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A “GERAÇÃO C”, SUBJETIVIDADE E OS DISCURSOS MIDIÁTICOS SOBRE O CRACK

No documento ANAIS SEMINARIO BIOETICA 21 12 (páginas 36-39)

Resumos dos trabalhos

3. A “GERAÇÃO C”, SUBJETIVIDADE E OS DISCURSOS MIDIÁTICOS SOBRE O CRACK

Moises Romanini2 Adriane Roso3

Descritores: Psicologia Social; Meios de Comunicação

INTRODUÇÃO: A midiação da cultura é uma característica fundamentalmente constitutiva das sociedades modernas, ou seja, as sociedades em que vivemos hoje são “modernas” em função do desenvolvimento dos meios de comunicação de massa. Esse processo provoca mudanças não apenas na forma como as pessoas se relacionam, mas também no conteúdo e na maneira como as mensagens são transmitidas pela mídia. Dessa forma, o conhecimento que nós temos dos fatos que acontecem além do nosso meio social imediato é, muitas vezes, derivado da recepção das formas simbólicas veiculadas pelos meios de comunicação (THOMPSON, 2007). A ampla circulação de mensagens veiculadas pela mídia fez com que a comunicação de massa se tornasse num fator importante de transmissão da ideologia nas sociedades modernas. Assim, os fenômenos ideológicos podem tornar-se fenômenos de massa, isto é, fenômenos que podem atingir um número cada vez maior de receptores. A mídia, então, pode colaborar com a criação, estabelecimento e manutenção de relações de dominação (THOMPSON, 2007),que são relações sistematicamente injustas de poder. Ideologia refere-se às “maneiras como o sentido, mobilizado pelas formas simbólicas, serve para estabelecer e sustentar relações de dominação: estabelecer, querendo significar que o sentido pode criar ativamente e instituir relações de dominação; sustentar, querendo significar que o sentido pode servir para manter e reproduzir relações de dominação através de um contínuo processo de produção e recepção de formas simbólicas” (THOMPSON, 2007, p.79). Dessa forma, ao ler, escutar e/ou assistir reportagens sobre a epidemia do crack, os sujeitos que recebem essas mensagens não estão apenas se informando sobre o assunto, mas estão sendo inseridos nos mais variados fenômenos ideológicos, visto que a mídia não apenas reproduz a realidade, mas a cria (GUARESCHI, 2003; ROSO e GUARESCHI, 2007). Posto isso, elaboramos uma pesquisa intitulada “Ideologia, produção de subjetividades e drogas: discursos midiáticos sobre o crack na cultura (pós)-moderna”, conduzida pelo Grupo de Estudo e Pesquisa “Saúde e Minorias Sociais”, do Curso de Psicologia da UFSM. A pesquisa está em andamento e visa estudar criticamente os discursos da mídia escrita. OBJETIVOS: Conhecer e interpretar a ideologia subjacente aos discursos produzidos pela mídia de massa escrita referentes à droga crack, buscando reconhecer os tipos de subjetividades que são produzidas na cultura pós-moderna. Como objetivos específicos quer-se (a) conhecer que significados são (re) produzidos na mídia escrita sobre o crack, no que tange às categorias       

1 Projeto.

2 Acadêmico do Curso de Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

3 Professora Adjunta do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Coordenadora do Projeto 

Atendimento/Tratamento à Saúde, Família e Criminalidade, (b) analisar como a veiculação da “epidemia do crack” é atravessada pelas Relações de Gênero, de Raça/Etnia e Geracional, (c) conhecer e interpretar. Os modos como a mídia veicula as falas (ou formas simbólicas) de profissionais e especialistas sobre o(s) modelo(s) de atenção à saúde mental, e (d) analisar como as formas simbólicas referentes ao crack são recebidas. METODOLOGIA: Esse é um estudo quanti- quali descritivo e exploratório. A partir do referencial metodológico da Hermenêutica de Profundidade (Thompson, 2007) está sendo feita a organização e a análise de reportagens de jornais regionais (Diário de Santa Maria e A Razão), no período de 06 de julho de 2008 a 30 de junho de 2010. A parte quantitativa se refere ao mapeamento de todas as reportagens que se referem ao crack especificamente. Esse mapeamento está sendo feito online e na edição impressa, quando disponível. A Hermenêutica de Profundidade é composta por três fases mutuamente interdependentes e complementares: a análise sócio-histórica, a análise discursiva (que aqui se refere à junção dos dados quantitativos aos qualitativos) e a interpretação/reinterpretação. A reinterpretação da ideologia dá uma inflexão crítica a essas fases, pois ela é uma interpretação das formas simbólicas que procura mostrar como, em circunstâncias específicas, o sentido mobilizado pelas formas simbólicas serve para alimentar e sustentar a posse e o exercício do poder. A interpretação e reinterpretação são orientadas por uma psicologia social crítica, que é atravessada por teorias de cunho psicossocial e históricas. No presente, traremos a reflexão teórica que nos leva à visualizar a epidemia do crack como uma construção discursiva representacional de uma possível “Geração C”. Essas reflexões se inserem na análise sócio-histórica, pois nos remetem aos elementos sócio-históricos que circunscrevem e criam essa representação. RESULTADOS: Baseado nas construções teóricas do sociólogo Zygmunt Bauman (2005), os resultados preliminares da reinterpretação indicam uma construção discursiva em direção a uma possível nova geração – a “Geração C”, O autor salienta que a depressão tem sido apontada por muitos estudiosos como um dos sintomas do mal-estar da nova geração nascida no admirável e líquido mundo moderno. A chamada “Geração X”, constituída de jovens nascidos na década de 70 na Grã-Bretanha e outros países “desenvolvidos”, experimenta sofrimentos que eram desconhecidos das gerações anteriores. Não necessariamente mais sofrimentos, nem sofrimentos mais agudos, mas sofrimentos diferentes – mal-estares e aflições “especificamente líquido-modernos” (BAUMAN, 2005). Um dos diagnósticos mais comuns para esse mal-estar é o desemprego, e em particular as baixas expectativas de trabalho para os recém-saídos da escola. Mais recentemente, um novo mal-estar tem assolado globalmente inúmeros jovens: a epidemia do crack. Todavia, repetindo o curso histórico, esse mal-estar atinge de um modo mais vil aqueles jovens residentes ou provenientes (no caso de imigrantes) de países “sub-desenvolvidos”. A população brasileira e, mais especificamente, do estado do Rio Grande do Sul, tem recebido diariamente formas simbólicas referentes à epidemia do crack, através dos meios de comunicação de massa. Os diagnósticos para esse mal-estar são os mais diversos possíveis: famílias desestruturadas, precariedade do Sistema Único de Saúde, a Lei da Reforma Psiquiátrica, a necessidade de maior investimento nas políticas de repressão, entre outros. Porém, não se fala na violência estrutural, conseqüência do desenvolvimento do capitalismo neoliberal que contribui para a

