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A FAMÍLIA COMO FOCO DE ESFORÇOS EUGENISTAS EM DOIS PERIÓDICOS DA ÁREA DE ENFERMAGEM

Bruna Flávia Serafim Couto1 Camila Carla de Paula Leite2 Lilian Denise Mai3 Valéria dos Santos Correa Campos4 INTRODUÇÃO: A produção teórica da enfermagem brasileira, desde a institucionalização oficial desta em 1923, e representada pela Revista Brasileira de Enfermagem (Reben), tem apontado para a aproximação da categoria profissional à prática ou defesa da eugenia, de forma explícita ou implícita(1). A enfermagem brasileira converge com as nuances do movimento eugenista no Brasil, com a defesa da prática da eugenia no período de 1920 a 1940, e a crítica social a essa prática nas décadas de 1950 e 1960. A partir das décadas de 80 e 90, verificam-se lacunas teóricas sobre o desenvolvimento da ciência genética, das biotecnologias e de questões eugenistas nesta produção teórica. Porém, a não referência nominal à eugenia associada a esses avanços na Reben é significativa e merece a atenção dos profissionais de enfermagem, uma vez que a idéia de preocupação com a saúde e constituição das futuras gerações mantém-se inserida dentro de uma produção teórica contínua ao longo de todo o período estudado, inclusive na última década. Pode-se indagar sobre quais conceitos a enfermagem tem fundamentado a sua prática assistencial e em que sentido essa prática tem sido efetivada no que tange à eugenia? Ou, ainda, questões pouco pontuadas na revista são os avanços biotecnológicos no campo da genética, os quais têm gerado questionamentos importantes a conceitos até então tidos como verdadeiros, como a idéia de que os genes são fatores de risco não modificáveis para determinadas doenças, o que passa a ser duvidoso frente às técnicas de manipulação genética e terapia gênica. Outro ponto polêmico que ressurge é o debate em torno da transmissão hereditária de características adquiridas, colocando novamente em discussão a veracidade de teses genéticas mendelianas ou lamarckianas, debate sequer sinalizado pela Reben. As categorias empíricas construídas no estudo citado convergem com muitos conceitos eugênicos, como a idealização de referênciaspadrão de homem, nação, família e mulher/mãe, ações e práticas no campo reprodutivo estimuladas pelos eugenistas e os conhecimentos científicos que baseiam essas práticas, com destaque às lacunas nominadas acima. Um limite, porém, daquele estudo foi a análise restrita a um único periódico, mesmo que um periódico importante da enfermagem nacional que, em sua abrangência, permitiu acompanhar 70 anos de história. Uma hipótese levantada é de que a temática da eugenia e os avanços mais recentes, especialmente a partir da década de 80, estejam sendo discutidos em outros periódicos da área. Por esse motivo, foi proposto um projeto de iniciação cientifica com o intuito de aplicar metodologia semelhante à aplicada na Reben, porém, tendo como fonte primária a Revista Latino-Americana de Enfermagem. A referida revista é um órgão de publicação da enfermagem brasileira reconhecido nacional e internacionalmente, de circulação nos países da América Latina e Caribe e divulgado para assinantes dos Estados Unidos,

1Graduada em Enfermagem, pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá-PR Brasil. Email: bf_couto@ig.com.br

2 Graduada em Enfermagem, pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), Email: milaleite12@hotmail.com

3 Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Maringá-PR Brasil. Email: ldmai@uem.br

