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Estádio de coleta e meio de cultura na germinação in vitro de pólen de araçazeiro vermelho

No documento Anais 2018. (páginas 159-163)

Isadora Bischoff Nunes(1), Darcieli Aparecida Cassol(2), Carlos Kosera Neto(2), Américo Wagner Júnior(3) e Lucas da Silva Domingues(3)

(1) Mestre em Agroecossistemas; Universidade Tecnológica Federal do Paraná; Dois Vizinhos, Paraná; isadora_bio@hotmail. com;

(2) Doutor em Agronomia; Universidade Tecnológica Federal do Paraná; Pato Branco, Paraná; (3) Professor do curso de Agronomia; Universidade Tecnológica Federal do Paraná; Dois Vizinhos, Paraná.

INTRODUçãO

O araçazeiro-vermelho (Psidium cattleianum Sabine), pertencente à família Myrtaceae, apresenta ampla ocorrência natural que se estende desde a Bahia ao Rio Grande do Sul, inserido nos biomas da Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e outros países da América do Sul, como a costa do Uruguai (Landrum, 2003; Franzon, 2009; Sobral et al., 2015). Esta espécie apresenta potencial para exploração comercial de seus frutos, uma vez que apresentam sabor doce-ácido semelhante ao da goiaba (P. guajava), com perfume intenso, de cor que pode ser amarela ou avermelhada, polpa mucilaginosa, com inúmeras sementes. A forma de exploração econômica pode visar o mercado in natura ou na forma processada como suco, sorvete, licores ou doces (Haminiuk et al., 2006; Silva et al., 2011; Dias, 2015). A vantagem do uso industrializado é o fato de serem altamente perecíveis (Medina et al., 2011), além de agregar o valor na comercialização. Outra vantagem desta espécie é seu bom desenvolvimento em solos encharcados e resistência a geada (Haminiuk et al., 2006), além do potencial ornamental.

A Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) possui exemplares desta espécie no seu BAG (Banco Ativo de Germoplasma) e outras frutíferas nativas da família Myrtaceae e constantemente desenvolve pesquisa sobre a fenologia, propagação e caracterização destas espécies para futuros trabalhos de melhoramento. Desta forma, o pólen se caracteriza como um dos primeiros materiais de estudo, uma vez que, segundo Cabral et al. (2013), a viabilidade dos grãos de pólen impacta diretamente o sucesso da fertilização e posterior obtenção de genótipos superiores.

Não há muitos estudos sobre a viabilidade polínica das variedades de P. cattleianum, destacando- se os conduzidos por Raseira e Raseira (1996), Techio et al. (2006) e Hister e Tedesco (2016). Este tipo de estudo é justificado para esta espécie uma vez que os conduzidos in vivo e in vitro (Raseira et al., 1994) levaram a crer que parte das sementes apresentam caráter apomítico. Para que seja avaliada a viabilidade do pólen, o método mais simples se constitui nos experimentos in vitro e sua estimativa contribui para futuras análises sobre a genética de populações em função do fluxo gênico (Frescura et al., 2012). Entretanto, esta técnica é influenciada por uma série de fatores, como a temperatura, fonte de carbono utilizada e o tempo de incubação, tempo de secagem e estádio de coleta, além do fato de que a combinação destes fatores varia de forma específica para cada espécie (Franzon; Raseira, 2006).

O componente mais comum do meio de cultura básico é o açúcar, normalmente acrescido de boro e/ou outros nutrientes e variações quanto às concentrações dos mesmos (Franzon; Raseira, 2006). O papel do açúcar é promover o equilíbrio osmótico entre o pólen e o meio de germinação, além de servir como fonte de carbono e energia durante o desenvolvimento do tubo polínico (Stanley; Linskens, 1974).

O objetivo deste trabalho foi determinar as condições mais adequadas para a germinação in vitro do pólen de araçazeiro vermelho, coletado em diferentes estádios florais e germinados em meio de cultura com diferentes fontes de energia e concentrações.

MATERIAL E MéTODOS

O experimento foi desenvolvido no Laboratório de Fisiologia Vegetal, com material vegetal proveniente do Pomar de Fruteiras Nativas, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – campus

O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, em fatorial 2 x 3 x 4 (estádio de coleta x fonte de energia x concentração açúcar), com quatro repetições. Foram testadas as concentrações de 0, 5, 10 e 20%, dos açúcares sacarose, lactose e glicose, caracterizando nos fatores concentração e fonte de energia, respectivamente. Para solidificação do meio fez-se uso de ágar à 1%. O fator estádio de coleta consistiu em flores coletadas no campo, em estádio de pré-antese (balão) e pós-antese, ambos no período da manhã e em temperatura ambiente. Em laboratório, os balões foram abertos e tiveram suas anteras removidas com auxílio de pinça e peneira. As anteras foram então depositadas em placas de petri® e colocadas para secar em dessecador com sílica a 25 °C por 4 h.

Em seguida, os componentes do meio de cultura foram dissolvidos em 100 mL de água destilada e aquecido em forno microondas até sua completa dissolução. Depois, parte foi vertido em placas de

Petri® com 3 mm de altura. Com a solidificação do meio, foram recortados quadrados de 2 cm x 2 cm

deste e foram colocados sobre lâminas de microscópio. Cada lâmina com dois quadrados foi considerada uma repetição. O pólen seco foi disposto de forma homogênea sobre o meio com o auxílio de pincel e

as lâminas acondicionadas em caixas gerbox®, sobre papel úmido e mantidas em B.O.D. (Biochemical

Oxygen Demand) a 25 °C constantes, simulando câmara úmida.

