• Nenhum resultado encontrado

A DELINQUENCIA FALADA PELO DISCURSO: E A ESCOLA COMO FICA? 1 Merihelem de Mello Pierry

No documento ANAIS SEMINARIO BIOETICA 21 12 (páginas 91-94)

12 A SAÚDE E O TRABALHO NO CONTEXTO DA PRÁTICA DE UMA EQUIPE DE ENFERMAGEM DE PRONTO-SOCORRO 1

19. A DELINQUENCIA FALADA PELO DISCURSO: E A ESCOLA COMO FICA? 1 Merihelem de Mello Pierry

Jana Gonçalves Zappe3 Cristiane Rosa dos Santos4

Natália Barcelos5

Descritores: delinquência, identificação, escolaridade.

INTRODUÇÃO: Este trabalho apresenta uma análise da identificação de adolescentes com a criminalidade e as relações disso com a escolarização. Recentemente, várias produções culturais têm mostrado a existência de uma identificação de crianças e adolescentes com a criminalidade: grupos de rap como Racionais, filmes como Cidade de Deus e documentários como Falcão, meninos do tráfico talvez sejam os mais evidentes. Aqui se propõe a discussão da questão da delinqüência e de sua articulação no discurso do adolescente, uma vez que, a interrogação frente à insegurança que vem tomando conta de vários segmentos de nossa sociedade, face às inúmeras formas de manifestação de violência, desvenda diversos fatores que intervém nesse processo intenso e dinâmico. Delinqüência juvenil é a forma de expressão internacionalmente empregada para mencionar os delitos praticados por adolescentes. No Brasil, aplica-se o termo infração, desde a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Geralmente, os autores mencionam o enfoque econômico, institucional, as políticas públicas, as drogas, e, até mesmo, o enfoque subjetivo, como alguns recursos para explicar a infração. No que diz respeito a nível nacional, a família e as condições vulneráveis as quais estão expostas, têm sido, precariamente, examinadas na sua correlação com a delinqüência. O tema delinqüência não é novidade, nem fator exclusivo da atualidade, a psicanálise já se ocupava do tema, quando Freud dedicava-se a analisar a dinâmica que envolvia todo o funcionamento relacionado à violência. Freud já argumentava em Totem e Tabu (1913), que a cultura tem início na e pela violência e, toda a ordem social funda-se na violência que garante a subordinação da lei. Dessa forma, torna-se indispensável que os sujeitos sejam priorizados, antes das nomeações que os “prendem”, tais como delinqüentes, excluídos, desprovidos, e outros, somente desse modo, será possível compreender como se articulam os aspectos individuais e sociais dos adolescentes que se constituem em torno da delinqüência. Sabe-se que o principal personagem dos atos da delinqüência é o adolescente, isto é, a delinqüência está associada ao processo adolescente isso comprova que a adolescência é altamente propensa às influências dos fenômenos sociais, representando um momento oportuno para a incorporação de valores, correspondentes ou não a uma relação construtiva (ou destrutiva) dentro da sociedade. OBJETIVOS: Através da pesquisa bibliográfica, compreender qual a relação entre a identificação de adolescentes com a delinqüência e       

1 Reflexão teórica

2 Graduanda em Psicologia (ULBRA-SM). 3 Psicóloga, Mestranda em Psicologia (UFSM)

4 Psicóloga (ULBRA-SM), pós-graduanda em Transtornos do Desenvolvimento na Infância e Adolescência – Abordagem Interdisciplinar (Lydia Coriat), atua no Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDEDICA). 5 Graduanda em Psicologia (ULBRA-SM).

