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A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA JUNTO AO TRABALHADOR INTOXICADO POR CHUMBO INORGÂNICO.

Beatriz Ferreira Martins1 Ana Paula dos Santos Campos2 Laiane Mucio Correia3 Magda Lúcia Félix de Oliveira4 Tanimária da Silva Lira Ballani5 Adaelson Alves Silva6 INTRODUÇÃO: O chumbo é um metal pesado, muito utilizado pela indústria e em produtos de combustão, que pode se acumular nos tecidos humanos causando a intoxicação denominada saturnismo e na atualidade é predominantemente de causa ocupacional(1). Não apresenta nenhuma função fisiológica conhecida sobre o organismo de seres humanos e animais. Os processos fisiológicos de absorção, distribuição, armazenamento e eliminação do metal são influenciados por fatores endógenos - constituição genética, fatores antropométricos, estado de saúde - e fatores exógenos, tais como carga de trabalho, exposição simultânea a outras substâncias, drogas, álcool e fumo(2). As vias de exposição podem ser a inalação de fumos e poeiras, mais importantes do ponto de vista ocupacional, e a ingestão(3). O risco de intoxicação ocupacional aumenta no ambiente de trabalho, se o trabalhador bebe, fuma, alimenta-se de forma inadequada, não higieniza as mãos, utiliza roupas e sapatos inapropriados ou não faz uso dos equipamentos de proteção individual, como luvas, máscaras e óculos. A intoxicação ocupacional por chumbo caracteriza-se como intoxicação crônica, uma vez que ocorre após a exposição contínua ao agente, apresentando sinais e sintomas difusos como “gosto metálico na boca”, cefaléia freqüente, cansaço fácil, algia muscular, perda de peso, algias abdominais, inapetência, cólicas, emese, nervosismo, agressividade, amência, vertigem, obstipação, diminuição da atividade sexual e impotência. É comum o corpo humano ter índices de chumbo (Pb-S) em torno dos 10 µg/dl, sendo considerado caso de alerta médico quando ultrapassa 40 µg/dl, e caso grave, quando o índice estiver acima dos 60 µg/dl, nível que necessita de cuidados e tratamentos especiais(4). Nestes casos, o trabalhador deve ser afastado do trabalho e proceder a repetição da dosagem de Pb-S a cada dois meses para acompanhamento clinico. Considerando a exposição duradoura no ambiente de trabalho e a evolução gradativa dos sinais e sintomas, faz-se necessário o apoio familiar e dos profissionais de saúde ao trabalhador, para conduzir o tratamento adequado no controle clínico – laboratorial periódico. O impacto da intoxicação no meio familiar é alto e pode envolver alterações de ordem afetiva, financeira, nas relações de poder, dependendo do processo de organização familiar. Por isso, existe necessidade de conhecer e investigar as dificuldades vivenciadas no cuidado no âmbito domiciliar, bem como desenvolver, implementar e avaliar programas de educação para atender de forma adequada essa família(5). OBJETIVOS: O

1Enfermeira, enfermeira voluntária do Centro de Controle de Intoxicações/HUM. E-mail:

biaferreira.martins@gmail.com.

2 Acadêmica de graduação do curso de Enfermagem da UEM. E-mail: ana89.enfermagem@gmail.com. 3 Acadêmica de graduação do curso de Enfermagem da UEM. E-mail: laianemcorreia@hotmail.com.

4 Enfermeira, Doutora em Saúde Coletiva e docente do PSE – UEM, Coordenadora do Centro de Controle de Intoxicações/HUM. E-mail:mlfoliveira@uem.br.

5 Enfermeira, Mestre em Enfermagem, enfermeira no CCI/HUM. E-mail: taniballani@yahoo.com.br.

6 Médico, Doutor em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual de Campinas, médico no CCI/HUM. E-mail: dialise@bs2.com.br.

estudo objetivou relatar o caso clinico ocupacional de S.M, intoxicado por chumbo inorgânico, e discutir o apoio familiar ao trabalhador. METODOLOGIA: O estudo é descritivo, do tipo estudo de

caso clínico, com análise retrospectiva dos dados registrados no prontuário do paciente, arquivado

