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A PERSPECTIVA DA FAMÍLIA SOBRE A INTERAÇÃO COM A EQUIPE DE ENFERMAGEM NA UTI NEONATAL

Ângela Aparecida Fornari Viana1 Nara Marilene Oliveira Girardon-Perlini 2 Bruna Vanessa Costa da Rosa3 Isabel Cristina Pacheco Vand der Sand4 Margrid Beuter5 INTRODUÇÃO: A unidade de terapia intensiva neonatal (UTIN) é uma unidade hospitalar que recebe recém-nascidos (RNs) de zero a 28 dias de vida que necessitem de cuidados intensivos relacionados à prematuridade, baixo ou elevado peso e outros comprometimentos. O RN hospitalizado em uma UTIN torna-se, para a família, sinônimo de ameaça. O medo da perda é inevitável, porém ambivalente, misturando-se a esperança. Esperança por saber que o local está preparado para atender o RN e aumentar as chances de sobrevida. Medo, dos riscos inerentes aos pacientes que internam nesta unidade e, ainda, sentimento de frustração por não poder exercer a parentalidade. Muitas vezes, a ausência dos familiares na UTIN é vista pelos profissionais como um sinal de negligência. Todavia, dentre as causas dessa ausência está o receio diante do ambiente da UTI, o medo de estabelecer uma ligação mais forte com o bebê e depois perdê-lo, a impossibilidade de deixar outros filhos pequenos sozinhos em casa e a falta de recursos financeiros(1). Nesse contexto, para ser útil à família, o enfermeiro necessita reconhecer a importância do relacionamento enfermeiro-família, estabelecendo atitudes que promovam aproximação e cuidado. Para expressar a dimensão da forma como a enfermagem pode se relacionar com aqueles que cuida, optou-se, neste estudo, por adotar o termo interação, oriundo das teorias interacionistas, que é concebido como uma ação recíproca que se exerce mutuamente entre duas ou mais pessoas(2) e que na prática de enfermagem pode ser definido como elemento primordial do cuidar, pois, é através da interação que se estabelece uma relação com o sujeito cuidado que permite conhecer suas necessidades e assistí-lo. OBJETIVO: Descrever as percepções de famílias de recém-nascidos internados em uma UTIN sobre a interação com a equipe de enfermagem. METODOLOGIA: Investigação de natureza qualitativa, descritiva, exploratória e relacionado à família, desenvolvida em uma UTIN de um hospital de grande porte localizado no interior do Rio Grande do Sul. Participaram do estudo representantes de oito famílias, totalizando 12 pessoas - oito mães e quatro pais. Em quatro situações foi entrevistado o casal conjuntamente. As informações foram coletadas de agosto a outubro de 2008, por entrevista aberta. Analisaram-se os dados pela técnica de análise de conteúdo, modalidade temática. O protocolo da pesquisa foi

1 Enfermeira. Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. Hospital de Blumenau/SC. angela.fornari@hotmail.com 2 Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/RS). Doutora em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP/SP). Orientadora.

nara.girardon@gmail.com

3 Acadêmica do Curso de Enfermagem da UFSM/RS. Bolsista Iniciação Científica FIPE/UFSM. bruninha_vcr@hotmail.com

4 Professora Assistente do Curso de Enfermagem do CESNORS/UFSM. Doutoranda do Doutorado Interinstitucional Novas Fronteiras da UNIFESP/UFRJ/UFSM. Mestre em Enfermagem pela EEUSP/SP. isabelvan@gmail.com

5 Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem da UFSM/RS. Doutora em Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro. margridbeuter@gmail.com

aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), conforme Parecer Consubstanciado número 206/2008. RESULTADOS: Foram identificadas duas categorias que abordam os sentimentos ao ter um filho internado em uma UTIN e a interação com a equipe de enfermagem: facilidades e dificuldades. A família, ao saber que o RN precisará de cuidados intensivos e que não irá para o quarto com a mãe, é invadida por sensação de torpor e de vulnerabilidade concretizada no risco da perda do bebê. Independente do motivo da internação, o desconhecimento do que está acontecendo e do que poderá vir a acontecer com o RN, gera ansiedade, insegurança, frustração e medo, tanto em relação ao presente quanto ao futuro. Nesse contexto, em que a atenção da equipe está concentrada no RN, parece haver pouca preocupação em explicar à família o que está ocorrendo, e as informações são superficiais e apressadas, quando fornecidas. O contexto da unidade, em que os profissionais assumem o cuidado da criança quase todo o tempo, confere principalmente à mãe, sentimentos de ambiguidade em relação ao ser-mãe, pois mesmo passando pelo trabalho de parto podem ter a sensação de que não tiveram esse filho, que, de certo modo, parece não lhes pertencer. Ir para casa, deixando-o no hospital, faz com que ela tenha esse sentimento de indefinição ainda mais reforçado, como se estivesse abandonando a criança. A participação dos pais no cotidiano da unidade pode ajudar na elaboração de novos significados em relação à UTI e sobre a condição do bebê. Esses significados e perspectivas elaborados pelos pais podem ser compartilhados com os demais membros da família. Nessa perspectiva, a enfermagem pode contribuir para a humanização da assistência na UTIN, principalmente ao desenvolver ações direcionadas à inclusão dos familiares no cuidado direto ao bebê, centrando-se, principalmente, na figura dos pais(3). Os métodos e intervenções devem ser implementados, com a finalidade de propiciar autonomia e liberdade nos cuidados à criança internada, auxiliando nos procedimentos quando estritamente necessários a sua evolução, e de minimizar condutas agressivas e estressantes(4,5). A interação entre os profissionais de enfermagem e a família dos bebês internados é marcada pelo encontro de subjetividades, de culturas, experiências e expectativas distintas que interferem e direcionam o modo como esse relacionamento se estabelece entre os diferentes sujeitos e os diferentes momentos. No decorrer da experiência de internação esta pode ser percebida de forma diversa entre os membros da família e entre famílias, podendo, algumas vezes, mostrar- se contraditória. O apoio, a atenção, a segurança e a tranquilidade percebida na interação com a enfermagem são características marcantes do cuidado prestado. Por outro lado, quando a interação com a equipe de enfermagem revela-se não acolhedora, gerando desconforto e insegurança, esta também é percebida pelas famílias. A forma como os pais são recebidos na unidade predispõe ao estabelecimento de um relacionamento pessoal que poderá ser harmonioso ou não, o que depende, também, da percepção relacionada à competência e a habilidade técnica da equipe. Os pais sentem-se mais tranquilos ao perceberem que a enfermagem mostra-se comprometida emocional e tecnicamente em cuidar de seu filho, que é primordial para a formação de vínculo e de confiança. A comunicação entre equipe e pais é um ponto positivo e pode tornar-se terapêutica para toda a unidade familiar. Durante o período de internação os pais se colocam em uma posição de observadores da enfermagem e, conforme observam o modo como essa interage com o neonato, vão definindo se podem ou não confiar que seu bebê esteja bem cuidado. Essa definição é elaborada com base nas atitudes, na execução dos procedimentos realizados, pela forma como o bebê é manuseado. Caso essa percepção seja positiva, a família sente-se tranquila e confiante. Quando não se sentem acolhidos na unidade ou não têm suas necessidades atendidas, o relacionamento com a equipe constitui-se em mais uma fonte de preocupação e insegurança. O desconhecimento

