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BRINCANDO DE “FAZ-DE-CONTA”

No documento ANAIS SEMINARIO BIOETICA 21 12 (páginas 139-142)

31 (RE) PENSANDO OS TRANSTORNOS ALIMENTARES

33. BRINCANDO DE “FAZ-DE-CONTA”

Natália Barcelos2 Jana Gonçalves Zappe3

Natália Barcelos4 Cristiane Rosa dos Santos5

Merihelem de Mello Pierry6

Descritores: criança, brincar, simbólico.

INTRODUÇÃO: É a partir do segundo ano de vida que a criança passa a viver num mundo de faz-de- conta que é repleto de seres imaginários. A expressão “faz-de-conta” é usada no sentido de uma conduta lúdica da criança, que desencadeia o uso da imaginação criadora pela impossibilidade de satisfação de seus desejos. O faz-de-conta enriquece a identidade da criança, porque exerce outras formas de pensar e de ser. Quando a criança sonha e imagina, na brincadeira, é uma forma desses desejos tornarem-se realidade, criando situações que ajudam a satisfazer algo em seu interior. Vygotsky apud Rocha (1984) assinala algumas funções básicas do brincar, uma delas, é permitir que a criança aprenda a elaborar situações conflitantes do dia a dia, para isso usará capacidades como a observação, a imitação e a imaginação. Essas representações darão lugar a um faz-de-conta mais elaborado, que auxiliará a entender papéis sociais que fazem parte de nossa cultura, através desta imitação a criança vai aprender a lidar com regras e normas sociais. Aberastury (1982) explica que o brincar permite que a criança vença o medo aos objetos, vencendo, também, o medo aos perigos internos, ou seja, o brincar estabelece uma ponte entre fantasia e realidade. Para Yanof (2007), o brincar é um modo extremamente eficaz para demonstrar afetos, através da expressão facial, da linguagem corporal e do tom de voz, sendo que, em palavras torna-se mais difícil expressa-los, principalmente na infância. Zavaschi e Bassols, em relação a este ponto, discorrem que ao longo do processo de desenvolvimento, o brincar compreende a comunicação não-verbal e a pré-verbal, surgindo quando as palavras ainda não substituem as idéias, e o pensamento se manifesta, na brincadeira, através da utilização do corpo infantil. Para Winnicott (1975), o brincar supõe a capacidade de viver uma experiência com correspondente maturidade do ego, que pode permitir-se a não-integração sem angustiar-se, vivendo-a dentro da zona de descanso, onde não há conflito entre o interno e o externo. OBJETIVOS: Através da pesquisa bibliográfica, compreender como o brincar atua no campo simbólico da criança, ajudando-a a elaborar seus conflitos internos e externos. METODOLOGIA: Revisão bibliográfica. RESULTADOS: Dentro do processo de análise, o brincar torna-se terapêutico no encontro do terapeuta com a criança, cuja tarefa principal é brincar. No momento em que ela vai descobrindo que brincar não é simplesmente divertir-se, e sim, expressar-se       

1 Reflexão teórica.

2 Graduanda em Psicologia (ULBRA-SM). 3 Psicóloga, Mestranda em Psicologia (UFSM). 4 Graduanda em Psicologia (ULBRA-SM).

5 Psicóloga (ULBRA-SM), pós-graduanda em Transtornos do Desenvolvimento na Infância e Adolescência – Abordagem Interdisciplinar (Lydia Coriat), atua no Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDEDICA). 6 Graduanda em Psicologia.

