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Efeito de uma nova espécie de Metarhizium no controle de pragas, fitopatógenos e na produtividade da cultura do morangueiro (1)

No documento Anais 2018. (páginas 140-144)

Fernanda de Cássia Neves Esteca(2), Solange Aparecida Vieira Barros(3), Gilberto José de Moraes(4) e Italo Delalibera Júnior(4)

(1) Trabalho executado com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) (2) Estudante de Doutorado; Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo (ESALQ/ USP);

Piracicaba, SP; fernanda.esteca@usp.br;

(3) Técnica de Laboratório; Departamento de Entomologia e Acarologia; Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo (ESALQ/ USP); Piracicaba, SP;

(4) Professor no Departamento de Entomologia e Acarologia; Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo (ESALQ/ USP); Piracicaba, SP.

INTRODUçãO

No Brasil, a cultura do morangueiro (Fragaria x ananassa Duch.) é conduzida em regiões de clima temperado e subtropical. Estima-se que a produção brasileira seja de 105 mil toneladas, em uma área de 4.000 hectares (Antunes; Peres, 2013). Cerca de 70% do morango consumido no Brasil é produzido no sul de Minas Gerais, onde aproximadamente 72 mil toneladas são produzidas anualmente. Em contraste com este cenário promissor, pragas e doenças são consideradas sérios entraves a esta cultura.

O ácaro-rajado (Tetranychus urticae Koch, Acari: Tetranychidae) tem sido tradicionalmente considerado a principal praga do morangueiro. No entanto, outros artrópodes conhecidos como pragas ou com potencial para serem pragas estão ocorrendo atualmente, como é o caso da drosófila-da-asa- manchada, Drosophila suzukii (Matsumura) (Diptera: Drosophilidae).

Devido à elevada exigência do mercado por frutos livres de agrotóxicos, assim como pelos enormes problemas que o uso indiscriminado de produtos químicos tem gerado, surge cada vez mais necessidade de integrar outros métodos de manejo, principalmente o controle biológico. No Brasil, os ácaros predadores da família Phytoseiidae e Laelapidae já vêm sendo largamente comercializados para o controle de diversas pragas, tais como ácaros fitófagos e pragas edáficas, respectivamente. Na Europa, ácaros da família Macrochelidae são também comercializados para o controle de moscas e tripes (Azevedo et al., 2015).

Fungos entomopatogênicos têm uma distribuição global, ampla gama de hospedeiros e, frequentemente, capacidade de regular as populações de insetos. Metarhizium anisopliae (Metschn.)

Sorokin e Beauveria bassiana (Bals.) Vuill estão atualmente sendo usados como agentes comerciais de

biocontrole. Estes entomopatógenos podem: colonizar a rizosfera, pois os exsudados da planta servem de nutrientes aos fungos; solubilizar nutrientes inorgânicos às plantas; quando matam o inseto, conseguem transferir o nitrogênio deste à planta, gerando uma relação tritófica: inseto hospedeiro, rizosfera e planta; realizar colonização endofítica gerando produção de fitormônios que resultam em um aumento no crescimento de raízes e parte aérea das plantas; por colonizaram endofiticamente, competem com fitopatógenos, induzem a resistência sistêmica e aumentam o porte da planta por meio da indução ou síntese de substância reguladoras de crescimento, ou seja, atuam como promotores de crescimento das plantas, o que aumentam produtividade de muitas culturas (Machado et al., 2012).

O objetivo deste trabalho foi avaliar o potencial de Metarhizium sp. indeterminada 1 (ESALQ1638) como agente de controle de pragas, fitopatógenos e como promotor do aumento de produtividade de morangueiro.

ANAIS DO VIII SImpóSIO NAcIONAl DO mOrANgO

VIII ENcONtrO SObrE pEquENAS FrutAS E FrutAS NAtIVAS DO mErcOSul MATERIAL E MéTODOS

Este experimento está sendo conduzido na lavoura “Coluci Frutas”, cujo sistema de cultivo é semi-hidropônico (latitude: 22° 28’ 27’’, longitude: 46° 9’ 39’’ e altitude: 1346 m). As mudas da cultivar San Andreas foram plantadas em sacos plásticos brancos (“slabs”), com dimensões de 1,50 m x 50 cm de largura que, quando cheios, têm 30 cm de diâmetro. O substrato de plantio é composto de 70% de casca de arroz carbonizada e 30% de casca de pinus moída. Cada linha de plantio tem cerca de 40 m de comprimento, com duas (02) linhas de morango, espaçadas 35 cm entre plantas dentro de cada linha. O delineamento experimental foi casualizado em blocos, com dois tratamentos (área aplicada com fungo e área sem aplicação) e três repetições (três estufas de 40 m de comprimento x 15 m de largura).

