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Crescimento do araçazeiro amarelo submetido à aplicação de calcário e fósforo em pré-plantio

No documento Anais 2018. (páginas 176-180)

Jorge Atílio Benati(1), Renan Navroski(2), Flavio Gilberto Herter(3), Gilberto Nava(4) e Rodrigo Cezar Franzon(4)

(1) Mestrando em Fruticultura de Clima Temperado; Universidade Federal de Pelotas; Pelotas-RS; jorgeatiliobenati@hotmail.com (2) Doutorando em Fruticultura de Clima Temperado; Universidade Federal de Pelotas; Pelotas-RS; navroski@outlook.com (3) Professor colaborador do Programa de Pós Graduação em Agronomia na Universidade Federal de Pelotas; Pelotas-RS;

flavioherter@gmail.com

(4) Pesquisador, Dr., Embrapa Clima Temperado; Pelotas, RS; gilberto.nava@embrapa.br; rodrigo.franzon@embrapa.br

INTRODUçãO

A fruticultura brasileira possui grande importância econômica, social e cultural, estando presente em todos os estados brasileiros e, como atividade econômica, envolve mais de cinco milhões de pessoas que trabalham de forma direta e indireta no setor (Fachinello et al., 2011). O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de frutas, com colheita em torno de 40 milhões de toneladas ao ano, contudo, com apenas 2% do comércio global do setor, o que demonstra o forte consumo interno e grande possibilidade de exportação, seja in natura ou processada (Anuário Brasileiro de Fruticultura, 2015).

Devido a vasta extensão territorial, o Brasil é um país com grande variabilidade de condições climatológicas e diversidade de solo, o que proporciona uma grande riqueza da sua flora. Cerca de 20% das espécies da biodiversidade mundial se encontram em território brasileiro (Coradin; Siminski, 2011), onde aproximadamente cinco (05) mil espécies vegetais são nativas do Rio Grande do Sul (Brack et al., 2007) e, em meio a estas, pontua-se as frutíferas nativas.

No que se refere a frutas nativas, apesar da grande diversidade, sua exploração se dá basicamente de forma extrativista (Vanin, 2015). Entretanto, algumas espécies nativas têm demonstrado grande potencial de econômico.

Dentre as frutas com potencial de mercado, encontra-se o araçazeiro (Psidium cattleyanum Sabine), fruta nativa do sul do Brasil que vem despontando no mercado brasileiro, porém de forma ainda bastante modesta (Vanin, 2015). As características mais importantes desta espécie estão relacionadas com a frutificação e à baixa susceptibilidade a doenças e pragas, com exceção da mosca das frutas. Os frutos podem apresentar um teor de vitamina C quatro vezes maior do que os frutos cítricos, e possuem ótima aceitação para consumo in natura (Nachtigal; Fachinello, 1995). Além disso, essa espécie pode ser explorada pela agroindústria para sucos e para uso na fabricação de sorvetes, geleias, doces, licores e outros produtos (Franzon et al., 2009). Hoje, a fabricação de doces e geleias, produzidos em pequenas unidades de base familiar, é a principal forma de aproveitamento dos araçás nativos (Almeida, 2011).

No Brasil, boa parte dos solos possuem elevada acidez e teores de alumínio (Al) trocável, bem como baixos teores de fósforo extraível (P). Além disso, em se tratando do araçazeiro, há uma grande carência de práticas culturais adequadas ao manejo da cultura, principalmente na recomendação de adubação de implantação. Torna-se essencial desenvolver técnicas de manejo e tratos culturais a fim de disponibilizá-los para os agricultores, contribuindo para o acréscimo na rentabilidade e utilização racional dos recursos. Com isso, necessita-se saber a real necessidade da calagem e sua relação com a adubação fosfatada em pré-plantio do araçazeiro, visando sua otimização, tendo em vista que o fosforo é o nutriente mais caro das formulações solúveis de adubo.

O objetivo deste trabalho foi estudar a influência da calagem e da adubação fosfatada em pré- plantio, sobre o crescimento do araçazeiro amarelo na região de Pelotas-RS.

ANAIS DO VIII SImpóSIO NAcIONAl DO mOrANgO

VIII ENcONtrO SObrE pEquENAS FrutAS E FrutAS NAtIVAS DO mErcOSul MATERIAL E MéTODOS

O trabalho foi realizado na Embrapa Clima Temperado, Pelotas – RS, (31º 40’ 47” S e 52º 26’ 24” W; 60 m de altitude). A classificação do clima da região, conforme W. Köppen é do tipo “cfa” - clima temperado, com chuvas bem distribuídas ao longo do ano e verões quentes.

O pomar foi implantado em 2016 com uma seleção de araçazeiro oriunda da coleção da Embrapa Clima Temperado. O solo é classificado como Argissolo (Streck et al., 2008). Antes da implantação do experimento, foram realizadas as análises químico-físicas, as quais apresentaram os seguintes resultados: pH em água de 5,5; 4,4 mg dm-3 de P; 21 mg kg-1 de K; 0,6 cmol

c dm-3 de Ca; 0,1 cmolc dm-3 de Mg; 30,0

mmolc dm-3 de Al; 9 g dm-3 de matéria orgânica e 140 g dm-3 de argila.

