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Padrão de lexicalização em línguas de sinais

Repensando classes verbais em línguas de sinais: o corpo como sujeito

3à competição entre os diferentes papéis do

1. Padrão de lexicalização em línguas de sinais

1. Padrão de lexicalização em línguas de sinais

O termo ‘padrões de lexicalização’ foi usado pela primeira vez por Talmy (ex., 1983, 1985) em sua descrição de como as línguas faladas codificam eventos de movimento. Talmy (1985, 2000) aponta que verbos por si só não codificam todos os componentes de signifi- cado de tais eventos.

As línguas têm a tendência a serem mais sistemáticas a respeito de quais componen- tes de significado serão codificados por quais tipos de itens lexicais. Portanto, algumas línguas (ex. inglês, alemão, russo e chinês) codificam modo de movimento nos verbos e codificam direção do movimento por pre- posições ou partículas (“satélites” nos termos de Talmy), enquanto que outras línguas (ex. hebreu, espanhol, japonês e turco) expressam a direção do movimento no verbo, sendo o componente de modo expresso por locuções adverbiais. A maneira sistemática em que uma língua codifica os componentes parti- culares de um evento por meios lingüísticos disponíveis é denominada de ‘padrões de le- xicalização’.

Nas línguas de sinais, os meios lingüísti- cos empregados para comunicar um evento são as mãos e o corpo do sinalizador e o espa- ço ao seu redor. Ao examinar os itens lexicais que denotam eventos em três línguas de sinais diferentes (Língua de Sinais Americana, Lín- gua de Sinais Israelense e Língua de Sinais Al- Sayyid Beduína) descobrimos que elementos

formacionais específicos de um sinal podem corresponder a componentes de significados; isto é, a mão e o corpo (o peito e a cabeça) podem ser usados separadamente para co- dificar diferentes partes de um evento. Mos- tramos agora que essa correspondência entre uma parte de um evento codificado e o corpo ou as mãos não é aleatória, pelo contrário, o corpo e a mão codificam aspectos particula- res do evento de forma sistemática.

1.1 O corpo como sujeito

O corpo do sinalizador não é meramente um lugar formal para a articulação dos sinais, mas pode, em princípio, ser associado a um signi- ficado em particular ou a uma função especí- fica. Argumentamos que em verbos icônicos ou parcialmente icônicos articulados no cor- po, os chamados “verbos ancorados no cor- po”, o corpo representa o argumento sujeito.

Usamos o termo iconicidade para nos referir ao mapeamento regular entre os ele- mentos formacionais de uma expressão e os componentes de seu significado (Taub 2001, Russo 2004). Este mapeamento pode ser de- monstrado analisando-se a correspondência entre os elementos formacionais e os compo- nentes de significado (conforme Taub 2001). Para exemplificar, o verbo COMER na Lín- gua de Sinais Israelense (ISL) e na Língua de Sinais Americana (ASL), está ilustrado na Figura 1 abaixo. A mão assume uma Forma particular , movendo-se em direção à boca a partir de uma localização à sua frente e re- pete este movimento por duas vezes. ‘Comer’ significa ‘colocar (comida) dentro da boca, mastigar se necessário e engolir’ (Webster’s New Word Dictionary, Third College Edi- tion). Uma representação possível da Estru- tura Conceitual Lexical é:

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2. X causa [y ir [para dentro da boca de x]]

Pela Figura 1, torna-se óbvio que o sinal CO- MER é icônico. Entretanto, ao ir além da im- pressão geral de iconicidade, é possível ob- servar que um mapeamento explicitado entre forma e significado como um conjunto de correspondências tem a vantagem de mostrar qual dentre os vários elementos formacionais corresponde a quais aspectos do significado. Tal mapeamento está ilustrado na Tabela 1.

COMER é sinalizado na boca do sinalizador, quer o sujeito da ação seja a 1ª, a 2ª ou a 3ª pessoa. Isto é, o sinal COMER possui uma única forma em todas essas sentenças: “Eu como”, “você come” ou “ele/ela come”, e esta forma é sinalizada na boca do sinalizador.

Ao examinar uma gama de verbos ancora- dos no corpo, observamos que em sinais icô- nicos, o corpo corresponde a um argumento participativo no evento. Os exemplos seguin- tes são da ISL, porém listas similares de pala- vras podem ser encontradas também em ASL.

