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EUTANÁSIA: BREVES REFLEXÕES

No documento ANAIS SEMINARIO BIOETICA 21 12 (páginas 151-155)

MULTIPROFISSIONAL COM FAMILIARES DE POTENCIAIS DOADORES DE ÓRGAOS

37. EUTANÁSIA: BREVES REFLEXÕES

Raquel Pötter Garcia2 Karla Cristiane Oliveira Bertolino3

Stefanie Griebeler Oliveira4 Tassiane Ferreira Langendorf5 Descritores: Eutanásia; Enfermagem; Ética.

INTRODUÇÃO: Com o avanço das tecnologias e o simultâneo aumento da expectativa de vida surgiram novas doenças, além da possível evolução das que já eram existentes. Com isso, detecta- se a necessidade de novas abordagens quanto aos cuidados e também a promoção de qualidade de vida perante o enfrentamento das enfermidades. É nesse contexto que surge a eutanásia, a qual, o termo conforme Marcelino (1997) tem origem grega, e pode ser definida como boa morte ou morte dada por piedade, por compaixão. Em uma abordagem contemporânea, Lepargneur (1999) diz ainda que a eutanásia seria o emprego ou abstenção de procedimentos que permitem apressar ou provocar o óbito de um doente incurável, a fim de livrá-lo dos extremos sofrimentos que o rodeiam. Oliveira et al. (2003) relatam o aparecimento das mais variadas definições para a prática, a qual assume diferentes significados conforme a época e o autor que a utiliza, além da maneira pessoal como cada indivíduo a percebe. OBJETIVOS: O presente trabalho busca refletir e discutir acerca da temática da eutanásia, promovendo o aprimoramento de conhecimentos e proporcionando o intercâmbio de ideias, a fim de auxiliar nas atividades desempenhadas pelos enfermeiros. METODOLOGIA: Essa reflexão teórica trata-se de um recorte de um texto argumentativo que foi proposto pela disciplina de Exercício de Enfermagem do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Além disso, ela inclui também discussões realizadas entre acadêmicos de Enfermagem e alguns integrantes do programa de pós-graduação em Enfermagem (Mestrado) da UFSM. Muitas dessas discussões giraram em torno da profissão de Enfermagem perante a eutanásia e a maneira que o profissional enfrenta tais situações na sua prática cotidiana. RESULTADOS: Durante o desenvolvimento do trabalho e da busca de materiais bibliográficos para tal, pôde-se observar que a eutanásia, embora muitas vezes de maneira figurada, está inserida na sociedade desde os primórdios da civilização. Um exemplo disso se encontra na própria Bíblia, no momento em que um de seus escritos relata um episódio em que um rei pede ao seu escudeiro que lhe tire a vida (GOLDIM, 2003).       

1 Trabalho de reflexão teórica.

2 Relatora. Acadêmica do sextosemestre do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem/UFSM. E-mail: raquelpotter_@hotmail.com.

3 Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGENF)/UFSM. Bolsista CAPES. Membro efetivo do Grupo de Estudos e Pesquisas em Enfermagem e Educação em Saúde (GEPES) e do Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Saúde (NEIS)/UFSM.

4 Enfermeira. Especialista em Saúde Pública e em Acupuntura. Mestranda do PPGENF/UFSM. Membro do NEIS e do Grupo de Pesquisa Cuidado, Saúde e Enfermagem.

5 Acadêmica do sexto semestre do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado à Saúde das Pessoas, Famílias e Sociedade (PEFAS). Bolsista de Iniciação Cientifica – FAPERGS.

