• Nenhum resultado encontrado

ENVELHECIMENTO E AIDS: REFLEXÕES DO ACOMETIMENTO DO HIV EM INDÍVIDUOS ACIMA DE 50 ANOS

No documento ANAIS SEMINARIO BIOETICA 21 12 (páginas 97-101)

12 A SAÚDE E O TRABALHO NO CONTEXTO DA PRÁTICA DE UMA EQUIPE DE ENFERMAGEM DE PRONTO-SOCORRO 1

21. ENVELHECIMENTO E AIDS: REFLEXÕES DO ACOMETIMENTO DO HIV EM INDÍVIDUOS ACIMA DE 50 ANOS

Claudete Moreschi2

Diego Schaurich3

Daiana Foggiato de Siqueira2; Glaucia Dal Omo Nicola2; Sandra Lisiane Massier de Almeida². Descritores: Envelhecimento, Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, enfermagem

INTRODUÇÃO: O fenômeno do envelhecimento como questão pública deve ser focado positivamente para o desenvolvimento humano, portanto, “pensar a velhice como questão pública é bem diferente de tratá-la como problema social” (MINAYO, 2004, p. 212). Os idosos são o grupo populacional que mais cresce, fazendo com que, atualmente, o envelhecimento seja considerado um relevante fenômeno mundial. Para o ano 2050 estima-se que haverá cerca de dois bilhões de pessoas acima de sessenta anos e a maioria delas vivendo em países em desenvolvimento (CAMARANO, 1999). Na sociedade brasileira, as leis, políticas públicas e ações de saúde voltadas ao idoso são recentes, pois a mesma não se preocupava com o envelhecimento da população, o que acabou por trazer um grande desafio para o país. Em 1970 tinha-se 4,7 milhões de pessoas com mais de 60 anos; em 1980 já eram 7,2 milhões; em 1991 a população de idosos cresceu para 10,7 milhões. A projeção para 2020 é de 27,2 milhões de idosos (PEREIRA, 2007). Considerando estes dados e projeções epidemiológicas, vale ressaltar que um dos aspectos mais decisivos da ocultação do idoso seja o isolamento em que a sociedade o mantém diante de abordagens e questões referentes ao sexo e à sexualidade, principalmente se levarmos em conta que a sexualidade é, ainda, um tabu (LEITE, 1999). É neste contexto, diante de novas tecnologias voltadas para o envelhecimento, tais como o uso de terapias hormonais e a descoberta do citrato de sildenafil (Viagra), que vem à tona aspectos do sexo e da sexualidade dos idosos. Isto porque estes recursos podem estar promovendo uma melhor qualidade da vida sexual para esta população, mas em contrapartida não há uma política que dê respaldo à terceira idade, tanto no que se refere à prevenção da infecção pelo HIV quanto ao próprio processo de envelhecimento e, assim, constituem- se como novos desafios a serem enfrentados. Dados apresentados pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2008) mostram que a incidência de indivíduos acometidos pelo HIV entre pessoas acima dos 50 anos dobrou entre 1996 e 2006 — de 7,5 casos por 100 mil habitantes para 15,7. Os homens são os mais atingidos, respondendo por 63% dos 29.393 casos registrados em idosos de 2001 a junho de 2008. OBJETIVO: Diante destes fatores e da gravidade do problema é que se objetivou realizar esta reflexão do acometimento do HIV em indivíduos acima de 50 anos, visto que é preciso       

1 Reflexão Teórica.

2 Acadêmicas do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano - UNIFRA

3 Enfermeiro. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Docente Assistente do Curso de Enfermagem da UNIFRA.

quebrar os preconceitos que cercam a vivência da sexualidade em pessoas idosas. METODOLOGIA: O presente trabalho tem como característica ser uma pesquisa descritiva bibliográfica que, segundo Severino (2007), é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, onde o pesquisador trabalha a partir das contribuições dos autores dos estudos analíticos constantes dos textos. RESULTADOS: Há poucos anos atrás, envelhecer acarretava, na maioria dos casos, uma diminuição da velocidade do pensamento e articulação motora, acompanhado de doenças típicas e comuns a essa parcela da população, como diabetes, hipertensão arterial, doenças degenerativas, entre outros. Recentemente, conforme relatório da UNAIDS (2002; 2006), uma das patologias que vem se apresentando, de forma cada vez mais freqüente nessa população, é a

Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (aids). A Organização Mundial da Saúde afirma que está