1. Verbos psicológicos (Localização: Pei- to): FELIZ, AMAR, SOFRER, CHATEADO, ESTAR CHATEADO COM, MACHUCAR: O peito corresponde ao local das emoções no argumento experienciador.

2. Verbos de atividades mentais (Loca- lização: Têmporas e testa): SABER, LEM- BRAR, ESQUECER, APRENDER, PREO- CUPAR, PENSAR, SONHAR, ENTENDER, COMPREENDER, INFORMAR (uma idéia) Têmporas ou a testa representam o local da atividade mental do experienciador.

3. Verbos de percepção (Localização: Ór- gãos dos sentidos): VER, OLHAR, OUVIR, ESCUTAR, CHEIRAR: Os olhos, a orelha ou o nariz representam o local da atividade do experienciador.

4. Verbos que indicam fala (Localização: Boca): FALAR, DIZER, PERGUNTAR, RES- PONDER, EXPLICAR, GRITAR, SUSSU- RAR: A boca representa a parte relevante do corpo do argumento-agente.

5. Verbos de mudança de estado (Loca- lização: Rosto, peito, olhos): CORAR, ME- LHORAR, ACORDAR: O rosto, o peito e os olhos representam a parte relevante do corpo do argumento-paciente (undergoer).

Como a lista acima mostra, o argumento representado pelo corpo e correspondendo a propriedades específicas do corpo pode ser Figura 1: O verbo COMER (ISL e ASL)

Mapeamento Icônico para COMER FORMA SIGNIFICADO -configuração de mão Segurando um objeto (comida) Boca do sinalizador Boca do agente que come Movimento para dentro Colocando um objeto dentro

da boca Movimento duplo Um processo

Tabela 1: Mapeamento icônico para COMER O que é crucial para nosso argumento neste artigo é a relação de correspondência entre a localização do sinal (a boca) e a boca daquele que come, o agente argumentativo no evento. Em outras palavras, o corpo, cons- tituindo um dos componentes formacionais do sinal, representa um argumento particular do evento, o agente. É importante notar que o corpo não representa a 1ª pessoa. O sinal

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 associado a vários papéis temáticos: agente,

paciente, experienciador e receptor. Entre- tanto, a escolha do argumento específico a ser representado pelo corpo do sinalizador não é aleatória. No caso de um predicado de um só lugar, o corpo naturalmente é associado com o argumento único do predicado. No caso de eventos transitivos, observamos que o ar- gumento associado a propriedades do corpo é o argumento mais utilizado: o agente em verbos <agente, paciente> (ex. COMER, BE- BER, OLHAR) ou verbos <agente, paciente, receptor> (ex. PERGUNTAR, INFORMAR, EXPLICAR) e o experienciador e perceptor em verbos <experienciador, tema> (ex. VER, OUVIR, AMAR)2. Segundo princípios gerais

de mapeamento entre estruturas temáticas e sintáticas (ex. Fillmore 1968, Jackendoff 1990, Grimshaw 1990, Falk 2006 e outros), o argumento associado ao papel temático mais utilizado é o argumento-sujeito. A generaliza- ção correta a se fazer é que o corpo é associado ao argumento-sujeito do verbo ao invés de ser associado a um papel temático específico. A implicação desta análise é que o padrão básico de lexicalização ao representar um estado em línguas de sinais é CORPOCOMOSUJEITO.

Em outras palavras, o corpo representa ou corresponde a alguma propriedade do argu- mento-sujeito (de que tem sentimentos, é sen- sível, tem uma boca, etc.). Em línguas faladas,

as propriedades dos argumentos são inferidas do significado dos verbos ou são parte dele. Por exemplo, o verbo espirrar implica que o sujeito possui um nariz; que o sujeito de lam-

ber possui língua; que o sujeito de desmaiar

é animado e que o sujeito de zangado é sen- sível. Nas línguas de sinais, tais propriedades podem ser representadas por certos aspectos da forma do sinal, particularmente, partes do corpo. Quando o sinal que denota um even- to é sinalizado em alguma parte do corpo, o corpo é interpretado como sendo associado às propriedades do argumento-sujeito3.

