12 A SAÚDE E O TRABALHO NO CONTEXTO DA PRÁTICA DE UMA EQUIPE DE ENFERMAGEM DE PRONTO-SOCORRO 1
25. ENFERMAGEM NO PERIOPERATÓRIO DE CIRURGIA CARDÍACA – ANÁLISE DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA
Juliane Umann2
Laura de Azevedo Guido3 Graciele Fernanda da Costa Linch4 Lilian Medianeira Coelho Steckel5
Luiza de Oliveira Pitthan6
Descritores: enfermagem; cardiologia; assistência perioperatória.
INTRODUÇÃO: Com o intuito de contribuir e somar esforços para a melhoria da assistência de enfermagem perioperatória, propôs-se a presente revisão integrativa (MENDES et al, 2008). OBJETIVO: identificar e analisar as produções cientificas disponíveis na literatura sobre a assistência perioperatória de enfermagem ao paciente em cirurgia cardíaca. METODOLOGIA: Para guiar a revisão integrativa, formulou-se a seguinte questão: O que tem sido produzido na literatura nacional e internacional sobre assistência de enfermagem ao paciente no perioperatório de cirurgia cardíaca? A busca foi realizada em junho de 2009 nas seguintes bases de dados: Scientific Electronic Library
Online (SCIELO), Base de Dados de Enfermagem (BDENF) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciencias da Saúde (LILACS), com a associação dos descritores: “enfermagem AND cirurgia cardíaca” e “enfermagem AND cardiologia”. Incluíram-se na investigação artigos, dissertações e teses que abordassem a assistência de enfermagem ao paciente no perioperatório de cirurgia cardíaca, publicados em português, inglês ou espanhol, com os resumos disponíveis nas bases de dados selecionadas, no período compreendido entre 1999–2009. As publicações encontradas foram analisadas pela estatística descritiva, utilizando-se freqüência absoluta (n) e percentual (%). Após a leitura das pesquisas selecionadas na integra prosseguiu-se com a análise de conteúdo e categorização das temáticas relacionadas a assistência de enfermagem perioperatória em cirurgia cardíaca, com base na semelhança entre os estudos. RESULTADOS: A busca resultou em 232 estudos, dos quais 43 apresentaram-se repetidos em mais de uma base de dados. Assim, das 189 publicações restantes 30 foram selecionadas para compor este estudo. Ao analisar o conjunto da amostra, verificou-se que das 30 publicações selecionadas, 26 eram artigos científicos, três dissertações e uma tese. Na distribuição dos resultados da busca pelo local de origem das publicações, tem-se que a maioria das pesquisas foi desenvolvida no Estado de São Paulo (46,6%), seguido por Rio de Janeiro (13,33%), Ceará e Paraná (10%), Rio Grande do Sul (6,67%), Santa
1 Relato de pesquisa
2 Enfermeira, Mestranda em Enfermagem pela UFSM, membro do grupo de estudos e pesquisas Trabalho, Saúde, Educação e Enfermagem e da linha “Stress, coping e burnout”.
3 Enfermeira,Doutora em Enfermagem pela EE/USP, Coordenadora Substituta do PPGEnf/UFSM Professora Adjunto do Depto. de Enfermagem da UFSM, coordenadora da linha de estudos e pesquisas “Stress, coping e burnout”;.
4 Enfermeira, Mestranda em Enfermagem pela UFSM, Bolsita CAPES, membro do grupo de estudos e pesquisas Trabalho, Saúde, Educação e Enfermagem e da linha“Stress, coping e burnout”.
5 Enfermeira, Mestranda em Enfermagem pela UFSM, membro do grupo de estudos e pesquisas Trabalho, Saúde, Educação e Enfermagem e da linha“Stress, coping e burnout”.
