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1duas opções de concordância: simplesmente

Revertendo os verbos reversos e seguindo em frente: sobre concordância, auxiliares e classes verbais em línguas de sinais

1duas opções de concordância: simplesmente

depende do caso do argumento que funciona como controlador de concordância verbal. Sua posição, nesse sentido, é muito pertinen- te à proposta apresentada neste artigo.

2.4 Conseqüências para as classes verbais e a divisão de concordância sintática/ locativa

A divisão entre verbos espaciais e de concor- dância é relevante por motivos sintáticos, vis- to que esses verbos possuem características a serem verificadas em Frases de Concordân- cia (cf. discussão de Janis 1995). Entretanto, mostramos nesta seção que a classificação verbal proposta por Padden não é sempre apropriada, pelo menos se compreendida como classes definidoras mutuamente exclu- dentes: nos dados, encontramos verbos sim- ples com algum tipo de traço locativo, assim como verbos de concordância com concor- dância locativa e verbos espaciais com algu- ma concordância com traço de pessoa.

Há variantes diferentes na classificação dos verbos na literatura que refletem os limi- tes opacos (fuzzy borders) entre classes ver- bais em línguas de sinais, como a ASL. Um exemplo é uma versão inicial de classificação verbal de Fischer e Gough (1978), na qual três aspectos são identificados como correspon- dentes à flexão verbal para pessoa: direciona- lidade, reversibilidade e locacionalidade.

A classe verbal direcional, conforme analisada por Fischer e Gough, inclui ver- bos que fisicamente se movem em direção ao argumento ou argumentos estabelecidos no espaço. Nesse sentido, essa classe é mui- to mais geral do que a classe verbal de con- cordância, conforme classificada por Padden (1983/1988), visto que verbos direcionais

incluem verbos como GIVE [dar], LEAVE [deixar], BRING [trazer], BITE [morder], HIT [atingir], HURT [machucar] e BLEED [sangrar] que concordam com os NPs (pro- nomes pessoais), assim como PPs (por exem- plo, locativos). Esses verbos são ou espaciais ou de concordância, segundo a classificação de Padden. Talvez Fischer e Gough já tives- sem capturado a idéia que desenvolveremos em nossa análise: há motivos para conside- rar ambas as classes como instanciações de uma classificação opaca (fuzzy classification), embora possa haver outros motivos indepen- dentes para distinguí-las.

De acordo com Fischer e Gough, a re- versibilidade é um processo que está parcial- mente relacionado à direcionalidade. Verbos como MEET [encontrar], FLATTER [elo- giar] e FREQUENT [freqüentar] são clara- mente reversos, isto é, há uma mudança na orientação da mão, além do direcionamento do sinal. Esses verbos são considerados ver- bos de concordância em análises recentes (Padden 1990, Baker e Cokely 1980). Entre- tanto, nessa classe, Fischer e Gough também incluem verbos tais como KICK e BITE, que não são geralmente analisados como verbos de concordância. Esses verbos podem ser si- nalizados na direção da localização a que eles se referem, ou eles podem ser sinalizados em uma posição neutra. No primeiro caso, eles parecem ter flexão e, no segundo caso, pare- cem ser simples. Esse tipo de exemplo reflete, novamente, os limites opacos da classificação mencionada anteriormente.

A última característica da flexão verbal, para Fischer e Gough, é a locacionalida- de. Eles apresentam WANT [querer] como exemplo de um verbo locacional, no qual o sinal pode ser articulado ou perto da locali- zação do sujeito ou perto da localização do objeto. Padden (1990) analisa WANT como

Ronice Müller de Quadros e Josep Quer

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um verbo simples que pode portar um clítico locativo.

É interessante observar que Fischer e Gough oferecem exemplos nos quais há com- binações possíveis das qualidades direcionais, reversas e locativas, por exemplo, FLATTER [elogiar], FOOL [enganar], FREQUENT [freqüentar], HIT [atingir] e PAINT [pin- tar]. Além disso, verbos como HATE [odiar], BORROW [pegar emprestado], LOOK [olhar] e FEED [alimentar] podem ser tanto direcio- nais quanto reversos, ao passo que LOCK [trancar], OWE [dever] e PITY [ter pena] po- dem combinar aspectos reversos e locacionais. Esses são exemplos que não possuem uma análise clara nas línguas de sinais, se for levada em consideração uma classificação rígida.

Com relação a verbos simples, Fischer e Gough (1978) os descrevem como exceções. Por exemplo, verbos tais como HEAR [ou- vir], LISTEN [escutar], EAT [comer], DE- CIDE [decidir], PRAISE [louvar], DANCE [dançar], ASSOCIATE [associar], JOIN [li- gar-se] e TEASE [provocar] são menciona- dos como exceções, pois eles não apresentam flexão de concordância. Hoje em dia, existe consenso quanto ao fato de esses verbos for- marem uma classe nas línguas de sinais, dife- rente dos verbos que possuem uma concor- dância explícita.

Como vimos na seção 2.3 acima, Padden (1990) apresenta evidências para a diferença entre os afixos de localização espacial para verbos espaciais e a concordância de pessoa e número para verbos de concordância.

É importante observar que, embora a localização espacial seja claramente diferen-

te da concordância de pessoa, deve haver concordância da pessoa do sujeito em exem- plo da ASL como (1a), visto que ela permite um pronome do sujeito nulo (cf. Quadros 1999:105-106 for LSB)4. Em um exemplo da

LSB como (7), um argumento nulo do sujei- to deve ser também colocado:

(7) <a+1>CARRY<b> [levar]

‘I carry it (from here) (to there).’ [Eu o levo (daqui) (para lá)]

Tal exemplo não seria possível se a locali- zação espacial a fosse sinalizada em uma loca- lização que não está associada a uma pessoa, como no exemplo agramatical apresentado a seguir, retirado da LSB:

(8) *<a>CARRY <b>

‘(He) carries it from here (a place that does not coincide with the subject) to there.’ [Ele o leva daqui (um lugar que não coincide com o sujeito) para lá]

A sentença (8) só poderia ser gramatical se o sujeito fosse pronunciado. (7) é possível por- que, fonologicamente, a concordância e o lo- cativo têm a mesma forma expressa no mesmo ponto e, como conseqüência, o pronome nulo para o sujeito é permitido e a sentença torna- se gramatical. Pronomes nulos são permitidos em línguas tais como ASL e LSB, pois elas são

pro-drop (línguas de sujeito nulo) (Lillo-Mar-

tin 1986, Quadros 1995). Em ambas as línguas, há restrições que se aplicam às sentenças que permitem pronomes nulos. A restrição básica se refere à informação contida no verbo, isto é,

4 Um caso comparável foi discutido por Padden (1983/88) para verbos espaciais (vide acima): mesmo se às vezes

o locus da fonte ou alvo do movimento possa coincidir com um locus de pessoa, isso não quer dizer que o predi- cado concorda em pessoa com o locus, segundo ela.

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