4 Graduada em Enfermagem, pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), Email: vasccampos@gmail.com

Espanha e Portugal, cuja primeira edição foi publicada em janeiro de 1993 e, desde então, vem sendo publicada ininterruptamente. O presente trabalho pauta-se na análise parcial dos dados já coletados. OBJETIVO: Estabelecer um comparativo entre o conteúdo de cunho eugenista produzido em dois periódicos da área de enfermagem, no período de 1993 a 2004. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo descritivo-exploratório, de natureza qualitativa, cuja fonte primária foi a Revista Latino Americana de Enfermagem, publicada no período de 1993 a 2004, totalizando 12 anos de edição. O ano de 1993 é o início de sua publicação e 2004 foi um ano limite para convergir à última década investigada na Reben, que foi de 1993 a 2002, momento em que se registram as lacunas teóricas já nominadas. A coleta dos dados deu-se mediante a leitura integral dos fascículos no período e seleção dos textos a serem analisados, a partir dos seguintes critérios de classificação: ter sido publicado na Revista Latino-Americana de Enfermagem, no período de 1993 a 2004, na forma de editorial, artigos originais, artigos de revisão, artigos de atualização, notas e informações, independente da formação profissional do autor; e, apresentar, em seu interior, referência nominal ao termo ‘eugenia’, que se traduz como a preocupação com a saúde e constituição das futuras gerações, ou trazer essa idéia de forma explícita ou implícita, tanto em um sentido positivo quanto negativo. Foram selecionados 61 artigos em 12 exemplares da Revista Latino Americana de Enfermagem no período investigado. Após a seleção dos textos, os mesmos foram caracterizados segundo os temas apresentados e analisados. RESULTADOS: A leitura integral dos 61 artigos encontrados no período de 1993 a 2004 da Revista Latino-Americana de Enfermagem permitiu, até o momento, uma comparação parcial com a pesquisa realizada na Reben, principalmente em três aspectos convergentes. A leitura flutuante indica, grosso modo, que essa convergência diz respeito à forma de inserção do termo ‘eugenia’ no período estudado, às lacunas já evidenciadas anteriormente e à ênfase em aspectos relacionados à constituição da família, com seus diferentes elementos constitutivos. Primeiramente, o uso do termo ‘eugenia’ está presente em apenas um texto(2), referindo-se às práticas passadas de saúde mental, característica idêntica a encontrada na Reben. Em segundo lugar, há a ausência de referências sobre as novas tecnologias no campo reprodutivo. É como dizer que a enfermagem moderna não tem atuado diretamente nos serviços ligados aos avanços biotecnológicos ou que a enfermagem que atua nesses espaços não tem publicado nesses importantes periódicos da área, em particular. E, em terceiro lugar, mediante a classificação dos artigos de acordo com o tema do título de cada um, verifica-se que a família ocupa a centralidade dos artigos encontrados. De forma geral, os temas encontrados foram: Assistência de enfermagem a recém-nascidos, crianças e adolescentes; Projetos de cultura e extensão nas universidades; Sexualidade e gravidez na adolescência; Funções das Unidades Básicas de Saúde; Gestação de risco; Assistência de enfermagem a gestantes, parturientes e puérperas; Assistência pré-natal as gestantes; Saúde reprodutiva e sexual; Bioética no exercício da enfermagem; Construção dos modelos de comportamento dos profissionais de enfermagem; Organização do centro-cirúrgico; Prevenção do câncer cérvico-uterino e do câncer de mama; Amamentação; Aborto; Assistência de enfermagem na prevenção da transmissão da AIDS; Assistência de enfermagem em saúde mental; Assistência de enfermagem ao paciente com Diabetes Mellitus; Implementação do processo de enfermagem; Saúde do trabalhador; vacinação; Assistência de enfermagem ao RN prematuro; Consumo de drogas em adolescentes; Violência contra a mulher e abordagem da família na Estratégia Saúde da Família. Os elementos constitutivos da família presentes são a mulher grávida ou não grávida, o recémnascido, crianças e adolescentes, perpassando temáticas como amamentação, gravidez na adolescência, violência, aborto e a própria família como foco da Estratégia Saúde da Família. Ao cumprir, ainda, a análise de conteúdo(3)proposta, espera-se identificar a forma de expressão das categorias construídas a partir das citações encontradas na Revista Latino- Americana de Enfermagem, e com isso explicitar o conteúdo eugenista relacionado a essas temáticas, cuja análise preliminar aponta para uma semelhança às categorias da REBEn.

CONCLUSÃO: A caracterização e a análise parcial dos artigos foram de encontro com os dados encontrados pela pesquisa realizada com a Reben, na qual, verificouse que a enfermagem brasileira tem investido na produção do conhecimento cientifico e que a profissão está ligada com a temática eugênica. Com a leitura dos 61 artigos encontrados no período de 1993 e 2004 na Revista Latino Americana de Enfermagem podemos concluir que a enfermagem vem pautando-se nos conhecimentos científicos já construídos os quais vêm sendo gradativamente superados, e, num conceito de eugenia voltado ao controle reprodutivo, e não tem sinalizado para as mudanças do conceito de eugenia e suas novas formas de intervenção ligadas às biotecnologias. Porém, a família é apontada como o espaço privilegiado para a concretização do ‘homem eugênico’, capaz de alcançar o seu pleno desenvolvimento físico e mental, geneticamente herdado, família essa que é alvo constante da atenção dos profissionais de enfermagem. Cabe aos próprios profissionais da área ter clareza quanto aos referenciais teóricos adotados em suas práticas assistenciais e de formação, retratadas em sua produção teórica e, portanto, passíveis de análise. Os referenciais eugenistas não estão ausentes ao longo da história dessa categoria profissional.

PALAVRAS CHAVES: Família. Eugenia. Enfermagem. REFERÊNCIAS

1. Mai LD. Análise da produção do conhecimento em Eugenia na Revista Brasileira de Enfermagem – REBEn, 1932 a 2002. 2004. 194f. Tese (Doutorado) – Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2004.

2. Silva ALA, Guilherme M, Rocha SSL, Silva MJP. Comunicação e enfermagem em saúde mental: reflexões teóricas. Rev Lat Amer-enf 8(5): 65-70, 2000.

A FAMÍLIA DA CRIANÇA COM CÂNCER: PERCEPÇÕES DE

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