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131para determinar o tipo de extensão da relação

Uma comparação lexical de Línguas de Sinais no mundo Árabe

131para determinar o tipo de extensão da relação

lingüística, se houver.

Pelo menos três circunstâncias simultâ- neas afetam a distribuição das línguas de si- nais nessa região. Primeiro, como Walsh et al. (2006) descrevem abaixo, algumas tradi- ções de casamento são comuns na região:

A peculiar história demográfica do oriente médio levou a muitas comunidades [endogâ- micas]. Por mais de 5.000 anos e até hoje, as costas orientais do Mediterrâneo têm presen- ciado a imigração de povos oriundos de uma ampla variedade de culturas. Freqüentemente as vilas foram formadas por algumas famílias estendidas e, apesar de sua proximidade geo- gráfica, continuaram demograficamente iso- ladas. Por séculos, os casamentos têm sido ar- ranjados dentro das famílias estendidas nessas vilas, levando a um alto nível de consangüini- dade e, conseqüentemente, a altas freqüências de caracteres recessivos (p. 203).

A prática comum da endogamia resultou em uma alta incidência de surdez genética no mundo árabe, em comparação a outras socie- dades exogâmicas, onde a surdez é mais pro- vavelmente um resultado de doença do que de herança genética. Shahin et al. (2002) do- cumentam que enquanto aproximadamente uma, dentre mil crianças no mundo, nasce com perda de audição, comunidades com altos níveis de consangüinidade apresentam uma freqüência especialmente alta de surdez genética na infância. Esses autores afirmam: “a deficiência auditiva hereditária ocorre na população palestina numa freqüência de aproximadamente 1.7 em cada 1.000 e é mais alta em algumas vilas” (Shahin et al, 2002, p. 284). Isso significa que na Palestina, a freqüên- cia de surdez é 70% mais alta do que a média global.

Através dos relatos sobre as línguas de si- nais nessas comunidades, sabe-se que seu uso não é confinado a lugares onde pessoas surdas se reúnem por instituições sociais, tais como escolas para surdos ou clubes locais para sur- dos, apesar de eles serem comumente encon- trados em cenários comunitários e familiares. Como Groce (1985) ilustra em sua história do Vinhedo de Marta do século XIX, onde havia um alto incidente de surdez recessiva, as lín- guas de sinais são propensas a aflorar em tais comunidades, uma vez que surdos e ouvintes usam, regularmente, a comunicação sinali- zada. Kisch (2004) descreve o caso da comu- nidade de Al-Sayyid no Negev (deserto que ocupa o sul de Israel), onde o casamento con- sangüíneo é comum e a freqüência de perda de audição é alta em 3% da população devido a características genéticas recessivas de profun- da surdez neurosensorial pré-lingual. Sandler, Meir, Padden, e Aronoff (2005) também es- crevem sobre essa comunidade:

Os membros da comunidade geralmente re- conhecem a língua de sinais como a segunda língua da vila. As pessoas ouvintes dessa co- munidade rotineiramente avaliam sua pró- pria proficiência, elogiando aqueles que têm grande facilidade na língua... um resultado da [surdez recessiva] é que existe um núme- ro proporcionalmente grande de indivíduos surdos distribuídos por toda a comunida- de. Isso significa que os membros ouvintes da comunidade têm contato regular com os membros surdos e que, conseqüentemente, a sinalização não é restrita a surdos. (p. 2662)

Segundo, as circunstâncias sociais e cul- turais no mundo árabe provêem de algum modo, mais oportunidades para se aprender a língua de sinais, desde o nascimento. Com a incidência mais alta de surdez genética, as lín-

Kinda Al-Fityani e Carol Padden

Questões T

eóricas das P

esquisas em Línguas de Sinais

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guas de sinais são capazes de sobreviver por muitas gerações nas famílias, em comparação a outras regiões do mundo, onde a surdez ge- nética é menos freqüente. Quando a surdez é resultado de doença, as chances de um surdo aprender a língua de sinais dependem mais do acesso a organizações ou instituições or- ganizadas para surdos. No oriente médio, a sobrevivência da língua de sinais não depen- de de políticas institucionais formais.

Terceiro, as circunstâncias culturais, sociais, políticas e econômicas levam as lín- guas de sinais no mundo árabe a serem mais propensas ao isolamento uma das outras. Os costumes relacionados ao casamento no mundo árabe dão um tratamento preferen- cial aos casais da mesma região já que eles estão propensos a compartilhar o mesmo dialeto e costumes. Além disso, fatores polí- ticos das regulamentações da imigração entre os países árabes dificultam para os nativos de uma região migrarem para outra. Por essas razões, uma mulher jordaniana tem maior probabilidade de se casar com um homem da região do Levante (países ao norte do oriente médio) do que com um homem do estado do Golfo. Isso porque ela precisaria de um vis- to para viajar para Dubai, por exemplo, mas não precisaria de um para viajar para Damas- co ou Beirut. Além disso, a proximidade de Damasco e Beirut ao Jordão faz com que seja mais economicamente viável para uma jorda- niana conhecer um homem dessas cidades do que conhecer um catariano. Considerando- se que os fatores culturais, sociais, políticos e econômicos restringem tal contato, as lín- guas de sinais no mundo árabe apareceriam dentro das fronteiras que possivelmente as isolam e permitem que elas se desenvolvam, independentemente uma das outras. Uma pesquisa nas línguas de sinais do mundo ára- be pode revelar resultados interessantes sobre

a distribuição geográfica das línguas de sinais que são usadas, diariamente, na família e na vida social da tribo, em oposição à distribui- ção encontrada em cenários institucionais mais formalizados.

2. Revisão da Literatura

A metodologia da léxico-estatística compara- da é usada para desenvolver hipóteses acerca de possíveis relações históricas entre as lín- guas faladas (Crowley, 1992). Isso é feito por meio de um estudo quantitativo dos cognatos entre os vocabulários das línguas em estudo. Cognatos são definidos como vocábulos de dois idiomas diferentes que são homogêneos o suficiente para serem considerados como semelhantes no que concerne à derivação lingüística ou à raiz. Uma comparação entre as línguas faladas envolve a identificação de similaridades na estrutura silábica e segmen- tal; nas línguas de sinais, a similaridade dos cognatos é baseada na comparação das con- figurações de mão, movimentos, localizações e orientações da mão no vocabulário de duas línguas de sinais diferentes. Muitos lingüistas da língua falada usam uma lista básica de 200 palavras como base de sua pesquisa em léxi- co-estatística ao invés de listas mais longas, como um modo conveniente e representativo de línguas de sub-grupos. Quanto mais alto o percentual léxico estatístico entre os cognatos das línguas faladas, mais próxima é a relação histórica entre essas línguas, uma vez que esse fato mostra uma separação mais recente de uma língua comum (parent language) (Black & Kruskal, 1997). No contexto da metodo- logia léxico estatística, Crowley (1992) define as línguas como dialetos se elas comparti- lham 81-100% dos cognatos, nos vocabulá- rios principais. Elas são consideradas como

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