o transtorno. OBJETIVO: Constituiu-se objetivo deste estudo compreender como familiares lidam com a esquizofrenia, a partir da experiência de uma família de baixa renda que tem quatro portadores de esquizofrenia entre seus membros. METODOLOGIA: Este estudo foi fundamentado no referencial da teoria sistêmica familiar. Este referencial define a família como um sistema aberto que interage com o contexto sociocultural onde está submersa, como um grupo de indivíduos ligados por fortes vínculos emocionais, com o sentido de posse e a inclinação a participar das vidas um dos outros(4). De acordo com essa

1Enfermeira, Doutora, Especialista em laboratório do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – DEPCH/EERP-USP. carolzan@eerp.usp.br

2Enfermeira, Doutoranda, Especialista em laboratório do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – DEPCH/EERP-USP. kellygiacchero@eerp.usp.br

3Enfermeira, Doutoranda pelo Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – DEPCH/EERP-USP. biagiacon@gmail.com; mariana.verderoce@usp.br

4Professora Doutora do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – DEPCH/EERP- USP. lucilene@eerp.usp.br

5Professora Livre-Docente do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – DEPCH/EERP-USP. sugalera@eerp.usp.br

perspectiva, a modificação de um membro da família afeta todo o grupo familiar, que buscará uma nova posição de equilíbrio, as famílias desenvolvem uma série de mecanismos de enfrentamento, para se adaptarem à nova situação. Foi empregado ainda, o referencial da antropologia médica. Nesta perspectiva, a cultura afeta a experiência e expressão dos sintomas da doença mental e serve de orientação para a conduta dos indivíduos. Na vida em grupo, os elementos culturais (conhecimentos, as crenças, os valores e os comportamentos) formam um sistema simbólico, um senso comum. Na situação de ter uma doença mental, esses elementos são resgatados pelas famílias, para dar sentido ao momento vivenciado(5). Este é um estudo de caso etnográfico, no qual foi investigada uma família composta por pai, mãe, cinco filhos, dos quais quatro são portadores de esquizofrenia, em seguimento em um núcleo de saúde mental localizado no interior do estado de São Paulo-Brasil. O projeto de pesquisa foi desenvolvido após aprovação em Comitê de Ética e Pesquisa (Protocolo nº024/2005). Os participantes consentiram, por escrito, em participar do estudo. Os dados foram obtidos, no período de agosto a dezembro de 2005, por meio da observação participante, análise dos prontuários, registros no diário de campo e entrevistas gravadas realizadas com a família, em sua maioria, no domicílio. As entrevistas foram transcritas e submetidas a uma análise de conteúdo latente. RESULTADOS: A análise das entrevistas permitiu identificar três categorias temáticas relacionadas aos mecanismos de enfrentamento da família ”Crenças sobre o cuidado”, “Relacionamento familiar” e “Tratamento e a cura”. Em relação às crenças sobre o cuidado foi possível identificar que a crença de que o tratamento poderia propiciar melhor curso da doença motivou a família a buscar o serviço de saúde para o controle da doença. Apesar das dificuldades enfrentadas pela família na convivência com os membros doentes, o relacionamento, no caso desta família, foi enfatizado como um dos mecanismos utilizados para o enfrentamento dos problemas gerados pela esquizofrenia. Entre as modificações no relacionamento familiar, foram identificadas as seguintes: o apoio; o reconhecimento dos esforços de outros, na família; a alternativa para o cuidado; a perspectiva para o futuro e conformar-se com a situação. O apoio manifesto de diferentes formas foi citado como uma forma que compensar as limitações, enquanto o reconhecimento dos esforços alheios auxiliava cada membro da família no enfrentamento do próprio sofrimento. Verificou-se que a família mantinha a esperança de identificar alternativas que pudessem melhorar o cuidado proporcionado aos filhos doentes. Foi também identificada à preocupação com a ausência daqueles que colaboravam no cuidado aos membros doentes e o preparo de outros indivíduos para que os substituíssem nesta função. Apesar da experiência adquirida pela convivência de longos anos com os filhos esquizofrênicos, os familiares fizeram referência à dificuldade que possuíam em aceitar a doença dos filhos. As expectativas em relação ao tratamento e possibilidade de cura estiveram, na concepção dos participantes deste estudo, vinculadas à espiritualidade destes indivíduos. Os entrevistados exprimiram a expectativa de que a adesão ao tratamento, aliada à fé, poderia proporcionar a cura da esquizofrenia. É válido ressaltar que os mecanismos de enfrentamento psíquicos utilizados por essa família para lidar com a experiência de ter quatro filhos com esquizofrenia, certamente interferiram no comportamento adotado por esses indivíduos para o manejo da doença. Os mecanismos de enfrentamento utilizados para lidar com o adoecimento são construídos em resposta a um episódio particular de doença e oferecem explicações sobre adoença e o tratamento(6). CONCLUSÕES/IMPLICAÇÕES PARA A ENFERMAGEM: A família, ao lidar com a esquizofrenia em seu cotidiano, evidencia uma série de mecanismos de enfrentamento, revelando toda sua potencialidade enquanto célula vital para a vida humana. Apesar de todas as dificuldades, a família se esforça em oferecer apoio financeiro, cuidado, afeto e articula-se em

preparar as crianças da família para lidar com a doença e suas demandas na ausência dos pais que estão envelhecendo. Frente a tantas adversidades depositam em Deus suas esperanças. Os resultados nos levam a pensar que a assistência ao doente mental constitui um desafio para os profissionais de saúde, em especial para os enfermeiros, na atualidade. Além de garantir a manutenção o tratamento medicamentoso e a reabilitação psicossocial, é urgente incluir a família como unidade do cuidado ao doente esquizofrênico e a importância do enfermeiro considerar o mecanismo de enfrentamento da doença e compreender as estratégias de enfrentamento usadas. PALAVRAS-CHAVE: Enfermagem. Família. Esquizofrenia.

REFERÊNCIAS

1.Rigby P, Alexander J. Understanding schizophrenia Nursing Standard 2008;28(22):49-56. 2.Sarti CA. A família como ordem simbólica. Psicologia USP 2004; 15(3):11-28.

3.Duhamel F. La santé et la famille: une approche systémique en soins infirmiers. Montreal: Gaetan Morin Editeur; 1995.

4.Wright LM, Leahey M. Enfermeiras e famílias: um guia para avaliação e intervenção na família. 4ª ed. São Paulo: Roca LTDA; 2009.

5.Anjos ACY. A experiência da terapêutica quimioterápica oncológica na visão do paciente [dissertação]. Ribeirão Preto (SP): Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo; 2005.

6.Kleinman A. Patients and healers in the context of culture. Berkeley University of California Press; 1980.

A FAMÍLIA NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA PEDIÁTRICA: VISÃO

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