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Crescimento e qualidade de mudas de guabiroba produzidas em substratos contendo esterco ovino

No documento Anais 2018. (páginas 85-89)

Clenilso Sehnen Mota(1), Rovanessa Roell(2), Rosieli de Souza Pahl(2), Elton Dickmann(2) e Sara Carmelise Zanelato(2)

(1) Professor, D.Sc.; Instituto Federal Catarinense; Rio do Sul, SC; csm.sehnen@gmail.com; (2) Estudante Bolsista; Instituto Federal Catarinense.

INTRODUçãO

A Mata Atlântica é um dos Biomas Brasileiros que mais sofre pressão de antropização, uma vez que os grandes centros populacionais do Brasil se concentram na área de ocorrência da mesma. Esse bioma apresenta uma enormidade de plantas frutíferas com potencial alimentício, farmacológicos, e com propriedade nutracêuticas. Uma das espécies que podemos destacar é a guabiroba (Campomanesia

xanthocarpa), que apresenta potencial paisagístico, composição de pomares domésticos, e repovoamento

em áreas de proteção ambiental (Lisbôa et al., 2011). Essa espécie apresenta um fruto, suculento, doce acidulado, e pode ser consumido in natura, geleias, doces, sucos, licores, sorvetes e etc., além das propriedades farmacológicas (Lisbôa et al., 2011).

Segundo Lisbôa et al. (2011), uma das dificuldades da difusão da espécies nativas é a ausência de protocolos para a propagação da espécie, visto que é feito de modo empírico. O sucesso na produção de mudas depende em muito da qualidade do substrato utilizado para produção das mudas. Pois esse será o suporte para o desenvolvimento do sistema radicular da muda, o fornecedor de nutrientes, e deve proporcionar as melhores condições ao desenvolvimento das mudas (Liz; Carrijo, 2008).

A presença de substâncias orgânicas também tem seu papel de destaque para a formulação de um bom substrato, uma vez que estas melhoram a agregação, aumentam a capacidade de troca catiônica, aumentam a capacidade de retenção de água, espaço de aeração e a porosidade regulando com isto as relações hídricas (Lacerda et al., 2006). Negreiros et al. (2004) constataram que existem diversos materiais orgânicos, como os estercos, que possuem potencial de utilização em misturas em solo, vermiculita, entre outros materiais, que melhoram as características físicas como drenagem, a densidade, disponibilidade de água, fornece alguns nutrientes e favorece o desenvolvimento do sistema radicular, e consequente desenvolvimento da muda. Com isso, o estudo objetivou verificar o potencial de uso do esterco de ovelha no crescimento e qualidade das mudas de guabiroba.

MATERIAL E MéTODOS

Os frutos de guabiroba (Campomanesia xanthocarpa) foram coletados em pleno estádio de maturação, na cidade de Lontras-SC (27° 09’ 28’’ S e 49º 20’ 30’’ W). Os frutos foram despolpados, sendo as sementes lavadas em água corrente, e posteriormente colocada para secar a sombra por 48 horas. O esterco de ovelha curtido foi coletado no setor de Zootecnia do Campus Rio do Sul do Instituto Federal Catarinense. O experimento foi conduzido em casa de vegetação, com controle de temperatura, e irrigação automatizada.

As formulações dos substratos foram nas doses de 0, 5, 10 e 15% de esterco ovino diluído em solo, com adição de 10% de casca de arroz carbonizada em todas as doses testadas. As formulações dos substratos foram feitas em base de volume, sem adição de outros materiais. Como substrato controle foi utilizado o substrato comercial Carolina Soil® (segundo o fabricante, é composto de turfa, vermiculita,

calcário, material agrícola fabricado por terceiro). Cada repetição foi composta por 10 plantas, amostradas aleatoriamente de um total de 54 plantas. Foram utilizadas quatro repetições por tratamento.