suas conseqüências na escolaridade. METODOLOGIA: Para atingir o objetivo proposto foi utilizado o trabalho em uma instituição de medida sócio-educativa em meio aberto (Centro de Defesa dos direitos da Criança e do Adolescente- Cededica) e consultado material bibliográfico que trata das questões pesquisadas e oferece subsídios para compreender efetivamente como se dá a relação entre a identificação de adolescentes com a delinqüência e sua conseqüência na escolaridade. RESULTADOS: O trabalho com adolescentes em conflito com a lei numa instituição para cumprimento de medida sócio-educativa em meio aberto mostrou a existência de uma identificação especial destes adolescentes com uma letra de rap dos Racionais, intitulada Vida Loka. Esta expressão está presente em diversos lugares ocupados pelos adolescentes até em seus próprios corpos, como tatuagens. Uma análise da letra deste rap mostra que ela aborda, na linguagem cotidiana dos adolescentes, questões como a vitimização e a prática de violência como uma defesa e um recurso identificatório, cultuando valores como a transitoriedade e a intensidade do presente. Estendendo a compreensão da delinqüência a contextos específicos como os que envolvem formação da identidade narrativa de adolescentes, torna-se possível observar, ao longo desta discussão, que a linguagem apresenta-se como um sistema integrado da cultura e dos afetos pessoais, estabelecidos através da interação social. Contrariando a idéia de que o mundo da criminalidade seria uma espécie de submundo ou de universo cultural paralelo ao “oficial”, autores como o sociólogo Zigmunt Bauman (1998), que analisam a sociedade contemporânea, apontam que nossa cultura elege como valores centrais justamente a transitoriedade e a necessidade de viver a intensidade do presente. Isso torna-se visível sobretudo através do consumismo, do recurso a substâncias químicas, do ato de lançar-se em situações de risco, por exemplo.Quanto a esse aspecto Peralva (2000) aponta que é, exatamente, a partir da consagração acentuada do risco de morte que o delinqüente se assegura e assegura estar vivo, dessa forma, esta relação com a morte, simbólica e real, faz com que este busque dominá-la, antecipando-a e lançando-se, cada vez mais, em circunstâncias de risco. Levando-se em conta este panorama cultural, será que o desenvolvimento escolar ainda é um caminho viável para a socialização? Questionamos isso tendo em vista que os resultados que podem ser obtidos através da escolarização não são imediatos, e nem mesmo garantidos numa sociedade marcada pela desigualdade social. Tomando como base o corpo teórico da psicanálise, pensa-se que a delinqüência não se inscreve ao sujeito como uma estrutura independente da ordem social em que ele esteja inserido, a delinqüência pode associar vários sentidos para o adolescente, inclusive integrar mais de um sentido na mesma pessoa. É possível decifrá-la como um modo de relação do sujeito com a sociedade, dessa forma, compreende- se que não há “o delinqüente” e, sim, o adolescente que, diante de distintas vias do laço social, encontrou a transgressão real da lei como uma possível alternativa. Quanto a isso, o Programa de Execução de Medidas Sócio-Educativas de Internação e de Semiliberdade do Rio Grande do Sul (PEMSEIS), tem a dizer que a adolescência é um processo de vivências de conflitos internos e lutos, que requerem do adolescente a edificação e a ressignificação de sua identidade, imagem corporal, relação familiar e social. Assim, passa a ser um importante período por proporcionar experiências estruturantes ao ser humano. CONCLUSÕES: Diante do estudo realizado, ressalta-se que o

processo da adolescência complexifica-se com a condição delinqüente, que anuncia uma forma de o adolescente atuar em seus conflitos internos. Com base no panorama apresentado evidencia-se que não é por acaso, que a evasão escolar e a defasagem idade/série escolar são altas entre os adolescentes que cumprem medida sócio-educativa no Brasil (Volpi, 1997). Assim, torna-se imprescindível a criação e/ou efetivação de políticas públicas para o enfrentamento desta grave problemática, que praticamente inviabiliza o desenvolvimento escolar de crianças e adolescentes, favorecendo a identificação com a criminalidade. O contexto social colabora para o fenômeno da delinqüência em adolescentes, tanto quanto a delinqüência colabora para a constituição subjetiva destes, por isso, o fenômeno da delinqüência precisa ser considerado sob todas as facetas apresentadas e, para a compreensão desses fatores é necessário entender como esses adolescentes desejam, como se compreendem, como vêem a sociedade e a si mesmos. Enfim, não se deve esquecer que em se tratando de adolescentes, é de um sujeito ainda em constituição com o qual deve-se lidar. Contudo, não está sendo falado de adolescentes quaisquer, são jovens carimbados, em sua história de vida, por um certo estigma: o de dever realizar suas adolescências fora da vida familiar, em um lar público. É inevitável perceber que, como as relações dão-se através da necessidade do reconhecimento do outro, sociedade e delinqüentes reconhecem-se, mutuamente, e reafirmam o lugar que lhes é imposto de forma recíproca, assim, sustenta-se o ciclo vicioso gerado pelo desejo da sociedade de aniquilar os delinqüentes e, obviamente, o desejo dos delinqüentes de aniquilar a sociedade. É através dos diferentes olhares e não-olhares que o delinqüente se constitui.

REFERÊNCIAS

BAUMAN, Zigmunt. O Mal-estar da Pós-Modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998. OLIVEIRA, C.S. Sobrevivendo no Inferno: A Violência Juvenil na Contemporaneidade. Porto Alegre: Sulina, 2001.

VOLPI, M. Adolescente e Ato Infracional. São Paulo: Cortez, 1997.

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – ECA. (1992). São Paulo: Governo de São Paulo. FREUD, S. (1996). Totem e tabu. Em: J. Salomão (org.), Edição standard brasileira das obras

completas de Sigmund Freud (Vol.13, pp. 11-164). Rio de Janeiro: Imago. (original publicado em

1913).

PERALVA, A. (2000). Violência e Democracia: O paradoxo brasileiro. São Paulo: Paz e Terra. FUNDAÇÃO ESTADUAL DO MENOR DO RIO GRANDE DO SUL (2000). Programa de Execução de Medidas Sócio-Educativas de Internação e de Semiliberdade do Rio Grande do Sul

20. A MULHER NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE

1

No documento ANAIS SEMINARIO BIOETICA 21 12 (páginas 91-94)

Outline

Documentos relacionados