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14No presente estudo, analisamos narrativas

Dêixis, anáfora e estruturas altamente icônicas: evidências in terlingüísticas nas línguas de Sinais Americana (ASL), Francesa

14No presente estudo, analisamos narrativas

curtas obtidas por meio de duas histórias ilustradas diferentes, que têm sido ampla- mente utilizadas em pesquisas tanto sobre LS quanto sobre línguas faladas. As narrativas na LIS e na ASL foram elicitadas mediante o uso da mesma história, “Frog where are you?” [“Sapo onde está você?”] (Mayer, 1969). Já as narrativas na LSF foram elicitadas por meio da história “The Horse” [“O Cavalo”] (Hick- mann, 2003).

Na versão utilizada como material de eli- citação de dados, a história ‘do sapo’ é com- posta de 24 figuras. Ela conta as aventuras de um menino, seu cachorro e um sapo. O menino (protagonista principal) encontra um sapo, leva-o para casa, coloca-o dentro de um pote que está em seu quarto e, então, vai dormir com o cachorro. Durante a noite, enquanto o menino e o cão dormem, o sapo pula para fora do pote e escapa. Na manhã seguinte, ao acordar o menino descobre que o sapo desapareceu. Então ele e o cachorro começam a procurar pelo sapo em todos os lugares.

A história ‘do cavalo’ é composta de 5 figuras, portanto, muito ‘mais curta’ do que a história ‘do sapo’. Ela narra ações simples realizadas por um cavalo, uma vaca e um pás- saro no espaço de um pasto dividido por uma cerca. O protagonista principal é o cavalo, que galopa alegremente de um dos lados da cerca, enquanto é observado pela vaca e pelo pássaro, que estão, respectivamente, do outro lado da cerca e sobre uma das estacas da cer- ca. Em um determinado momento, o cavalo pula a cerca para se juntar à vaca do outro lado, mas acaba batendo na cerca e caindo de costas do outro lado, machucando uma de suas pernas. A vaca e o pássaro chegam então para ajudá-lo: o pássaro traz um kit de pri- meiros-socorros, que é usado pela vaca para

enfaixar a perna do cavalo.

Essas histórias ilustradas foram mos- tradas a todos os sinalizantes por entrevis- tadores surdos fluentes em cada uma das LSs analisadas e com os quais os sinalizan- tes estavam bem familiarizados. Todos os sinalizantes tiveram oportunidade de se familiarizar com as histórias, sem restrição de tempo, para então contá-las usando sua memória.

Para cada LS, selecionamos, a partir dos corpora mais extensos mencionados acima, os textos produzidos por três sinalizantes nativos de idades e histórico sócio-cultural comparáveis: jovens adultos surdos, na fai- xa etária de 19 a 23 anos, de classe média, com ensino médio concluído ou nos primei- ros anos da universidade. Focalizamos nossa análise em seqüências textuais de conteúdo análogo (episódios funcionalmente idênti- cos envolvendo referentes animados e ina- nimados) e duração de tempo equivalente (aproximadamente 1 minuto de produção de sinais). Os dados referentes à ASL e à LIS compreendem partes da narrativa da ‘his- tória do sapo’, correspondentes à seqüência que vai do começo da história até o episódio em que o cachorro cai do peitoril da janela, o menino o segura nos braços e ele lambe a bochecha do menino. Os dados referentes à LSF correspondem a narrações completas da ‘história do cavalo’.