2.2 Mãos como evento

O mapeamento icônico do sinal COMER aponta para a assimetria básica entre o cor- po e as mãos. O corpo representa um aspecto do evento, o argumento-sujeito. As mãos, ao contrário, possuem um grau maior de liber- dade. As mãos possuem uma forma específica, em uma orientação específica e se movem de uma maneira específica e em uma direção es- pecífica. Conseqüentemente, as mãos podem representar muito mais aspectos dos compo- nentes do significado do sinal. Os aspectos do movimento podem corresponder aos aspec- tos temporais do evento (por exemplo, teli- cidade), a direção do movimento geralmente

2 Verbos psicológicos (psych verbs) do tipo “assustar”, cujos argumentos são causador e experienciador, e exi-

bem um mapeamento sintático-temático diferente, não são reconhecidos sem ASL ou ISL. De modo a expressar um evento de susto, ISL utiliza uma construção verbal leve e perifrástica “DAR SUSTO”, enquanto em ASL se usaria uma paráfrase como “Eu fiquei assustado porque...”.

3 Kegl (1986) também sugere que o corpo está associado ao sujeito argumentativo. Enquanto sua análise não é

compatível com a apresentada aqui, ela difere em muitas maneiras importantes. Primeiro, ela refere-se a MUDAN-

çADOCORPO (“uma mudança sutil do corpo a uma posição específica no espaço sinalizador”, p.289), e não ao

corpo em si, como parte dos componentes fonológicos do sinal. Segundo, ela argumenta que MUDANçADOCORPO

(que ela denomina “Proeminência de papel clítico”) é um morfema, funcionando como sujeito clítico e como indicativo do “papel proeminente” (um termo vago em sua análise). Nós não argumentamos por um status de morfema do corpo, nem reivindicamos suas funções sintáticas.

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codifica papéis temáticos espaciais dos argu- mentos, tais como ponto de partida e destino e a localização final do sinal sendo associada ao argumento-recipiente. A configuração da mão geralmente representa o argumento em movimento (o tema) ou a manipulação do argumento (paciente) pelo sujeito. Em CO- MER, por exemplo, o movimento para den- tro do verbo representa o ato de colocar algo dentro da boca de alguém; a configuração de mão específica representa o ato de segurar ou manipular um objeto sólido, a comida, no caso de ‘comer’ e o movimento duplo denota uma ação ou um evento atélico.

As mãos, portanto, podem codificar muito mais aspectos do evento do que o corpo. Isso é o esperado. As mãos são mui- to mais versáteis que o corpo: primeiro, as mãos podem mover-se no espaço; segundo, elas podem assumir diferentes configura- ções de mão; terceiro, elas formam um par. O componente movimento, em si mesmo, é complexo por incluir a maneira e a direção do movimento. O corpo, ao contrário, não demonstra nenhuma destas propriedades. O corpo não se move da mesma maneira que as mãos e só existe um corpo. Deste modo, o corpo codifica um número consideravelmen- te menor de aspectos do evento. Curiosa- mente, ele codifica um aspecto particular do evento, um argumento - o sujeito. De certa forma, este argumento é privilegiado, pois é formacionalmente colocado à parte dos ou- tros componentes do significado do evento. Percebemos, portanto, que um padrão básico de lexicalização nas línguas de sinais dá su- porte à supremacia do sujeito na linguagem4

e é o argumento representado pelo corpo do

sinalizador, em oposição aos demais aspectos do evento.

2.3 Fatores que ofuscam o padrão básico

O padrão básico de lexicalização ‘corpo como sujeito’ descrito acima é mais presente em verbos icônicos ancorados no corpo, os quais pertencem à classe dos verbos simples. Em outros campos do léxico e da gramática de qualquer língua de sinais, outras estrutu- ras e processos na linguagem freqüentemente ofuscam este padrão. A versatilidade das mãos versus a estabilidade do corpo possivelmente significam que as mãos assumem cada vez mais papéis nos níveis lexicais e gramaticais das línguas de sinais, na medida em que o lé- xico expande, resultando em formas que não se encaixam no padrão ‘corpo como sujeito’. Dois fatores foram brevemente menciona- dos, examinamos profundamente um tercei- ro fator: a saber, o papel do corpo em formas flexionadas dos verbos de concordância.