As avaliações biométricas e de qualidade das mudas foram realizadas aos 102 dias após a semeadura. Foram medidos massa seca das folhas, caule, raízes e total, após atingirem massa constante em estufa a 65°C. A área foliar foi calculada com um integrador de área foliar. O índice spad foi obtido com auxílio do clorofilômetro (SPAD-502, Minolta, Osaka, Japão). Foi obtida a relação entre a massa seca do sistema radicular e da parte aérea. A qualidade das mudas foi avaliada pelo índice de qualidade de Dickson, foi calculado segundo Dickson et al. (1960). Foi aplicado o teste de medias de Dunnett (p<0,05) para comparar o controle com as doses de esterco ovino curtido, e para as doses de esterco ovino foram aplicados modelos de regressão de primeiro e segundo grau, sendo selecionado o modelo de melhor ajuste.

RESULTADOS E DISCUSSãO

O uso de esterco ovino (OV) promoveu algumas diferenças pontuais em relação ao substrato comercial (Tabela 1). Como maior área foliar na dose de 10%, maior valor de índice spad e de massa seca do sistema radicular na dose de 5% e maior valor da relação entre massa seca do sistema radicular e parte aérea (RPA) na dose de 0%. Já a dose de 15% de OV, o índice spad foi inferior que no substrato comercial. Como as poucas diferenças são pontuais, e em sua maioria com valores superiores ao substrato comercial, observa-se que os resultados são equipados ao substrato comercial. O uso de esterco ovino como componente de substratos para produção de mudas é considerado adequado para mudas de mamoeiro (Oliveira et al., 2015) e em mudas de cucurbitaceas (Souza et al., 2015), corroborando assim com os resultados desse estudo. Pois possivelmente com a mineralização do mesmo esse libera nutrientes essenciais para o desenvolvimento das mudas (Figueiredo et al., 2012).

Tabela 01 - Área foliar (AF), índice spad (Spad), massa seca foliar (MSF), do caule (MSC), do sistema radicular (MSR) e total (MST), relação entre massa seca do sistema radicular e parte aérea (RPA) e índice de qualidade de Dickson (IQD), em mudas de guabiroba produzidas em diferentes doses de esterco ovino (OV).

Substrato AF Spad MSF MSC MSR MST RPA IQD

(cm2) (-) g (g g-1) (-) Comercial 38,65 23,55 1,84 0,70 0,73 3,28 0,29 0,35 0% OV 26,78 20,80 0,86 0,40 0,77 2,03 0,61* 0,28 5% OV 62,39 32,00* 2,17 0,93 1,30* 4,40 0,44 0,51 10% OV 87,91* 27,20 2,69 1,12 1,03 4,84 0,28 0,47 15% OV 51,15 10,85* 1,43 0,54 0,46 2,43 0,23 0,22

*Difere do substrato comercial pelo teste de Dunnett (p<0,05).

O melhor ajuste dos modelos de regressão para as doses de esterco ovino foi quadrático, exceto para a RPA que foi o linear (Figura 1). A resposta da RPA ao incremento de OV nos substratos foi negativa. Já as demais características biométricas analisadas como, área foliar (AF), massa seca foliar (MSF), do caule (MSC), das raízes (MSR) e total (MST), teve comportamento quadrático e apresentaram pontos de máxima de 8,86%, 8,37%, 8,04%, 6,39% e 7,84%, respectivamente. O índice spad que pode ser relacionado ao teor de clorofilas, e consequentemente aos teores de nitrogênio na planta, o ponto de máxima foi de 6,24%. A qualidade das mudas, fornecido índice de qualidade de Dickson (IQD), apresentou ponto de máxima de 7,05%. Os pontos de máximas obtidas pela primeira derivada da equação quadrática refletem as melhores doses de esterco ovino para cada característica analisada. Observa-se que a dose mais apropriada de esterco ovino está em torno de 8%, ao observar as doses ideais para todas as características analisadas.

ANAIS DO VIII SImpóSIO NAcIONAl DO mOrANgO

VIII ENcONtrO SObrE pEquENAS FrutAS E FrutAS NAtIVAS DO mErcOSul

Figura 01 - Ajustes de modelos de regressão para área foliar (AF, A), índice spad (Spad, B), massa seca foliar (MSF, C), do caule (MSC, D), do sistema radicular (MSR, E) e total (MST, F), relação entre massa seca do sistema radicular e parte aérea (RPA, G) e índice de qualidade de Dickson (IQD, H), em mudas de guabiroba produzidas em diferentes doses de esterco ovino (OV). Significância para teste t: *p<0,5; **p<0,1; ***p<0,01.

