• Nenhum resultado encontrado

Micorriza arbuscular na fertilização de morangueiro cultivado em substrato (1)

No documento Anais 2018. (páginas 128-132)

Eunice Oliveira Calvete(2), Fabiola Stockmans De Nardi(3), Pedro Alexandre Varella Escosteguy(2) e Rosiani Castoldi da Costa(3)

(1) Trabalho executado com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Universidade de Passo Fundo (UPF).

(2) Professor Titular III da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAMV) e do Programa de Pós-graduação em Agronomia (PPGAgro) da Universidade de Passo Fundo (UPF); Passo Fundo, RS; calveteu@upf.br;

(3) Estudante do Programa de Pós-graduação em Agronomia (PPGAgro) da Universidade de Passo Fundo (UPF).

INTRODUçãO

Pela característica inerte dos substratos, os sistemas hidropônicos necessitam utilizar soluções nutritivas para a produção das plantas. Dentre os nutrientes que compõem a solução nutritiva o fósforo (P) pode tornar-se um elemento limitador, pois as fontes desse elemento são limitadas e sua eficiência é baixa (Stutter, 2015). Assim, a introdução de fungos micorrízicos arbusculares (FMA) no cultivo do morangueiro (Fragaria × Ananassa Duch.) em substrato tem sido proposta como uma alternativa de fertilização econômica e ambientalmente viável. No entanto, poucos estudos têm sido efetuados para adequar as quantidades adicionadas de P que favoreçam a simbiose micorrízica arbuscular nesses sistemas. Esse aspecto é relevante, pois a micorriza arbuscular, por meio das extensões do sistema radicial (hifas e raízes de menor diâmetro), pode mediar a absorção de até 80% do P, além de 60% do cobre (Cu), 25% do nitrogênio (N), 25% do zinco (Zn) e 10% do potássio (K) (Marschner; Dell, 1994).

Frente ao exposto, os objetivos do trabalho foram: i) verificar se o fornecimento de diferentes doses de P às plantas inoculadas com FMA influencia o acúmulo de macronutrientes em morangueiro; e ii) se a micorrização do morangueiro otimiza o acúmulo de macronutrientes em plantas submetidas a redução da adubação fosfatada.

MATERIAL E MéTODOS

Foram utilizadas mudas de torrão, cultivar Camarosa, produzidas em bandejas com areia autoclavada (1 h/120 °C) e inóculo micorrízico (comunidade de FMA obtida da produção on-farm de um solo inóculo de uma área cultivada com morangueiro com a cultivar Camarosa, com potencial de inóculo de 66%. Foram identificados no inóculo os fungos Acaulospora mellea Spain e Schenck, Acaulospora

morrowiae Spain e Schenck, Cetraspora pelúcida (Nicolson e Schenck), Claroideoglomus etunicatum

(W.N. Becker e Gerd), Glomus sp. e Septoglomus viscosum (T.H. Nicolson), com base em estruturas subcelulares de esporos assexuados seguindo a descrição de culturas de referência vivas (INVAN, 2018) e sua classificação segundo Redecker et al. (2013), conforme descrito em Pedersen (2016), na proporção de 1:1 (v/v), a partir de pontas de estolões. O tratamento testemunha não recebeu inóculo. O experimento foi conduzido em estufa agrícola, de junho a dezembro de 2015, no Setor de Horticultura da FAMV/UPF, em Passo Fundo/RS (28º 15’ 46” S, 52º 24’ 24” W).

Os tratamentos foram constituídos por cinco doses de P: 0; 34; 69; 137 e 274 mg P·L-1,

correspondentes respectivamente à 0; 12,5; 25; 50; e 100% da extração de P assumida para a cultura, aplicadas via fertirrigação às plantas inoculadas com a comunidade de FMA, e uma testemunha (T), que

correspondeu a plantas não inoculadas e adubadas com 274 mg P·L-1. O delineamento foi totalmente ao

acaso, com 20 repetições. As unidades experimentais foram constituídas por bags (0,5 m x 0,40 m x 0,1 m), sendo distribuídos, em cada um, quatro plantas. Os resultados relativos às doses de P, sem considerar a testemunha (T), foram submetidos à decomposição em componentes polinomiais, sendo fixado o maior grau significativo. Além disso, contrastou-se os resultados das plantas inoculadas com FMA e adubadas com as diferentes doses de P com o a testemunha (T), utilizando-se o teste de Dunnett (p > 0,05).