Para avaliação da porcentagem de grãos de pólen germinados, as lâminas foram observadas em microscópio óptico binocular, após 24 horas de incubação, considerando-se germinados os grãos que apresentaram comprimento de tubo polínico igual ou superior ao diâmetro do próprio grão de pólen, dentro da contagem de 100 grãos por repetição. Os dados foram submetidos à ANOVA e as médias comparadas pelo teste de Duncan (α=0,05), através do programa estatístico R (R Core Team, 2016).

RESULTADOS E DISCUSSãO

A interação estádio de coleta x fonte de energia x concentração mostrou-se significativa para porcentagem de pólens germinados (Tabela 1). Observou-se que com a ausência de qualquer fonte de energia, não houve germinação para os pólens em pré-antese, diferente do que ocorreu em pós-antese, mas com médias próximas a 10% (Tabela 1). Em geral, quando comparado as médias segundo estádio de coleta, pós-antese mostrou-se superior aqueles coletados em pré-antese em quase os meios utilizados.

Acredita-se que a maior porcentagem de germinação dos pólens coletados em estádio de pós-antese seja em função do amadurecimento do grão de pólen logo após a deiscência da antera, encontrando dessa forma, condições favoráveis para seu desenvolvimento. Segundo Sinimbú Neto et al. (2011), a coleta do pólen em estádios adequados de maturação é parte essencial no processo de melhoramento da espécie ao garantir a viabilidade do mesmo e aumento do sucesso nos processos de hibridação controlada.

Com exceção da fonte sacarose, nas demais (lactose e glicose), as concentrações utilizadas não diferiram suas médias estatisticamente entre si. Com a sacarose, a porcentagem de germinação foi acima de 50% com pólens coletados de botões florais pós-antese, nas concentrações de 20 e 5%, sendo tais médias superiores as demais. Para pólen coletado em estádio pré-antese, a sacarose também proporcionou maiores respostas em comparação as demais fontes de energia, com uso de 5% e esta concentração foi superior as demais dentro deste açúcar (Tabela 1).

Tabela 01 - Porcentagem de germinação (%) de pólen de Psidium cattleianum de acordo com estádio floral de coleta (pré-antese, pós-antese), fonte de energia (glicose, sacarose e lactose) e concentrações de cada fonte (0%, 5%, 10%, 20%), após 24 horas de incubação.

Concent.

(g L-1) Glicose Pré-anteseSacarose Lactose Glicose Pós-anteseSacarose Lactose

0% 0,00 aA(a)* 0,00 cA(a) 0,00 aA(b) 8,75 aA(a) 8,75 cA(a) 11,75 aA(a)

5% 4,25 aB(b) 35,50 aA(b) 4,50 aB(a) 14,25 aB(a) 57,25 aA(a) 3,75 aC(a)

10% 4,50 aB(a) 13,75 bA(b) 0,00 aB(a) 9,25 aB(a) 28,75 bA(a) 7,50 aB(a)

20% 0,25 aB(a) 17,00 bA(b) 1,50 aB(b) 11,75 aC(a) 61,50 aA(a) 15,75 aB(a)

CV (%) 18,87%

*Médias seguidas por letras diferentes diferem significantemente pelo teste de Duncan (α = 0,05), sendo: a maiúscula na linha envolve o fator concentração x estádio de coleta comparando a fonte de energia; letra minúscula na coluna envolve o estádio de coleta x fonte de energia comparando as concentrações; e letras entre parênteses envolvem o fator concentração x fonte de

ANAIS DO VIII SImpóSIO NAcIONAl DO mOrANgO

VIII ENcONtrO SObrE pEquENAS FrutAS E FrutAS NAtIVAS DO mErcOSul

O resultado da viabilidade do pólen é diretamente influenciado pelos níveis do açúcar escolhido para compor o meio, já que atuará como fonte de energia metabólica e fonte de carbono durante a biossíntese dos compostos orgânicos essenciais ao crescimento do tubo polínico (Nogueira et al., 2015). Silva e Franzon (2012) também obtiveram porcentagens elevadas de germinação in vitro do pólen de P.

cattleianum ao testarem meios de cultura com 10% (75,3%) e 20% (61,5%) de sacarose. Aumento linear

na porcentagem de germinação do pólen, a medida que se aumentou a concentração de sacarose do meio de cultura, foi observado em Eriobptya japonica Lindl. (Nogueira et al., 2015), e em Rubus ssp (Figueiredo et al., 2013). Em trabalho avaliando a germinação in vitro de pólen de macieiras, Dantas et al. (2005) obtiveram sucesso com concentrações de 15 e 25% de sacarose.

Ao comparar tais resultados com os obtidos no presente trabalho observou que existe a necessidade para uso de fonte de carbono como energia no meio de cultura e que a concentração considerada ótima é influenciada pela espécie e momento da coleta.

Viabilidade polínica abaixo de 70% é considerada baixa (Hister; Tedesco, 2016), por acarretar em problemas como infertilidade. Raseira e Raseira (1996) obtiveram porcentagens muito reduzidas (8,5%) para germinação in vitro do pólen de P. cattleianum e baixa frequência de tétrades normais (65%), o que talvez se justifique em função do estádio floral no momento da coleta ou somente baixa viabilidade. Foi observado visualmente que a maioria dos grãos de pólen do presente trabalho apresentou tamanho e formato de tétrade padrão, porém, alguns grãos apresentaram formato arredondado, os quais se mostraram inviáveis.

CONCLUSõES

Para o araçazeiro vermelho, o pólen coletado de flores pós-antese apresenta maior viabilidade, e para testar sua germinação recomenda-se a concentração de 5% de sacarose no meio de cultura.

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