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AS DIFICULDADES NA ASSISTÊNCIA EM SAÚDE MENTAL OCASIONADAS POR FAMILIARES, SOB A ÓTICA DOS

PROFISSIONAIS

Jéssica dos Santos Pini1 Maria Angélica Pagliarini Waidman2 INTRODUÇÃO: O processo de Reforma Psiquiátrica vem ocorrendo em vários países após a Segunda Guerra Mundial e é responsável pelo retorno do indivíduo com transtorno mental a comunidade. No Brasil, seu marco legal é a Lei 10.216 / 2001, que dispõe sobre os direitos dos portadores de transtorno mental e redireciona o modelo de assistência a saúde mental, originando a redução de leitos e hospitais psiquiátricos e a desinstitucionalização de pessoas internadas por longos períodos, além da construção de uma rede de serviços extra-hospitalares e a implantação de ações da saúde mental na atenção básica(1). Juntamente a reforma psiquiátrica, surgiu o Programa Saúde da Família, definido como uma estratégia (ESF) em 1997, para reorganizar da atenção básica no Brasil. Percebe-se que a equipe da ESF tem papel fundamental na assistência ao portador de transtorno mental (PTM) junto a sua família, contribuindo para o preparo e apoio da família, no que tange seu convívio com o portador de transtorno mental, e a manutenção deste fora da instituição psiquiátrica(2). Sabemos que as equipes da ESF estão se organizando para essa assistência e que, como em outras áreas, encontram dificuldades e contribuições. É importante que os profissionais identifiquem os fatores que interferem nessas ações, revendo sua prática e buscando resolver/atenuar as dificuldades. OBJETIVO: Conhecer as dificuldades encontradas pela equipe da ESF na assistência ao PTM proveniente da família deste indivíduo. METODOLOGIA: Estudo exploratório-descritivo de análise qualitativa com utilização da metodologia do grupo focal para coleta de dados. Foram formados dois grupos focais com equipe completa da ESF, um em cada Unidade Básica de Saúde, das duas que mais encaminharam indivíduos ao setor de emergência psiquiátrica do Hospital Municipal de Maringá (EP-HMM) e que tinham em sua população maior número de indivíduos cadastrados no Centro Integrado de Saúde Mental (CISAM). Foram realizadas uma sessão no grupo 01 e duas no grupo 02, após a reunião semanal da equipe da ESF, dentro da própria UBS. A caracterização dos participantes se deu por questionário de auto-preenchimento e a exploração do estudo seguiu um roteiro previamente elaborado. Os participantes assinaram o TCLE e aceitaram a gravação do grupo focal. Os dados foram submetidos à análise de conteúdo de Bardin. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Estadual de Maringá, com o parecer 110/2007, e liberado pela Secretaria de Saúde de Maringá. RESULTADOS: Na análise dos dados, obtivemos as categorias: a dificuldade gerada pela falta de responsabilização da família; e o déficit de conhecimento como fator que interfere na assistência ao PTM. Na primeira encontramos algumas questões provenientes da responsabilização e apoio das famílias no desenvolver das ações: “É difícil quando não tem responsabilização da família, e isso é comum. A gente tenta orientar os familiares, mas eles não fazem questão de saber sobre a doença e o tratamento, pelos menos a maioria não, como se não fosse responsabilidade deles entender. Aí não sabem como cuidar....” (Equipe 01). Fica evidente

1 Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Secretaria Municipal de Saúde de Maringá. jessicapini@bol.com.br. 2 Enfermeira. Doutora em Filosofia da Enfermagem. Docente do Programa de Pos-Graduação em Enfermagem / Mestrado em Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá. angelicawaidman@hotmail.com

