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Caracterização física e química de frutos de Bromelia antiacantha Bertol Débora Leitzke Betemps (1) , Letícia Paim Cariolatto (2) , Nadine Berwanger Scheeren (3) , Najlah

No documento Anais 2018. (páginas 118-122)

Patrícia Aires Nasser(3) e Rodrigo Ferraz Ramos(3)

(1) Professora Adjunta IV da Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Cerro Largo, RS, debora.betemps@uffs.edu.br; (2) Mestranda do curso de pós-graduação em Ambiente e Tecnologia Sustentáveis; Universidade Federal da Fronteira Sul –

Campus Cerro Largo.

(3) Acadêmica do curso de Agronomia; Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Cerro Largo.

INTRODUçãO

As frutíferas nativas são espécies pouco conhecidas e apreciadas pela maioria da população, isso se deve ao fato de serem pouco exploradas. Poucos estudos são dedicados à produção desses frutos, sendo necessário obter e monitorar algumas informações ecológicas para avaliar o potencial de manejo do produto (Fantini et al., 1992; Reis, 1996).

Segundo Negri et al. (2016) diante da biodiversidade frutífera que o Brasil apresenta e seus benefícios faz se necessário maior valorização destes frutos ainda pouco caracterizados e explorados por pesquisadores. Maiores informações sobre estes frutos podem ajudar no processo de desenvolvimento de novos produtos para melhoria na alimentação e saúde da população.

Dentre as frutíferas com potencial de uso e pouco conhecida, destaca-se a Bromelia antiacantha Bertol, conhecida como “caraguatá-do-mato”. Esta espécie é encontrada em diferentes habitats, do Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul (Reitz, 1983).

Pesquisas relacionadas aos efeitos benéficos desta espécie, foram mencionados nos estudos etnobotânicos de Pacheco et al. (2001) no interior do Paraná, relatando o uso dos frutos de B. antiacantha Bertol para a produção de xaropes no tratamento de doenças respiratórias.

Procurando aprofundar as investigações sobre o tema exposto, este trabalho objetiva determinar as características físico-químicas dos frutos de Bromelia antiacantha Bertol em uma população presente no Noroeste do estado do Rio Grande do Sul e comparar com características presentes na bibliografia atual.

MATERIAL E MéTODOS

Os frutos foram obtidos em um remanescente nativo localizado no município de Santo Cristo, em julho de 2017, localizado na região noroeste do estado do Rio Grande do Sul. O clima da região é quente e temperado com temperatura média anual é de 20,2 ºC caracteriza-se por precipitação abundante e bem distribuída com pluviosidade média anual de 1800 mm (Ibge, 2004).

A área selecionada para o estudo é constituído principalmente por mata nativa, fragmentos de mata ciliar. Das espécies presentes na área, foram, selecionados para o estudo cinco indivíduos, escolhidos aleatoriamente, seguindo os critérios estabelecidos através da fase fenológica (cachos com coloração amarelo-alaranjado). O espaçamento entre os indivíduos apresentou distância média de 20 metros.

Para avaliar as características morfométricas foram utilizados cinco cachos onde, de cada cacho, separou-se 30 frutos, totalizando 150. Na sequência, cada porção de 30 frutos foi subdividida em três porções de 10 frutos. Desta forma, em cada cacho foram feitas três repetições (utilizando 10 frutos em cada repetição).

Os parâmetros utilizados para as análises físicas dos cachos foram comprimento do cacho (CC) (cm) e diâmetro do cacho (DC) (cm). Para os frutos foram avaliados: diâmetro longitudinal (DLf) e transversal (DTf) (cm), peso da polpa (PP) (g), rendimento de polpa (RP) (%), média de frutos por cacho

ANAIS DO VIII SImpóSIO NAcIONAl DO mOrANgO

VIII ENcONtrO SObrE pEquENAS FrutAS E FrutAS NAtIVAS DO mErcOSul

e número médio de sementes por fruto. Como instrumento de medida foi utilizado um paquímetro digital (precisão de 0,001 mm). O peso dos frutos e das sementes foram determinados utilizando balança analítica semi-digital (precisão de 0,001 g).

As análises químicas realizadas: Sólidos Solúveis Totais (SST), pH e Acidez Total Titulável (ATT). A determinação do pH foi realizada utilizando um peagâmetro digital e a ATT foram realizadas foi obtida por meio de titulação com solução de hipoclorito de sódio (NaOH) a 0,1 N e os resultados expressos em (mL) de NaOH 0,1 N. Os (SST) foram analisados por leitura em refratômetro digital modelo RTD-95 e expressos em graus °Brix. Para a caracterização dos cachos, os dados obtidos foram tabulados em planilha eletrônica Microsoft Excel.

RESULTADOS E DISCUSSãO

Os resultados obtidos para as características físicas estão disponibilizados na Tabela 1. O comprimento médio dos cachos foi de 17,6 ± 4,6 cm e o diâmetro médio foi de 31,6 ± 2,6 cm. O diâmetro longitudinal dos frutos variou entre 2,28 ± 0,27 cm e 2,55 ± 0,25 cm e o diâmetro transversal dos frutos 3,47 ± 0,31 cm e 4,93 ± 0,85 cm.

Tabela 01 - Valores médios obtidos da caracterização de cachos e frutos de Bromelia antiacantha Bertol., 2018.

