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4A representação esquemática na Figura

Raízes, folhas e ramos – a tipologia de línguas de sinais

4A representação esquemática na Figura

ilustra esse ponto. Dois tipos hipotéticos de comunidades de pessoas surdas são represen- tados. Nesta situação, haveria somente um ou dois indivíduos surdos em cada uma das vilas (indicados pelos pontos dentro dos quadra- dos), cada qual podendo ser, a principio, um sinalizante de sinal caseiro. Entretanto, esses indivíduos podem ter contato irregular e não sistemático um com o outro (indicado pelas setas), por exemplo, encontrando-se uma ou duas vezes por ano para um grande festival, especialmente se as vilas forem muito distan- tes umas das outras e o transporte for difícil. Quando tal situação seria suficiente para uma língua em comum surgir e ser mantida entre essas pessoas? Em outras palavras, é possível que um sistema lingüístico seja mantido ao longo do espaço? Qual distância pode ser to- lerada antes que o sistema seja rompido?

Figura 9: Situação de contato hipotética entre

passar do tempo. Entretanto, os semi-falan- tes que ainda utilizam um pouco dessa lín- gua adotaram uma outra língua falada como sua língua principal e, portanto, não se pode chamar essas pessoas de semi-linguais (‘semi-

lingual people’). A situação a respeito da sina-

lização entre pessoas surdas é diferente, nesse aspecto.

Esse conjunto complexo de questões ainda não foi abordado pela pesquisa em língua de sinais, tendo as comunidades sina- lizantes minoritárias do tipo discutido aqui acabado de começar a fazer parte do quadro da lingüística da língua de sinais. Enquanto as respostas ainda parecem estar muito lon- ge, o fato de se levantar as questões certa- mente demonstra como as novas evidências a partir dos diversos conjuntos de comuni- dades sinalizantes podem ser uma experiên- cia enriquecedora e podem, potencialmente, levantar questões teóricas muito profundas em lingüística.

5. Conclusão: Tipologia de língua de sinais além da lingüística

Este artigo demonstrou maneiras fascinantes como os resultados a partir da tipologia de língua de sinais podem enriquecer nosso en- tendimento da diversidade lingüística entre as línguas de sinais e entre a linguagem hu- mana em geral. Contudo, a história não aca- ba aqui. A pesquisa em tipologia de língua de sinais também apresenta efeitos nas comu- nidades usuárias, efeitos esses que vão além da pesquisa teórica. Muitos desses efeitos são bem conhecidos na lingüística da língua de sinais, mas são invocados, de forma especial- mente pronunciada, no campo da tipologia de língua de sinais devido à amplitude de sua pesquisa, que vai além das áreas de pesquisa pessoas surdas em uma área rural

A mesma pergunta poderia ser feita em relação ao tempo. Como deve ser a escala de tempo de contato entre indivíduos surdos para que surja uma língua de sinais verdadei- ra? Quanto tempo de ausência pode ser to- lerado antes que o sistema seja rompido? As línguas faladas enfrentam essa questão prin- cipalmente quando as línguas estão desapa- recendo e sabe-se que o processo de desgaste começa a afetar o sistema lingüístico, com o

Ulrike Zeshan

Questões T

eóricas das P

esquisas em Línguas de Sinais

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mais estabelecidas em comunidades surdas urbanas, nas sociedades industrializadas do Ocidente.

A pesquisa sobre línguas de sinais e so- bre comunidades surdas precisa ser especial- mente sensível quanto às considerações éticas na maneira como a pesquisa é conduzida e como os resultados são aplicados. Atualmen- te, com a pesquisa em língua falada penetran- do novas áreas como a documentação em grande-escala de línguas ameaçadas, as pre- ocupações éticas se tornaram mais comuns e mais abertamente discutidas na lingüística. Por exemplo, as diretrizes éticas do departa- mento de lingüística do Instituto Max Planck para Psicolingüística (Max Planck Institute

for Psycholinguistics) afirmam:

Os membros do departamento devem, sem- pre que possível, assegurar-se que estão con- tribuindo com as comunidades em que es- tão trabalhando. Exceções a essa política só podem ser consideradas em circunstâncias realmente não-usuais, onde a implementa- ção da política é impossível e tais exceções requerem justificação detalhada, bem como a aprovação do diretor do departamento (MPI-EVA 2002).

As comunidades sinalizantes são geral- mente vulneráveis e freqüentemente enfren- tam opressão lingüística, portanto, a maioria dos lingüistas de língua de sinais está ciente de seus deveres de “dar retorno às comunida- des”. Com a ascensão da pesquisa nas mais diversas comunidades dentro do paradigma da pesquisa em tipologia de língua de sinais, novas questões surgem relacionadas a tal lín- gua, por exemplo, trabalhos na “vila surda” ou em situações de línguas de sinais amea- çadas (cf. (Nonaka, 2004). Esse é um ponto muito crítico, portanto, ao invés de entrar-

mos em detalhes aqui, discuto brevemente os benefícios potenciais às comunidades que utilizam línguas de sinais, geralmente asso- ciadas à pesquisa em tipologia de língua de sinais.

O maior benefício da pesquisa em tipolo- gia de língua de sinais certamente refere-se às muitas línguas de sinais cujas estruturas lin- güísticas ainda não foram documentadas até o presente. Tendo em vista que a tipologia de língua de sinais procura, sistematicamente, essas línguas e se concentra ativamente no campo da documentação lingüística (cf. se- ção 2.2.1), muitas comunidades de línguas de sinais podem se beneficiar desses recursos adicionais, ao serem consideradas, pela pri- meira vez, na pesquisa sobre suas línguas.

Com o passar do tempo, essa pesquisa pode gerar importantes recursos lingüísticos, uma vez que é apenas com base em trabalho descritivo sólido que projetos em lingüísti- ca aplicada, como, por exemplo, o ensino da língua de sinais, o treinamento de intér- pretes, etc., podem se tornar bem sucedidos e sustentáveis. Um exemplo de como a pes- quisa teórica e a pesquisa aplicada podem ser conduzidas simultaneamente é documenta- do, no caso da Índia, no trabalho de Zeshan, Vasishta e Sethna (2004).

Reforçar a lingüística e, subseqüente- mente, as dimensões aplicadas da pesquisa em língua de sinais é especialmente impor- tante em muitos países em desenvolvimento e a tipologia de língua de sinais está em posição de contribuir para tais desenvolvimentos. Se pesquisadores experientes conduzirem tra- balho de campo em uma determinada região onde a língua de sinais e suas aplicações ainda não se estabeleceram, a troca de conhecimen- to importante entre o pesquisador estrangei- ro e a comunidade surda local pode acontecer e sinalizantes locais terão uma oportunidade

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