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ABORTO: UM ESTUDO DE CASO A PARTIR DE UMA ABORDAGEM MULTIPROFISSIONAL

No documento ANAIS SEMINARIO BIOETICA 21 12 (páginas 116-119)

12 A SAÚDE E O TRABALHO NO CONTEXTO DA PRÁTICA DE UMA EQUIPE DE ENFERMAGEM DE PRONTO-SOCORRO 1

26. ABORTO: UM ESTUDO DE CASO A PARTIR DE UMA ABORDAGEM MULTIPROFISSIONAL

Letícia Fonseca2

Ângela Barbieri3 Daniela Rodrigues Rech4 Marizete Ilha Ceron5

Descritores: Aborto, Gravidez não planejada, Gravidez na adolescência

INTRODUÇÂO: A discussão sobre o aborto raramente aborda as questões éticas e morais de decisão de interromper a gestação. A gravidez indesejada não é primariamente um problema médico, mas antes um problema social dominado por valores morais e éticos. Os valores e posições contrárias dos profissionais de saúde ao abortamento aparecem quando se trata de atender mulheres em processo de abortamento incompleto que chegam ao serviço. Nestes casos, segundo Aguirre e Urbina (1997) apud SOARES (2003) a conduta tem sido estritamente normativa e punitiva, caracterizando a trajetória desumana das mulheres nos serviços de saúde. A busca por um atendimento ao abortamento incompleto termina, muitas vezes, por se constituir em uma vivência marcada pelo desrespeito. O aborto induzido ou provocado é um assunto de conhecimento de todos, porém, um ato ilegal em nosso país, um caso típico de controvérsia quanto ao fundamento ético; um problema, porém, de saúde pública pela freqüência com que ocorre, sendo que no Brasil representa a quarta causa de morte materna, devido a complicações. É uma prática comum em todas as classes sociais, idades e estado civil, porém, dependendo da situação financeira, os riscos são maiores ou menores, assinalando a diferença entre a adolescente de maior e de menor poder aquisitivo (TAKIUT, 1997). As adolescentes de maior poder aquisitivo utilizam as clínicas especializadas e têm acesso à assistência qualificada; enquanto, na maioria das vezes, as adolescentes de menor poder aquisitivo não recorrem ao aborto por não terem condições financeiras, buscando como alternativa pessoas não habilitadas e métodos abortivos rudimentares, que levam a graves complicações e morte (TAKIUT, 1997). A clandestinidade transforma o aborto em um negócio lucrativo, garantindo a impunidade para aqueles que o realizam. OBJETIVO: Reconhecer na gestante os motivos que a levaram a praticar o ato do aborto e; oferecer uma escuta qualificada com enfoque multiprofissional a fim de qualificar e humanizar a assistência. METODOLOGIA: Este trabalho trata-se de um relato de caso de uma menina (S.) de 13 anos, a qual foi internada no centro obstétrico de um hospital universitário após provocar um aborto por acreditar ser muito jovem para ser mãe. A paciente procurou o hospital       

1Relato de Experiência realizado pelo Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Sistema Público de Saúde, Santa Maria (RS), Brasil. Universidade Federal de Santa Maria/RS; UFSM. Orientado por Maria Salete Vogt, Fisioterapeuta, Doutora em ..., Professora Adjunta do Departamento de Fisioterapia e Reabilitação da UFSM.

2 Fisioterapeuta, Residente do Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Sistema Público de Saúde da UFSM. 3 Psicóloga, Residente do Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Sistema Público de Saúde da UFSM. 4 Enfermeira, Residente do Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Sistema Público de Saúde da UFSM. 5 Fonoaudióloga, Residente do Programa de Residência Multiprofissional Integrada em Sistema Público de Saúde da UFSM. Correspondência para: Letícia Machado Fonseca, Rua Marechal Floriano Peixoto nº 1419, apto. 05, Bairro Centro, Santa Maria, RS, CEP 97015-373. E-mail: letiofsm@yahoo.com.br

