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3ginalmente devido à mínima quantidade

Raízes, folhas e ramos – a tipologia de línguas de sinais

3ginalmente devido à mínima quantidade

de dados. Os dados são baseados em fontes variadas, sendo que a principal parte pro- vém de respostas dadas a um questionário tipológico distribuído aos co-pesquisado- res espalhados pelo mundo (Zeshan 2006). Além dessas fontes, dados primários de pes- quisa de campo coletados por mim e dados provenientes de fontes publicadas também contribuíram para a formação do banco de dados geral, sendo compilados para análise e arquivados no sistema Microsoft Access.

Esse estudo produziu muitos insights fas- cinantes, dos quais temos apenas idéias su- perficiais aqui. Um dos padrões mais interes- santes emergiu de estudo da marcação não- manual de orações negativas entre línguas de sinais. Resumidamente, um movimento de cabeça para os lados em orações negativas ocorre em todas as línguas de sinais para as quais dados sobre esse tópico estavam dispo- níveis. Entretanto, o status gramatical desse movimento da cabeça negativo e as limita- ções de uso são bem diferentes em línguas de sinais distintas.

A principal diferença tipologicamente relevante se relaciona à relativa proeminência da negação manual e não-manual nos siste- mas gramaticais das línguas de sinais. Todas as línguas de sinais nos dados coletados uti- lizam tanto sinais negativos produzidos com as mãos, quanto marcações não-manuais de orações negativas, principalmente na forma de movimentos de cabeça, tais como o mo- vimento de cabeça para a esquerda e para a direita. Logicamente, então, ou a negação manual ou a não-manual poderia ser mais importante para marcar a oração negativa, ou ambas poderiam apresentar proeminên-

cia similar. Há muitos critérios que podem ser utilizados para determinar se um sistema de negação apresenta proeminência manual ou não-manual (ver Zeshan 2004a para uma discussão detalhada). Os exemplos (1), (2) e (3) abaixo, de línguas de sinais na Alema- nha, Turquia e Índia, ilustram alguns desses critérios, concentrando-se na questão de qual parte da negação – manual ou não-manual – é obrigatória e qual é opcional5.

Alemanha (Deutsche Gebärdensprache, DGS, Língua de Sinais Alemã):

(1a) neg ICH VERSTEH

IX1 UNDERSTAND

(1b) neg

ICH VERSTEH NICHT

IX1 UNDERSTAND NOT

(1c) * ICH VERSTEH NICHT IX1 UNDERSTAND NOT “Eu não entendo”.

Turquia (TürkİşaretDili, TID, Língua de

Sinais Turca):

(2a) neg-inclinar a cabeça

BEN ANLAMAK DEGIL

IX1 UNDERSTAND NOT

(2b) * neg-inclinar a cabeça BEN ANLAMAK

IX1 UNDERSTAND

“Eu não entendo”.

Índia (Língua de Sinais Indo-Paquista- nesa, IPSL):

Ulrike Zeshan

Questões T

eóricas das P

esquisas em Línguas de Sinais

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(3a) neg

IX1 UNDERSTAND NOT (3b) neg

IX1 UNDERSTAND

(3c) IX1 UNDERSTAND NOT

“Eu não entendo”.

Em cada grupo de exemplos, a primeira sentença (1a, 2a e 3a) é uma maneira comum e gramatical de se dizer ‘Eu não entendo’. Na Língua de Sinais Alemã (DGS), isso envolve apenas a negação não-manual, não havendo necessidade de um sinal manual negativo. En- quanto a negação manual e não-manual pode ocorrer simultaneamente na DGS (exemplo 1b), não é gramaticalmente correto omitir o movimento da cabeça para os lados. Junta- mente com outras evidências que não analisa- mos aqui, isso nos permite concluir que a DGS tem um sistema de negação não-manual do- minante, em que o movimento da cabeça de negação é obrigatório. Nos dados utilizados para o estudo comparativo, esse tipo de siste- ma era mais comum entre as línguas de sinais, incluindo todas as línguas de sinais ocidentais, sendo o melhor descrito na literatura.

Um tipo de sistema menos conhecido é exemplificado nos dados da TID em (2). A forma usual de expressar a mesma sentença envolve tanto negação manual quanto não- manual (2a)6. Ao contrário da DGS, na Língua

de Sinais Turca (TID) não é possível negar essa sentença usando-se apenas um movimento da cabeça negativo, sendo essa a razão pela qual o exemplo (2b) não é gramaticalmente correto.

Um sinal manual negativo deve estar presen- te na frase. Já que a negação manual é obriga- tória em TID, pode-se, então, considerá-la o sistema de negação manual dominante. Rela- tivamente poucas línguas de sinais nos dados coletados são desse tipo e estão todas fora da Europa e da América do Norte, o que ilustra a importância de se ter uma grande variedade de dados disponíveis para um estudo tipoló- gico. Além da TID, encontrou-se um sistema de negação manual dominante em línguas de sinais do Japão, China e em um agrupamento comunitário em Bali.

Por fim, os dados da IPSL contrastam com os dados da DGS e com os da TID, no sentido de que nenhum dos exemplos em IPSL é gramaticalmente incorreto (marca- dos com um asterisco*). Em IPSL, as orações podem ser negadas tanto de maneira manu- al, como também não-manual, embora seja mais comum a utilização de ambas as for- mas, como em (3a). Essa e outras evidências sugerem que nem a negação manual nem a não-manual são dominantes em IPSL; por- tanto, podemos falar de um sistema de ne- gação equilibrado. Uma possibilidade que vale a pena explorar no futuro seria a de que sistemas equilibrados desse tipo estão em um estágio menos avançado de gramaticalização, onde, de certo modo, o sistema ainda não “decidiu” qual caminho seguirá.

A categorização das línguas de sinais em sistemas de negação manual dominante e não-manual dominante, conforme ilustrada nos exemplos acima, é um bom exemplo dos tipos de generalizações que é possível fazer em tipologia de língua de sinais, com base em

6 A negação não-manual aqui é um movimento de cabeça para trás acompanhado das sobrancelhas erguidas, o

que é uma característica regional de algumas línguas de sinais do Leste do Mediterrâneo. A TID também utiliza um movimento de cabeça de lado para o outro além do movimento negativo para trás, mas isso não é diretamen- te relevante para nossa presente discussão.

Raízes, folhas e ramos – A tipologia de línguas de sinais

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