Primeiro, nem todas as partes do corpo são locais possíveis para a articulação de um sinal. Tipicamente, o espaço designado aos sinais é no corpo ou em sua frente, na área lo- calizada entre a cintura e a cabeça. As partes do corpo localizadas abaixo da cintura rara- mente funcionam como locais para a articu- lação de sinais. Portanto, as ações praticadas pelas pernas e pés do sujeito não são articu- ladas por estes membros, pelo contrário, as pernas e pés são representados pelos braços e mãos. Comumente em línguas de sinais, os dedos indicador e médio representam as duas pernas. Verbos que denotam ações como de

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 (ISL), quando sinalizado na têmpora (Figu-

ra 2a), pode apenas se referir a um sujeito absorvendo informação. Quando o sinal é sinalizado em espaço neutro (Figura 2b) ele pode referir-se a um sujeito inanimado, como uma esponja absorvendo água5. Pare-

ce-nos que as propriedades do corpo em si, o corpo de um ser animado, limita as pos- sibilidades de significado que o corpo pode representar.

5 Há funções em ASL e ISL, notavelmente funções teatrais ou poéticas, em que o corpo pode ser usado para objetos

inanimados. Estes são os casos de personificação, onde os objetos assumem qualidades de seres animados. Um humorista surdo famoso em ASL descreveu o trajeto de uma bola de golfe utilizando sua cabeça, com olhos expres- sivos e outras expressões faciais como se a bola de golfe fosse humana. A bola de golfe, “contente sentada em uma árvore” (com a árvore sendo representada pela mão em escala apropriada abaixo do queixo), foi “surpreendida voando pelo ar” quando foi atingida por um taco de golfe. Tais formas são raramente encontradas em conversas diárias em ASL, a não ser que o sinalizador pretende fazer um jogo de humor na linguagem.

Figura 2: ABSORVER: a. com um sujeito humano. b. com um sujeito não-humano.

O CORPO EM VERBOS DE CONCORDâN- CIA: 1ª PESSOA

Os verbos de concordância são aqueles que codificam as propriedades de pessoa e número de seus argumentos-sujeito e objetos (indireto). No nível semântico, verbos de con- cordância denotam eventos de transferência, a transferência de uma entidade (concreta ou abstrata) de um possuidor anterior para outro posterior. Diferentemente dos verbos simples, que possuem uma única forma verbal, os ver- bos de concordância possuem muitas formas. pé, levantar, pular, cair, sentar-se, andar (em

ASL e ISL) possuem a configuração de mão na mão dominante, geralmente pratican- do a ação na mão não-dominante (no plano horizontal, com a palma para cima ou para baixo, representando uma superfície). Verbos que denotam uma maneira específica de caminhar, como, por exemplo, andar de salto-alto, é expressa por uma configuração de mão em ASL e por uma configura- ção de mão em ISL, com o dedo mínimo apontando para baixo. Nestes verbos, o corpo não faz parte da estrutura fonológica do sinal e as propriedades do sujeito são representa- das pela configuração de mão (por exemplo, o sujeito possui pernas).

Segundo, o corpo representa o sujei- to apenas para seres animados. Os eventos que envolvem sujeitos inanimados são arti- culados pelas mãos, geralmente no espaço à frente do sinalizador. Freqüentemente, a mão dominante pratica o sinal sobre a mão não-dominante. Como é o exemplo do ver- bo ‘comer’. Em inglês e outras línguas fala- das, o mesmo verbo pode ser usado metafo- ricamente com sujeitos inanimados, como em: O ácido comeu o metal, A casa comeu

todas as minhas economias. Em ASL e ISL,

o verbo COMER não pode remeter a refe- rentes inanimados. A iconicidade do sinal, especialmente sua localização (a boca do si- nalizador), limita os contextos possíveis e as extensões metafóricas do sinal (Meir 2004). De modo semelhante, o sinal ABSORVE

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Entretanto, cada verbo de concordância pos- sui também uma forma de citação, uma for- ma utilizada em verbetes de dicionário, para representar o lexema. As formas de citação de verbos de concordância ainda manifestam a estratégia ‘corpo como sujeito’: as mãos mo- vem-se em relação ao corpo. O movimento que parte do corpo quando o argumento-sujeito é o possuidor fonte (em verbos como DAR e ENVIAR, os chamados ‘verbos de concordân- cia regulares’) e em direção ao corpo quando o argumento-sujeito é o possuidor destino (em verbos como LEVAR ou COPIAR, os chama- dos ‘verbos reversos’). Entretanto, em formas flexionadas de verbos de concordância, o cor- po não é mais o sujeito, mas, ao invés disso, codifica a 1ª pessoa.

