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A SAÚDE E O TRABALHO DO BATALHÃO DE ELITE DE UMA CORPORAÇÃO MILITAR¹

No documento ANAIS SEMINARIO BIOETICA 21 12 (páginas 173-176)

MULTIPROFISSIONAL COM FAMILIARES DE POTENCIAIS DOADORES DE ÓRGAOS

43. A SAÚDE E O TRABALHO DO BATALHÃO DE ELITE DE UMA CORPORAÇÃO MILITAR¹

Tanise Martins dos Santos² Carmem Lúcia Colomé Beck³ Rosângela Marion da Silva4 Descritores: saúde; trabalho; militares.

INTRODUÇÃO: a saúde e o trabalho nem sempre foram entendidos como fenômenos interligados, entretanto, na atualidade, essa inter-relação se encontra estabelecida, reconhecendo-se não somente o valor positivo que o trabalho possui para a saúde e para o equilíbrio do homem, mas também a influência negativa. Mendes (2005) considera que estudos epidemiológicos recentes apontam verdadeiras epidemias das chamadas doenças profissionais ou doenças relacionadas ao trabalho. Nesse contexto, estudos específicos sobre doenças no trabalho mostram uma evolução quantitativa e qualitativa dos fatores de risco à saúde do trabalhador dentro de categorias profissionais, incluindo os policiais militares. Ao tratar-se de um pelotão militar de elite os fatores de tensão no trabalho se agravam, pois esses trabalhadores atendem ocorrências graves, isto é, atuam em ocasiões em que há risco de morte no confronto com seus oponentes. Como o momento no qual deverão entrar em ação é desconhecido, os policiais trabalham em conduta de permanente prontidão, ou seja, estão 24 horas disponíveis e preparados para atender as intercorrências, situação de estado de alerta (GONZÁLES et al., 2006). OBJETIVOS: caracterizar sociodemograficamente os policiais e identificar situações que desencadeiam sofrimento e prazer no trabalho, assim como identificar os mecanismos utilizados para o estabelecimento e a manutenção do equilíbrio psíquico destes trabalhadores. METODOLOGIA: o estudo caracterizou-se como uma pesquisa exploratório-descritiva, com trajetória metodológica de pesquisa qualitativa. Na pesquisa qualitativa verifica-se uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números (MINAYO, 2007). Foi realizada em uma corporação militar do Estado do Rio Grande do Sul, com prévia autorização do Comando da instituição. Os dados foram coletados por meio de um questionário, contendo questões fechadas referentes ao perfil sócio- econômico dos policiais e, questões abertas relacionadas aos demais objetivos da pesquisa. Para análise dos dados, foi utilizada a técnica da análise temática, uma das modalidades de análise de conteúdo, por ser uma técnica de pesquisa que permite tornar replicáveis e válidas inferências sobre dados de um determinado contexto, por meio de procedimentos científicos (MINAYO, 2007). Essa técnica abrange três etapas: pré-análise, exploração do material, tratamento dos resultados obtidos e interpretação. Desse modo, os dados subjetivos foram analisados em torno de três eixos temáticos pré-estabelecidos: sofrimento no trabalho, prazer no trabalho e estratégias de enfrentamento. Participaram do estudo 84 militares no período de maio a junho de 2007. Os policiais militares, na coleta de dados, foram dispensados das suas funções durante uma hora para responderem o instrumento. Nesse momento, os pesquisados foram informados sobre os objetivos do estudo, do caráter voluntário da participação e da garantia do anonimato. Ressalta-se que o projeto recebeu