ANAIS DO VIII SImpóSIO NAcIONAl DO mOrANgO

VIII ENcONtrO SObrE pEquENAS FrutAS E FrutAS NAtIVAS DO mErcOSul

As mudas de morangueiro foram transplantadas (0,20 x 0,25 m) em bags preenchidos com areia autoclavada (1 h/120 °C), distribuídos sobre bancadas de 1,2 m de altura em relação à superfície do solo. As soluções de macronutrientes utilizadas para a fertirrigação foram calculadas de acordo com a extração média da cultura do morangueiro em cada estádio fenológico (Souza et al., 1976; Tagliavini et al., 2005; Strassburger et al., 2013), aplicadas semanalmente e de forma independente para cada planta, por meio de hastes gotejadoras, com vazão de 8 L·h-1 , localizadas no interior dos bags, totalizando 1 L de solução

nutritiva por planta/estádio fenológico.

Avaliou-se a quantidade de macronutrientes (N, P, K, cálcio (Ca) e magnésio (Mg)) acumulada na raiz, na coroa, na parte aérea (flores + folhas + pecíolo) e no fruto. A quantidade de macronutrientes foi obtida multiplicando-se o teor pela matéria seca, em cada parte avaliada, em 12 plantas de cada tratamento. A concentração de N foi determinada com o método de Kjeldahl, a de P por espectrofotometria, a de K por fotometria de chama e a de Ca e Mg por espectrofotometria de absorção atômica, no Laboratório de Química e Fertilidade do Solo da FAMV/UPF, de acordo com as metodologias descritas em Tedesco et al. (1995).

RESULTADOS E DISCUSSãO

O acúmulo de N na parte aérea, no fruto e no total, assim como o acúmulo de K nos frutos e no total, aumentou de forma significativa e linearmente com o aumento das doses de P fornecidas às plantas micorrizadas (Tabela 1). Esse fato parece ser comum para o cultivo do morangueiro, no entanto, esse acúmulo crescente com o aumento da adubação fosfata não se traduz em maiores rendimentos (Choi et al., 2013).

Comparando-se o acúmulo de macronutrientes das plantas micorrizadas e adubadas com diferentes doses de P com o tratamento testemunha, observamos que, com exceção do acúmulo de N e K nos frutos e no total, nas doses de 69 e 137 mg P·L-1 o acúmulo de macronutrientes das plantas

micorrizadas foi similar ao do tratamento testemunha (Tabela 1).

A similaridade no acúmulo de nutrientes entre a testemunha e as plantas inoculadas com FMA e adubadas com 69 e 137 mg P·L-1 deve-se tanto a maior eficiência na captação de nutrientes (Mai et al.,

2018) proporcionada pelas alterações morfológicas do sistema radicial (De Nardi, 2018), quanto a maior conversão de fotoassimilados para a produção de matéria seca (De Nardi, 2018; Dumlao et al., 2012).

Todavia, na frutificação as exigências de P aumentam, devido aos frutos serem o principal órgão dreno de fotoassimilados do morangueiro (Tagliavini et al., 2005), e a redução do fornecimento de P diminuiu o acúmulo de MS no fruto (De Nardi, 2018). Isso indica que a inoculação micorrízica não foi suficiente para compensar as reduções do acúmulo de K nos frutos das plantas submetidas a redução da adubação fosfatada. A menor eficiência da inoculação micorrízica na frutificação está relacionada com os mecanismos auto regulatórios da planta, pois, nesse estádio, o grau de infectividade dos FMA decai e o fluxo de C da planta para o fungo é reduzido em virtude da elevada translocação de fotoassimilados e de nutrientes para os frutos (Lingua et al., 2013).