Souza et al. (2015) relata que as melhores doses para produção de mudas de melancia e melão é da relação de 2:1 de esterco ovino:solo, já para abóbora a dose seria de 3:1. Para mamoeiro formosa a melhor dose foi de 60% de esterco ovino, segundo Oliveira et al. (2015). Esses estudos mostram que a dose ideal para a guabiroba é bem inferior às doses relatadas para as espécies vegetais alvo desses estudos. Apesar de relatos que a espécie se desenvolve melhor em solo rico em matéria orgânica e de boa fertilidade (Lisbôa et al., 2011).

O esterco ovino apresenta pH alcalino (Figueiredo et al., 2012; Souza et al., 2015), assim como a casca de arroz carbonizada (Saidelles et al., 2009), o que pode ter atuado para o aumento do pH do substrato, indisponibilizando, assim, alguns nutrientes essenciais para o desenvolvimento das mudas, com P e B, que induzem a clorose foliar. O que é corroborado com a redução do índice spad na dose mais elevada.

CONCLUSõES

O uso de esterco ovino como componente de substrato para produção de mudas de guabiroba se mostra promissor, sendo que a melhor dose é próximo a 8%.

REFERêNCIAS

DICKSON, A.; LEAF, A. L.; HOSNER, J. F. Quality appraisal of white spruce and white pine seedling stock in nurseries. Forest Chronicle, v. 36, n. 1, p. 10-13, 1960.

FIGUEIREDO, C. C.; RAMOS, M. L. G.; MCMANUS, C. M.; MENEZES, A. M. Mineralização de esterco de ovinos e sua influência na produção de alface. Horticultura Brasileira, v. 30, n. 1, p. 175-179, jan.-mar. 2012.

LACERDA, M. R. B.; PASSOS, M. A. A.; RODRIGUES, J. J. V.; BARRETO, L. P. Características físicas e químicas de substratos à base de pó de coco e resíduos de sisal para produção de mudas de sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia Benth). Revista Árvore, v. 30, n. 2, p. 163-170, 2006.

LISBÔA, G. N.; KINUPP, V. F.; BARROS, I. B. I. Campomanesia xanthocarpa: Guabiroba. In: CORADIN, L.; SIMINSKI, A.; REIS, A. (Ed.). Espécies nativas da flora brasileira de valor econômico atual ou potencial: Plantas para o futuro – Região Sul. Brasília, DF: MMA, 2011. p. 159-162.

LIZ, R. S.; CARRIJO, O. A. Substratos para produção de mudas e cultivo de hortaliças. Brasília, DF: Embrapa Hortaliças, 2008. 83 p.

NEGREIROS, J. R. S.; BRAGA, L. R.; ÁLVARES, V. S.; BRUCKNER, C. H. Influência de substratos na formação de porta- enxerto de gravioleira (Annona muricata L.). Ciência e Agrotecnologia, v. 28, n. 3, p. 530-536, 2004.

OLIVEIRA, F. S.; FARIAS, O. R.; NOBRE, R. G.; FERREIRA, I. B.; FIGUEREIDO, L. C.; OLIVEIRA, F. S. Produção de mudas de mamoeiro ‘Formosa’ com diferentes doses de esterco ovino. Revista de Ciências Agrarias, v. 58, n. 1, p. 52-57, jan./mar. 2015.

SAIDELLES, F. L. F.; CALDEIRA, M. V. W.; SCHIRMER, W. N.; SPERANDIO, H. V. Casca de arroz carbonizada como substrato para produção de mudas de tamboril-da-mata e garapeira. Seminia: Ciências Agrárias, v. 1, suplemento 1, p. 1173-1186, 2009.

SOUZA, E. G. F.; SANTANA, F. M. S.; MARTINS, B. N. M.; PEREIRA, D. L.; BARROS JUNIOR, A. P.; SILVEIRA, L. M.

Produção de mudas de cucurbitáceas utilizando esterco ovino na composição de substratos orgânicos. Revista Agroambiente On-line, v. 8, n. 2, p. 175-183, maio-ago. 2014.

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VIII ENcONtrO SObrE pEquENAS FrutAS E FrutAS NAtIVAS DO mErcOSul

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