O leitor pode estar se perguntando porque usamos partes da ‘história do sapo’ para a coleta dos dados na ASL e na LIS e uma história diferente, a do ‘cavalo’, para os dados na LSF. Nossa escolha foi parcial- mente motivada por indícios fornecidos por trabalhos anteriores, mas também foi influenciada por razões práticas. Pesqui- sas conduzidas de forma independente so- bre as ‘histórias de sapo’ na ASL e na LIS

Elena Pizzuto, Paolo Rossini, Marie-Anne Sallandre e Erin Wilkinson

Questões T

eóricas das P

esquisas em Línguas de Sinais

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(Wilkinson, 2002) e sobre as ‘histórias de cavalo’ na LSF (Sallandre, 2003) indicaram a relevância que características semânticas, como animado x inanimado e humano x não-humano, podem ter para um entendi- mento mais claro dos artifícios dêiticos e anafóricos nas narrativas sinalizadas. Am- bas as histórias analisadas incluem referen- tes animados e inanimados, mas elas se di- ferenciam com relação ao aspecto ‘huma- no’ x ‘não-humano’ de seus protagonistas: a história ‘do sapo’ tem um personagem humano (o menino) como protagonista principal, enquanto, na história ‘do cava- lo’, todos os personagens são animais, por- tanto não-humanos. Essa diferença exis- tente entre as duas histórias pode, assim, fornecer informações sobre o papel que o aspecto humano x não-humano pode ter (dentro da categoria de referência a seres animados), na seleção de artifícios de refe- rência dêitico-anafórica nas narrativas.

Quando planejamos a pesquisa aqui re- latada, pretendíamos expandir nosso banco de dados com o intuito de analisar narrativas referentes a ambas as histórias produzidas em cada uma das LS investigadas. Entretanto, res- trições de tempo e de financiamento nos im- pediram de manter esse objetivo. O presente estudo comparativo foi então redesenhado e deve ser visto como uma exploração inicial da questão em foco. Reconhecemos que uma análise mais abrangente requer uma maior quantidade de dados nas línguas analisadas, coletados a partir dos mesmos materiais de elicitação.

2.1 Transcrição, codificação e análise dos dados

A metodologia de transcrição, bem como as categorias analíticas que utilizamos para a codificação, foram estabelecidas de comum acordo entre todos os co-autores, a partir do trabalho teórico e das análises empíricas sobre o discurso sinalizado realizados por Cuxac (2000), Sallandre (2003) Cuxac & Sallandre (2004/no prelo), Pizzuto (2004/no prelo), e Pizzuto et al (2005).

Todas as produções de sinais foram trans- critas e codificadas no mesmo formato Excel por sinalizantes fluentes em cada uma das LS nacionais investigadas6. Utilizamos as chama-

das ‘glosas’ para anotar, respectivamente no inglês, francês e italiano escritos, o significa- do básico das unidades lingüísticas que iden- tificamos nas narrativas da ASL, da LSF e da LIS7. Essa anotação por meio de ‘glosas’ foi

acrescida, nas transcrições em Excel que pro- duzimos, de informações sobre a duração de cada unidade identificada e de informações relevantes a respeito das características for- mais e articulatórias de tais unidades de sinal (por exemplo: cada unidade foi codificada quanto ao tipo - sinal padrão ou EAI? EAI do subtipo TF, TS ou TP?; quanto à presença/ ausência de deslocamento espacial; e quanto às mãos usadas na produção dos componen- tes manuais das unidades de sinal).

Todas as transcrições foram subseqüen- temente revisadas por todos os co-autores (juntamente com os dados originais gravados

6 Erin Wilkinson transcreveu os dados da ASL, Paolo Rossino, os da LIS, e Marie-Anne Sallandre, os da LSF. 7 Os auores têm pleno conhecimento de que a chamada anotação baseada em glosas, apesar de ser ainda uma

prática comum entre quase todos os pesquisadores de línguas, impõe severas limitações no que diz respeito à análise de enunciações e discurso sinalizados, e que é necessário que se desenvolva sistemas mais apropriados para a anotação de produções sinalizadas em forma escrita. Para alguns trabalhos recentes sobre esse assunto, bem como possíveis soluções para o problema, o leitor interessado pode consultar Di Renzo & al (2006), Garcia & Boutet (2006), e Pizzuto, Rossini & Russo (2006).

Dêixis, anáfora e estruturas interlingüísticas nas Línguas de Sinais Americana (ASL), Francesa (LSF) e Italiana (LIS)

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