Desde esse período até os dias atuais, muitas mudanças ocorreram para que a eutanásia fosse devidamente debatida e comentada pelas pessoas. A eutanásia, para Kovàcs (2003), apresenta várias facetas, a iniciar-se com a possibilidade de que não se destina apenas ao paciente terminal, isto é, podendo também ser realizada a outro indivíduo, que tem possibilidade de controle da doença, no momento que são retirados tratamentos para que ocorra a morte. Nesta linha, acredita-se que ela pode ser direcionada como racionalização do tratamento, principalmente a grupos vulneráveis e excluídos como idosos, doentes mentais e pobres. Ainda há a outra face da eutanásia, a qual muitos grupos que se mostram a favor desta prática sustentam a valorização da autonomia da pessoa, ou seja, ela tem o direito de decidir quando e como quer morrer. Neste entendimento, segundo Goldim (2003), ela ainda é proibida em diversos países, o que promove grandes divergências de opiniões e intrincadas discussões acerca da temática. Visto que os casos de doentes terminais são comuns ao cotidiano de trabalho dos profissionais de enfermagem, torna-se relevante o conhecimento dos seus direitos e deveres para que, assim, possam se respaldar legalmente perante suas ações no cotidiano laboral. É por esse motivo que estes profissionais devem empoderar-se do código de ética da profissão, já que este proíbe a execução ou participação de qualquer prática destinada a antecipar a morte do doente (CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM, 2007). Dessa forma, podem ser identificadas diversas tipologias, as quais segundo Goldim (2003) dependem muito do critério utilizado para a classificação. Nessa perspectiva, o mesmo autor fala que a eutanásia pode ser realizada quanto ao tipo de ação e/ou também quanto ao consentimento do paciente. Salienta-se ainda que outros autores, como Asúa (1984), classificam a prática em questão de diversas outras maneiras, sendo elas vinculadas ao direito do paciente, ou até mesmo com a finalidade de supressão da vida daquelas pessoas consideradas inválidas para a sociedade, de acordo com o que Santos propôs em 1992. Por este viés, visualiza-se a dificuldade da realização de um estudo que inclua uma única vertente de pensamento, uma vez que, conforme Horta (1999) e Lepargneur (1999), a delimitação dos termos referentes à bioética do fim da vida está longe de ser adequado, pois há uma grande polissemia do vocábulo, o qual é concebido de acordo com as variações culturais e temporais das civilizações. Por essas considerações, pode-se afirmar que o enfermeiro necessita respaldar-se de suas reais funções dentro de um serviço de saúde, uma vez que são imprescindíveis as reflexões a respeito das relações teóricas e da vida prática sobre o cotidiano dos profissionais de saúde, tão intimamente relacionados com a morte (MEDEIROS, 2006). Para Sousa (2003), a humanização da vida coloca-se aos profissionais de saúde como um desafio ético, já que se deve garantir a liberdade, a cidadania, a autonomia, a dignidade da pessoa humana, a beneficência e a justiça. No entanto, questiona-se se diante de toda a complexidade que permeia a prática profissional, se será possível um equilíbrio entre o desejo dos avanços da medicina, a legislação vigente, a vontade do homem e desígnios da natureza (SOUSA, 2003). CONCLUSÕES: Diante do exposto, fica evidente a necessidade da constante busca de subsídios que forneçam um aprimoramento da atividade profissional de Enfermagem perante as situações de morte, as quais possam envolver procedimentos inerentes à eutanásia. O conhecimento das tipologias é fundamental para a condução adequada e ética de todas as tarefas realizadas dentro de uma instituição de saúde, uma vez que a eutanásia é

proibida pela Constituição Federal Brasileira, além de ser considerada crime pelo Código Penal Brasileiro. Os profissionais de enfermagem devem aprender a lidar com as necessidades de todos os doentes, sobretudo do doente terminal, no intuito de proporcionar melhores condições para que este consiga suportar o enfrentamento da doença até o fim da sua vida. No entanto, lidar com situações limite favorece o aparecimento de sentimentos de impotência diante da realidade, pois muitas vezes, o doente em sofrimento intenso, expressa o desejo de suprimir sua vida. É nesse sentido que as proposições de humanização e legislação se contradizem, pois de que maneira podemos humanizar com respeito a autonomia do doente, quando não nos é permitido realizar o seu maior desejo? Talvez essa questão seja respondida com a ideia de Kovàcs (2003), quando se refere ao fato do paciente não ser ouvido sobre quando quer morrer. Ouvir não significa atender, mas estabelecer uma relação de compreensão, de conforto e de atenção frente à angústia enfrentada pelo paciente nos limites entre vida e morte. Este momento significa que é preciso deixar morrer, mas não permitir matar, a fim de não ferir os princípios éticos da profissão.

REFERÊNCIAS

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CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. Resolução COFEN 311/2007. Rio de Janeiro, 08 de fevereiro de 2007. Disponível em:

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________. Breve Histórico da Eutanásia. Porto Alegre, 2003. Disponível em: <http://www.ufrgs.br/bioetica/euthist.htm>. Acesso em: 19 out 2008.

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HORTA, M. P. Eutanásia: problemas éticos da morte e do morrer. Bioética, Brasília, v. 7, n. 1, p. 27- 34, 1999. Disponível em: <http://www.portalmedico.org.br/revista/bio1v7/problemas.htm>. Acesso em: 29 out 2009.

LEPARGNEUR, H. Bioética da eutanásia: argumentos éticos em torno da eutanásia. Bioética, Brasília, v. 7, n. 1, p. 41-48, 1999.

MARCELINO, S. M. R. Cuidando do paciente com câncer avançado em casa - acompanhamento por telefone. 1997. Monografia. Conclusão de Curso de Especialização em Projetos Assistenciais de Enfermagem. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Florianópolis, 1997.

MEDEIROS, R. O Enfermeiro...e a morte. Ordem dos Enfermeiros. 22 jun 2006. Disponível em: <http://www.ordemenfermeiros.pt/index.print.php?page=72&view=news:Print&id=279>. Acesso em: 25 out 2009.

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38. O AUTOCUIDADO COMO PREVENÇÃO DE AGRAVOS AO TRABALHADOR

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