Os tratamentos foram arranjados em parcelas subdivididas num delineamento experimental de blocos ao acaso, com três repetições. Os tratamentos alocados nas parcelas principais foram quatro níveis de calagem: 0, 1/3, 2/3 e 3/3 da dose necessária para elevar o pH em água a 6,5 (doses correspondentes a 1,5, 3,0 e 4,5 t ha-1 de calcário, respectivamente). O calcário utilizado foi do tipo dolomítico com

PRNT de 60%. Nas subparcelas foram aplicadas quatro doses de P: 0, 1/3, 2/3, 3/3, onde a dose cheia refere-se à quantidade de P2O5 (kg ha-1) para elevar a disponibilidade de P à classe “muito alto” (doses

correspondentes à: 83,3; 166,6 e 250 kg ha-1 de P

2O5). Cada subparcela corresponde a quatro plantas,

sendo as duas centrais consideradas úteis. Após o plantio, as plantas foram todas podadas a 45 cm de altura.

As doses de calcário e P foram aplicadas durante o preparo da área, apenas na faixa de plantio (2 m de largura) e incorporadas ao solo até a profundidade de 20 cm. Em todas as parcelas foram aplicadas doses iguais de potássio (K). Para a adubação nitrogenada, no segundo ano de implantação, foi aplicada a cada 60 dias, uma dose relativa à 40 g planta-1 de ureia.

Trimestralmente, entre Agosto de 2017 e Maio de 2018, foram avaliados, com o auxílio de paquímetro digital e trena métrica, os parâmetros de crescimento das plantas: perímetro do tronco e a altura das plantas.

Os resultados foram submetidos às análises de variância e de regressão para determinar os efeitos das doses de calcário e P, bem como as possíveis interações entre esses fatores.

As análises estatísticas foram realizadas com o auxílio do software Sisvar 5.6 (Ferreira, 2014).

RESULTADOS E DISCUSSãO

Independentemente da variável analisada, nestes dois primeiros anos de avaliação, não houve interação entre doses de calcário e de P aplicadas. Também, não se verificou diferença estatística entre as diferentes doses de calcário aplicadas (Tabela 1).

Estes resultados indicam que, embora a calagem eleve o pH do solo, o araçazeiro, não necessita de um pH tão alto para ter um bom desenvolvimento. Além disso, pH acima de 5,5, não possui alumínio tóxico, favorecendo adequado crescimento das plantas.

Embora o araçazeiro não tenha respondido a calagem, em termos de crescimento inicial das plantas, nos primeiros anos de implantação, esta é uma técnica imprescindível nos cultivos comerciais, quando o pH do solo estiver abaixo de 5,5, preconizando a correção da acidez do solo anteriormente ao plantio das mudas, podendo demonstrar efeitos positivos na capacidade produtiva nos anos subsequentes, conforme os resultados encontrados por Nava et al., (2016) em goiabeira serrana (Acca sellowiana).

Com relação à adubação fosfatada, não houve diferença significativa entre os tratamentos (Tabela 1). Resultado semelhante foi encontrado por Nava et al., (2016), em estudo com doses de P em pré- plantio de goiabeira serrana.

Espécies frutíferas de maneira geral respondem pouco ao P, uma vez que a extração deste nutriente é relativamente inferior em relação às quantidades extraídas de outros macronutrientes, como o Nitrogênio e o Potássio (Neilsen et al., 2008). Além disso, se comparadas às culturas anuais, as frutíferas dispõem de maior tempo para absorção de nutrientes, o que favorece o acúmulo de reservas, exigindo assim menores quantidades de P disponível.

Tabela 01 - Parâmetros de crescimento de Psidium cattleyanum em resposta à aplicação de doses crescentes de calcário e fósforo incorporado ao solo antes do plantio das mudas. Avaliações entre Agosto de 2017 e Maio de 2018.

Calcário (t ha-1) Crescimento da planta (cm)

Perímetro tronco Altura de planta

0 2,83(ns) 32,58(ns) 1,5 2,54 29,20 3,0 2,75 37,41 4,5 2,66 32,04 CV 18,4% 27,3% P2O5 (Kg ha-1) 0 2,79(ns) 32,12(ns) 83,3 2,64 30,91 166,6 2,78 34,29 250,0 2,57 33,91 CV 18,4% 27,3%

ns = não significativo a 5% de probabilidade de erro

CONCLUSõES

O crescimento do araçazeiro, nos dois primeiros anos após a implantação, não é influenciado pela calagem em pré-plantio em solo com pH maior que 5,5.

A adubação fosfatada não afeta o crescimento do araçazeiro, indicando que esta cultura é pouco responsiva ao P nos primeiros anos de implantação a campo, mesmo em solos com teores considerados muito baixos deste nutriente.

AGRADECIMENTOS

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Universidade Federal de Pelotas (UFPel) pela concessão da bolsa de estudos e a Embrapa - Clima Temperado, pelo apoio a pesquisa.

REFERêNCIAS

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ANAIS DO VIII SImpóSIO NAcIONAl DO mOrANgO

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Adubação nitrogenada em miniestaquia de jabuticabeiras

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