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3tro, as línguas de sinais em uma amostragem

Raízes, folhas e ramos – a tipologia de línguas de sinais

3tro, as línguas de sinais em uma amostragem

exibirão um grau de variação e essas podem ser comparadas entre si. Por exemplo, o grau de variação relacionado a expressões faciais é bem pequeno entre as línguas de sinais por- que há muita sobreposição de expressões uti- lizadas em muitas línguas de sinais. Por outro lado, os paradigmas de palavras interrogati- vas (isto é, conjuntos específicos de palavras interrogativas para as quais existem itens lexicais distintos) demonstram um enorme grau de variação entre as diferentes línguas de sinais. Além disso, algumas palavras interro- gativas, ou combinações dessas palavras são encontradas com mais freqüência do que ou- tras, havendo evidências de inter-relaciona- mento de palavras interrogativas e artigos in- definidos(Zeshan 2004b, 2006). Tais padrões de diferenças em variabilidade, freqüência de ocorrência, inter-relacionamento de domí- nios gramaticais, etc. devem ser levados em conta em um arcabouço teórico de tipologia de língua de sinais. Na medida em que a pes- quisa em tipologia de língua de sinais progri- de, poderemos mapear a diversidade estrutu- ral das línguas de sinais, de forma cada vez mais detalhada.

Para a tipologia de língua de sinais, é im- portante investigar explicações funcionais para as diferenças e semelhanças entre as línguas de sinais. Geralmente, os resultados prévios da tipologia de línguas faladas podem ser úteis aqui. Por exemplo, a estreita relação entre palavras interrogativos e artigos inde- finidos ou entre posse e existência tem sido encontrada tanto em línguas faladas, quan- to em línguas de sinais e as explicações para esses padrões foram sugeridas pela literatura

da tipologia de línguas faladas. Inventários de padrões, como por exemplo, um número li- mitado de tipos de construção utilizados para expressar posse (como em Heine 1997), tam- bém podem ser aplicados às línguas de sinais. Entretanto, em outras áreas, é interessante observar que as línguas de sinais se compor- tam diferentemente das línguas faladas, por exemplo, com relação a alguns aspectos do domínio da negação (ver seção 3.1.1).

Estudos interlingüísticos abrangentes en- tre línguas de sinais apresentam problemas teóricos e metodológicos específicos, alguns dos quais são comuns à tipologia de línguas faladas. Um ponto crítico, por exemplo, é a confiabilidade dos dados. Sem dúvida, já que é impossível a um pesquisador ter o co- nhecimento de dezenas de línguas de sinais diferentes, como saber se a informação que está sendo coletada está correta? Não há uma resposta simples para isso e o problema de confiabilidade de dados é inerente à pesquisa tipológica em qualquer uma das duas moda- lidades de língua. Entretanto, os projetos em tipologia de línguas de sinais estão, de certo modo, em uma situação diferente, pois é ne- cessário gerar realmente uma grande parte dos dados, ao longo do próprio projeto de tipologia de língua de sinais. Isso se deve ao fato de que há pouca informação publicada que seja facilmente acessível, mostrando que os tipologistas de línguas de sinais têm mais chance de tomar medidas diretas para me- lhorar a confiabilidade dos dados4. Por outro

lado, a coleta de dados interlingüísticos tam- bém apresenta seus próprios desafios. Um exemplo de como isso pode ser feito é discu- tido na seção 3.1.2.

4 Os tipos de medida a serem adotados não podem ser discutidos em detalhe aqui, mas consulte Zeshan (em

Ulrike Zeshan

Questões T

eóricas das P

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Finalmente, os estudos interlingüísticos precisam lidar com a questão da amostra- gem, isto é, a escolha das línguas a serem representadas em um estudo interlingüís- tico. Pesquisadores em tipologia de línguas faladas trabalham com amostras de línguas para as quais a informação sobre o domínio em questão está disponível. Essas amostras têm de ser regionalmente equilibradas (isto é, não incluir muitas línguas de uma mesma região geográfica) e geneticamente equili- bradas (isto é, não incluir muitas línguas de uma mesma família lingüística). Entretanto, para as línguas de sinais, neste momento, isso é muito difícil de ser feito, pois pou- quíssimos dados estão disponíveis. Além disso, sabemos muito pouco sobre como as línguas de sinais estão historicamente rela- cionadas, ou seja, a qual família lingüística as línguas de sinais conhecidas pertencem, mesmo para se considerar apenas a questão de uma amostragem geneticamente equili- brada. Atualmente, não há solução teórica satisfatória para esse problema, portanto devemos trabalhar com base nas conside- rações práticas e tentar, apenas, incluir o máximo de informação do maior número possível de línguas de sinais em nossos da- dos, a fim de cobrir uma área razoável. Por exemplo, Zeshan (2004a, 2004b, 2005) utili- zou informações de 37 línguas de sinais dis- tintas. Nada a ser feito, no momento atual, contra a tendência geográfica e/ou genética nesse tipo de amostragem, exceto estar sem- pre consciente dessa questão e, conseqüen- temente, formular cuidadosamente nossas generalizações.

Na próxima sessão, apresento alguns exemplos de estudos interlingüísticos re- centes para ilustrar os tipos de resultados e metodologias que tipicamente encontramos nesses projetos.

3. Estudos de caso em tipologia de línguas de sinais

Os resultados do primeiro estudo amplo e comparativo em tipologia de língua de sinais foram publicados por Zeshan (2004a, 2004b, 2005 e 2006). Esse estudo concentra-se nas construções interrogativas e negativas (dura- ção do projeto 2000-2004) e foi seguido por um segundo estudo mais abrangente sobre construções possessivas e existenciais (2005 ainda em andamento; ver Perniss e Zeshan, no prelo). Além de projetos de grande dimen- são, pesquisas interlingüísticas de menor di- mensão sobre conjuntos de línguas de sinais de vários tamanhos têm sido conduzidas atu- almente, incluindo o trabalho de McBurney (2002) sobre pronomes pessoais, Eccarius e Brentari (2007) sobre construções classifica- doras e Schwager & Zeshan (no prelo) sobre sistemas de classes de palavra.

Nesta seção, apresento uma ilustração das metodologias e dos resultados que os pro- jetos em tipologia de línguas de sinais produ- ziram. Uma visão mais abrangente pode ser encontrada em Zeshan (em preparação). Ao invés de tentar resumir todos os vários tópi- cos investigados, irei me concentrar em al- guns pontos de interesse e mostrar como eles são relevantes para as idéias teóricas esboça- das nas sessões anteriores. A seção 3.1 trata da negação não-manual entre as línguas de sinais, ao passo que a seção 3.2 se concentra nos padrões de posse predicativa.

3.1 Negação não-manual

O projeto interlingüístico sobre interrogati- vas e negativas mencionado acima incorpo- ra dados de 37 línguas de sinais diferentes, embora algumas sejam representadas mar-

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