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Duplicação Posição Final

Aby 1;9 *** 2;1 2;0

Sal 1;7 *** 1;9 1;9

Ana 1;6 ** 2;0 2;1

Leo 1;10 *** 2;1 2;2

** p < .005 *** p < .001

É evidente que as crianças adquiriram simultaneamente a duplicação e a constru- ção final; porém, essas duas construções foram adquiridas depois do I-focus (o que é altamente significativo para a Probabili- dade do Binômio Exato). Pode-se dizer que os resultados obtidos confirmam as análises teóricas que relacionam a duplicação e as

construções finais em ASL e LSB e refutam as análises que dão origens distintas a essas construções.

Esses dois exemplos demonstram áreas nas quais dados gerados a partir de aquisição de línguas de sinais podem afetar questões teóricas de análises gramaticais. Tanto para as línguas sinalizadas como para as línguas faladas, há muitos casos em que propostas te- óricas diferentes, obviamente, não fazem di- ferentes previsões para a aquisição. Sendo as- sim, os dados de aquisição podem não afetar tais questões. Entretanto, outros casos levam à expectativa de ordem, de tal forma a ser possível esperar que os fenômenos que estão relacionados na gramática adulta possam ser adquiridos simultaneamente; ou que os fenô- menos que são separados, sejam adquiridos separadamente. Em alguns casos, é possível fazer previsões de ordenação específicas, por exemplo, quando uma construção especifica apresenta outras, como pré-requisitos (para discussão de exemplos, ver Snyder & Lillo- Martin, no prelo). Nesses casos, os dados de aquisição da linguagem fornecem importante confirmação – ou disconfirmação – de supo- sições teóricas.

3(b). Utilização da gramática de línguas de sinais para fornecer informações sobre a aquisição de línguas de sinais

A categoria 3A examina as maneiras como os estudos de aquisição podem fornecer infor- mações para os estudos gramaticais. A pre- sente categoria de estudos segue em direção contrária, utilizando novos avanços gramati- cais para fornecer informações aos estudos de aquisição. Essas duas categorias estão intima- mente ligadas, já que ambas demonstram a estreita relação entre os estudos de aquisição e a teoria lingüística. De fato há, freqüente-

Estudos de aquisição de línguas de sinais: passado, presente e futuro

Questões T

eóricas das P

esquisas em Línguas de Sinais

1 mente, um efeito espiral tal que os dois cam-

pos se beneficiam e se influenciam reciproca- mente, no mesmo domínio.

Um exemplo dessa categoria provém da pesquisa sobre o desenvolvimento de or- dem de palavras por crianças. Coerts & Mills (1994) dedicaram-se a um estudo sobre o desenvolvimento da ordem de palavras (su- jeito – objeto – verbo) na Língua de Sinais da Holanda (SLN), em duas crianças surdas sinalizantes, com idade entre 1,5 e 2,5 anos. Os resultados de seu estudo mostraram que as crianças demonstraram um alto grau de varia- bilidade em sua ordenação de sujeitos e ver- bos. Essa variabilidade na aquisição da ordem de palavras foi intrigante e permaneceu sem uma explicação completa, no trabalho inicial.

Então, Bos (1995) identificou na SLN um processo conhecido como Cópia do Prono- me do Sujeito (Subject Pronoun Copy - SPC) (cf. Padden, 1988). De acordo com o SPC, o sujeito de uma frase pode ser repetido como um pronome na posição final da frase, con- forme exposto em (4)a. Contudo, também é possível que o sujeito na posição inicial da sentença esteja ausente (esse é um processo geral encontrado na SLN e também em ou- tras línguas de sinais). Quando o sujeito na posição inicial da frase não é expresso, mas o pronome na posição final da frase está presen- te, a ordem superficial é verbo - sujeito, como em (4)b (exemplos extraídos de Coerts 2000).

(4) a. INDICADORbeppie FILME INDICADOR-

beppie (INDEXbeppie FILM INDEXbeppie)

‘Beppie está filmando’ (‘Beppie is fil- ming’.)

b. CHORAR INDICADORbonecas (CRY INDEXdolls)

‘As bonecas estão chorando.’ (‘The dolls are crying.’)

Coerts (2000), então, re-analisou os dados de crianças, estudados anteriormen- te por Coerts & Mills. Primeiro, ficou evi- dente que as crianças sabiam que a SLN permitia o uso de sujeitos nulos, pois elas utilizavam o sujeito nulo apropriadamente e freqüentemente. Utilizou um critério rí- gido para o processo de aquisição do SPC: a criança deveria utilizar um pronome na posição final de uma frase com um sujeito explícito, para mostrar que havia adquirido o SPC. Depois que as crianças demonstra- ram ter adquirido o SPC, por volta dos dois anos de idade, toda ocorrência posterior da ordem verbo – sujeito, em que o sujeito após o verbo é um pronome – foi conside- rada um caso de SPC.