que a família não busca conhecer sobre a doença e necessidades de seu membro, gerando um cuidado familiar deficitário. Algumas não se envolvem no acompanhamento do PTM, o que resulta em informação insuficiente sobre este indivíduo para a equipe de ESF pautar suas ações, já que o feedback da família é instrumento indispensável para a avaliação da efetividade da assistência prestada ao PTM. Para uma melhor terapêutica ser desenvolvida é necessária a participação dos familiares, pois a ação e o planejamento das equipes que tem o envolvimento destes, cria e fortalece o vínculo, facilitando a comunicação e a troca de informações(3). Outra dificuldade relacionada a não responsabilização é: “O fato de alguns serviços não exigirem a presença de um familiar nas consultas, dificulta... Quando o PTM vai sozinho a gente não sabe o que ta acontecendo, porque não tem a contra-referência. Mas o familiar só vai se for obrigado.” (Equipe 02). É destacado que não há obrigatoriedade da presença do familiar em alguns serviços, sendo que muitos participam do acompanhamento dos PTM apenas quando solicitados, pois não percebem sua contribuição na terapêutica. É fundamental que a equipe da ESF trabalhe a responsabilização da família, através de orientações sobre as necessidades existentes e a facilidade que o seu envolvimento traz na manutenção do quadro do PTM. O familiar que percebe as vantagens provindas de seu envolvimento encontra razões para buscar conhecimento sobre o que não lhe era importante, sentindo-se parte da estratégia de cuidado e buscando engajar-se no acompanhamento do PTM. É necessário que os profissionais sejam qualificados para reconhecer as necessidades familiares e atendê-las de modo especial, o que resultará na contribuição familiar, aumentando a eficiência das intervenções e multiplicando os recursos ao PTM(4). Entendendo a família como unidade a ser cuidada, uma maior responsabilização será conquistada, pois esta estará mais propensa a contribuir para a manutenção de saúde de todos os seus indivíduos. A segunda categoria abrange a falta de conhecimento sobre a doença, seus sintomas e crises, bem como sobre os diversos serviços de rede de atenção a saúde: “Encaminhar a gente encaminha, mas tem uma série de critérios. O SAMU não leva a força todos que a gente quer... A emergência psiquiátrica atende, medica e manda pra casa. Daí a família reclama, porque não foi como ela queria.” (Equipe 01). Fica evidente que a falta de conhecimento sobre a rotina dos serviços gera uma expectativa familiar em relação a situação que não será contemplada. O conflito entre o que é esperado e o que ocorre em cada serviço é de difícil compreensão da população e familiares, sendo que estes encontram-se ansiosos e confusos no momento que se percebem em meio às divergências, polêmicas e argumentações(5). Ainda, por não terem seus desejos atendidos, a familia pode recusar ou dificultar a ação da ESF, já que entende que esta de nada contribui para a assistência ao PTM. Os profissionais identificaram, ainda, a dificuldade em lidar com a família nos casos de cronicidade da doença: “Muitas famílias não gostam que a gente encaminha para a emergência (psiquiátrica) por que eles falam ‘Olha, vai pra lá, vai pro sanatório, e não resolve nada, volta pior do que foi’. E isso gera uma desconfiança muito grande. Quando vamos fazer visita não querem nem nos recebe. Acham que a pessoa vem até mais nervosa, mais estressada, mais difícil de lidar.” (Equipe 02). A família passa a rejeitar as ações da ESF por julgar ser falha dos serviços de saúde mental as situações normais devido a patologia ou estágio em que a doença se encontra, decorrente de uma esperança de resolução diferente da realidade, por não ter o conhecimento necessário para entender o que pode ser esperado. No cuidado às famílias é importante compreender que suas aflições podem ser resolvidas com uma orientação, que tranqüiliza e alivia a família ao se apoderar deste conhecimento. Deste modo, os profissionais devem oferecer atenção e orientações as família que convivem com a doença mental, principalmente no que se refere a doença, suas particularidades, necessidades

e modo de cuidar(5). CONCLUSÃO/IMPLICAÇÕES PARA A ENFERMAGEM: As dificuldades apontadas pelos profissionais da ESF são de fácil resolução e podem ser reduzidas com uma melhor atenção à família, seus sentimentos, dúvidas e dificuldades, tornando-a foco de cuidado e não apenas coadjuvante na assistência ao PTM. Isto impedirá que essa família adoeça, dando ao PTM mais condições de manter-se sem crises. A enfermagem deve estar atenta a essa mudança no modo de ver a família, pois deve se disponibilizar para cuidar desta e tentar minimizar as dificuldades provenientes da família, não permitindo que isto se torne uma justificativa para que não seja desenvolvida uma assistência integral e de qualidade.

PALAVRAS-CHAVE: Saúde Mental, Atenção Primária a Saúde, Família. REFERÊNCIAS

1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Coordenação Geral de Saúde Mental. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Brasília: Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas. OPAS. Brasília: Ministério da Saúde; 2005.

2. Brusamarello T, Noeremberg G, Paes MR, Borba LO, Borille DC, Maftum MA. Cuidado de Enfermagem em Saúde Mental ao paciente internado em hospital psiquiátrico. Cogitare Enferm. 2009; 14(1):79-84.

3. Zambenedetti G. Dispositivos de integração da rede assistencial em saúde mental: a experiência do Serviço de Saúde Dr. Cândido Ferreira. Saude Soc. 2009; 18(2):334-45.

4. Kantorki LP, Pinho LB, Machado AT. Do medo da loucura à falta de continuidade no tratamento em saúde mental. Texto Contexto Enferm. 2001; 10(1):50-9.

5. Waidman MAP, Elsen I. Os caminhos para cuidar da família no paradigma da desinstitucionalização: da utopia a realidade. Cienc Cuid Saude. 2006; 5(supll):107-12.

AS INTERFACES DA CONVIVÊNCIA DA FAMÍLIA EM UMA UNIDADE

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