referindo sangramento vaginal intenso durante 3 dias após ter feito uso de medicamento abortivo. Sendo então realizado exame para verificar como se encontrava o tecido intra-uterino, assim como a idade gestacional, observando-se a presença de restos fetais, a fim de determinar a necessidade da realização de um processo de curetagem, o qual precisou ser realizado. Devido a situação-problema foi acionada a equipe de atuação da Residência Multiprofissional a fim de que esta estabelecesse um diálogo com S. e através deste pudesse esclarecê-la a respeito das prováveis consequências de tal ato, além de dar um retorno à equipe de referência no Centro Obstétrico. De uma maneira informal, procurou-se conversar acerca da prática abortiva, suas consequências, métodos contraceptivos, dando espaço à S. para que a mesma sentisse liberdade e autonomia ao falar sendo, assim, protagonista nesse processo educativo. RESULTADOS: Durante a intervenção, percebeu-se que a jovem não tinha orientação sexual por parte da família e nem pelas instituições de saúde e educação, sendo induzida pelas colegas da escola a provocar o aborto pelo uso de medicação abortiva. Em relação à ética do aborto induzido, os pontos de vista são extremos. De um lado há os que negam qualquer justificativa moral para o aborto, de outro, os que acham ser o aborto um direito da mulher. Geralmente debate-se o direito a vida contra o direito ao corpo, discute-se a biologia do desenvolvimento do feto, fala-se de saúde pública e do término do aborto clandestino, ou remete-se o problema para o nível exclusivo da consciência individual. Enfim, percebe-se um descaso por parte da saúde pública em relação à saúde das adolescentes visto a complexidade dessa fase do ciclo de vida. Percebe-se que a fase de adolescência é caracterizada por etapas de desenvolvimento físico, mental, emocional e social, passando de uma fase de dependência socioeconômica total a outra de relativa independência. Sabe-se que a transição da infância para a fase adulta é um processo lento; no entanto, se uma adolescente engravida, esta fase é transposta aos saltos, quando ainda está se adaptando às transformações que estão ocorrendo em seu corpo. Os motivos que levam uma adolescente a engravidar são variados e de diversas ordens. Muitas pesquisas mostram que o início da atividade sexual pelos jovens é cada vez mais precoce; a transa faz parte do namoro, com baixa incidência do uso de métodos anticonceptivos. Umas desejam engravidar como parte do processo da busca da identidade. Porém, a desinformação é uma das principais causas, pois a falta de informação a respeito da sexualidade faz do assunto um tabu, e esta atitude provoca curiosidade, que muitas vezes é satisfeita entre amigos. Desse modo, as adolescentes engravidam sem ao menos saberem o que está acontecendo com seu corpo, por não associar a relação sexual com a fecundidade, por não tomarem medidas para prevenir uma gravidez. Só encaram o problema quando já estão grávidas e, para muitas delas, o aborto é um método contraceptivo. Na adolescência a gravidez é sempre considerada de alto risco, porque pode propiciar o aparecimento de uma série de complicações para mãe e para o feto, pelas alterações biológicas, psicológicas, sociais e culturais que podem advir. Com relação às repercussões para a saúde da adolescente, a gravidez representa uma das principais causas de morte de mulheres entre 15 e 19 anos seja por complicação na própria gravidez, no parto ou pela prática clandestina do aborto (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1999). Para muitas adolescentes a gravidez pode significar realização e felicidade, fruto de um momento de prazer, sendo esta desejada. Porém, para maioria delas o resultado positivo de gravidez significa momento de tristeza, medo,

insegurança e até mesmo desespero, pois a gravidez não estava nos seus planos e a responsabilidade pela maternidade recai totalmente sobre elas. A decisão de ser ou não ser mãe não é uma decisão fácil e o que, aparentemente, parece ser uma decisão individual, envolve uma série de fatores. O aborto torna-se, então, a única saída para estas adolescentes e, neste desafio, elas arriscam suas próprias vidas, quando decidem interromper a gravidez utilizando-se de quaisquer recursos que tenham à mão. Esta decisão muitas vezes é vivida de forma solitária e clandestina, ou sobre pressão dos parceiros ou familiares. O sentimento de abandono não significa necessariamente que sejam deixadas sozinhas, mas sim porque o parceiro e familiares são os primeiros a propor o aborto, sem maiores indagações (CHAUÍ, s.d). Por ser proibido, o aborto leva a pressões psicológicas e sociais muito grandes, sendo carregado de medo, culpa, censura, vergonha, e estas adolescentes ainda enfrentam o desprezo, a humilhação e o julgamento dos profissionais de saúde. CONCLUSÕES: Nesse processo, mesmo tendo acontecido por iniciativa própria, deve-se considerar as causas dessa atitude extrema. De tal modo, entende-se que a prevenção de gestações indesejáveis através de métodos seguros é salutar tanto ao físico quanto ao psicológico e o social da mulher. Assim, é papel dos profissionais de saúde tratar a mulher que praticou o aborto como um ser humano, com as suas particularidades. É fundamental compreender o posicionamento da mulher que provocou o aborto, levando em consideração sua individualidade e os motivos que a levaram a realizar tal ato.

REFERÊNCIAS

CHAUÍ, M. Mãe, mulher ou pessoa: discutindo aborto. São Paulo: Lua Nova; s.d.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Políticas de Saúde (BR). Saúde e desenvolvimento da juventude brasileira: construindo uma agenda nacional. Brasília: MS; 1999.

SOARES, G. S. Profissionais de saúde frente ao aborto legal no Brasil: desafios, conflitos e significados. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, supl. 2, p.399-406, 2003.

TAKIUT, A. D. A saúde da mulher adolescente-1993. In: MADEIRA, F. R. Quem mandou nascer mulher? Rio de Janeiro: Record/Rosa dos Tempos; 1997. p. 213-90.

27. ANÁLISE DO NÍVEL DE SATISFAÇÃO DOS PACIENTES CIRÚRGICOS EM

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