sobre o funcionamento da unidade e a falta de informação sobre os trâmites burocráticos necessários, assim como as dúvidas em relação à condição clínica do bebê, deixam os pais inseguros. Os pais sentem-se sem apoio e sem ter uma referência para si. A incapacidade de se colocar no lugar dos pais/família e ser sensível ao que estão vivendo, gera clima de animosidade que dificulta o relacionamento entre estes e os profissionais. O envolvimento emocional da enfermagem, como o que costuma se estabelecer com os bebês poderia ser extensivo a unidade familiar, pois se a família sentir-se tranquila e segura colaborará e facilitará o trabalho de todos. Porém, a banalização dos sentimentos dos pais, o desrespeito e a desinformação contribuem para que o relacionamento se torne desgastante e tenso. Percebe-se imprescindível uma equipe sensível e preparada, que reflita sobre sua práxis e que consiga cuidar do bebê e dar apoio e conforto às famílias. Considerando as percepções apontadas como promotoras de segurança, cabe destacar que essas se coadunam aos princípios de respeito, colaboração e apoio defendidos no modelo de cuidado centrado na família como essenciais para o atendimento das necessidades da unidade familiar(6). Esse modelo concebe cada paciente e sua família como uma unidade de cuidados e a coloca no centro do sistema de prestação de cuidados de saúde(6). CONCLUSÃO: Com este estudo pode-se apreender que a família/pais ao encontrar apoio e compreensão por parte da equipe que está cuidando do seu filho na UTIN, consegue enfrentar a situação sentindo-se mais seguros, confiantes e tranquilos. Quando isso não acontece, sentem-se inseguros, ameaçados e sem referência, o que contribui para tornar a experiência ainda mais sofrida. CONTRIBUIÇÕES/IMPLICAÇÕES PARA A ENFERMAGEM: Cabe à enfermagem dar o primeiro passo para a formação de vínculo com os pais e demais membros da unidade familiar, a fim de estimular e possibilitar a participação destes nos cuidados ao bebê. Trabalhar na perspectiva da humanização e do cuidado centrado na família é um desafio para o enfermeiro e toda a equipe que atua em uma UTIN. Logo, para cuidar nesta perspectiva, é necessário desenvolver habilidade, sensibilidade, flexibilidade e tolerância como requisito pessoal e, também, contar com o apoio da instituição sob a forma de políticas que permitam a presença das famílias nas unidades de tratamento.

PALAVRAS-CHAVE: Família. Cuidados intensivos. Cuidados de enfermagem. REFERÊNCIAS

1. Mittag BF, Wall ML. Pais com filhos internados na unidade de terapia intensiva: sentimentos e percepções. Revista Família, Saúde e Desenvolvimento, 2004 dez.; 6(2): 135-145.

2. Ferreira ABH. Novo dicionário da língua portuguesa. 4. Ed. São Paulo: Nova Fronteira 2009. 3. Asai H. Predictors of nurses’ family-centered care practises in the neonatal intensive care unit. Jpn J Nurs Sci. 2011 Jun.; 8(1):57-65.

4. 2. Reichert APS, Lins RNO, Collet N. Humanização do cuidado da UTI Neonatal. Rev. Eletrônica Enferm [periódico na Internet]. 2007 [citado 2009 jun. 10];9(1):[cerca de 14 p.]. Disponível em:http://www.fen.ufg.br/revista/v9/n1/v9n1a16.htm.

5. Oliveira BRG, Lopes TA, Viera CS, Collet N. O processo de trabalho da equipe de enfermagem na UTI neonatal e o cuidar humanizado. Texto Contexto Enferm. 2005; 15(n.esp):105-13.

6. Gooding JS, Cooper LG, Blaine AI, Franck LS, Howse JL, Berns SD. Family support and family- centered care in the neonatal intensive care unit: origins, advances, impact. Semin Perinatol. 2011 Feb.; 35(1):20-8.

A SAÚDE DO ESCOLAR E SUA FAMÍLIA: “PROJETO FIRIM-FIM-FIM:

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