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Variabilidade genética de 54 acessos de araçá vermelho e amarelo (Psidium

No documento Anais 2018. (páginas 114-118)

cattleianum)

Danilo Cabrera(1), Pablo Rodríguez(1), Alison Uberti(2), Rudinei De Marco(3) e Alice S. Santana(2) (1) Pesquisador; Instituto Nacional de Investigación Agropecuaria – INIA, Rincón del Colorado, Canelones, Uruguai; cabrera@

inia.org.uy; prodriguez@inia.org.uy

(2) Acadêmico de Agronomia; Universidade Federal da Fronteira Sul, Chapecó, Santa Catarina, Brasil; alisonuberti@hotmail. com; alice030797@gmail.com

(3) Doutorando; Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil; rudineidemarco@hotmail.com

INTRODUçãO

O araçazeiro (Psidium cattleianum Sabine) é pertencente à família das Myrtaceae e nativo da costa atlântica, desde o estado da Bahia, no Brasil, até o norte do Uruguai (Lisbôa et al., 2011). Em função das características do genótipo, são encontrados frutos de epiderme coloração amarelada e avermelhada, com excelente sabor e aroma, podendo ser utilizados para o consumo in natura, ou processados na forma de sucos, geleias, sorvetes e licores (Franzon et al., 2009; Lisbôa et al., 2011).

Tanto o araçá vermelho como o amarelo apresentam altos teores de compostos bioativos e propriedades funcionas (Feter et al., 2010; Teixeira, 2015), sendo de grande importância à nutrição humana. Além disso, são encontrados, nos frutos, altos teores de vitamina C (Giacobbo et al., 2008), proteínas e minerais (Lisbôa et al., 2011).

Embora apresente frutos com elevado conteúdo nutricional, alta qualidade e potencial produtivo (Franzon et al., 2009), poucos programas de melhoramento genético são direcionados à espécie. Atualmente, há apenas duas cultivares de araçá registradas. Ambas são brasileiras, uma amarela, cultivar “Ya-cy”, e uma vermelha, cultivar “Irapuã” (Raseira; Raseira, 2000a, 2000b).

Até o presente momento, no Uruguai, o Instituto Nacional de Investigación Agropecuaria (INIA) e a Facultad de Agronomía da Universidad de la República (UDELAR) vem estudando e realizando seleção massal de plantas provenientes de sementes dos materiais coletados em condições silvestres, parques e jardins. Neste trabalho, diversas plantas com distintos níveis de produção e tamanho de frutos são observados na coleção instalada na estação Experimental Wilson Ferreira Aldunate de INIA Las Brujas, Uruguai. Destas plantas, algumas apresentam boas características produtivas e de qualidade de frutos, o que revela seu potencial para o melhoramento genético.

Em função disso, objetivou-se com este trabalho avaliar a variabilidade genética de diferentes acessos de araçá vermelho e amarelo no que tange ao vigor, produção e qualidade de frutos.

MATERIAL E MéTODOS

O trabalho foi desenvolvido no campo experimental do Instituto Nacional de Investigación Agropecuaria – INIA Las Brujas, Canelones, Uruguai. O experimento está localizado em uma latitude 34° 40’ 04” S e longitude 56° 20’ 27” W. O solo local é classificado como Vertisol Rúptico Lúvico (Silva; Docampo, 2013) e o clima, segundo classificação de Köppen, é “Cfa”.

Avaliou-se um total de 54 acessos de araçá (P. cattleianum), dos quais 25 são de araçá vermelho e 29 amarelos. Estes acessos são oriundos de sementes (polinização aberta), sendo a coleta dos frutos, como citada anteriormente, feita em diferentes plantas localizadas em áreas silvestres, parques e jardins do Uruguai.

ANAIS DO VIII SImpóSIO NAcIONAl DO mOrANgO

VIII ENcONtrO SObrE pEquENAS FrutAS E FrutAS NAtIVAS DO mErcOSul

A semeadura ocorreu em casa de vegetação, com ambiente controlado. Quando as plantas atingiram diâmetro de caule próximo ao diâmetro de um lápis (± 8 mm), foram transplantadas a campo. O plantio foi realizado no ano de 2012, em delineamento experimental inteiramente casualizado, sem repetições.

Foram analisados os acessos no ciclo produtivo de 2017/18, quando as plantas apresentavam seis anos de cultivo. A colheita dos frutos iniciou na primeira quinzena de janeiro e se estendeu até a segunda quinzena de junho. Os acessos foram avaliados quanto às seguintes variáveis: diâmetro do caule (vigor), medido com paquímetro digital (mm), número de frutos por planta, produção por planta (Kg planta-1), massa média de fruto (g) e eficiência produtiva, obtida através da divisão da produção da planta

pela sua área de secção do tronco (Kg cm-2).

A similaridade entre os acessos foi calculada por meio do índice de Jaccard, com o pacote Vegan (Oksanen et al., 2010). A partir dos dados da matriz de similaridade, as plantas foram agrupadas utilizando o método hierárquico de UPGMA (Unweighted Pair Group Method Using an Arithmetic Average - Método da Média Aritmética não Ponderada). A análise multivariada foi realizada utilizando o programa R, versão 3.2.4 (R Core Team, 2016).

RESULTADOS E DISCUSSãO

Os 54 acessos de araçá vermelho e amarelo foram distribuídos em cinco grupos distintos (Figura 1). Tais grupos foram formados devido às diferenças dos resultados obtidos quanto as variáveis mensuradas.

Figura 01 - Dendrograma de similaridade entre os 54 acessos de araçá, gerado pelo método UPGMA a partir do índice de Jaccard.

