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33línguas de sinais diferentes quanto possível

Raízes, folhas e ramos – a tipologia de línguas de sinais

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são essenciais para uma tipologia de língua de sinais. Sem um banco de dados formado por um grande número de línguas de sinais geográfica e geneticamente não-relaciona- das, seria impossível um trabalho tipológico significativo. Além disso, o valor de qualquer generalização feita a partir de uma abrangên- cia limitada de dados, por exemplo, as línguas de sinais, principalmente da Europa Ociden- tal e da América do Norte, estaria seriamente comprometido. Portanto, um dos objetivos da tipologia de língua de sinais deve ser cole- tar informações confiáveis e adequadamente estruturadas em uma vasta gama de línguas de sinais. No momento, o estudo da extensão real da variação possível entre as línguas de sinais ainda é superficial.

Até agora, nosso conhecimento sobre as línguas de sinais tem se desenvolvido como um mosaico, que é, inicialmente, apenas es- boçado e com muitas áreas vazias, mas está, cada vez mais, nos fornecendo um quadro mais claro da extensão da diversidade das línguas de sinais (ver Figura 3). Nas primei- ras décadas, desde seus primeiros estudos, a pesquisa em línguas de sinais tem sido domi- nada pelas línguas de sinais “ocidentais”, da Europa e da América do Norte (neste caso, quase que unicamente a ASL) e, até certo ponto, isso ainda ocorre. Trabalhos recentes têm documentado línguas de sinais urba- nas em outras partes do mundo, como, por exemplo, na área do Levante Árabe (Hendri- ks 2004, Hendriks & Zeshan, no prelo). Em muitas regiões, os resultados das pesquisas não são facilmente acessíveis ao público in- ternacional devido ao idioma de publicação. Por exemplo, a maioria das publicações em Nihon Shuwa (língua de sinais utilizada no Japão) está escrita em japonês e muitas pu- blicações nas línguas de sinais da América do

Sul e Central foram escritas em espanhol ou português.

A mais importante contribuição para o mosaico de dados de língua de sinais consiste de línguas de sinais em agrupamentos comu- nitários (village communities) (ver trapézio roxo na Figura 3). Línguas de sinais de agru- pamentos comunitários (village sign langua-

ge) serão destacadas na seção 3.2 e na seção

4, a seguir. Finalmente, a última imagem na Figura 3 contém um triângulo azul marcado com um ponto de interrogação. Esse sinal re- presenta quaisquer outros tipos de línguas de sinais que certamente serão descobertos ao longo do percurso. E, o que é mais impor- tante, é necessário investigar os vários tipos de línguas de sinais minoritárias que podem estar sendo utilizadas por grupos menores de sinalizantes co-existindo simultaneamente com línguas de sinais “nacionais”.

Figura 3: O mosaico dos dados em línguas de sinais

Para os propósitos da tipologia de lín- gua de sinais, nem todos os tipos de docu- mentação lingüística são igualmente válidos. O tipo mais importante de documentação é uma gramática de referência. Gramáticas de referência são concisas; entretanto, elas con-

Ulrike Zeshan

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têm relatos profundos de todas as estruturas gramaticais encontradas em uma língua e são importantes fontes de informação para tipo- logistas de língua falada, que podem se base- ar em centenas de gramáticas de referência, embora nem todas sejam de igual qualidade. Entretanto, até o momento atual, a pesquisa em língua de sinais ainda não produziu ne- nhuma gramática de referência de nenhuma língua de sinais. Dessa forma, os tipologistas de língua de sinais têm de utilizar fontes não tão ideais.

O arcabouço da tipologia de língua de sinais é especialmente propício ao desenvol- vimento de análises descritivas de línguas de sinais ainda não documentadas, pois ela in- corpora uma ampla perspectiva baseada no conhecimento já existente sobre a diversi- dade tipológica entre as línguas faladas. Por exemplo, pesquisadores de língua de sinais irão não apenas se preocupar em saber como o plural é expresso em uma língua de sinais, mas também se preocupar com o fato de a língua ter ou não uma categoria não-mar- cada para número, ou se o número verbal e nominal é expresso de maneira diferente ou semelhante e como a categoria de número interage com as outras categorias. Não per- guntaremos apenas como uma língua de si- nais expressa posse, mas também se há uma relação entre possessivos e existenciais e se há diferença entre posse alienável e inalienável. Questões tipologicamente informadas dessa natureza precisam ser respondidas em rela- ção a um grande número de línguas de sinais, antes que trabalhos mais amplos possam ser realizados em tipologia de língua de sinais. Ao mesmo tempo, esse tipo de informação descritiva é um insumo muito útil para as di- mensões aplicadas da lingüística de língua de sinais, tal como o desenvolvimento de mate- riais educativos de língua de sinais. A relação

entre lingüística tipológica e lingüística aplica- da será abordada detalhadamente na seção 5.

2.2.2 Estudos interlingüísticos em línguas de sinais

Enquanto a documentação tipologicamente informada de línguas de sinais individuais busca descrever uma grande variedade de es- truturas dentro de cada língua, estudos inter- lingüísticos investigam um domínio grama- tical específico em uma amostra suficiente- mente ampla de línguas de sinais diferentes. As duas correntes de pesquisa são comple- mentares, mas os estudos interlingüísticos propõem desafios teóricos e metodológicos específicos, que serão brevemente discutidos nesta seção.

Para se chegar a uma teoria de variação entre línguas de sinais, é necessário fazer ge- neralizações entre dados comparativos co- letados de uma grande variedade de línguas de sinais. É essencial que essas generalizações sejam empiricamente embasadas, isto é, ba- seadas em evidências reais de uma gama de dados primários, ao invés de serem baseadas em suposições dedutivas e/ou pressuposi- ções baseadas em poucas, ou apenas em uma língua de sinais. Os estudos interlingüísticos em línguas de sinais propõem perguntas de pesquisa sobre os parâmetros de variação que podem ser observados nas línguas de sinais, sobre o grau de variação exibido e sobre os

padrões de variação. Essas são tarefas inter-re-

lacionadas, porém distintas. Por exemplo, no domínio das perguntas, os parâmetros de va- riação para a investigação incluem expressões faciais que marcam perguntas, o uso de partí- culas interrogatórias, o conjunto de palavras interrogativas em cada língua, o uso prag- mático de perguntas, etc. Em cada parâme-

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