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PARTO CESÁREO DESNECESSÁRIO – UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA 1

No documento ANAIS SEMINARIO BIOETICA 21 12 (páginas 193-196)

SANTA MARIA: DADOS PRELIMINARES

49. PARTO CESÁREO DESNECESSÁRIO – UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA 1

Victor Hugo Goulart Silveira2

Liange Arrua Rabenschlag3

Juciane Aparecida Furlan Inchauspe4 Descritores: Saúde Pública, Cesárea.

INTRODUÇÂO: O Brasil, assim como a maioria dos países da América Latina, acompanha uma tendência mundial de opção pelo parto cesáreo, também conhecido como cesariana, o país possui uma das maiores taxas de incidência de cesarianas do mundo e, quando se compara ao nível socioeconômico, é identificado o seguinte: à medida que a população adquire melhores condições de vida, isto é, uma renda salarial maior, se tem também um aumento da incidência desta modalidade de parto (QUEIROS et al, 2005). Não há como negar que graças ao grande avanço da medicina no século passado (sec. XX), a cesariana passou a ser considerada uma opção confiável ao parto vaginal, isto quando ocorre uma contra-indicação do parto vaginal pela possibilidade de risco tanto para a gestante como para o feto. No entanto, esta alternativa não pode ser considerada a primeira opção para o parto, como está ocorrendo em inúmeros países em todo o mundo (FAGUNDES e CECCATTI, 1991). Fazendo isso, se está desvirtuando os reais objetivos com que se idealizou a cesariana, o que com certeza se estará aumentando os riscos de morbimortalidade materna e perinatal. Sem dúvida que existem vários fatores que sinalizam para a real necessidade de um parto cesáreo, como exemplos, podem ser citados as apresentações anômalas como apresentação pélvica, ou quando a mãe apresenta doença sexualmente transmissível, como a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e alguns casos de Papiloma Vírus Humano (HPV), ou ainda, outros motivos, a exemplo do descolamento prematuro da placenta, placenta prévia e diabetes gestacional, dentre outros, que venham a complicar o bom andamento do parto. OBJETIVO: Sendo assim, este estudo tem a intenção de discutir esta problemática como um problema de saúde pública, salientando que o parto cesáreo desnecessário é um forte fator agravante de morbimortalidade materna. METODOLOGIA: Este estudo consiste em uma reflexão crítica bibliográfica por meio da leitura de obras literárias e científicas, sendo utilizados livros e periódicos pertinentes ao tema proposto. RESULTADOS: Conforme o Ministério da Saúde (2002) a cesariana é um procedimento cirúrgico invasivo e que necessita anestesia, sendo o seu objetivo retirar a criança do útero mediante uma incisão nas paredes abdominal (laparotomia) e uterina (histerotomia), ao invés do nascimento natural que ocorre pelo colo do útero e vagina. Essa modalidade de parto só deve ser a primeira opção quando for contra-indicado o parto normal, portanto a cesareana está à disposição da gestante       

1 Reflexão Teórica

2 Autor e relator, Acadêmica do 6º semestre de Enfermagem da Faculdade Integrada de Santa Maria (FISMA), Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail: vhgs.weber@gmail.com

3 Autora, Professora e Orientadora, Enfª. Esp. em Auditoria em Saúde. Docente da Faculdade Integrada de Santa Maria (FISMA), Rio Grande do Sul, Brasil. Fone: (55) 84074012. E-mail: enfermeiraliange@hotmail.com

4 Autora, Acadêmica do 6º semestre de Enfermagem da Faculdade Integrada de Santa Maria (FISMA), Técnica de Enfermagem do CME/HCAA, Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil. Fone: (55) 96217641. E-mail: anelann@gmail.com