Observa-se a formação de três grupos pequenos (I, III e IV) e dois grandes grupos (II e V). O grupo I é formado por seis acessos de araçá, sendo todos amarelos. As plantas que compõem este grupo se caracterizam por apresentar maior produção e número de frutos por planta ( = 13,4 Kg planta-1 e 3.491

frutos), sendo 35% e 59%, respectivamente, superior ao grupo II. Embora tenham apresentado bons índices produtivos, produziram frutos de menor massa média ( = 3,9 g fruto-1) e correspondem às plantas

de maior vigor ( = 65,8 mm). Dentre os acessos deste grupo, destacam-se os araçás ‘amarelo 22’ e ‘amarelo 24’, os quais atingiram as maiores produções por planta (15,8 e 15,7 kg planta-1, respectivamente).

Os demais grupos (II, III, IV e V) não apresentaram variação em relação ao vigor, expresso em diâmetro de caule, sendo a amplitude dos dados de 40,8 a 47,8 mm.

O grupo III é formado por oito acessos, sendo sete araçás vermelhos e um amarelo. O grupo formado tem por característica a baixa produção por planta ( = 0,4 kg planta-1) e eficiência produtiva (

= 0,05 kg cm-2). Além disso, as plantas produzem frutos de reduzida massa média ( = 9,5 g fruto-1), em

relação aos demais grupos.

O grupo IV é formado pelo conjunto de sete acessos, sendo quatro araçás vermelhos e três amarelos. Para este grupo de araçás observou-se qualidade superior dos frutos, expressa por meio de maior massa média entre os acessos (11,6 g fruto-1), 13,7% superior ao grupo V. No que tange a produção

e eficiência produtiva, as plantas do grupo IV apresentaram média de 2,0 kg planta-1 e 0,24 kg cm-2, sendo

superior apenas às plantas do grupo III. Dentre os acessos agrupados, observou-se maior destaque para o araçá ‘amarelo 33’ que apresentou a maior massa média de fruto entre todos os acessos avaliados (15,6 g fruto-1).

Os grandes grupos formados (II e V) apresentam um total de 33 acessos. O grupo II compreende 11 araçás amarelo e apenas seis vermelhos, totalizando 17 araçás agrupados. Este grupo de plantas apresenta a maior eficiência produtiva ( = 0,52 kg cm-2), sendo 15,7% superior ao grupo V. Além disso,

apresenta boa produção por planta ( = 8,7 kg planta-1). O grupo V é composto por 16 plantas de araçá,

sendo oito de cada coloração. As plantas que compõem este grupo se caracterizam por apresentar frutos de massa média alta ( = 10 g fruto-1), sendo apenas inferior ao grupo IV, e alta eficiência produtiva ( =

0,44 kg cm-2), mas inferior ao grupo II. Em relação à produção por planta e número de frutos, as plantas

apresentaram valores intermediários aos demais grupos (4,8 kg planta-1 e 507 frutos). Destaca-se dentro

deste grupo o acesso araçá ‘amarelo 32’, com produção de 8,8 Kg planta-1 e massa média de 15,6 g

fruto-1.

Assim, os 54 acessos avaliados apresentaram alta variabilidade. De acordo com vários autores, a variabilidade encontrada em plantas de araçazeiros nativos e cultivados é grande (Pessanha et al., 2011; Santos et al., 2014; Silva et al., 2016). Dentre os grupos formados, o grupo V assemelha-se às cultivares registradas, por apresentar produção intermediária entre os demais acessos e alta massa de fruto. Ao contrário do grupo II que apresentou produção elevada e massa média de fruto intermediária, em relação aos demais acessos.

Sharma et al. (2010), na Índia, e Danner et al. (2010), em Pelotas – RS, avaliaram acessos de araçazeiro cuja massa média de fruto apresentou amplitude de 11,93 g e 5,94 g a 13,09 g, respectivamente. Esta alta variação também foi encontrada no presente estudo, nas condições de cultivo do Uruguai.

Alguns acessos se destacaram em relação aos demais por apresentar alto potencial produtivo e qualidade, como já mencionado. Estes acessos em particular, podem avançar dentro de um programa de melhoramento e, perpetuando as características iniciais observadas, podem ser registrados e lançados como novas cultivares de araçá.

Se o objetivo do cultivo é para fins de industrialização dos frutos, pode-se buscar plantas altamente produtivas independente do tamanho das frutas. Entretanto, para consumo in natura plantas com frutos de maior tamanho são desejadas.

CONCLUSõES

Os acessos apresentaram alta variabilidade genética, resultando em cinco grupos formados a partir de suas diferenças, vegeto-produtivas, avaliadas.

Dentre os grupos formados há grupos formados por acessos com alta produção e/ou ótimos índices de qualidade de frutos.

REFERêNCIAS

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ANAIS DO VIII SImpóSIO NAcIONAl DO mOrANgO

VIII ENcONtrO SObrE pEquENAS FrutAS E FrutAS NAtIVAS DO mErcOSul

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Literatura Recomendada

FETTER, M. da R.; VIZZOTTO, M.; CORBELINI, D. D.; GONZALEZ, T. N. Propriedades funcionais de araçá-amarelo, araçá- vermelho (Psidium cattleyanum Sabine) e araçá-pera (P. acutangulum D.C.) cultivados em Pelotas/RS. Brazilian Journal of Food Technology, v. 3, p. 92-95, nov. 2010.

Caracterização física e química de frutos de Bromelia antiacantha Bertol

No documento Anais 2018. (páginas 114-118)

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