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A VISITA DE FAMILIARES EM UNIDADES INTENSIVAS NA ÓTICA DA EQUIPE DE ENFERMAGEM

Greice Roberta Predebon1 Margrid Beuter2 Rosiele Gomes Flores3 Nara Marilene Oliveira Girardon-Perlini4 Cecília Maria Brondani5 Naiana Oliveira dos Santos6 INTRODUÇÃO: A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) atende pacientes com rebaixamento do nível de consciência decorrente da ação de drogas, dos procedimentos terapêuticos e da manifestação da doença, exigindo da equipe de saúde atividades intensas, com total atenção. Este cenário tem o acesso e o horário restrito de visitas de familiares com rotinas pré- estabelecidas, cuja finalidade é evitar riscos de infecção e prejuízo dos cuidados prestados aos pacientes pela equipe multiprofissional. O tratamento em terapia intensiva é altamente tecnológico. Portanto, em casos aparentemente sem esperanças, a UTI torna-se um espaço que pode salvar vidas por meio da aplicação de modernas tecnologias. Por outro lado este contexto, também gera sofrimento constante para os familiares, devido à condição crítica e instável do doente, pelo afastamento imposto à família e pela ausência de informações sobre o estado de saúde. Esta situação exige da equipe de enfermagem maior atenção e dedicação a esses familiares. No entanto, observa-se que o trabalho dos profissionais em UTI(1) continua centrado na execução de ações assistenciais dirigidas diretamente ao paciente, permanecendo a família a margem de uma atenção mais específica. Dessa forma, compreende-se a necessidade de um olhar atento às questões que permeiam a vivência do familiar de paciente internado em UTI, exercitando a capacidade de solidarizar-se com o outro, cultivando o diálogo e criando estratégias de inclusão do familiar na prática do cuidado de enfermagem. OBJETIVO: Descrever a percepção da equipe de enfermagem em relação à visita dos familiares de pacientes internados em Unidades Intensivas. METODOLOGIA: Trata-se de uma pesquisa qualitativa desenvolvida na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Adulto e na Unidade de Cardiologia Intensiva (UCI) de um hospital universitário do interior do Rio

1 Enfermeira. Especializanda em Terapia Intensiva com Ênfase em Oncologia e Infecção Hospitalar da UNIFRA/RS. Integrante do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria. greiceroberta@yahoo.com.br

2 Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN/UFRJ). Professora Adjunto do Departamento de Enfermagem e do PPGEnf da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Integrante do Grupo de Pesquisa, Cuidado, Saúde e Enfermagem. margridbeuter@gmail.com.

3 Enfermeira. Mestranda em Enfermagem do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Integrante do Grupo de Pesquisa, Cuidado, Saúde e Enfermagem. rosielegf@yahoo.com.br

4 Enfemeira. Doutora em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP/SP). Professora Adjunto do Departamento de Enfermagem da UFSM. Integrante do Grupo de Pesquisa, Cuidado, Saúde e Enfermagem. nara.girardon@gmail.com

5 Enfermeira do Hospital Universitário de Santa Maria. Doutoranda do Doutorado Interinstitucional Novas Fronteiras da UNIFESP/UFRJ/UFSM. Mestre em Enfermagem do PPGEnf da UFSM. Integrante do Grupo de Pesquisa, Cuidado, Saúde e Enfermagem. ceciliabrondani@hotmail.com

6 Enfermeira. Mestranda em Enfermagem do PPGEnf da UFSM. Integrante do Grupo de Pesquisa, Cuidado, Saúde e Enfermagem. naiaoliveira07@gmail.com

