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1Eis alguns exemplos de verbos com concor-

Repensando classes verbais em línguas de sinais: o corpo como sujeito

1Eis alguns exemplos de verbos com concor-

dância de argumento único em ISL:

RESPONDER, EXPLICAR, CONTAR (boca), VER (olho), VISITAR (olho), IM- PORTAR-(se) (testa), TELEFONAR (orelha)

Em ASL, formas de concordância de ar- gumento único incluem VER, TATEAR, ES- PIAR. Curiosamente, nesses verbos é sempre o marcador de concordância de sujeito (isto é, o R-locus associado ao sujeito sintático) que é omitido. O marcador de concordância de objeto, portanto, parece ser obrigatório, mas não o marcador de sujeito. O mesmo fenômeno é descrito em outras línguas de si- nais, ex. Língua de Sinais Dinamarquesa (Di- namarquesa SL), (Engberg-Pedersen 1993: 191), e Língua de Sinais Italiana (LIS) (Pizzu- to 1986: 25-26).

(b) Omissão do marcador de concordân- cia de sujeito: tem sido observado que o mar- cador de concordância de sujeito é opcional- mente excluído (Padden 1988; Bahan 1996; Liddell 2003). Conforme Padden aponta, o marcador de concordância de sujeito de um verbo pode ser opcionalmente excluído, seja ele realizado como o ponto inicial do verbo (como nos tipos verbais ‘dar’) ou como seu ponto final (como nos tipos verbais ‘levar’). Quando o marcador de concordância de su- jeito é excluído, Padden observa, “a forma re- sultante possui movimento linear reduzido” (ibid. p. 117). Contudo, quando o sujeito de tais formas verbais reduzidas é a 2ª ou a 3ª pessoa, os sinalizadores tendem a sinalizar o

verbo partindo do corpo, e não de uma locali- zação próxima ao R-locus do sujeito. Em ou- tras palavras, quando o R-locus que funciona como marcador de concordância de sujeito é omitido, o verbo geralmente é ancorado ao corpo em seu ponto inicial, concordando apenas com seu objeto. Tais verbos asseme- lham-se às formas de verbos com concordân- cia única, discutidas na sessão anterior7.

As línguas de sinais, portanto, parecem, em um primeiro momento, obedecer a uma hierarquia inversa em se tratando de concor- dância verbal: o objeto é mais proeminente que o sujeito. Se um verbo concorda com apenas um argumento, trata-se do argumen- to-objeto (recipiente). E, se uma forma ver- bal codifica concordância com o sujeito, ela também codifica concordância com o objeto. Vários pesquisadores notaram este compor- tamento peculiar e tentaram oferecer uma ex- plicação. Janis (1995: 220) mostra que a hie- rarquia de concordância da ASL assemelha-se às hierarquias encontradas em outras línguas para marcadores de caso. Meir (1998b, 2002) se apóia nessa observação e analisa a orienta- ção das mãos (que segundo sua análise, mar- ca os papéis sintáticos dos argumentos) como marcações de relações de caso. Entretanto, tanto Janis quanto Meir admitem que as lín- guas de sinais ainda não são usuais no sentido de que as relações de caso são marcadas no verbo e não nos argumentos. Portanto, ne- nhuma solução satisfatória foi oferecida até agora a esse enigma tipológico.

Sugerimos que o enigma pode ser re- solvido por uma nova maneira de se olhar a

7 Quando o objeto está em 1ª pessoa, o verbo retém o movimento em direção ao corpo do sinalizador. Nestas for-

mas, o corpo é a 1ª pessoa e não o sujeito. As formas de verbos com concordância única descritas aqui ocorrem somente em objetos que não são em 1ª pessoa.

Irit Meir, Carol Padden, Mark Aronoff e Wendy Sandler

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classificação verbal em línguas de sinais, que considera o papel do corpo nas três classes verbais. Essa abordagem mostrará que o su- jeito é o argumento mais proeminente tam- bém em línguas de sinais, mas que essa proe- minência é manifestada de uma maneira um tanto diferente nas línguas de sinais.

4.2 A solução

Conforme mostramos na sessão 3 acima, uma diferença importante entre verbos de concordância e verbos simples reside no pa- pel do corpo. Nos verbos simples, o corpo re- presenta o sujeito e a categoria da pessoa não é codificada. Nos verbos de concordância, o corpo codifica a 1ª pessoa e as mãos codifi- cam todas as outras pessoas, isto é, codifican- do os referentes que não são 1ª pessoa bem como seus papéis sintáticos.

Voltando aos verbos de concordân- cia única, podemos sugerir uma solução ao enigma tipológico apresentado. Verbos de concordância única podem ser considera- dos como um tipo híbrido de verbos simples e verbos de concordância. Assim como nos verbos simples, nos verbos de concordância única, o corpo representa o sujeito. As mãos, ao contrário, comportam-se como nos verbos com concordância (completa): elas codifi- cam propriedades de não-1ª-pessoa e o obje- to sintático. Esses verbos, então, representam o sujeito pelo corpo. O que não é indicado nessas formas não é o marcador de sujeito, mas a especificidade a respeito da pessoa. Es- ses verbos retêm suas trajetórias no que diz respeito ao corpo como sujeito, uma vez que se movem de perto do corpo para fora (ou em direção ao corpo em caso de um “verbo reverso”). Nossa análise sugere que a referên- cia ao sujeito é obrigatória, e não opcional, e

é representada pelo corpo do sinalizador. Em outras palavras, o sujeito não é codificado pelo sistema de concordância verbal, mas, ao invés disto, pela forma lexical do verbo, como nos verbos simples. De certo modo, o sujeito é mais profundamente entranhado em verbos simples e em verbos de concordância única do que em verbos de concordância completa, por ser parte do próprio item lexical em si e não adicionado por um afixo flexional.

Essa linha de pensamento sugere que o sujeito é um argumento privilegiado tanto em línguas de sinais, como em línguas fa- ladas. Mas as duas modalidades permitem diferentes possibilidades para expressar este status especial. A modalidade manual-visual utiliza a assimetria natural entre o corpo e as mãos para codificar a assimetria sujeito-pre- dicado na forma de itens lexicais que deno- tam o estado das coisas. A assimetria é codi- ficada pela estrutura dos itens lexicais nessas línguas. Os processos gramaticais, tais como concordância verbal, podem fazer com que este padrão se torne opaco, mas essa tendên- cia básica emerge como modelo padrão em várias situações. A modalidade auditiva das línguas faladas não pode codificar as proprie- dades do sujeito na estrutura lexical das pa- lavras. O status especial do sujeito é expresso na estrutura gramatical, por ser o alvo mais acessível para vários processos morfológicos e sintáticos.

5. papéis competitivos do corpo: sujeito, 1ª pessoa, corpo humano

A análise do papel do corpo em verbos sim- ples versus verbos de concordância demons- tra que o corpo pode incorporar funções gramaticais diferentes da língua, ambos fa- zendo uso de propriedades diferentes do cor-

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