Repensando classes verbais em línguas de sinais: o corpo como sujeito
possuíam sinais ou utilizavam algo como
sinal caseiro9. Atualmente, quatro gerações
de sinalizadores convivem simultaneamente na comunidade surda: a primeira geração, que contribuiu para os primeiros estágios de formação e desenvolvimento da língua e a quarta geração, que adquiriu e desenvolveu a língua moderna como um sistema lingüís- tico completo.
Enquanto a sinalização da primeira ge- ração de sinalizadores (idade 65 em diante) demonstra variações individuais conside- ráveis em termos de vocabulário, fraseado e dispositivos gramaticais, a sinalização desta geração não possui concordância ver- bal. Sinalizadores mais velhos geralmente não flexionam os verbos de transferência. Usam verbos simples, de modo similar aos resultados encontrados no estudo da ABSL. Sinalizadores, entre 40 e 50 anos, utilizam verbos de concordância como verbos de concordância única, partindo do corpo e concordando com o objeto (recipiente). Sinalizadores jovens (30 anos ou menos) flexionam verbos de concordância para o su- jeito e objeto, mas as formas de concordância apenas com objeto ainda são utilizadas.
Engberg-Pedersen (1993: 193) descreve uma tendência similar na Língua de Sinais Dinamarquesa: sinalizadores mais velhos ten- dem a utilizar verbos de concordância como verbos de concordância única, concordando apenas com o argumento-objeto (indireto). Sinalizadores jovens, ao contrário, utilizam formas verbais em que a concordância é mar- cada com o sujeito e objeto. Entretanto, o pa- drão anterior é também utilizado.
7. Conclusões
As línguas de sinais demonstram que o sta- tus privilegiado do sujeito se manifesta não apenas em seu comportamento nos vários níveis estruturais, mas também na estrutura lexical inerente aos sinais. Isto é, a noção de sujeito é construída na estrutura das palavras em si, mesmo antes de elas se combinarem em unidades maiores. A divisão do trabalho entre o corpo e as mãos nesses sinais suge- re que o evento deve ser conceitualizado em termos de predicado em relação ao sujeito. O agenciamento de um dos argumentos partici- pantes do evento é um componente básico da estrutura lexical que expressa o evento.
O padrão ‘corpo como sujeito’, mesmo sendo básico, como argumentamos, é fre- qüentemente ofuscado por outros sistemas em línguas de sinais. Entretanto, uma vez que este padrão é reconhecido, ele se torna uma ferramenta explicativa robusta para um grande número de fenômenos interlinguais e intralinguais. Ele explica porque este padrão emerge como estratégia modelo em verbos de concordância de argumento único, esclarece a complexidade das formas de objeto em 1ª pessoa e explica a aparente supremacia do objeto no sistema de concordância verbal em línguas de sinais. Os desenvolvimentos dia- crônicos numa língua de sinais, bem como diferenças tipológicas entre línguas de sinais, também encontram uma explicação natural quando se reconhece o papel do corpo na es- trutura do sinal. É útil também para demons- trar a conexão com outros fenômenos, como por exemplo, o fato de que gestos da pers-
9 Para uma descrição da história da comunidade surda em Israel e o desenvolvimento da ISL, Cf. Meir & Sandler
Irit Meir, Carol Padden, Mark Aronoff e Wendy Sandler
Questões T
eóricas das P
esquisas em Línguas de Sinais
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pectiva do sinalizador são mais transparentes que os gestos da perspectiva do observador (Marentette et al., 2007) e além de observa- ções em relação aos estágios de aquisição da concordância verbal por crianças surdas em várias línguas de sinais. Deixamos estes tópi- cos para futuras pesquisas.
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