Tabela 01 - Acúmulo de macronutrientes de plantas de morangueiro micorrizadas e adubadas com cinco doses de fósforo (P), e de plantas não micorrizadas e adubadas com 274 mg P/L (T), no estádio de frutificação plena. Passo Fundo – 2015

Doses de fósforo Nitrogênio

Raiz Coroa Parte aérea Fruto Total mg/L mg/planta 0 15,19 8,63 32,78* 172,13* 228,75* 34 22,04 11,97 35,74* 209,06* 278,82* 69 27,22 13,90 55,57 332,01* 428,70* 137 24,78 11,61 50,74 351,48 438,63* 274 32,76 14,60 62,76 538,04 648,17

Equação y=19,02+0,052x y=10,57+0,019x y=37,06+0,102x y=187,27+1,296x y=253,93+1,466x

Doses de fósforo Fósforo mg/L mg/planta 0 3,98 0,34 3,21 32,00* 39,55* 34 4,91 0,47 3,34 36,44* 45,17* 69 5,41 0,62 4,37 50,65 61,06 137 4,93 0,48 3,92 45,98 55,32 274 6,11 0,52 4,08 48,81 59,54

Equação y=4,45+0,006x y=0,39+0,002x-6,46x2 y=3,51+0,03x y=37,48+0,051x y=45,89+0,061x

R2 0,14 (p=0,110) 0,09 (p=0,307) 0,11 (p=0,147) 0,23 (p=0,031) 0,27 (p=0,020)

T 5,77 0,53 3,63 63,28 73,23

Doses de fósforo Potássio mg/L mg/planta 0 32,94 10,020 57,91 326,95* 427,83* 34 31,43 11,750 65,24 392,96* 501,38* 69 34,68 15,000 70,13 513,12* 632,94* 137 33,38 11,220 77,26 681,77* 803,65* 274 41,06 12,295 78,23 964,7* 1096,29*

Equação y=31,52+0,031x y=10,94+0,028x-8,86x2 y=62,69+0,069x y=333,85+2,355x y=439,82+2,457x

R2 0,08 (p=0,205) 0,03 (p=0,484) 0,12 (p=0,126) 0,91 (p=0,000) 0,91 (p=0,000)

T 35,92 13,160 62,60 1193,63 1305,32

Doses de fósforo Cálcio mg/L mg/planta 0 8,31 0,944 10,75 61,31 81,33 34 8,65 1,100 10,64 60,67 81,08 69 9,39 1,100 13,88 75,19 82,07 137 8,91 0,887 11,91 55,83 77,55 274 9,96 0,986 12,58 68,75 92,29

Equação y=8,52+0,005x y=1,03-2,349x y=11,40+0,005x y=62,46+0,0153x y=79,06+0,037x

R2 0,00 (p=0,437) 0,00 (p=0,777) 0,04 (p=0,391) 0,00 (p=0,813) 0,01 (p=0,613)

T 8,86 0,827 10,99 74,23 94,91

Doses de fósforo Magnésio mg/L mg/planta 0 4,34 0,349 6,20 36,65 47,54 34 4,48 0,467 6,45 39,07 50,47 69 4,73 0,564 9,92* 50,45 65,67 137 3,99 0,391 7,61 41,67 53,67 274 5,17 0,448 8,04 36,00 49,67

Equação y=4,31+0,002x 693-3,18xy=0,41+9.2 y=6,39+0,0288x-8,52x2 y=37,61+0,125x-4,86x2 y=48,96+0,149x-5,48x2

R2 0,03 (p=0,485) 0,02 (p=0,543) 0,16 (p=0,158) 0,13 (p=0,140) 0,13 (p=0,134)

T 4,53 0,351 6,41 42,31 53,61

* Significativamente diferente do tratamento testemunha pelo teste de Dunnett (p < 0,05).

CONCLUSõES

Concluímos que, embora o aumento das doses de P em plantas micorrizadas promova incremento no acúmulo de macronutrientes, nas doses de 69 e 137 mg P·L-1 a inoculação micorrízica otimiza o efeito

ANAIS DO VIII SImpóSIO NAcIONAl DO mOrANgO

VIII ENcONtrO SObrE pEquENAS FrutAS E FrutAS NAtIVAS DO mErcOSul AGRADECIMENTOS

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes, pela concessão da bolsa de estudos, à UPF e ao CNPq pelos recursos para execução do trabalho.

REFERêNCIAS

CHOI, J. M.; LATIGUI, A.; LEE, C. W. Visual symptom and tissue nutrient contents in dry matter and petiole sap for diagnostic criteria of phosphorus nutrition for ‘Seolhyang’strawberry cultivation. Horticulture, Environment, and Biotechnology, v. 54, n. 1, p. 52-57, Feb. 2013.