sendo registrado um avanço da doença na população a partir de 50 anos de idade. No Brasil, atualmente, há 474.273 casos de pessoas doentes de aids, sendo que destes foram registradas 4.715 casos notificados em pessoas com idade acima de 50 anos (BRASIL, 2008). Isto considerando que a incidência de portadores no grupo de idosos vem crescendo em todas as regiões; no norte, havia três casos da doença para cada 100 mil habitantes em 1996 contra 13 por 100 mil em 2006; no nordeste, a incidência subiu de 2,8 para 7,6; no sudeste, de 10,9 para 18,3; no sul, de 7,1 para 22,9; no centro-oeste, de 6,8 para 14,1 casos, sendo que grande parte desta população pode ter adquirido o vírus em estágio anterior da vida (UNAIDS, 2006). A esse respeito cabe a discussão acerca da conscientização por parte da população de que a aids não está restrita a grupos específicos, sendo esse dado confirmado por inúmeros estudos (CHEN et al, 1998; AYRES et al, 2003). É comum, nos tempos do Viagra e da liberdade de expressão sexual, que se ouça de pessoas da terceira idade a percepção de que “não preciso usar preservativo” ou “AIDS não é coisa do meu tempo”; porém, no grupo de idosos infectados é possível verificar condutas também comuns a outras faixas etárias, como a prática de sexo desprotegido e com múltiplos/as parceiros/as, o uso de drogas ilícitas, entre outras (UNAIDS, 2002). Entre os idosos que se descobrem portadores do vírus, há dois perfis clássicos: o do homem casado que se infecta com uma parceira mais jovem e o das viúvas que redescobrem o sexo, sendo que, em qualquer dos casos, o preconceito é enorme (GROSS, 2005). São muitos os obstáculos ao uso da camisinha: os homens temem perder a ereção e ainda acham que o cuidado só é necessário nas relações com profissionais do sexo, as mulheres não sentem necessidade de exigir o preservativo e fazer sexo sem camisinha é particularmente arriscado depois da menopausa, quando as paredes vaginais se tornam mais finas e ressecadas, favorecendo o surgimento de ferimentos que favorecem a infecção pelo HIV (MARTIN, 1995). Os raros estudos internacionais sobre a infecção em idosos indicam que até 37% dos pacientes acima de 50 anos morrem no mesmo mês em que descobrem a doença. Entre 13 e 49 anos, esse índice é de 10% (LAZAROTTO, 2008). O diagnóstico tardio é uma das principais razões de morte precoce, sendo que, muitas vezes, os médicos costumam associar os sintomas a outras doenças, tais como alzheimer, câncer, tuberculose, e passam meses em investigações infrutíferas até desconfiar de aids (PARKER e RICHARD, 1994). As interações do coquetel com outros medicamentos já utilizados pelos idosos também produzem reações indesejáveis e com a imunidade enfraquecida, eles podem morrer por

qualquer resfriado banal. CONCLUSÕES: Com melhores condições de vida e saúde, temos, atualmente, um mundo que cada vez mais envelhece, principalmente se considerarmos que a denominada terceira idade é compreendida, segundo a Organização Mundial da Saúde, a partir dos 65 anos em países desenvolvidos e a partir dos 60 anos em países em desenvolvimento – como é o caso do Brasil. Diante dessas reflexões apontadas, ressalta-se a relevância da capacitação adequada dos profissionais da saúde para cuidar de pessoas com idade acima de 50 anos e soropositivas para HIV. Deste modo, é imprescindível elucidar o entendimento dessas pessoas quanto à patologia e, também, criar espaços de possibilidade de interações abertas, de acompanhamento constante, que permitam atenção efetiva e social, das pessoas com idade acima de 50 anos e que vivem com aids. REFERÊNCIAS

AYRES, José Ricardo de C. M., FRANÇA JR, Ivan, CALAZANS, Gabriela Junqueira, SALETTI FILHO, Haraldo César. O conceito de vulnerabilidade e as práticas de saúde: novas perspectivas e desafios. In: CZERESNIA, Diná, FREITAS, Carlos Machado (orgs.). Promoção da saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2003. p. 117-39.

BRASIL. Ministério da Saúde. SUS 20 anos: a saúde do tamanho do Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2008. Disponível em: http://sus20anos.saude.gov.br. Acesso em 29 out. 2009.

CAMARANO, Ana Amélia. Muito além dos 60 – os novos idosos brasileiros. Rio de Janeiro: IPEA, 1999.

CHEN, H. X. et. al. Characteristics of acquired immunodeficiency syndrome in older adults. J. Am. Geriatr. Soc., v. 46, 1998. p. 153-157.

GROSS, J. B. Estudo de pacientes portadores de HIV/AIDS após os 60 anos de idade em duas Unidades de Saúde do Estado do Rio de Janeiro. 2005. Dissertação. (Mestrado em Medicina). Fundação Oswaldo Cruz, Instituto Oswaldo Cruz, 2005.

LAZZAROTTO, A. R. et al. O conhecimento de HIV/aids na terceira idade: estudo epidemiológico no Vale do Sinos, Rio Grande do Sul, Brasil. Ciênc. Saúde Coletiva, v. 13, n. 6, dez. 2008. p.1833- 1840.

LEITE, J, L. AIDS, Direitos Humanos e Saúde Pública: pontos de partida e horizontes de espera. Tese (Doutorado). Escola de Serviço Social, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1999.

MARTIN, J. N. et al. Effect of Older Age on Survival in Human Immunodeficiency Virus (HIV) Disease. Am. J. Epidemiol., v. 142, 1995. p. 1221-1230.

MINAYO, Maria C. Souza. Antropologia, saúde e envelhecimento. Rio de janeiro: Fiocruz, 2004. PARKER, Richard. A Aids no Brasil. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.

PEREIRA, A. O. Envelhecimento Demográfico no Brasil. IN: 10° Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais... Anais. Rio de Janeiro: UERJ, 2007.

SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 23ª ed. rev. e atual. São Paulo: Cortez, 2007. UNAIDS. Impact of AIDS in older population. 2002. Disponível em: < data.unaids.org/Publications/Fact-Sheets02/fs_older_en.pdf> Acesso em 22 out. 2009.

UNAIDS. Report of global AIDS epidemic. 2006. Disponível em: < viewer.zmags.com/showmag.php> Acesso em 27. out. 2009.

No documento ANAIS SEMINARIO BIOETICA 21 12 (páginas 97-101)

Outline

Documentos relacionados