Utilizando essa re-análise, Coerts desco- briu que a maioria dos exemplos prévios de ordem de palavras que se mantinham ‘sem explicação’ era, na verdade, explicável e que a aquisição da ordem de palavras por crianças estava de acordo com as expectativas. Coerts conclui que:

o conhecimento da linguagem adulta con- duz a escolha dos procedimentos de análise a serem utilizados para os dados de aquisição ... um procedimento de análise que leva em conta a cópia do pronome do sujeito resulta em um quadro mais claro a respeito da aqui- sição da posição do sujeito e do verbo na sen- tença (Coerts 2000)6.

Um projeto desenvolvido por Chen Pichler (2001a; 2001b) chegou a resultados

6 “O conhecimento das línguas adultas direciona a escolha de procedimentos de análise utilizados para os dados

de aquisição… um procedimento de análise que leva em consideração cópia do pronome sujeito resulta em uma descrição muito mais clara em relação à aquisição da posição do sujeito e verbo”.

Diane Lillo-Martin

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semelhantes relacionados à ASL. Seu estu- do vai além da consideração isolada da SPC e inclui outras ocorrências de mudanças da ordem das palavras, permitidas na gramática adulta. Apesar de existirem argumentos ante- riores quanto ao fato de as crianças seguirem estritamente a ordem de palavras básica SVO utilizada pelos adultos, Schick (2002) não en- controu evidências dessa estratégia em crian- ças com dois anos de idade, concluindo que, na verdade, a ordem de palavras das crian- ças era ‘aleatória’. Chen Pichler utilizou uma abordagem semelhante à de Coert e determi- nou quando o uso da ordem verbo – sujeito por crianças poderia ser considerado um caso de SPC e quando a utilização da ordem objeto – verbo poderia ser considerada proveniente de operações de mudança da ordem de pa- lavras, similares à de adultos (por exemplo, mudança do objeto).

Chen Pichler estabeleceu critérios cla- ros para considerar enunciações como mu- danças de ordem permitidas (legal order

changes). Por exemplo, os sujeitos que apa-

recem após os verbos (post-verbal subjects) devem ser pronomes, para serem conside- rados SPC; objetos que aparecem antes do verbo (pre-verbal objects) que ocorrem com verbos marcados para aspecto, localização espacial, ou classificadores manuais foram considerados exemplos de mudança do ob- jeto. Utilizando esses critérios, Chen Pichler descobriu que a maneira como as crianças usam a ordem das palavras demonstra con- formidade regular com as opções gramati- cais, em fase muito anterior ao que antes se imaginava. Dessa forma, a consideração de tais avanços nas análises sintáticas nos leva a pesquisas mais confiáveis nos estudos de aquisição.

Os dois exemplos ilustram a importân- cia de se considerar a gramática adulta alvo,

quando se estuda o desenvolvimento lingüís- tico. O objetivo de se estudar a aquisição de linguagem é compreender como as crianças se tornam semelhantes aos adultos, em ter- mos de seu conhecimento da língua. Quan- do as crianças diferem dos adultos, é preciso buscar uma explicação para essa diferença. Porém, algumas vezes, ao analisarem o de- senvolvimento da criança, pesquisadores não levam em conta os avanços no estudo da gra- mática adulta. A descrição da linguagem a que as crianças estão expostas e da qual elas serão usuárias muda à medida que pesquisadores coletam mais dados e formam hipóteses que apontam em novas direções para futuras pes- quisas. Pesquisadores da aquisição de língua podem frustrar-se com esse alvo móvel, mas eles também podem se beneficiar disso, em termos de análises melhoradas e sugestão de hipóteses próprias.

4. Utilização de dados da aquisição de língua de sinais para fornecer informações sobre teorias de aquisição da linguagem

Na seção anterior, consideramos teorias da gramática adulta e sua relação com a pesqui- sa na aquisição da linguagem. Nesta seção, descrevemos teorias do processo de aquisi- ção. É possível testar teorias alternativas a respeito de como a linguagem se desenvolve e refinar a pesquisa, utilizando-se dados de aquisição de línguas de sinais coletados em tempo-real, da mesma forma como se testa teorias utilizando-se dados gerados a partir de línguas faladas. Essas são teorias mais ge- rais sobre aquisição da linguagem, não espe- cíficas às línguas de sinais (e, em geral, não desenvolvidas com base em dados de línguas de sinais).

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