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A PERVERSÃO E O FASCÍNIO DA IMAGEM

No documento ANAIS SEMINARIO BIOETICA 21 12 (páginas 136-139)

31 (RE) PENSANDO OS TRANSTORNOS ALIMENTARES

32. A PERVERSÃO E O FASCÍNIO DA IMAGEM

Natália Barcelos2

Jana Gonçalves Zappe3 Natália Barcelos4 Cristiane Rosa dos Santos5

Merihelem de Mello Pierry6

Descritores: perversão, contemporaneidade, sociedade.

INTRODUÇÃO: Na contemporaneidade a sociedade está muito voltada para a subjetividade do sujeito. O eu se encontra de forma privilegiada, fazendo com que as pessoas se comportem de maneira individualista preocupando-se mais consigo mesmo do que com os outros.Ao mesmo tempo, o olhar do outro ocupa um lugar significativo, fazendo então com que essa subjetividade esteja atrelada ao valor da aparência. Desta forma, deve-se começar a questionar sobre os destinos do desejo na atualidade, já que são eles que irão possibilitar entender o que se passa nas subjetividades. Os destinos do desejo acabam assumindo traços exibicionistas e auto-centrados, onde o mundo intersubjetivo se encontra esvaziado e desinvestido das trocas inter-humanas. Esta auto-exaltação desmedida da individualidade, atualmente, faz com que o conceito de solidariedade evapore. O lema maior da sociedade atual passa a ser mesmo: “Cada um por si” (Birman, 2005). Sobre essa questão da individualidade desmedida, Roudinesco discorrer acertadamente:“Todo indivíduo tem o direito e, portanto, o dever, de não mais manifestar seu sofrimento, de não mais se entusisasmar como o menor ideal que não seja o do pacifismo ou o da moral humanitária. Em conseqüência disso, o ódio ao outro se tornou sub-reptício, perverso e ainda mais temível, por assumir a máscara da dedicação a vítima. Se o ódio pelo outro é, inicialmente, o ódio a si mesmo, ele repousa, com todo masoquismo, na negação imaginária da alteridade. O outro passa então a ser sempre um vítima, e é por isso que se gera a intolerância, pela vontade de instaurar no outro, a coerência, pela vontade de um eu narcísico, cujo ideal seria destruí-lo antes que ele pudesse existir” (Roudinesco, 2000; p. 16). OBJETIVOS: O presente trabalho visa promover uma reflexão sobre a perversão inserida em questões que configuram a sociedade atual, abordando conceitos psicanalíticos e promovendo uma melhor compreensão acerca do assunto. METODOLOGIA: Revisão bibliográfica. RESULTADOS: Diante da revisão bibliográfica, percebe-se que decorrente da “vontade do eu narcísico” (Roudinesco, 2000), o sujeito acaba por desmedir esforços para alcançar seus objetivos. Os fins passam a justificar os meios. Desta forma, o indivíduo acaba burlando regras       

1 Reflexão teórica.

2 Graduanda em Psicologia (ULBRA-SM) 3 Psicóloga, Mestranda em Psicologia (UFSM) 4 Graduanda em Psicologia (ULBRA-SM)

5 Psicóloga (ULBRA-SM), pós-graduanda em Transtornos do Desenvolvimento na Infância e Adolescência – Abordagem Interdisciplinar (Lydia Coriat), atua no Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDEDICA). 6 Graduanda em Psicologia (ULBRA-SM)

