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43demonstra que os resultados da tipologia de

Raízes, folhas e ramos – a tipologia de línguas de sinais

43demonstra que os resultados da tipologia de

língua faladas podem ser proveitosamente apli- cados às línguas de sinais, com algumas modi- ficações específicas à modalidade, tais como fle- xões espaciais em possessivos. Mais uma vez, o projeto demonstra como os dados de língua de sinais podem ser agrupados em padrões tipo- lógicos com valor explanatório. Além disso, a noção de uma perspectiva tipologicamente in- formada em língua de sinais, conforme discuti- do na seção 2.2.1, é claramente evidenciada nas distinções sutis e nos padrões lingüisticamente ricos, como aqueles discutidos neste artigo.

4. Línguas de sinais em agrupamentos comunitários

Conforme mencionado na seção 2.2.1, é de extrema importância para a tipologia de lín- gua de sinais coletar dados das mais diver- sas línguas de sinais. Ao mapear o território de diferentes línguas de sinais, é importante considerar os parâmetros sociolingüísticos dos variados contextos onde existem comu- nidades que utilizam línguas de sinais. Tais parâmetros incluem, entre outros:

- idade da língua de sinais

- tamanho da comunidade usuária

- situação de contato com outras línguas (fa- ladas/escritas/sinalizadas)

- grau de ameaça de extinção

- número relativo de usuários de língua ma- terna (L1) versus usuários de segunda lín- gua (L2)

Esta seção analisa o tipo de língua de si- nais que difere radicalmente da situação mais conhecida das grandes comunidades surdas urbanas que são usuárias das línguas de si- nais de minoria e são membros de um grupo cultural minoritário, como é o caso de todas

as línguas de sinais analisadas na seção 3. Em oposição a essas línguas de sinais, há também as línguas de sinais utilizadas em agrupamen- tos comunitários com alto índice de surdez hereditária, em que a situação sociolingüísti- ca é radicalmente diferente.

O uso de línguas de sinais em agrupa- mentos comunitários tem sido identificado em muitas partes do mundo, por exemplo, a vila Yucatec Mayan, no México, a vila Ada- morobe, em Gana, Providence Island, no Ca- ribe, a tribo Urubu-Kaapor, na Amazônia, a vila Ban Khor, no norte da Tailândia, a vila na região de St. Elizabeth na Jamaica, a tribo Al-Sayyid Bedouin em Israel (cf. Marsaja, no prelo, para informações mais detalhadas so- bre essas comunidades).

As línguas de sinais de vilas mais comuns possuem características semelhantes. Nelas, a surdez hereditária ocorre ao longo de mui- tas gerações e, portanto, uma língua de sinais local se desenvolve na comunidade, mas ge- ralmente há ausência de contato, ou contato muito limitado com pessoas surdas de fora da vila. As pessoas surdas estão integradas na vida cotidiana de maioria ouvinte e não enfrentam barreiras de comunicação, pois a maioria das pessoas ouvintes no agrupa- mento comunitário é relativamente fluente na língua de sinais local. Portanto, os mem- bros surdos da vila geralmente não formam uma sub-cultura e não possuem identidade de “surdo”, como é o caso das comunidades surdas urbanas. Devido ao maior número de sinalizantes ouvintes na “vila surda”, a maioria dos usuários utilizam a língua de sinais como L2, apenas os indivíduos surdos sendo usuários monolíngües da língua de sinais da vila como L1. A língua de sinais da vila, nesses tipos de contextos, geralmente é antiga e possui uma comunidade estável que a utiliza e é, portanto, uma língua completamente desenvolvida.

Ulrike Zeshan

Questões T

eóricas das P

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A pesquisa lingüística dessas línguas de sinais, antes conhecidas apenas de uma pers- pectiva sócio-cultural, começou apenas re- centemente. Entretanto, já podemos obser- var claramente que essas línguas apresentam estruturas que diferem radicalmente do que é encontrado nas línguas de sinais urbanas. Um exemplo é o uso específico do espaço de sinalização e dos aspectos espaciais da gramá- tica da língua de sinais.

4.1 O uso do espaço de sinalização em Kata Kolok, Bali

A partir de 2004, nosso Grupo de Pesquisa em Tipologia de Língua de Sinais (Sign Langua- ge Typology Research Group) no Max Plan- ck Instituto de Psicolingüística (Max Planck Institute for Psycholinguistics) e, subseqüen- temente, na University of Central Lancashire (Universidade do Centro de Lancashire), tem expandido seu foco de pesquisa de forma a abranger a documentação lingüística das lín- guas de sinais de vilas. Uma das línguas de sinais investigada nesse subprojeto é a Kata Kolok (literalmente “linguagem surda”), utilizada em um agrupamento comunitário no norte de Bali. Kata Kolok é a primeira (e única) língua das pessoas surdas na vila. Essa língua também é, em maior ou menor pro- porção, utilizada como segunda língua pela maioria das pessoas ouvintes. A Kata Kolok não é relacionada a nenhuma língua de sinais conhecida. Embora a Kata Kolok esteja em contato com línguas faladas, parece não ha- ver influência significativa de línguas faladas em sua estrutura. Entretanto, há evidências de influência significativa dos gestos locais na Kata Kolok, como era de se esperar. Acredi- ta-se que a língua de sinais existe na vila há vários séculos e a comunidade possui diver-

sos mitos sobre sua origem. Diferentemente de outras línguas de sinais de vilas, que estão ameaçadas de extinção pelas línguas de sinais urbanas maiores em seus respectivos países, a Kata Kolok não corre perigo, embora essa situação possa mudar a qualquer momento.

A extensiva coleta e transcrição de dados de textos em Kata Kolok revelaram que o uso do espaço de sinalização difere radicalmente do que é conhecido sobre outras línguas de sinais. Na realidade, muitas das característi- cas estruturais consideradas universais entre todas as línguas de sinais se relacionam ao uso do espaço de sinalização, como, por exemplo, a concordância verbal espacial. Portanto, é de suma importância encontrar evidências de diferenças entre línguas de sinais nesse do- mínio. Nesta seção, apenas um breve resumo dos resultados iniciais pode ser apresentado. Publicações futuras deverão explicar cada fe- nômeno e justificar a análise, em cada caso (cf. Zeshan, em preparação).

Na língua de sinais Kata Kolok, o espaço de sinalização é muito maior do que os espa- ços utilizados nas línguas de sinais de comu- nidades surdas urbanas e geralmente tende a incluir movimentos com os braços totalmen- te estendidos, movimentos do corpo inteiro (por exemplo, virar-se, inclinar-se para bai- xo) e “representação” de movimentos (por exemplo, “caminhar”). Como em outras lín- guas de sinais, os sinalizantes de Kata Kolok podem criar disposições espaciais complexas, incluindo construções de duas mãos. O es- paço de sinalização é freqüentemente usado para expressar o movimento e a localização de referentes e as relações espaciais entre os referentes. Entretanto, a escolha de locais para estabelecer referentes em Kata Kolok é bem peculiar, pois a língua utiliza referência espacial absoluta. O que se torna especial- mente evidente no caso do dedo indicador

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