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10real, que é contínuo No campo semântico de

A realização morfológica dos campos semânticos

10real, que é contínuo No campo semântico de

posse, o espaço sinalizado consiste de pontos discretos/sub-partes. Essa diferença, entre um uso contínuo e discreto do espaço, determina a interpretação da relação entre os loci-R e as possíveis formas do movimento de trajetória do verbo.

As diferenças entre os dois usos do espa- ço podem ser ilustradas pelo seguinte exem- plo: Considere dois loci, A e B, no espaço de sinalização. Em (a) esses loci correspondem a lugares, enquanto em (b) eles correspondem a pessoas4.

14. o o o

A C B

a) A=Jerusalém B=Tel-Aviv

I LIVE INDEXA. [EU MORO INDICADO- RA]. ‘I live in Jerusalem’ [Eu moro em Je- rusalém].

b) A=John B=Mary

INDEXA HAPPY [INDICADORA FELIZ]. ‘He (John) is happy’ [Ele (John) é feliz].

A diferença entre os dois tipos de pro- nome aparece quando o sinalizante aponta para o ponto C, uma locação próxima, mas não idêntica ao ponto A. No caso de (b), essa variação fonética não resulta em uma mu- dança do significado da frase. Contanto que o ponto C esteja mais perto de A do que B, a frase ainda significaria ‘John is happy’ [John é feliz]. No caso de (a), entretanto, a frase te- ria um significado diferente: ‘I live in a place between Jerusalem and Tel-Aviv which is clo-

ser to Jerusalem’ [Eu moro em um lugar en- tre Jerusalém e Tel-Aviv que é mais perto de Jerusalém]. A diferença entre (a) e (b) quan- do se aponta para C, ao invés de A, enfatiza as naturezas díspares dos dois usos do espaço. Essa diferença se manifesta em vários aspec- tos do comportamento morfológico dos loci- R e dos verbos nos dois campos, conforme os itens (i-iv) descrevem:

I. Variações fonéticas: Variações nas pró- prias formas dos sinais de apontar, ou seja, apontar para locações perto umas das ou- tras, mas não para a mesma localização, são interpretadas como variações fonéticas no caso de pronomes pessoais, mas como distinções de significado, no caso de pro- nomes locativos, conforme ilustrado aci- ma5.

II. Expressão de relações espaciais: Formas locativas expressam relações espaciais, en- quanto formas pronominais pessoais não o fazem. Por esta razão, loci associados a refe- rentes pessoais não implicam em nenhuma relação espacial entre esses referentes; mas com referentes locativos, a posição relativa com relação aos mesmos é representativa das relações espaciais entre eles.

III. O espaço entre dois loci: Já que formas locativas expressam relações espaciais, quando dois loci locativos são estabeleci- dos, supõe-se, necessariamente, que exis- te um espaço entre eles. Assim, a noção ‘entre x e y’ está implicitamente expressa (Janis 1992, p. 137). Em outras palavras, o espaço entre dois pronomes locativos é significativo e pode ser posteriormente

4 Este exemplo é baseado no exemplo de Janis para a ASL (Janis 1992;135), mas ele é, também, válido para a ISL. 5 Esta diferença foi mencionada por Padden (1988) como o critério mais evidente para a distinção entre os

verbos de concordância e os verbos espaciais, mas ela é, também, válida para os pronomes, conforme apontado por Janis 1992.

Irit Meir

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mencionado no discurso. No caso de pro- nomes pessoais, por outro lado, o espaço entre dois pronomes não carrega signifi- cado.

IV. Apresentando um novo locus: Dado que o espaço entre dois pronomes locativos é significativo e, de certo modo, implícito, há também a implicação de que existem outros loci naquele espaço. Conseqüen- temente, quando o sinalizante aponta para um novo locus não mencionado an- teriormente (como o ponto C, no exem- plo acima), esse locus é interpretado em relação às ligações espaciais previamente estabelecidas que se mantêm entre A e B. Ou seja, é interpretado como um ponto (ou uma localização) entre A e B, mas mais próxima de A. A situação é diferente quando A e B são associados a referentes não-locativos: o espaço entre A e B não é significativo. Por esta razão, outros loci não estão comprometidos. Quando se aponta para um novo locus, existem duas possibilidades: ou o novo ponto é com- preendido como uma dos loci existentes (se está mais próximo de um do que do outro), ou o outro locus não é interpre- tável, já que não foi associado a referente algum.

V. Modificação do movimento da trajetória: O movimento de trajetória dos verbos espaciais pode ser modificado para re- fletir a forma da trajetória empreendida por uma entidade, como, por exemplo, zigue-zague, círculos, subindo, descendo

etc. A trajetória na mudança de verbos de posse não pode ser modificada dessa forma. Ela tem uma forma estável, espe- cificada para cada registro lexical. Por exemplo, os verbos SEND [ENVIAR] e HELP [AJUDAR] têm um movimen- to de trajetória retilíneo; GIVE [DAR], SAY [DIZER] e ASK [PERGUNTAR] possuem um movimento de trajetória curvado; os verbos TEACH [ENSINAR] e EXPLAIN [EXPLICAR] possuem um curto movimento duplo. Não é possível mudar os traços de movimento inerentes desses verbos6.

VI. A relação entre a trajetória e os loci-R: No domínio espacial, se o movimento de trajetória não alcançar o ponto B, a inter- pretação é que a entidade em movimento não alcançou o local associado com B. No domínio de posse, o que é importante é a direção geral da trajetória. Se ela real- mente começa em A ou termina em B não resulta em mudança de significado.

Apesar de existirem distinções claras en- tre os dois usos do espaço, eles podem se so- brepor. Primeiramente, quando os referentes estão presentes, os sinais de apontar são dire- cionados aos seus locais reais. Em tais casos, as variações fonéticas dos sinais de apontar (por exemplo, apontar na direção próxima ao local de um referente) são mais provavel- mente interpretadas como distintivas do que quando os referentes não estão presentes. Ou seja, apesar de os sinais serem usados para re-

6 Uma outra modulação possível é a altura da trajetória. Como observado por Liddell (1990) para a ASL e válida,

também, para a ISL, quando um dos argumentos é mais alto que o outro, a trajetória partirá de um R-loci mais baixo para um mais alto, ou o inverso. Por exemplo, quando os argumentos do verbo ASK (PERGUNTAR) são uma mãe e uma criança, a trajetória do verbo é de um ponto mais alto para um ponto mais baixo, se a mãe estiver fazendo uma pergunta para a criança e de um ponto mais baixo para um ponto mais alto, no caso inverso.

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