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IMPLICAÇÕES ÉTICAS NA VISITA DOMICLIAR A USUÁRIOS PORTADORES DE PERDAS FUNCIONAIS E DEPENDÊNCIAS

No documento ANAIS SEMINARIO BIOETICA 21 12 (páginas 129-133)

BIOÉTICA E EDUCAÇÃO

30. IMPLICAÇÕES ÉTICAS NA VISITA DOMICLIAR A USUÁRIOS PORTADORES DE PERDAS FUNCIONAIS E DEPENDÊNCIAS

Margot Agathe Seiffert ² Maria de Lourdes Denardin Budó ³ Celso Leonel Silveira 4 Clarissa Potter 5 FIEX Descritores: Bioética, Enfermagem, Visita Domiciliar.

INTRODUÇÃO: Observa-se atualmente uma alteração demográfica acentuada no Brasil, que já não é um país jovem. A previsão dos demógrafos é de que no ano 2020 existam cerca de 1,2 bilhões de idosos no mundo, dentre os quais 34 milhões serão brasileiros acima de 60 anos, que corresponderão à sexta população mais velha do mundo (MINAYO e COIMBRA, 2002). A esperança de vida ao nascimento é de 68,6 anos, sendo 64,8 anos para o sexo masculino e 72,6 anos para o sexo feminino (IBGE, 2000). O aumento da expectativa de vida, somado aos avanços tecnológicos na saúde, permitem, na atualidade, a sobrevida de pacientes com possibilidades terapêuticas limitadas, resultando no aumento da população com idade avançada, portanto, suscetível a maior incidência de doenças crônicas incapacitantes (SILVA et. al. 2003). Desta forma, embora a expectativa de vida tenha aumentado a qualidade de vida não acompanhou essa expansão na sociedade brasileira, assim, os idosos envelhecem com maior grau de dependência em virtude do aparecimento destas doenças (DUAYER e OLIVEIRA, 2005). Por outro lado, faz-se necessário o estabelecimento de redes de atenção para dar suporte a construção da integralidade, nunca atingida em um único serviço (HARTZ e CONTANDRIOPOULOS, 2004). Esses aspectos têm reforçado a necessidade de implementação de ações de saúde voltadas para a prática mais humanizada, em que se respeitem os direitos dos usuários, com preservação de suas relações familiares, valores socioculturais, bem como a individualidade e a subjetividade de cada pessoa. A visita domiciliar constitui uma atividade utilizada com o intuito de subsidiar a intervenção no processo saúde-doença de indivíduos ou o planejamento de ações visando a promoção de saúde da coletividade e ainda, possibilita ao profissional de saúde conhecer o contexto de vida do usuário do serviço de saúde e a constatação “in loco” das reais necessidades, condições de habitação, bem como a identificação das relações familiares (TAKAHASHI e OLIVEIRA, 2001). O estudo emergiu da experiência de acadêmicos e docentes de enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria que participam do Projeto de       

1 Reflexão Teórica

2 Autora:Acadêmica do 5º semestre do curso de enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), membro do grupo de pesquisa “ Cuidado, saúde e Enfermagem”.

3 Autora: Prof.ª Drª do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Vice-Presidente do grupo de pesquisa “ Cuidado, saúde e Enfermagem”.

4 Autor: Enfermeiro formado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), membro do grupo de pesquisa “ Cuidado, saúde e Enfermagem”.

5 Autora: Acadêmica do 7º semestre do curso de enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), membro do grupo de pesquisa “ Cuidado, saúde e Enfermagem”.