Grande do Sul. Os sujeitos da pesquisa foram duas enfermeiras e três técnicas de enfermagem. Estas profissionais participaram da pesquisa mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Como método de pesquisa utilizou-se o Método Criativo- Sensível (MCS)(2), por meio da realização de uma Dinâmica de Criatividade e Sensibilidade (DCS) denominada “Costurando Estórias”. A dinâmica foi realizada no mês de setembro de 2010, nas dependências do hospital. A observação sistemática foi utilizada como técnica complementar de coleta de dados. Para a interpretação dos dados teve-se como base os pressupostos conceituais da análise de discurso francesa. Durante a pesquisa foram observadas as normas da Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério de Saúde(3), que regem pesquisas envolvendo seres humanos. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição, sendo autorizado em 10/08/2010, por meio do processo n.º 23081.009779/2010-51 e CAAE 0128.0.243.000-10. RESULTADOS: A equipe de enfermagem trouxe para a discussão a sua percepção relacionada aos familiares que frequentam as unidades intensivas por meio do debate desenvolvido na dinâmica “Costurando Estórias”. Na análise destes dados foram desvelados três temas: o distanciamento entre a equipe de enfermagem e familiares nas unidades intensivas; o desconhecimento dos familiares sobre a condição do paciente e do ambiente das unidades intensivas; e atitudes adotadas pela equipe na visita dos familiares. No primeiro tema, dentre os fatores que dificultam a interação da equipe de enfermagem durante a visita dos familiares na UTI está o receio de que os familiares não compreendam as informações transmitidas, a acomodação e o trabalho rotineiro da equipe de enfermagem, impedindo que ela perceba as necessidades dos familiares durante a visita ao paciente internado na UTI. Estudo salienta que, muitas vezes, o agir técnico dos profissionais da enfermagem pode decorrer de dificuldades relacionais, culturais ou questões ligadas a sua capacitação ou personalidade conduzindo ao distanciamento entre eles, o paciente e a família(4). Por outro lado, existem iniciativas da equipe em receber os familiares durante a visita na UTI. Ela concentra suas atividades de cuidados e aguarda a visita do familiar, que em diversas situações não aparece. Esta questão surgiu na discussão grupal, no discurso de uma enfermeira que denotou certa desmotivação para a interação com os familiares durante a visita, frente a esta situação. No segundo tema, as participantes da pesquisa revelaram que os familiares desconhecem a condição que vão encontrar o paciente em uma Unidade Intensiva, gerando medo durante a visita. Outra enfermeira relatou que o familiar deseja que a equipe mantenha a esperança de que o doente se recupere, mesmo quando o quadro dele é irreversível. A família deposita expectativas no profissional, e espera que ele ajude a compreender os momentos difíceis acompanhados de sentimentos e pensamentos, nem sempre positivos(5). A internação na UTI está relacionada a dois sentimentos antagônicos, o medo da morte e a esperança da melhora do paciente. Isso é retratado na ansiedade, angústia e sofrimento dos familiares que frequentam a UTI. A técnica de enfermagem salientou que o familiar não está preparado para ver seu doente entubado, respirando com ajuda de ventilação mecânica. As participantes enfatizaram que o familiar não reconhece seu parente, pois muitos doentes sofrem alterações físicas. Durante as observações realizadas na UTI e UCI, percebeu-se que os familiares ficavam assustados olhando para os monitores indagando os funcionários sobre o valor da pressão arterial, da frequência cardíaca e da temperatura. No terceiro tema os participantes refletiram sobre sua conduta com a família durante a visita. Uma das enfermeiras descreveu que durante a visita, a equipe de enfermagem deve ter maior cuidado quando permanece na unidade. Ela prefere que a equipe retire-se do local, do que permaneçam rindo e falando alto. Além disso, relatou que há outros

profissionais, como médicos, residentes, fisioterapeutas e acadêmicos que atuam na unidade tratando o paciente e a família cada qual a sua maneira. Na percepção desta enfermeira, isso dificulta a interação entre familiares e equipe de enfermagem no momento da visita. CONCLUSÃO: Os dados construídos coletivamente na dinâmica revelaram que existe um distanciamento entre a equipe e familiares nas unidades intensivas. Tal afastamento remete a insegurança e medo da equipe em prestar informações referentes ao estado de saúde do paciente para sua família. Aliado a isso, existe a acomodação dos profissionais que acabam detendo-se nos procedimentos rotineiros da unidade, não percebendo que a orientação aos familiares também faz parte de um cuidado que precisa ser praticado. O desconhecimento dos familiares da condição do paciente e do ambiente demonstra a necessidade da equipe de enfermagem participar de modo mais ativo prestando informações continuamente sobre o paciente e o ambiente que o cerca. Os resultados do estudo demonstram, que o envolvimento da equipe de enfermagem com a família no período da visita, ainda não é percebido, de modo geral, como uma prática de cuidado. É importante que os trabalhadores de enfermagem sejam capacitados, ampliando seu objeto de cuidado, até então focado somente no paciente. Assim, espera-se que este estudo possa contribuir para que a equipe de Enfermagem motive-se a integrar a família no seu cuidado. Há necessidade da equipe ser referência para os familiares, alguém a quem eles possam recorrer para uma conversa, esclarecimentos de suas dúvidas e serem tranquilizados e orientados. Não é suficiente oportunizar a visita da família na UTI, é necessário cuidá-la para potencializar o trabalho na Enfermagem, questionando sobre as suas dúvidas, observando suas reações e comportamentos, procurando entender suas emoções. PALAVRAS-CHAVE: Enfermagem. Unidades de Terapia Intensiva. Família.

REFERÊNCIAS

1. Bettinelli LA, Erdmann AL. Internação em Unidade de Terapia Intensiva e a família: perspectivas de cuidados. Avances en Enfermería. 2009; XXVII(1): 15-21.

2. Cabral IE. O método criativo-sensível: alternativa de pesquisa na enfermagem. In: Gauthier JH, Cabral IE, Santos I, Tavares CMM, organizadores. Pesquisa em enfermagem: novas metodologias. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1998. p. 177-203.

3. Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução 196, de 10 de outubro de 1996: diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília; 1996.

4. Schneider CC, Bielemann VLM, Sousa AS, Quadros LCM, Kantorski LP. Comunicação na unidade de tratamento intensivo, importância e limites - visão da enfermagem e familiares. Cienc Cuid Saude. 2009; 8(4): 531-539.

5. Silva FS, Santos I. Estudo Sociopoético sobre as expectativas de familiares em UTI. Esc Anna Nery. 2010; 14(2): 230-235.

A VISITA DOMICILIÁRIA COMO FERRAMENTA DE TRABALHO

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