Cachos CC (cm) DC (cm) DLf (cm) * DTf (cm) * PP (g) RP (%) C1 17 32 2,28 ± 0,27 3,63 ± 0,57 66 11,83 C2 24 34 2,47 ± 0,25 3,83 ± 0,44 72 13,98 C3 20 28 2,50 ± 0,25 3,47 ± 0,31 74 19,02 C4 12 30 2,55 ± 0,45 4,93 ± 0,85 68 20,00 C5 15 34 2,27 ± 0,25 3,67 ± 0,34 71 15,47 CV (%) 26,22 8,25 5,39 15,02 4,55 21,32

* Resultados expressos por valores médios ± desvio padrão. CC - Comprimento do Cacho, DC - Diâmetro do Cacho, DLf - Diâmetro Longitudinal dos Frutos, DTf - Diâmetro Transversal dos Frutos - PP - Peso de polpa, RP - Rendimento de Polpa.

A quantidade média de frutos por cacho foi de 65,4 ± 11,5 e a quantidade de sementes por fruto variou de 09 ± 0,09 a 26,36 ± 0,36.

Em estudos realizados por (Duarte, 2017) com Bromelia laciniosa Mart. ex Schult. & Schult.f. no município de Teresina no Piauí, foi verificado que o comprimento do fruto apresentava 36,6 a 50,5 mm e diâmetro 30,8 a 37,2 mm com média de 33,9 mm, para os estudos realizados com Bromelia

antiacantha Bertol, no município de Caraguatatuba, (Paula, 2015) os valores encontrados para os cachos

apresentaram comprimento médio de 0,72 ± 0,07 m, quantidade média de frutos do cacho foi de 158 ± 31,5 e o peso dos frutos 5,6 e 8,5 kg, frutos com comprimento médio de 5,05 ± 0,27 cm e a variação do diâmetro entre 3,7 cm e 5 cm. Foi observado que ocorreu uma quantidade menor de frutos no local de estudo, comparado a estudos semelhantes com Bromelia sp. Além das características quanto ao diâmetro dos frutos, obteve-se o peso das polpas, variando de 66 g a 74 g dos frutos por repetição e peso médio de 21,32%. Carvalho e Muller (2005) em seus estudos com frutos nativos da Amazônia obtiveram resultados quanto a caracterização e rendimento de massa fresca de 50 diferentes frutos nativos o que possibilitou a classificação em percentual do rendimento de massa fresca dos frutos. Se compararmos a quantidade de polpa da B. antiacantha e classificá-la o rendimento é baixo, em torno de 2 g a 6 g por fruto, média de 11,83% a 20% de polpa a cada 30 frutos. Esses resultados demonstram que o percentual de rendimento de polpa de espécies nativas é baixo comparando com os frutos convencionais e apreciados pela maioria da população.

O potencial hidrogeniônico (pH) dos frutos de B. antiacantha apresentaram médias variando entre 3,97 ± 0,06 a 4,3 ± 0,14. Estes valores estão na faixa de pH inferior a 4,5, caracterizando o fruto como muito

Krumreich et al. (2016), na Ananas bracteatus (Lindl.)var. albus, com ph 3,71 De Paula Filho et al. ( 2016) e na Bromelia laciniosa com ph 4,17 (Duarte, 2017), corrobando que frutos oriundos desta família são predominantemente ácidos. Essa característica implica em possibilidade de maior conservação, pelo fato de que pHs inferiores a 4,5 inibem o desenvolvimento da bactéria Clostridium botulinum, sendo esta uma qualidade no que se refere a seu potencial para indústria de alimentos.

Os valores dos sólidos solúveis e acidez titulável são indicadores do sabor dos frutos e para o ponto maturação, os valores médios de ºBrix variaram de 12,7 + 3,01 a 17,33 + 0,15 e acidez titulável 1,10 = 0,1% a 1,5 = 0,1%. Krumreich et al. (2016) em seus estudos químicos de compostos bioativos com frutos de B. antiacantha, apresentou 15,9 ± 0,4 °Brix, e 1,53 ± 0,06 % de acidez total, corroborando com os resultados encontrados neste estudo. De acordo com Chitarra e Chitarra (2005), o teor de açúcares normalmente constitui cerca de 85% do teor de sólidos solúveis presente nos frutos (Tabela 2).

Tabela 02 - Valores médios das características químicas de frutos de Bromelia antiacantha Bertol. 2018.

Valores de Fruto por Cacho

Variáveis Sólidos Solúveis Totais

(ºBrix) * Acidez Titulável Total (%) * pH *

C1 17,33 ± 0,15 1,20 ± 0,1 4,3 ± 0,10

C2 16,17 ± 1,01 1,47 ± 0,06 4,03 ± 0,06

C3 17,20 ± 1,47 1,20 ± 0,1 3,97 ± 0,06

C4 12,67 ± 3,01 1,10 ± 0,1 3,97 ± 0,06

C5 14,75 ± 1,43 1,50 ± 0,1 4,30 ± 0,14

* Resultados expressos por valores médios ± desvio padrão.

CONCLUSõES

O número de frutos de Bromelia antiacantha Bertol, encontrados na região de estudo por cacho foi menor do que os demais estudos encontrados na bibliografia. As características químicas dos frutos apresentam valores médios semelhantes com os padrões já determinados nos demais estudos realizados com espécies da mesma família.

REFERêNCIAS

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