Catarina e Goiás (3,33%). Ainda 2 publicações de origem Espanhola e Colombiana. Com relação ao idioma de publicação, apenas dois artigos foram publicados em espanhol, sendo o restante em português. Quanto ao período de publicação, constatou-se que seis estudos foram desenvolvido no ano de 2006 (20%), seguido por quatro publicações/ano em 2002 e 2005, com 13,33% cada um, três pesquisas/ano em 2003, 2004, 2007 e 2008 (10%) e dois estudos/ano em 2000 e 2001 (6,67%). Quanto ao tipo de delineamento de pesquisa na amostra estudada, identificou-se que 27 publicações se tratavam de pesquisas originais e utilizaram abordagens metodológicas qualitativas (33,34%) e quantitativas (56,67%%), um relato de experiência e duas revisões de literatura. Dentre os estudos analisados, o período perioperatório de cirurgia cardíaca envolvido nas investigações com maior freqüência foi pós-operatório (50%), precedido pelo período pré-operatório (26,67%) e período trans- operatório (6,67%). Ainda, quatro estudos (13,33%) foram desenvolvidos com foco nos períodos pré e pós-operatórios e uma pesquisa em perioperatório (3,33%). Com a classificação das publicações selecionadas em categorias, observou-se maior número de estudos sobre cuidados de enfermagem em cirurgia cardíaca (46,66%), precedido por pesquisas que abordaram as percepções e sentimentos do paciente frente ao processo cirúrgico (30%) e publicações sobre diagnósticos de enfermagem perioperatória de cirurgia cardíaca (23,34%). A primeira categoria temática é composta pelas pesquisas que remetem aos cuidados de enfermagem em cirurgia cardíaca e representam a maior parte das publicações desta revisão integrativa. Ao considerar as repercussões e implicações envolvidas na vivencia de uma intervenção cirúrgica cardíaca pelos pacientes e seus familiares como também o simbolismo atrelado a esse órgão, as investigações focalizam na busca de estratégias para minimizar o desgaste decorrente desse processo. Assim, com o objetivo de promover a saúde dos envolvidos no processo cirúrgico, enfermeiras de um hospital central no Rio Grande do Sul relatam a prática da implementação de modelos assistenciais que visem a participação ativa dos pacientes e familiares envolvidos no processo cirúrgico na recuperação e reabilitação por meio da reeducação de seus hábitos (DE GASPERI et al, 2006). Sob outra ótica, pesquisas (ANDRADE,2002; CAVALCANTI et al, 2007ab)analisam o processo de cuidar e as interações existentes no cuidado do paciente em cirurgia cardíaca, evidenciando que é possível desenvolver cuidado humanizado técnico e tecnológico, mesmo diante de momentos em que a interação é dificultada, com base em praticas sistematizadas que privilegiem a comunicação. Da mesma maneira, outro estudo (BAGGIO et al, 2001) também considera a interação como importante ferramenta no cuidado em cirurgia cardíaca, com praticas de orientação que instrumentalizam os pacientes para o enfrentamento do processo cirúrgico. Ainda, outros autores (ALMEIDA et al, 2008; LIMA et al, 2005; BOAZ et al, 2006; CARVALHO et al, 2006) enfatizam a realização de intervenções educativas no perioperatório com base na identificação das necessidades psicobiologicas e psicossociais, com vistas a prevenção de danos, minimização de riscos e ao estimulo à pratica do autocuidado. Em estudos de revisões de literatura (SIMARRO, 2002; GALVIS, 2001) ainda apresentam um panorama geral sobre a assistência de enfermagem em cirurgia cardíaca, apontando para a importância da sistematização do cuidado em perioperatório de cirurgia cardíaca, com ênfase na implementação do processo de enfermagem e nas intervenções específicas para este grupo, desde a internação até a alta hospitalar. Nesta perspectiva,
