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1pensarmos que leva mais tempo para a crian-

Estudos de aquisição de línguas de sinais: passado, presente e futuro

1pensarmos que leva mais tempo para a crian-

ça falante desenvolver o controle articulató- rio suficiente para produzir expressões que podem ser reconhecidas como palavras, do que para crianças sinalizantes desenvolverem um controle comparável a esse. Portanto, a diferença se resume a uma desvantagem da língua falada em seus primeiros estágios de desenvolvimento lexical.

Outra área de pesquisa que examina os efeitos da modalidade na aquisição de línguas de sinais diz respeito à fonologia do sinal ini- cial. Pesquisadores estudaram os componen- tes de sinais com os quais as crianças apresen- tam maior ou menor precisão e observaram que, em muitos casos, o desenvolvimento das crianças pode ser explicado levando-se em conta o desenvolvimento de mecanismos motores e perceptuais. As duas explicações enfatizam o papel da modalidade no proces- so de aquisição de línguas de sinais. É muito provável, portanto, que a modalidade tenha um papel importante na explicação de pa- drões de desenvolvimento fonológico.

Por exemplo, muitos pesquisadores en- contram mais erros na configuração de mãos do que na localização nos sinais iniciais. Os primeiros sinais produzidos por crianças de tenra idade tendem a utilizar a configuração de mão com todos os dedos estendidos, aber- tos ou relaxados (5); ou com os dedos cer- rados (A); ou apenas com o dedo indicador estendido (1). Essas configurações de mão freqüentemente serão substituídas por outras em sinais da língua alvo que utilizam confi- gurações de mão mais complexas. Uma pos- sível explicação oferecida para esse padrão é que a coordenação motora fina (fine motor

control) necessária para configuração de mão

desenvolve-se mais tarde do que a coordena- ção motora grossa (gross motor control) ne- cessária para localização (Cheek et al., 2001;

Conlin, Mirus, Mauk, & Meier, 2000; Marentette & Mayberry, 2000). Por outro lado, alguns pesquisadores sugerem que tal- vez seja mais fácil para as crianças percebe- rem diferenças na localização quando com- paradas com as diferentes configurações de mão, também contribuindo para a precisão mais antecipada com relação à localização.

Pesquisadores também observaram que os sinais iniciais das crianças freqüentemente envolvem repetição de movimento (Meier, 2006). Isso pode estar diretamente relacio- nado aos movimentos repetidos no desen- volvimento motor, como os estereótipos de pontapés repetidos ou acenos com os braços. Meier (2006) também afirma que as formas iniciais não-alvo (non-target forms) de crian- ças, que ocorrem em sinais formados com as duas mãos (two-handed signs), podem ser explicadas por referência a um fenômeno co- nhecido como “solidariedade” (sympathy), em que as crianças apresentam dificuldade em inibir o movimento de uma mão enquan- to a outra está ativa.

Meier (2006) afirma que o estudo de fa- tores articulatórios no desenvolvimento da fonologia dos sinais é importante devido a, pelo menos, duas razões. Primeiramente, sa- ber quais efeitos têm sua origem na articula- ção ajuda a identificar aqueles que requerem outras explicações. Segundo, ele sugere que fatores articulatórios podem promover tipos específicos de organização lingüística - prin- cipalmente para as crianças – o que pode nos levar a crer que esses efeitos podem refletir não apenas diferentes níveis de desempenho gramatical (para crianças sinalizantes e falan- tes), como também diferentes competências. É difícil precisar o ponto em que o de- senvolvimento da habilidade da criança para produzir sinais reflete diferenças de desem- penho e competência, mas há alguns casos

Diane Lillo-Martin

Questões T

eóricas das P

esquisas em Línguas de Sinais

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para os quais uma explicação com base no as- pecto articulatório/perceptual provavelmente não se sustenta. Por exemplo, Conlin et al. (2000) e Marentette & Mayberry (2000) su- gerem que alguns erros de localização não são consistentes com uma explicação moto- ra; mas, ao invés disso, afirmam que a crian- ça não representou corretamente o valor de localização de certos sinais. Essa sugestão re- força o comentário de Meier que conhecer os aspectos articulatórios ajuda a identificar os aspectos do desenvolvimento que necessitam de explicações alternativas.

Esses exemplos enfatizam a dependência de modalidade das explicações propostas para o desenvolvimento fonológico. Entretanto, deve-se apontar que os fatores articulatórios podem, também, explicar alguns aspectos do desenvolvimento fonológico inicial, nas línguas faladas (por exemplo, MacNeilage & Davis, 1990). Assim, os efeitos de ‘modalida- de’ estão presentes em ambas as modalidades e, nesse sentido, atentar-se para a modalidade é não apenas uma forma de se explicar como o desenvolvimento de línguas de sinais e o desenvolvimento de línguas faladas são dife- rentes, mas, também, como são semelhantes.

3(a). Utilização de dados de aquisição de línguas de sinais para fornecer informações sobre a gramática de línguas de sinais

Quando modelos gramaticais concorrentes fazem previsões diferentes sobre o processo de aquisição, dados relativos ao desenvolvi- mento (developmental data) podem ser uti-

lizados para testar os modelos. Esse é um princípio da pesquisa em línguas faladas, as- sim como da pesquisa em línguas de sinais, embora tal princípio tenha sido aplicado so- mente à pesquisa em línguas de sinais, em época relativamente recente. Discutirei aqui dois exemplos, sendo que o primeiro apenas brevemente.

Conlin et al. (2000) afirmam que “Es- tudos do desenvolvimento dos sinais ini- ciais ... podem nos ajudar a decidir entre os modelos concorrentes da linguagem adul- ta” (p. 52)5. Por exemplo, eles sugerem que

os sinais iniciais das crianças podem ajudar na determinação de sinais canônicos. Há tempos já se admite que as configurações de mão que ocorrem mais cedo são também as formas ‘não-marcadas’ na linguagem adul- ta (Battison, 1978); portanto essa afirmação já foi parcialmente comprovada. Os autores também esperam que a análise da sinaliza- ção de crianças possa ajudar na avaliação de modelos da gramática adulta, especialmente quando certos modelos são mais capazes de capturar generalizações a respeito das pro- duções de crianças. Karnopp (2002) assume essa abordagem em sua investigação sobre o desenvolvimento da fonologia na Língua de Sinais Brasileira. Ela adota o Modelo de De- pendência de Van der Hulst (1993) e seus re- sultados mostram que este modelo possibilita fazer importantes previsões sobre a aquisição da fonologia de sinais que emergiram dos da- dos analisados por ela, a partir da observação de uma criança surda sinalizante. Ela conclui que os dados de aquisição de língua de sinais que ela analisou oferecem um sólido embasa- mento para o modelo teórico utilizado.

5 “Estudos sobre o desenvolvimento inicial de sinais podem nos ajudar a decidir entre modelos concorrentes da

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