no Ambulatório de Saúde do Trabalhador (AST) do Centro Controle de Intoxicações do Hospital Universitário Regional de Maringá (CCI/HUM), período de 1994 a 2011. Os atendimentos ao trabalhador ocorreram nas dependências do CCI/HUM. RESULTADOS: S.M., 54 anos, residente na cidade de Jandaia do Sul – PR trabalhou durante 25 anos na função de montador de baterias automotivas. Nos últimos 15 anos exerce a função de vendedor de baterias automotivas, em empresa auto-elétrica na cidade em que reside. Compareceu pela primeira vez ao AST em 1994, acompanhado de familiares, com suspeita de “saturnismo”. Queixava-se de dor articular, fadiga, irritabilidade, cefaléia e apresentou resultado da dosagem de chumbo no sangue (Pb-S) de 90 µg/dl. Foi afastado temporariamente do trabalho por tempo indeterminado. Entre os anos de 1996 e 1999 o trabalhador compareceu em 36 consultas médicas e de enfermagem no AST, com diversas queixas, dentre elas dores nas articulações, cefaléia, cansaço físico e perda de memória, tendo a companhia de um familiar em todas as consultas, atentos às orientações, na tentativa de auxiliar S.M superar os sinais da doença. Neste mesmo período foram realizados 18 exames da dosagem de chumbo e seu valor variou de 41 a 99 µg/dl. O menor nível de chumbo detectado no período foi resultado de tratamento de quelação com EDTA (ácido etilenodiamino tetra-acético) realizado em 1998 – procedimento para retirada de chumbo do organismo justificado quando resulta em benefícios evidentes para os trabalhadores após avaliação médica, prática que tem sido associada à redução da mortalidade e melhoria dos sintomas. Porém, as queixas álgicas de S.M não cessaram. Não existem esquemas terapêuticos amplamente consensuados para o tratamento quelante nos casos de intoxicação por chumbo. A decisão quanto ao início da terapia é tomada em bases individuais, levando em consideração a gravidade dos sintomas e das alterações laboratoriais. Entre os anos de 2000 e 2004 o trabalhador não compareceu ao AST, os motivos não foram esclarecidos, infere-se resistência do mesmo ao tratamento. No período de 2005 a 2010 compareceu a sete consultas médicas e de enfermagem, sempre acompanhado de um dos familiares, com o resultado de quatro exames de Pb-S - variação 13,6 a 62,1 µg/dl – e persistindo as queixas de perda de memória, lombalgia, fraqueza muscular. Com isso, foi então encaminhado ao neurologista clínico. Chama a atenção o atendimento de 2008, realizado após a insistência da esposa, reforçando os cuidados prestados pela família. As duas últimas consultas ao AST foram em 2011, assistidas por quatro familiares preocupados com a situação clinica de S.M, pois, ainda eram constantes as queixas de diminuição da memória, osteoalgia e sonolência. O Pb-S era 27,13 µg/dl. Assim, foi novamente encaminhado para o neurologista clinico. CONCLUSÃO/IMPLICAÇÕES PARA A ENFERMAGEM: Diante do exposto, nota-se a gravidade da intoxicação crônica por chumbo, com necessidade de acompanhamento prolongado do trabalhador. Pois, diante de um tratamento instantâneo a concentração sérica diminui, porém aumenta à medida que o chumbo armazenado nos tecidos corpóreos é liberado. Portanto, considera-se necessário o apoio familiar e da equipe multidisciplinar para auxiliar no tratamento e noapoio afetivo ao trabalhador. Essa intoxicação gera impactos sociais, econômicos, psicológicos tanto no paciente como em sua organização familiar. A família sofre com as conseqüências da intoxicação de um dos seus membros, mas, exerce fundamental papel no suporte a esses indivíduos. Neste contexto, observou-se como o AST/CCI foi importante no acompanhamento durante o período, acompanhando o caso desde o início, orientando e favorecendo o discernimento nas escolhas de tratamento e formas dos familiares lidarem com o trabalhador intoxicado. Houve também a criação de uma relação interpessoal entre os enfermeiros, acadêmicos de enfermagem atuantes no AST, com o paciente e a família, favorecendo nos atendimentos, adesão às condutas e o atendimento às necessidades da família diante do intoxicado,

embora houvesse resistência por parte do paciente em seguir as orientações recomendadas. Ressaltam-se as mudanças que ocorreram no meio familiar durante o tratamento, bem como, o sofrimento maior causado pelo agravamento do quadro, acarretando danos sociais e emocionais nessa família. Chama a atenção para as oscilações dos exames da dosagem de chumbo, sendo atribuída a persistente resistência do paciente em utilizar equipamentos de proteção ou afastamento da função.

PALAVRAS-CHAVE: Intoxicação por Chumbo. Família. Cuidados de Enfermagem. REFERÊNCIAS

1.Azevedo FA, Rosa HVD. Apostila de toxicologia ocupacional. 2ª ed. São Paulo. 1982.

2.Moreira FR, Moreira JC. A cinética do chumbo no organismo humano e sua importância para a saúde. Ciência e Saúde Coletiva. 2004; 1(1): 167-181.

3.Alves MAB, Terra NN. Determinação do chumbo no sangue por espectrofotometria de absorção atômica, em indivíduos que operam na distribuição de gasolina, em Santa Maria – RS. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, Rio Grande do Sul. 1983; 42: 53-7.

4.Occupational Health Branch (US). Departament of Health Services. Occupational Lead Poisoning Prevention Program (OLPPP): Medical guidelines. Califórnia: [s.n]. 2001.

5.Lavinsky AE, Vieira T. Processo de cuidar de idosos com acidente vascular encefálico: sentimento dos familiares envolvidos. Acta Scientiarium. Health Sciences, Maringá. 2004;26(1).

A INFLUÊNCIA DA CULTURA NO CUIDADO FAMILIAL A SAÚDE DAS

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