DE NARDI, F. S. Doses de fósforo e associação micorrízica na produção, qualidade e nutrição de morangueiro em substrato. 2018. 99 f. Tese (Doutorado em Agronomia) – Universidade de Passo Fundo, Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Passo Fundo.

DUMLAO, M. R.; DAREHSHOURI, A.; COHU, C. M.; MULLER, O.; MATHIAS, J.; ADAMS, W. W.; DEMMIG-ADAMS, B. Low temperature acclimation of photosynthetic capacity and leaf morphology in the context of phloem loading type. Photosynthesis Research, v. 113, n. 1-3, p. 181-189, Sep. 2012.

LINGUA, G.; BONA, E.; MANASSERO, P.; MARSANO, F.; TODESCHINI, V.; CANTAMESSA, S.; COPETTA, A.; D’AGOSTINO, G.; GAMALERO, E.; BERTA, G. Arbuscular mycorrhizal fungi and plant growth-promoting pseudomonads increases anthocyan- in concentration in strawberry fruits (Fragaria x ananassa var. Selva) in conditions of reduced fertilization. International Journal of Molecular Sciences, v. 14, n. 8, p. 16207-16225, Jun. 2013.

MAI, W.; XUE, X.; FENG, G.; YANG, R.; TIAN, C. Can optimization of phosphorus input lead to high productivity and high phos- phorus use efficiency of cotton through maximization of root/mycorrhizal efficiency in phosphorus acquisition? Field Crops Re- search, v. 216, p. 100-108, Feb. 2018.

MARSCHNER, H.; DELL, B. Nutrient uptake in mycorrhizal symbiosis. Plant and soil, v. 159, n. 1, p. 89-102, Feb. 1994. PEDERSEN, A. C. Occurrence and applicability of arbuscular mycorrhizal fungi in strawberry. 2016. 187 f. Tese (Doutora- do em Agronomia) – Universidade de Passo Fundo, Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Passo Fundo.

REDECKER, D.; SCHUBLER, A.; STOCKIGER, H.; STÜRMER, S. L.; MORTON, J. B.; WALKER, C. An evidence-based con- sensus for the classification of arbuscular mycorrhizal fungi (Glomeromycota). Mycorrhiza, v. 23, p. 515-531, 2013.

SOUZA, A. F.; HAAG, H. P.; SARRUGE, J. R.; DE OLIVEIRA, G. D.; MINAMI, K. Nutrição mineral de hortaliças. XXIX. Absorção de macronutrientes por quatro cultivares de morangueiro (Fragaria spp.). Anais da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, v. 33, p. 647-683, dez. 1976.

STRASSBURGER, A. S.; PEIL, R. M. N.; SCHWENGBER, J. E.; DOS SANTOS- STRASSBURGER, K. F.; GUIDOTTI, R. M. M. Acúmulo de nutrientes em duas cultivares de morangueiro em sistema de cultivo orgânico. Cadernos de Agroecologia, v. 8, p. 1-5, nov. 2013.

STUTTER, M. I. The composition, leaching, and sorption behavior of some alternative sources of phosphorus for soils. Ambio, v. 44, n. 2, p. 207-216, Mar. 2015.

TAGLIAVINI, M.; BALDI, E.; LUCCHI, P.; ANTONELLI, M.; SORRENTI, G.; BARUZZI, G.; FAEDI, W. Dynamics of nutrients up- take by strawberry plants (Fragaria × ananassa Dutch.) grown in soil and soilless culture. European Journal of Agronomy, v. 23, n. 1, p. 15-25, July 2005.

TEDESCO, M. J.; GIANELLO, C.; BISSANI, C. A.; BOHNEN, H.; VOLKWEISS, S. J. Análise de solo, planta e outros mate- riais. 2. ed. rev. e ampl. Porto Alegre: UFRGS, Departamento de Solos, 1995. 174 p. (UFRGS. Boletim Técnico, 5).

Biotecnologia micorrízica potencializa a qualidade fitoquímica de

No documento Anais 2018. (páginas 128-132)

Outline

Documentos relacionados