Extensão “Cuidado a usuários portadores de perdas funcionais e dependências no ambiente domiciliar”. O projeto é desenvolvido em uma Estratégia de Saúde da Família (ESF) do município de Santa Maria, e tem por objetivos estimular a autonomia do usuário portador de perda funcional e dependência e dar suporte aos cuidadores e a família. O projeto de extensão se faz necessário uma vez que em pesquisa realizada na mesma ESF, encontrou-se um número significativo de usuários com perdas funcionais, decorrentes de sequelas de doenças crônico-degenerativas como acidente vascular cerebral e outras doenças cardiovasculares, artrite, artrose, entre outras, demandando assim, de cuidados domiciliares (BUDÓ e MATTIONI, 2007). Desta maneira, as visitas tornam-se um instrumento importante para o conhecimento das reais necessidades dos usuários e familiares do serviço, para que se possa apoiar e incentivar a autonomia para realização do autocuidado destes sujeitos. OBJETIVOS: O resumo tem por objetivo refletir sobre as atividades realizadas nas visitas domiciliares e suas implicações éticas. Com isso, pretende-se realizar o aprofundamento da discussão e o embasamento teórico, para que os acadêmicos de enfermagem que participam do projeto de extensão tenham uma melhor visão do assunto, sobre a importância das questões éticas nas visitas domiciliares e que isso possa ser refletido durante a realização das mesmas. METODOLOGIA: Para a realização da reflexão teórica realizou-se uma busca de bibliografias em artigos indexados nas bases de dados da Biblioteca Virtual de Saúde e em livros. RESULTADOS: A visita domiciliar é considerada uma tecnologia de interação capaz de contribuir para uma nova proposta de atendimento integral e humanizado, conforme as propostas de reorientação do modelo de atenção preconizadas pelo Sistema Único de Saúde (ALBUQUERQUE e BOSI, 2009). Os cuidados domiciliários de saúde compreendem o conjunto de atos e relações que acontecem no domicílio, envolvendo usuário, familiares e equipe de saúde, com a finalidade de promover a inclusão social, a melhoria da qualidade de vida, a preservação ou a recuperação da saúde por meio da instrumentalização do usuário e/ou seu cuidador e da disponibilização direta ou referenciada dos recursos materiais e humanos necessários à realização das ações pertinentes à sua condição de saúde (DUAYER e OLIVEIRA, 2005). De acordo com Martins et al (2007) os conhecimentos que fornecem subsídios para o cuidar do idoso e de seu cuidador familiar incluem o entendimento das necessidades humanas básicas, bem como adaptações e mudanças que ocorrem ao longo da vida que, por sua vez, apresentam dimensões biológica, psicológica, social, cultural e espiritual. O domicílio, por sua vez, não apresenta as características de uma instituição formal de saúde. É o local em que os seres humanos convivem e tornam propícios os cuidados individualizados. É um ambiente permeado por diversos aspectos culturais, de significância aos seus moradores e frequentadores. Estes aspectos devem ser considerados toda vez que se realiza a visita domiciliar e propõem-se intervenções. Neste sentido, Pessini e Barchifontaine (2007) nos dizem que o ser humano, como produto da natureza, amadurece como os outros seres naturais. Essa maturidade humana é alcançada por meio do estágio ético, ou seja, na fase em que ele, autônomo e livre, age de acordo com valores adequados ao seu modo de existir. Esses valores são culturais, frutos de experiência e tradição humana. O modo como esses valores são levados em conta pelo profissional que irá realizar a visita domiciliar determinará a relação de vínculo e confiança formada entre este e o usuário. Assim,

