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CONSENTIMENTO INFORMADO E HUMANIZAÇÃO DA SAÚDE: COERÇÃO NAS PRÁTICAS ASSISTENCIAIS

No documento ANAIS SEMINARIO BIOETICA 21 12 (páginas 56-60)

Resumos dos trabalhos

9. CONSENTIMENTO INFORMADO E HUMANIZAÇÃO DA SAÚDE: COERÇÃO NAS PRÁTICAS ASSISTENCIAIS

Ana Luiza Portela Bittecourt2 Alberto Manuel Quintana3 Maria Teresa de Campos Velho4

Laura Wottrich5 Amanda Sehn6

CAPES/REUNI E FIPE

Descritores: Psicologia; Bioética; Coerção

INTRODUÇÃO: Diversas pesquisas mostram que a percepção de coerção por parte do paciente pode vir a prejudicar o andamento de seu tratamento levando até a desistência do mesmo. Estudos sobre o uso de coerção e a percepção de coerção nos processos de consentimento informado na assistência em saúde são importantes na medida em que as pessoas envolvidas estão fragilizadas e por isso são, segundo Goldim (2002) mais facilmente manipuláveis. No entanto, o processo de consentimento livre e esclarecido só é valido se não houver coerção por parte da equipe para que o paciente consinta com os procedimentos que serão realizados em seu próprio corpo. Existem também evidencias de que, se a equipe aperfeiçoar sua habilidade de ouvir os argumentos do paciente e de levá-los em consideração, isso já poderia ajudar a diminuir o sentimento de que foram coagidos. Portanto o estudo desses elementos visando a capacitação da equipe pode contribuir para a construção de um serviço mais humanizado. OBJETIVO: Busca-se refletir sobre o processo de consentimento livre e esclarecido e como se dá a percepção de coerção nesta situação, além de procurar apontar fatores que podem auxiliar na redução desta percepção e de suas conseqüências para os pacientes. MÉTODO: Este trabalho traz uma reflexão teórica sobre temas de constante discussão na bioética usados aqui para análise da prática assistencial em saúde. Tal reflexão se fundamenta em material presente na literatura sobre o tema. RESULTADOS: O programa governamental de humanização da assistência hospitalar (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2000) fundamenta sua existência, entre outros pontos, na verificação da insatisfação dos usuários com o relacionamento com os profissionais da saúde. O programa prevê como condição essencial a um processo de humanização o respeito ao outro como ser autônomo e digno. A humanização requer a reflexão sobre os valores e princípios que norteiam a prática profissional, pressupondo, uma postura ética que perpasse as atividades profissionais e também os processos de trabalho dentro das instituições de saúde (BACKES et al, 2006). Essa nova postura deve abarcar a liberdade do sujeito       

1 Reflexão Teórica

2 Mestranda do programa de Mestrado em Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria. Bolsista CAPES/REUNI 3 Doutor em Ciências Sociais, Professor do programa de Mestrado em Psicologia da Universidade federal de Santa Maria. 4 Doutora em enfermagem, Professora na Universidade Federal de Santa Maria

5 Aluna do curso de graduação em psicologia da Universidade Federal de Santa Maria.Bolsista FIPE. 6 Aluna do curso de graduação em psicologia da Universidade Federal de Santa Maria.

em consentir livre de coerção e respeitando sua autonomia, afinal como aponta Fortes (1994), a equipe de saúde pode inviabilizar a manifestação da vontade do paciente por meio do domínio psicológico, do conhecimento especializado e das habilidades que possui. Para Oliveira & Collet (2006) instituições de assistência pública de saúde há séculos baseiam-se nos critérios de bem-estar geral, urgência social e de felicidade e interesse comuns supondo conhecer esse bem de um modo claro e distinto sem a necessidade de consultar os supostos beneficiados. Segundo os autores, o simples preenchimento de uma ficha de histórico clínico não corresponde a uma escuta e sim ao recolhimento de informações necessárias para o ato técnico deixando o humano de fora. Na perspectiva do programa nacional de humanização da assistência hospitalar, humanizar é garantir à palavra a sua dignidade ética, em outros termos, o sofrimento, a dor e prazer expressos pelos sujeitos em palavras necessitam ser reconhecidas pelo outro (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2000). A política de humanização da saúde busca a comunicação entre equipe e paciente e, portanto, o processo de consentimento informado pode, e deve ser pensado nesse contexto, afinal, quando adequadamente realizado, serve como aporte para a comunicação entre médico e paciente viabilizando um diálogo honesto entre os envolvidos e afastando a possibilidade do uso de medidas coercivas. Pode-se perceber a existência de uma diferença significativa entre a percepção subjetiva de coerção e a coerção exercida formalmente. Beauchamp & Childress (2002) entendem que a coerção em si é forçar alguém a fazer algo. Já a percepção de coerção é explicada por Hiday et al (1997) como um reflexo dos sentimentos do paciente independentemente de como eles foram tratados, de forma que, quando o paciente entende que os atos dos familiares e da equipe foram feitos de boa fé e com imparcialidade, ele costuma ver a internação como justa e apresentar menor percepção de coerção. Estes dados podem gerar grande confusão para aqueles que trabalham em saúde. Afinal, como garantir que o paciente não se sinta coagido e por isso venha a ser prejudicado? Se a relatividade dessa percepção é tamanha que não se possa determinar certos parâmetros que devam ser observados pela equipe não é possível criticá-la diante de pacientes que reclamam terem sido coagidos, pois qualquer atitude dos profissionais de saúde poderia levar a este sentimento. Quanto a isso, Hoge et al (1998) verificaram que a percepção de coerção pelo paciente parece mais fortemente ligada ao sentimento de que ele foi incluído no processo decisório do que a pressões negativas como uso de força e ameaças sofridas durante o processo. Ou seja, o paciente que não se sentiu incluído no processo decisório pode relatar uma maior percepção de coerção do que aquele que, mesmo tendo sofrido ameaças ou com o qual tenha sido usada força em sua admissão hospitalar, sentiu-se envolvido no processo. Isso mostra, mais uma vez, a relevância do procedimento informativo, do diálogo franco com o paciente sobre suas condições e as formas de tratamento. À medida que o paciente sente-se implicado nesse sistema, menores são os riscos de que ele se sinta coagido, ajudando na adesão ao tratamento e possibilitando melhores condições psíquicas do paciente. Pesquisas mostram que, quando o paciente percebe que está sendo controlado, algumas reações psicológicas podem ocorrer como: depressão, ansiedade e a cessão de qualquer esforço pessoal a fim de aliviar uma situação aversiva. Pacientes que se sentiram coagidos tem menor tendência a acreditar que a equipe irá ajudá-los, que eles precisam do tratamento e que o hospital