configurando-se assim uma sociedade mais perversa. Nesta configuração a própria sociedade concebe que a perversão saia do âmbito clínico atingindo o meio social. Neste momento é de suma importância fazermos a distinção entre perversão clínica e perversão social. A primeira corresponde a uma estrutura psicodinâmica onde o sujeito perverso se fecha na representação de uma falta não simbolisável. De um lado, o perverso reconhece a castração e a falta do falo na mãe. De outro, fantasia uma mãe fálica que permite defender-se contra o temor da castração. Isso coloca o perverso em uma posição absolutamente particular, em termos do modo pelo qual ele se relaciona com a falta e com a incompletude: aceitando-a e, contraditoriamente, negando-a, a um só tempo. (Pacheco Filho, 2005). Neste contexto, o perverso reduz o outro a uma posição de total passividade, diante de sua absoluta atividade, para assim manter essa demanda perversa. O exemplo que se tem dessa situação de passividade absoluta, também pode ser visto na sociedade que presencia esses atos perversos. (Iglesias, 2005). É a partir daí que começa a construir-se a perversão social. Desde muito cedo, o sujeito para constitui-se um ser de linguagem é conduzido pelo simbólico e pela cultura. Pacheco Filho (2005) traz então que o pequeno ser constrói a si mesmo e é construído por seus semelhantes desejando ser desejado. É a castração simbólica que transforma o indivíduo em um ser da sociedade e da cultura, então com isso a depressão de retorno à posição fálica e narcísica deixa então de ser uma questão individual e passa a fazer parte da construção coletiva dos sintomas sociais representada pelas exclusões e preconceitos como o racismo, marginalizações e violências contra outros grupos sociais. (Pacheco Filho, 2005). De acordo com o mesmo autor, alguns outros autores vêem denunciando o agravamento do narcisismo na sociedade contemporânea, utilizando o termo “cultura do narcisismo” para criticar as condições existentes na sociedade atual como razão que guia as ações dos sujeitos. Esses sujeitos dos dias atuais são auto-centrados e voltados para si, e desta maneira estariam sendo levados em direção a um egocentrismo radical, o que psicanaliticamente corresponderia a uma regressão a um estado de narcisismo quase puro. CONCLUSÃO: Pelo enaltecimento do eu e da estetização é que pode-se fazer a costura entre as interpretações de Lash (1983) e Debord (1967/1997), sobre a existência de uma cultura do narcisismo e de uma sociedade do espetáculo, já que na atualidade, exige-se que as dificuldades do ser humano sejam transformados em “obras de arte” evidenciando o narcisismo que o indivíduo deve cultivar para fazer parte da sociedade do espetáculo. Nesta medida o sujeito é regulado para compor gestos voltados para a sedução do outro. Assim, o falso, o superficial e o enganoso adquirem, também, seu valor social. Com isso, o outro passa a ser apenas um objeto para o gozo e o enaltecimento do eu. As individualidades se transformam em objetos descartáveis, fazendo com que a alteridade e intersubjetividade tendam ao silêncio e ao esvaziamento (Birmam, 2005; Pacheco Filho, 2005). Dessa maneira, percebe-se que a imagem sempre dá a condição para o espetáculo na cena social e para a captação narcísica do outro. Neste contexto, a imagem é fator crucial da sedução e do fascínio, favorecendo desta forma o exibicionismo perverso. Sendo assim, ser e parecer identificados no discurso narcísico pressupõem uma nova forma de sociabilidade. Com efeito, o sujeito é auto-centrado, descartando sua inferioridade e destacando sua exterioridade. Neste

sentido, para captura do outro, o sujeito transforma-se numa “máscara” fascinante voltada para o exibicionismo (Birman, 2005).

REFERÊNCIAS

IGLESIAS, Eny L. O que nos espera: perversão com charme de moralidade. Cogito. [online]. 2003, vol.5 [citado 28 Abril 2009], p.19-23. Disponível na World Wide Web: http://pepsic.bvs- psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-94792003000100003&lng=pt&nrm=iso. ROUDINESCO, Elisabeth. Por que a psicanálise? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.

PACHECO FILHO, Raul A. O capitalismo neoliberal e seu sujeito. Mental. [online]. jun. 2005, vol.3, no.4, p.155-173. Disponível na World Wide Web: <http://pepsic.bvs-

psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-4272005000100011&lng=pt&nrm=iso>.

BIRMAN, Joel. Mal-estar na atualidade: a psicanálise e as novas formas de subjetivação. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.

DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. (Original publicado em 1967)

No documento ANAIS SEMINARIO BIOETICA 21 12 (páginas 136-139)

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