para promover proteção tanto para a mãe, bem como para a criança, e assim possibilitar um parto sem maiores complicações (BRASIL, 2001). No entanto, alguns autores consideram o parto cesáreo no Brasil um problema de saúde pública devido aos altos índices deste procedimento, atingindo 40% em algumas regiões e até 80% em outras (MELANIA et al, 1998, Yazzle et al, 2001). É verdade que a opção pela cesariana é a melhor e mais segura alternativa quando se está contra-indicado o parto normal. Mas como todo procedimento cirúrgico envolve riscos, naturalmente eles podem ser evitados por aquelas pessoas que insistem em utilizar deste método de dar a luz ao bebê. Este número elevado de cesarianas desperta a preocupação das autoridades competentes no que concernem às complicações que acompanham este tipo de procedimento, sendo que muitos deles poderiam ser evitados, tanto por parte das gestantes, assim como por intermédio dos profissionais que optam por tal procedimento. Dentre as complicações maternas de acordo com o tipo de parto, uma investigação científica analisou retrospectivamente 1.748 partos e apontou as complicações infecciosas e complicações hemorrágicas como mais incidentes no parto cesáreo do que no parto vaginal (normal) (NOMURA, ALVES e ZUGAIB, 2004). No entanto este mesmo estudo salienta que a frequência de cada complicação é baixa e não é superior a 1% dos partos. Dentre as políticas governamentais para diminuir os índices elevados de cesarianas, destaca-se a do Ministério da Saúde (MS) que instituiu um valor de repasse financeiro igual para o pagamento dos procedimentos médicos hospitalares, por ocasião do parto. Mas o que se esperava não aconteceu, análises sobre as proporções de cesariana destacaram a ineficácia desta política pela tendência crescente deste tipo de parto operatório (QUEIROZ et al, 2005). Na atualidade impera um acordo entre o MS e as secretarias de saúde estaduais que fixa um teto máximo para realização para tal procedimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) (QUEIROZ et al, 2005). É a portaria GM nº466/00, que propôs o Pacto Nacional pela Redução da Taxa de Cesárea, ela sugeriu que os estados brasileiros alcançassem uma taxa máxima de 25% até o ano de 2007. Esta atitude do governo que alterou o pagamento das cesarianas teve impacto apenas nos serviços públicos, já na setor privado as taxas continuam exorbitantes, algo próximo a 90%. A portaria GM nº466/00, que propôs o Pacto Nacional pela Redução da Taxa de Cesárea, sugere que todas as unidades da Federação alcancem a taxa de 25%, no máximo, até 2007. No entanto, a mudança na atitude do governo, alterando o pagamento das cesarianas, estabelecendo limites bem definidos e metas decrescentes de sua realização, teve impacto apenas nos serviços públicos em nosso país. Nos serviços privados, as taxas são bem mais elevadas, próximas de 90%. Na realidade o que está ocorrendo é uma banalização da cesariana, as mulheres acabam abrindo mão de seu desejo inicial por um parto normal e concordando com a realização da cesariana. Entretanto, com a banalização da cesariana, as mulheres não estranham mais a indicação de tantas cirurgias e acabam abrindo mão de seu desejo inicial por um parto normal e concordando com a realização da cesariana. É importante ressaltar que esse processo de tomada de decisão pelo tipo de parto se dá numa relação de poder que se estabelece no diálogo entre o médico e a mulher, e que muitas vezes inibe qualquer questionamento da decisão do profissional, em especial se existe uma grande diferença econômica e cultural (FOC/ENSP, 2007). CONCLUSÃO: Toda preocupação que surge para com o parto cesáreo desnecessário fundamenta-se à medida que direcionamos

nossos esforços para a promoção da segurança da parturiente e também do bebê que está prestes a nascer. Ao profissional que acompanha o período gravídico-puerperal cabe também o papel da orientação e informação. Esclarecimentos ajudam na formação da opinião das mulheres, embora não garantam a mudança da opinião e na escolha da via de parto. Portanto, surge para a equipe de saúde o desafio em contribuir para que realmente se efetivem as políticas públicas do MS, amparadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que consideram níveis aceitáveis as taxas próximas a 15,0% de parto cesáreo, sendo essencial um atendimento humanizado que permitam um local adequado a fim de proporcionar um atendimento acolhedor; livre para compartilhar com o profissional seus sentimentos, dúvidas e anseios. Só assim estaremos cumprindo os preceitos que regem os Direitos Universais do Ser Humano e os princípios do SUS (Sistema Único de Saúde), e desta forma, estaremos contribuindo para que diminua a incidência do parto cesáreo desnecessário.

REFERENCIAS:

BRASIL; Ministério da Saúde. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher. Brasília (DF): Área Técnica de Saúde da Mulher; 2001.

BRASIL; Ministério da Saúde. Portaria n º 466, de 14 de junho de 2000. Disponível em: URL:<http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/PORT2000/PT- 466.htm> Acesso em: 10/06/2009.

BRASIL; Ministerio da Saude. Profissionalização de Auxiliares de Enfermagem: cadernos do aluno: saúde da mulher, da criança e do adolescente. Brasília: Ministério da Saúde, Rio de Janeiro: Fio Cruz, 2002.

FAGUNDES A, CECCATTi JG. A operação cesárea no Brasil. Incidência, tendências, causas, conseqüências e propostas de ação. Cad Saúde Publica 1991; 7:150-73.

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ/ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA. Cesarianas desnecessárias: Causas, conseqüências e estratégias para sua redução. Rio de Janeiro, abril de 2007.

MELANIA, Luis Carlos Santos et al. Fatores prognósticos para o parto vaginal em pacientes com cesárea anterior. Rev. Brás. Ginecol. Obstet. Vol. 20 nº 6. Rio de Janeiro, jul. 1998.

NOMURA, Roseli Mieko Yamamoto; ALVES, Eliane Aparecida; ZUGAIB, Marcelo. Complicações maternas associadas ao tipo de parto em hospital universitário. Revista de Saúde Pública vol. 38 nº. 1. São Paulo fev. 2004.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Appropriate technology for birth. Lancet 1995; 24:436-7.

QUERÓZ, Maria Veraci Oliveira; SILVA, Nara Suelene Jacobina; JORGE, Maria Salete Bessa; MOREIRA, Thereza Maria Magalhães. Incidência e características de cesáreas e de partos normais: estudo em uma cidade no interior do ceará. Rev. bras. enferm. vol.58 no.6 Brasília Nov./Dec. 2005 YAZLLE, M.E., ROCHA, J.S., MENDES, M.C., et al. Incidência de cesáreas segundo fonte de financiamento da assistência ao parto. Rev Saúde Pública 2001; 35(2):202-6.

50. QUESTÕES ÉTICAS E BIOÉTICAS QUE EMERGEM NO COTIDIANO DA

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