O fungo Metarhizium sp. indeterminada 1 (número de registro: ESALQ 1638) foi obtido da coleção de entomopatógenos “Prof. Sérgio Batista Alves”, Laboratório de Patologia e Controle Microbiano de Insetos da ESALQ/USP, Piracicaba. Este entomopatógeno foi coletado em solos de Rio Verde-Goiás, sendo cultivado em meio de cultura Batata Dextrose Ágar (BDA, Difco, USA) e incubado em câmara climatizada tipo B.O.D. (Biological Oxygen Demand) a 26 °C e 12 horas de fotofase por 7 a 10 dias. Os conídios aéreos são produzidos usando arroz cozido como substrato e selados a vácuo e congelados a -20 °C até o uso (Jaronski; Jackson, 2012). Para confirmar a viabilidade dos fungos utilizados nos experimentos, cinco dias antes da aplicação do fungo em campo avalia-se a porcentagem de germinação dos conídios de acordo com a metodologia de Oliveira et al. (2015). Para isso, são utilizadas placas

de Petri tipo Rodac® contendo 4 ml de meio de cultura BDA mais o fungicida Derosal® 500 SC (10

microlitros.L-1) (princípio ativo Carbendazim, Bayer CropScience, SP, Brasil) incubadas com suspensões

de 1x106 conídios/ml da espécie fúngica. As placas são mantidas em câmara tipo B.O.D. por 24 h a 26 °C e 12 h de fotofase. As proporções de conídios germinados são determinadas em microscópio ótico com objetiva de 400X. A concentração de conídios é ajustada a 1x108 conídios/ml, através da determinação do número de conídios sob uma câmara de Neubauer no microscópio de luz. A suspensão dos conídios do fungo entomopatogênico é preparada a partir da lavagem do arroz com o espalhante adesivo Tween 80 a 0,01% (para 1000 litros de água são utilizados 100 mL de Tween 80 a 0,01%).

A inoculação do fungo foi realizada (em 20 slabs com 11700 plantas no total) mensalmente no sistema de irrigação por gotejamento da suspensão, a uma concentração de 1x108 conídios/ml, no substrato de plantio. A cada 30 dias, a partir de maio de 2017, avaliam-se os artrópodes e sintomas de doenças em 15 folíolos e 15 flores tomadas ao acaso de seis plantas da vizinhança de cada um de 10 pontos amostrais tomados em cada parcela. A distância mínima é de 10 m – 20 m entre pontos amostrais. As avaliações são feitas no campo, com ajuda de lupa de bolso. A cada duas semanas, avalia-se também a colheita dos frutos para a determinação da produtividade em cada parcela.

Os tratamentos fitossanitários foram iguais para a área que correspondia à testemunha, como

para área em que o fungo foi aplicado. Os inseticidas usados foram e Actara® 250 WG e Delegate com

frequência de aplicação de 15 dias e 45 dias, respectivamente. Para o controle das doenças aplicou-se

Serenade, Amistar Top, Amistar WG ou Frowncide® 500 SC, uma vez ao mês.

RESULTADOS E DISCUSSãO

Durante todo o monitoramento (maio de 2017 a julho de 2018), encontrou-se um total de 3.201 insetos e ácaros considerados pragas na área com aplicação do isolado fúngico ESALQ 1638. Na área sem aplicação, encontrou-se um total de 4.158 destes organismos. Esses totais foram em grande parte representados pelo tripes Frankliniella occidentalis (Pergande) (Thysanoptera: Thripidae). Os totais de inimigos naturais (Hymenoptera e ácaros Phytoseiidae) nas áreas tratada e não tratada foram muito parecidos (123 e 83, respectivamente).

A maior ocorrência de tripes se deu em outubro e dezembro de 2017 e em maio, junho e julho de 2018 (Figura 1). O número médio de tripes foi sempre menor na parcela que recebeu a aplicação do fungo, exceto nos meses de setembro de 2017 e julho de 2018, com uma população de tripes um pouco maior na área que o fungo foi aplicado quando comparado à área testemunha.