fabricação dos processos de subjetividade, pautados na produção de ‘refugo humano’ (BAUMAN, 2005) e no consumo (MANCE, 2005). Através dos discursos midiáticos, pode-se pensar na produção da “Geração C”: consumo, crack e criminalidade. O primeiro “c”: podemos encontrar dois tipos de consumo, o alienante e o compulsório. No alienante observa-se que muitas pessoas buscam nas mercadorias mais do que simples qualidades objetivas, conferindo-lhes certas qualidades virtuais que acabam determinando sua aquisição e consumo (MANCE, 2005). O segundo “c”: o consumo do crack tem adquirido um caráter alienante, no qual os consumidores transformam-se também em mercadorias. O consumo compulsório refere-se aos pobres e excluídos que não dispõem de recursos para consumir os produtos de grife ou marcas famosas e caras. O crack, como produto barato e de fácil acesso, torna-se atraente para os consumidores ‘falhos’, pois nessa ‘compra’ podem maximizar seu poder de consumo com os poucos recursos que possuem (MANCE, 2005). O terceiro “c”: a palavra crack, na língua inglesa, significa rachadura, defeito. Numa sociedade de consumidores, quem não pode tornar-se um consumidor é considerado falho, defeituoso. O crack, ao mesmo tempo que encobre essa rachadura, abre uma fissura, faz do usuário um criminoso (conforme a mídia), um ser humano refugado, como diria Bauman (2005). excessivo, redundante e indesejável, que não pôde ou não quis ser reconhecido ou não obteve permissão para permanecer no fluxo da ordem econômica, social e política. CONCLUSÕES: Nesse jogo neoliberal, o consumidor (de drogas) é, segundo Mance (2005), agenciado pelas peças publicitárias, merchandisings e modismos das mídias de massa, as quais determinam muito a individuação das subjetividades. Assim, um ser midiatizado refugado ou “crackeado” pode facilmente entrar para as estatísticas da criminalidade, pode se tornar facilmente um jovem da Geração C! Nesse sentido, a mídia de massa, ao veicular formas simbólicas sobre drogas como o crack, produz/reforça certas subjetividades e certos modos de viver. Destacar e interpretar os discursos das mídias de massa frente ao uso/usuário de drogas é um passo importante em direção à compreensão da ideologia subjacente aos discursos midiáticos e ao reconhecimento dos tipos de subjetividades que são produzidas na cultura pós-moderna.

REFERÊNCIAS

BAUMAN, Z. Vidas desperdiçadas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.

GUARESCHI, P.A. (Org.) Os Construtores da Informação: meios de comunicação, ideologia e ética. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003, 2ªed.

MANCE, Euclides . O capitalismo atual e a produção de subjetividades. IFL, novembro, 1998. Disponível em HTTP://www.odialetico.hpg.ig.com.br/filosofia/subjetividade.htm

ROSO, A.; GUARESCHI, P. A. . Megagrupos midiáticos e poder: construção de subjetividades narcisistas. Política & Trabalho, v. 26, p. 37-54, 2007.

THOMPSON, John B. Ideologia e Cultura Moderna – teoria social crítica na era dos meios de comunicação de massa. Petrópolis: Vozes, 2007, 7ª Ed.

4. SAÚDE PÚBLICA, CAMPANHAS DE PREVENÇÃO À AIDS: POR UMA ÉTICA

No documento ANAIS SEMINARIO BIOETICA 21 12 (páginas 36-39)

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