Duayer e Oliveira (2005) ressaltam que os sentimentos experimentados no cuidado criam vínculos entre usuários, equipe de saúde e familiares, laços de confiança geradores de solidariedade, que podem proporcionar melhor qualidade de vida. A visita domiciliar pode ser entendida como um momento rico, no qual se estabelece a escuta qualificada, o vínculo e o acolhimento, favorecendo que os grupos familiares tenham melhores condições de se tornarem mais independentes na sua própria produção de saúde (LOPES, SAUPE e MASSAROLI, 2008). Os profissionais da saúde devem respeitar o usuário e sua família, observando os princípios bioéticos da autonomia, justiça, beneficência e não-maleficência, princípios estes que subsidiam a dignidade humana, tornando-se um componente essencial da qualidade do cuidado (ANJOS, 2004). Esses princípios precisam ser refletidos na prática profissional, pois a ética profissional envolve motivações, ações, ideais, valores, princípios e objetivos, além de ser um mecanismo que regula as relações sociais do homem, garantindo a coesão social, tendo em vista a harmonização dos interesses individuais e coletivos (SELLI, 1998). Dentre os princípios bioéticos, a autonomia é um dos principais para que possamos agir respeitando a vontade do usuário, uma vez que a autonomia pode ser entendida como a capacidade inerente ao homem de elaborar leis para si mesmo, de agir de acordo com sua própria vontade, a partir de escolhas ao alcance pessoal, diante de objetivos por ele estabelecidos, sem restrições internas ou externas (BARBOSA e SILVA, 2007). Para Ciccaio (2001) o direito a autonomia começa a ser uma preocupação para a enfermagem, pois o enfermeiro tem reconhecido que o usuário e seus familiares possuem direitos que os permitem participarem nas decisões relativas à condução do tratamento, e que juntos com os profissionais de saúde, podem tomar decisões com o objetivo de ter um tratamento eficiente, mas levando em consideração o próprio plano de vida da família, suas crenças, aspirações e valores próprios. CONCLUSÕES: Desta forma, conclui-se que ao adentrarmos no domicílio das famílias temos que levar em conta os valores morais e culturais que possuem, o conhecimento que adquiriram ao longo de suas vidas, o respeito às suas individualidades e necessidades. É preciso saber que o usuário e sua família são pessoas independentes, possuem vontades próprias e são livres para fazer suas escolhas. Deve-se respeitar a autonomia do usuário, tornando-o participante na tomada de decisões sobre o tratamento, levando em conta as necessidades específicas de cada um. Assim, é possível formar um vínculo de confiança com os usuários, tornando a visita domiciliar mais efetiva e de qualidade, levando em consideração todas as implicações éticas que circundam essa prática de cuidado.

REFERÊNCIAS:

ALBUQUERQUE, A. B. B.; BOSI, M. L. M. Visita domiciliar no âmbito da Estratégia Saúde da Família: percepções de usuários no Município de Fortaleza, Ceará, Brasil. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 25, n. 5, p.1103-1112, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br> Acesso em 30 outubro 2009.

ANJOS, M. F. Dignidade humana em debate. Bioética. 2004, v.12, n.1, p.109-114.

BARBOSA, I. A.; SILVA, M. J. P. Cuidado humanizado de enfermagem: o agir com respeito em um hospital universitário. Rev. Bras. Enferm. Brasília, 2007. set-out, v.60, n.5, p.546-551.

BUDÓ, M. L. D.; MATTIONI, F. C. Relatório Anual CNPq. Diagnóstico de saúde de uma região sanitária de Santa Maria. UFSM, 2007.

CICCAIO, S.R. Autonomia do doente institucionalizado na percepção de enfermeiras de um hospital público (tese de doutorado). São Paulo (SP). Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, 2001.

DUAYER, M. F. F.; OLIVEIRA, M.A.C. Cuidados domiciliários no SUS: uma resposta às necessidades sociais de saúde de pessoas com perdas funcionais e dependência. Saúde em Debate, Rio de Janeiro, v.29, n.70, p.198-209, 2005. Disponível em: < http://www.cebes.org.br > Acesso em 02 outubro 2009.

HARTZ, Z. M. A.; CONTANDRIOPOULOS, A-P. Integralidade da atenção e integração de serviços de saúde: desafios para avaliar a implantação de um “sistema sem muros”. Cad. Saúde Pública 2004; 20 (Sup 2): S331 – S336.

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MARTINS, J. J. et al. Necessidades de educação em saúde dos cuidadores de pessoas idosas no domicílio. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, v. 16, n. 2, p. 254-62, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br> Acesso em 30 outubro 2009.

MINAYO, M.C.S.; COIMBRA Jr., C.E.A. Entre a liberdade e a dependência: reflexões sobre o fenômeno social do envelhecimento. In.: MINAYO, M.C.S.; COIMBRA Jr., C.E.A. (orgs.). Antropologia, Saúde e Envelhecimento. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2002.

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