A umidade relativa foi praticamente constante ao longo de todo o período de observação. No entanto, a precipitação e a temperatura aumentaram progressivamente a partir de julho, reduzindo drasticamente a partir de janeiro (Figura 2). Como o cultivo era protegido, não seria esperado um efeito direto da precipitação sobre a dinâmica populacional do tripes, mas seria esperado que um efeito indireto ocorresse, tendo em vista a capacidade de deslocamento destes insetos para dentro e para fora das estufas.

Em dezembro e janeiro não foram encontrados T. urticae, o que também pode ser explicado pela maior ocorrência de inimigos naturais na área. Os predadores mais comuns encontrados em campo foram fi toseídeos, estes ocorreram a partir de outubro, coincidindo com o pico e posterior queda do ácaro- rajado.

Os menores níveis de ocorrência de doenças ocorreram entre setembro e dezembro. As doenças detectadas em níveis mais altos foram a mancha angular (causada por Xanthomonas fragariae Kennedy & King, 1962), entre junho e julho de 2017 (temperaturas mais baixas e menor precipitação), e micosferela (causada por Mycosphaerella fragariae (Tul.) Lin.), a partir de janeiro de 2018 (umidade relativa alta). Os resultados não permitem mostrar o efeito positivo ou negativo da aplicação do fungo nas doenças das plantas, pois apesar de ter ocorrido um aumento na incidência de micosferela, os números são muito baixos.

Figura 01 - Número médio de tripes/fl or em cultivo de morangueiro semi-hidropônico tratado com fungo ESALQ 1638 e não tratado.

Figura 02 - Dados de precipitação foram obtidos do site https://www.meteoblue.com/pt/tempo/previsao/archive/bom-repouso brasil_3469414; dados de umidade e temperatura foram coletados por um Datalogger instalado em Bom Repouso.

Quanto à produtividade, as plantas que receberam aplicação do fungo entomopatogênico produziram em média 300 g/ planta a mais de frutos do que as plantas do tratamento controle (3,0 kg/ planta e 2,7 kg/planta, respectivamente), o que pode explicado pelo efeito direto do Metarhizium sp. ind. 1 (ESALQ 1638) na redução das pragas ou pelo efeito endofítico que o fungo pode proporcionar, aumentando a resistência da planta e induzindo esta a produzir fi tormônios que sejam promotores de

ANAIS DO VIII SImpóSIO NAcIONAl DO mOrANgO

VIII ENcONtrO SObrE pEquENAS FrutAS E FrutAS NAtIVAS DO mErcOSul CONCLUSõES

A aplicação do Metarhizium sp. indet. 1 (número de registro: ESALQ 1638) reduziu a população de tripes em cultivo de morangueiro, assim como aumentou a produtividade em 300 g·planta-1.

AGRADECIMENTOS

À Coluci Frutas por nos ceder parte do seu cultivo para desenvolvermos as pesquisas, além do auxílio na contagem dos frutos colhidos na área tratada com o fungo e da área controle.

REFERêNCIAS

ANTUNES, L. E. C.; PERES, N. A. Strawberry production in Brazil and South America. International Journal of Fruit Science, v. 13, n 1-2, p. 156-161, Jan. 2013.

AZEVEDO, L. H.; EMBERSON, R. M.; ESTECA, F. C. N.; MORAES, G. J. Macrochelid mites (Mesostigmata: Macrochelidae) as biological control agents. In: CARILLO, D.; MORAES, G. J.; PEÑA, J. E. (Ed.). Prospects for Biological Control of Plant Feeding Mites and other Harmful Organisms. Cham: Springer International Publishing, 2015. p. 103-132.

MACHADO, D. F. M.; PARZIANELLO, F. R.; SILVA, A. C. F. da; ANTONIOLLI, Z. I. Trichoderma no Brasil: o fungo e o bioagente. Revista de Ciências Agrárias, v. 35, n. 274-288, jan./jun. 2012.

JARONSKI, S. T.; JACKSON, M. A. Mass production of entomopathogenic Hypocreales. In: LACEY, L. A. (Ed.). Manual of tech- niques in invertebrate pathology. 2. ed. Dordrecht: Springer, 2012. p. 255-284.

OLIVEIRA, D. G. P.; PAULI, G.; MASCARIN, G. M.; DELALIBERA, I. A protocol for determination of conidial viability of the fun- gal entomopathogens Beauveria bassiana and Metarhizium anisopliae from commercial products. Journal of Microbiological Methods, v. 119, n. 44-52, Dec. 2015.

Características morfológicas de plantas de mirtilo (Vaccinium corymbosum)

No documento Anais 2018. (páginas 140-144)

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