parecer favorável do Comitê em Ética e Pesquisa sob número do CAAE 0033.0.243.000-07 em 10 abril de 2007. Também foram orientados de que os dados por ele informados seriam utilizados para fins científicos, conforme preceitos da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. RESULTADO: o pelotão apresentava predomínio de militares do sexo masculino, a maioria com idade entre 21 e 40 anos, superioridade de policiais casados e com filhos, com elevado índice de profissionais com ensino médio completo, possuindo tempo de serviço na instituição militar entre 11 e 20 anos, mas tempo de serviço no Batalhão inferior a 5 anos. A maioria informa ingerir bebida alcoólica esporadicamente e a minoria faz uso de tabaco. A análise dos dados evidenciou que o sofrimento no trabalho está relacionado à organização do serviço e o prazer na vivência do exercício profissional. As dificuldades, segundo os policiais, são enfrentadas com o apoio dos colegas, especialmente os mais experientes, por meio de diálogos e de decisões tomadas em conjunto com a equipe. O risco de vida e o trabalho sob pressão são características inerentes ao trabalho do BOE, uma vez sua atuação se dá em situações extremas. É sabido que esses policiais são preparados para atuarem de forma a protegerem suas vidas e não colocar em risco a de seus colegas. Porém, acredita-se o risco de vida seja um fator de sofrimento relacionado à condição humana, o que evidencia a necessidade de preparo e acompanhamento em caráter permanente desses policiais. Quanto à organização do trabalho, os policiais mencionaram aspectos como o relacionamento hierárquico rígido, a falta de poder decisório e a necessidade de estar disponível em caráter permanente conforme a escala de trabalho, não permitindo previsões e organização do convívio familiar. O bom relacionamento com os colegas de farda constitui-se em um fator de prazer no trabalho do BOE, sendo que o bom convívio com os colegas proporciona um ambiente favorável a realização do trabalho. A realização e conclusão de tarefas de combate ao crime como a retirada de delinqüentes das ruas e efetuação de prisões foram apontadas como fatores de prazer pelos policiais. Os policiais buscam manter o equilíbrio mental por meio do emprego de conhecimentos técnicos proporcionado durante a Academia da Polícia Militar (APM) e de autocontrole em situações adversas, apoio da família e colegas, expressando necessidade de reconhecimento pelos serviços prestados, da comunidade assistidas, dos familiares e colegas de trabalho. CONCLUSÕES: a promoção da qualidade de vida no trabalho, defendida nessa pesquisa, mostrou-se como oportunidade de interação e construção contínua de diálogo, vivências e experiências, sendo desenvolvidas na participação e, efetivamente, nas expressões encontradas nas falas destes trabalhadores, sendo a característica básica do ser humano, em essência, a capacidade de pensar. Com os resultados do trabalho podemos considerar o batalhão composto por militares jovens, mas com tempo considerável na instituição, que pode ser considerado um fator positivo pela experiência no desempenho da função de policial. Com isso, os militares conseguem, por meio da organização e do planejamento de suas tarefas, desempenhar a maioria das atividades propostas para o dia. Verifica-se também, a ambivalência em aspectos do exercício da profissão de policial militar do batalhão militar, por exemplo, o fato de ser policial é prazeroso, mas o salário deixa-os insatisfeitos. No entanto, predominantemente, o efetivo deseja o reconhecimento pelas ações praticadas de todos os sujeitos envolvidos nas ocorrências concomitantemente. Assim, a pesquisa contribui para uma reflexão sobre

a subjetividade que envolve o trabalho do policial do BOE, bem como as vivências de prazer e sofrimento no trabalho, propiciando o conhecimento sobre as estratégias de enfrentamento inerentes à sua atividade.

REFERÊNCIAS

GONZÁLEZ, et al. O estado de alerta: um estudo exploratório com o corpo de bombeiros. Revista de Enfermagem, Rio de Janeiro, v. 10, n. 3, p. 370-377, dez. 2006.

MENDES, R. Patologia do trabalho. 2 ed. v. 1. São Paulo: Atheneu, 2005.

MINAYO, M. C. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. Rio de Janeiro: Abrasco, 2007.

44. PERCEPÇÕES DOS PACIENTES NO PREPARO PRÉ-OPERATÓRIO DE

No documento ANAIS SEMINARIO BIOETICA 21 12 (páginas 173-176)

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