seja o lugar certo para eles. Ao contrário, muitos vêem o hospital como uma prisão demonstrando raiva com relação a sua internação. As maiores causas de descontentamentos são o controle físico, ser enganado, ser levado ao hospital com ajuda policial e a negação em lhes dizer o que acontecerá com eles (MONAHAN ET AL, 1995). Estes autores afirmam que a percepção de coerção por parte do paciente é alienante e pode se manifestar como raiva ou depressão dependendo da personalidade e experiências anteriores do sujeito. Mesmo que nem todos os pacientes queiram, muitos gostariam de ter mais informações e controle sobre seu tratamento, mesmo que não tenham domínio sobre as decisões mais importantes, as pessoas esperam que outros ouçam as suas opiniões, tenham para com elas boa fé e os tratem de forma justa e com respeito. A atenção dispensada ao paciente quando em sua internação contribui para a satisfação deste durante tal período. CONCLUSÃO: Taborda (2002) acredita que estudar eventuais formas de coerção pode contribuir para o desenvolvimento de métodos de proteção a toda pessoa hospitalizada. Para o autor, a equipe deve aperfeiçoar suas habilidades de ouvir os argumentos dos pacientes e procurar levá-los em consideração durante o tratamento, o que contribuiria na diminuição do sentimento de que foram coagidos. A tomada de decisão pelo tratamento envolve o processo de consentimento informado que requer um diálogo franco entre equipe e paciente para que este tome uma decisão racional e autônoma. Acredita-se que a instrução da equipe quanto ao tratamento dado ao paciente, respeitando seus valores, crenças e seu direito a uma escolha autônoma pode contribuir com a redução da percepção de coerção além de gerar um serviço mais humanizado pela via do diálogo, assim como prevê o programa de humanização da saúde do governo brasileiro.

REFERÊNCIAS:

BACKES, D. S.; LUNARDI, V. L.; LUNARDI FILHO, W. D. A Humanização Hospitalar como Expressão da Ética. Rev Latino-am Enfermagem, v. 14, n. 1, p.132-135, 2006.

BEAUCHAMP TL, CHILDRESS JF. Princípios de ética biomédica. São Paulo: Edições Loyola, 2002, p.574.

FORTES, P. A. C. Reflexões sobre a bioética e o consentimento esclarecido. Bioética, v.2, n. 2. p. 129-35, 1994.

GOLDIM, J. R. O consentimento informado numa perspectiva além da autonomia. Revista AMRIGS, v. 46, n. 3,4, p. 109-116, 2002.

HIDAY, V. A.; SWARTZ, M. S.; SWANSON, J.; WAGNER, H. R. Patient perceptions of coercion in mental hospital admission. International Journal of Law and Psychiatry, v. 20, n. 2, p. 227-241, 1997. HOGE, S. K.; LIDZ, C. W.; EISENBERG, M.; MONAHAN, J.; BENNETT, N.; GARDNER, W.;

MULVEY, E. P; ROTH, L. Family, Clinician, and Patient Perceptions of Coercion in Mental Hospital Admission. International Journal of Law and Psychiatry, v. 21, n. 2, p. 131–146, 1998.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Programa nacional de humanização da assistência hospitalar. Brasília (DF): Ministério da Saúde, 2000.

MONAHAN, J.; HOGE, S. K.; LIDZ, C. W.; ROTH, L. T.; BENNETT, N.; GARDNER, W.; MULVEY, E. P. Coercion and commitment: understanding involuntary mental hospital admission. Int J Law

Psychiatry, v. 18, n. 3, p. 249-263, 1995.

OLIVEIRA, B. R. G.; COLLET, N.; VIERA, C. S. A Humanização na Assistência à Saúde. Rev Latino-

TABORDA, J. G. V. Percepção de coerção em pacientes psiquiátricos, cirúrgicos e clínicos

hospitalizados. 2002. Tese (Doutorado em Medicina: ciências médicas) - Universidade Federal do Rio

No documento ANAIS SEMINARIO BIOETICA 21 12 (páginas 56-60)

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