outros estudos (SILVA et al, 2005; FEU et al, 2008) evidenciam a sistematização da assistência de enfermagem com vistas a qualificar o cuidado em perioperatório de cirurgia cárdica, uma vez que consiste na identificação e registro de informações relevantes nesse processo e assim, representam as necessidades e intervenções características desse grupo, sustentando o planejamento das ações e implementação do cuidado individual e humanizado. A segunda categoria temática inclui pesquisas que contemplam as percepções e sentimentos do paciente frente ao processo cirúrgico. Frente à notícia da necessidade de realização de uma cirurgia cardíaca, sentimentos como medo, ansiedade são foco de alguns estudos (BACHION et al, 2004; SILVA, 2002; VARGAS et al,2006) realizados com pacientes no pré-operatório e sinalizam a necessidade de elaboração de protocolo de intervenções especificas para esse grupo. Sentimento como impotência também é descrito em pacientes no pós operatório em outro estudo (BRAGA et al, 2003), definido pela falta de controle ou de influencias sobre a situação. Ao analisar os significados atribuídos por pacientes no processo de reabilitação cirúrgico pesquisas (VILA et al, 2008; LOSS et al, 2003) revelaram que essa experiência denota uma ruptura no modo de viver, trabalhar e compreender o processo saúde-doença. Outras pesquisas (MIRANDA et al, 2005; MORAES et al, 2007) verificaram a influencia das variáveis sócio- demográficas sobre os significados e atitudes relativos a cirurgia cárdica, ressaltando que essa caracterização viabiliza o planejamento e implementação de práticas educativas. Estudo (GOIS et al, 2004) que investigou os principais estressores para os pacientes segundo avaliação dos profissionais de enfermagem constatou que estes estão relacionados ao procedimento cirúrgico. Porém, outra pesquisa (HADDAD et al,2005) que descreveu as percepções do paciente no pós operatório conclui que além dos fatores decorrentes do procedimento cirúrgico, fatores externos relacionadas ao ambiente de Terapia Intensiva também causaram desconforto. A terceira categoria temática refere-se às publicações que abordam os diagnósticos de enfermagem no perioperatório de cirurgia cardíaca. Nesses estudos, foram identificados os diagnósticos de enfermagem específicos e freqüentes envolvidos no processo cirúrgico. O estudo (GALDEANO et al, 2004) realizado por enfermeiras no Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto identificou os diagnósticos de enfermagem de pacientes no período pré operatório e evidenciou o predomínio dos diagnósticos relacionados às necessidades psicobiologicas. Outra pesquisa (GALDEANO et al,2003) aponta a prevalência de diagnósticos de enfermagem relacionados as necessidades fisiológicas para o período transoperatório de cirurgia cardíaca. A partir dos principais diagnósticos encontrados para o perioperatório de cirurgia cardíaca são propostas avaliações continuas para ajustamento das intervenções aos diagnósticos e aos resultados a fim de adaptá-los a realidade de cada paciente (ROCHA et al,2006; FARIA,2000). Ainda, estudos (OLIVA et al, 2002) de validação das categorias diagnósticas são necessários para a sedimentação dos conceitos que expressam os focos clínicos do trabalho da enfermagem e para clarificação dos limites de atuação da profissão. Além disso, conhecer os problemas de saúde de um grupo de pessoas com características comuns poderá também fundamentar a assistência de enfermagem, ao fornecer subsídios para a elaboração de planos de cuidados, implementação das intervenções para a resolução dos problemas identificados e avaliação de acordo com as necessidades do paciente (GALDEANO et al,2006; GUERREIRO et
al,2000). CONCLUSÕES: Na literatura foram encontrados estudos que descrevem, contextualizam e caracterizam os cuidados no perioperatorio de cirurgia cardíaca, os diagnósticos de enfermagem freqüentes nesse processo e os sentimentos e percepções dos pacientes no enfrentamento do procedimento cirúrgico. As publicações investigadas nesta revisão integrativa sugerem a implementação do processo de enfermagem, com ênfase nas orientações e elaboração de protocolos de intervenções específicos para este grupo. Nessa perspectiva, além de descrever, contextualizar e caracterizar a assistência de enfermagem ao paciente no perioperatório de cirurgia cardíaca, a realização de pesquisas que comprovem a eficácia das intervenções realizadas é fundamental e, dessa forma, contribuirão para o desenvolvimento cientifico da profissão, com a implementação de praticas baseadas em evidencias.
REFERENCIAS
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