Formas flexionadas de verbos de concor- dância incorporam a categoria gramatical de pessoa, codificada no sistema pronominal da língua por meio do emprego do contraste en- tre o sinalizador e o espaço em sua volta. No sistema pronominal de ASL e ISL e em muitas outras línguas de sinais, o corpo do sinalizador representa a 1ª. pessoa, enquanto as localiza- ções no espaço de sinalização são associadas com referentes outros que não a 1ª pessoa (Meier, 1990). A associação de referentes de 3ª pessoa a localizações específicas no espaço é freqüentemente alcançada através da sinali- zação do sinal para aquele referente e depois por meio de um sinal que aponta ou direciona o olhar em direção a um ponto específico no espaço. A indicação subseqüente em direção àquela localização no espaço (freqüentemente chamada de locus R(eferencial), cf. Lillo-Mar- tin e Klima, 1990) tem a função de referência pronominal. Apontar em direção a alguém denota pronome pessoal de 1ª pessoa; apontar para um R-locus já estabelecido no espaço de sinalização denota referência pronominal ao referente associado ao R-locus dado.

As formas flexionadas de verbos de con- cordância são construídas no sistema de Loci- R e a oposição entre o corpo e o espaço. Nestas formas, os aspectos do movimento das mãos codificam os papéis sintático e semântico dos argumentos do verbo, enquanto as localiza- ções iniciais e finais do sinal são associadas ao Loci-R e codificam as propriedades prono- minais dos argumentos. As mãos movem-se entre os Loci-R associados aos argumentos- sujeito e ao argumento-objeto (indireto) do verbo de maneira sistemática. A ordem linear do Loci-R codifica o papel semântico dos ar- gumentos: as mãos movem-se do argumento fonte em direção ao destino, ou argumento receptor. A orientação das mãos, isto é, a di- reção da palma e da ponta dos dedos, codifica seus papéis sintáticos: as mãos se voltam para o objeto sintático indireto (Meir, 1998a, b). Nessas formas, o corpo representa a 1ª pessoa, não o sujeito. Examinemos as seguintes for- mas verbais: 1DAR2 (‘Eu dei a você’), 2DAR1 (‘Você me deu’), 2DAR3 (‘Você deu a ele’). Em todas estas formas, as mãos movem-se do R-locus sujeito ao R-locus objeto. Se o sujeito é a 1ª pessoa e o objeto é a 2ª pes- soa, as mãos se movem do corpo em direção ao destinatário. Se o sujeito é a 2ª pessoa e o objeto é a 1ª pessoa, então, a direção do movimento é invertida. No caso de ambos os argumentos indicarem qualquer pessoa que não a 1ª pessoa, o corpo não estará en- volvido na forma e as mãos se moverão do R-locus associado ao destinatário em dire- ção a outro locus no espaço, associado a um referente de 3ª pessoa.

Os verbos de concordância codificam propriedades de pessoa e número dos argu- mentos-sujeito e argumento-objeto (indire- to). Verbos de concordância codificam, en- tão, duas categorias gramaticais: pessoa gra- matical e papéis sintáticos.

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 A pessoa é codificada pelo corpo e locali-

zações no espaço: um locus na região ou pró- ximo da região do peito do sinalizador marca a 1ª pessoa. Qualquer outro locus ao redor do corpo marca qualquer pessoa que não a 1ª pessoa, incluindo-se a 2ª pessoa e a 3ª pes- soa (Meier, 1990). Os papéis sintáticos dos argumentos são codificados pelo movimento das mãos entre esses loci. Conclui-se que, em formas completamente flexionadas de verbos de concordância, o corpo não é mais o sujei- to, mas sim, a 1ª pessoa. O padrão de lexica- lização modelo e básico é ofuscado por um processo morfológico que utiliza os mesmos elementos formacionais, porém associa tais elementos a funções gramaticais diferentes.

3. Classes verbais em língua de sinais

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