em uma linguagem que a ela mesma não entende, e que, desde o inicio, seu jogo é muito importante para a outra pessoa, a criança passa a expressar seu mundo interno na presença do analista, e a partir dessa vivencia lúdica, experiências dolorosas podem ser vividas e elaboradas (Waskman, 1985 apud Zavaschi e Bassols, 2006). Yanof (2007, p. 272), traz que “o brincar é um dos instrumentos mais valiosos que o analista de crianças possui para envolvê-las no processo psicanalítico de construção de significado e comunicação. Quando uma criança e um analista brincam juntos, eles conversam um com o outro em uma linguagem não-verbal, ainda que possam utilizar palavras como dialogo durante a brincadeira”. Segundo Franch (2001), a criança em análise pode encenar com os brinquedos ou com a própria pessoa do analista, pode desenhar, verbalizar, visando à representação e comunicação de fantasias inconscientes com a finalidade de elaborar angústias delas decorrentes. Para isso acontecer, vai depender dos instrumentos de simbolização que a criança possui. Além da elaboração de angústias, outra função do brincar, que é a de testar a realidade externa, por meio de aspectos da realidade interna. Com relação a isto, Glenn (1996) afirma que a criança nem sempre está ciente de seu sofrimento interno, mas, em vez disso, vê seus problemas como determinados pelo meio ambiente. Essa mesma criança é trazida para avaliação pelos pais, ao invés de vir por sua própria vontade e seu tratamento só pode ser instituído e ajudado a progredir pela participação e envolvimento ativo dos pais. Ainda, para Glenn (1996) é rara a criança que é trazida à terapia por ter pedido aos pais ajuda para seus problemas. Com mais freqüência, a criança é trazida para a consulta por causa da preocupação dos pais ou da recomendação da escola. Já Yanof (2007) diz que talvez o mais difícil da análise de crianças seja equilibrar o trabalho com a criança e o trabalho com os pais. Ainda que o analista esteja comprometido com a criação de um espaço reservado protegido para a criança, ele também tem que criar um “ambiente de sustentação” para os pais, para que eles possam sustentar o empenho analítico. A referida autora explica que trabalhar com crianças significa compreender como os seus problemas se encaixam na dinâmica do sistema familiar. Quando os pais trazem seu filho para tratamento, eles o fazem porque a criança está sofrendo e porque eles estão sofrendo. Eles enxergam a criança como o paciente, mas também vêem a si mesmos como inadequados. Para Brun (2001, p. 20) “a consulta com o psicanalista pode se transformar para os pais no equivalente ao seu quarto para as crianças, isto é, um lugar misterioso. Para eles e para a criança, o equilíbrio entre uma culpa muito manifestada, ou, ao contrario, muito escondida, é muito difícil de adquirir, sobretudo porque o sentimento de culpa, para eles para ela, é uma fonte considerável de resistência ao desenvolvimento da análise”. Mesmo que a análise de crianças tenha se agregado aos costumes, as fantasias dos adultos sobre o que se diz e o que acontece durante as sessões entre a criança e o analista ainda é muito grande. Seja qual for o motivo da consulta e a natureza dos sintomas, a maioria dos pais imagina que seu filho revelará os segredos familiares, e não conseguem evitar interrogá-lo para saber o que aconteceu (BRUN, 2001). Para a mesma autora, é importante avisar a criança do comparecimento de seus pais na próxima sessão, sugerir-lhe que venha ao encontro, propor aos pais que a entrevista seja feita em uma hora diferente do horário regular da criança. Em concordância, Yanof (2007) diz que o analista deve ser honesto com as crianças a respeito dos encontros com os pais e de sua finalidade. O analista precisa explicar o

mundo interior da criança para os pais sem fornecer detalhes sobre as confidencias dela. “A opção de reduzir ao mínimo o numero de contatos com os pais não significa não levar em conta a realidade da criança, sua impotência fisiológica nem sua filiação. E o contrário, ser um psicanalista acessível em todo momento as intervenções dos pais poderia levar a uma falta de respeito em relação ao paciente que é a criança” (BRUN 2001, p. 31). Mas, para Rosenberg (2002) se não for aberto um espaço de escuta para os pais, a análise da criança não se torna possível. Yanof (2007) aponta para o fato de que os pais precisam sentir que estão em parceria com o analista, as crianças simultaneamente precisam sentir que a análise continua sendo um lugar privado em que elas podem dizer ou brincar do que quiserem. CONCLUSÃO: “brincar é uma atividade sofisticadíssima na criação da externalidade do mundo. É brincando que se aprende a usar objetos do mundo, sem perder contato com a própria subjetividade. Por meio do brincar, podemos fazer coisas, pois brincar é fazer, é uma experiência que envolve o corpo, os objetos, um tempo e um espaço. Enfim, brincar permite desenvolver a tolerância à frustração, canalizar a agressividade, usar objetos da realidade externa que são transfigurados, de acordo com a fantasia.” (Parente, 2005, p.27).

REFERÊNCIAS

ABERASTURY, A. Psicanálise da criança – Teoria e técnica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982. FERRO, A. A técnica da psicanálise infantil: a criança e o analista da relação ao campo emocional. Rio de Janeiro: Imago, 1995.

YANOF, J. A. Técnica na análise de crianças. in: PERSON, Ethel S; COOPER, Arnold M; GABBARD, Gleen O. (orgs.) Compêndio de Psicanálise. Porto Alegre: Artmed, 2007.

BRUN, D. O romance familiar da criança como paradigma de sua análise. In: GRAÑA, R.B.; PIVA, Â.B.S. (orgs.) A atualidade da psicanálise de crianças: perspectivas para um novo século. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001.

FRANCH, N.J.P. O suporte da comunicação no brincar da criança. In: GRAÑA, Roberto B.; PIVA, Ângela B.S. (orgs). A atualidade da psicanálise de crianças: perspectivas para um novo século. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001.

ROSENBERG, A.M. O lugar dos pais na psicanálise de crianças. São Paulo: Escuta, 2002.

ROCHA, M.S.P.M.L. A Constituição Social do Brincar: Modos de abordagem do real e do imaginário no trabalho pedagógico. São Paulo: Martins Fontes, 1984.

PARENTE. S.M.B.A. A Criação da Externalidade do Mundo. Viver mente & cérebro – Coleção Memória da Psicanálise - São Paulo, nº 5, p.22-27, 2005.

GLENN, J. Psicanálise e psicoterapia de crianças. Porto Alegre: Artes Médicas,1996.

ZAVASCHI, Maria L S e BASSOLS, Ana M S. Contratransferência no atendimento a crianças. In: ZASLAVSKY, Jacó; SANTOS, Manuel J P e cols. Contratransferência: Teoria e Prática Clínica. São Paulo: Artes médicas, 2006.

No documento ANAIS SEMINARIO BIOETICA 21 12 (páginas 139-142)

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